Ney Matogrosso – Atento aos sinais
Ney Matogrosso após a
conturbada saída dos Secos e Molhados iniciou uma carreira solo vencedora,
desde seu clássico disco de estreia Água do Céu / Pássaro até os dias de hoje,
sempre com um ótimo gosto para escolha de seu repertório, com autores com
letras de nível poético acima de média e grandes arranjos.
Antes de lançar seu novo
disco, Atento aos Sinais, Ney ficou um ano em turnê tocando as músicas deste
álbum até que os arranjos amadurecessem e ganhassem corpo para que as canções
chegassem ao nível de qualidade que é marca registrada em sua carreira.
Neste novo trabalho, Ney
Matogrosso escolheu canções de artistas consagrados e novos artistas, que em
sua maioria não são tão conhecidos pelo grande público. Esta escolha de
repertório funcionou muito bem e mostra que temos bons novos compositores na
música brasileira e não só as picaretagens que ouvimos nas rádios e na
televisão na maior parte do tempo.
“Rua de passagem”, um rock
com maracatu de autoria de Arnaldo Antunes e Lenine, tem uma letra que fala um
pouco sobre direitos igualitários, com um belo arranjo de metais. “Incêndio” é
de Pedro Luís e fala um pouco sobre a onda de protestos no Brasil, numa levada
rock, mostrando que Ney está “antenado” com os fatos recentes no Brasil.
Em “Roendo as unhas”,
moderniza o samba de Paulinho da Viola, com bons solos de guitarra de Maurício
Negão e com a percussão de Marcos Suzano. A música ganha um clima mais tenso
graças a grande interpretação de Ney. O cantor ainda resgata duas canções de
Itamar Assumpção em “Noite torta” e no quase reggae “Isso não vai ficar assim”.
“Ilusão da casa” é a música
mais emocionante do disco, com seu piano e um ótimo desempenho vocal de Ney,
nesta canção do não tão conhecido compositor Vitor Ramil. “Oração” é do jovem
compositor Dani Black e tem a frase que dá nome ao disco. Em “Freguês da meia
noite” do rapper Criolo, Ney dá um tom mais dramático à música e faz uma versão
superior à original.
O disco ainda tem grandes
momentos reservados, com no suíngue e guitarras cheias de wah wah de
“Pronomes”, o belíssimo arranjo de cordas em “Não consigo” e a divertida “Samba
do Blackberry” da banda Tono. O disco termina com o rock “Todo mundo o tempo
todo” de Dan Kagawa.
Ney Matogrosso faz um
trabalho impecável neste disco, que não perde a energia em nenhum momento, com
belos arranjos e letras acima da média dentro do cenário da
música atual. Ney mostra (com o perdão do trocadilho) que está mais do que
atento aos sinais da nova música brasileira.
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