6 de julho de 2016

A Moon Shaped Pool é mais uma bela viagem musical do Radiohead

Que o Radiohead há tempos faz o que bem entende com sua música sem se importar muito com resultados comerciais todo mundo já sabe. Este novo trabalho da banda intitulado A Moon Shaped Pool é o mais novo exemplo da excentricidade e da forma como o Radiohead criou seu próprio universo, em que são necessárias muitas audições e atenção aos detalhes para entrar no clima e na viagem proposta pela banda.


Depois de cinco anos após o lançamento de seu último disco, o não menos estranho e controverso King of Limbs, o Radiohead lança um álbum com músicas não totalmente inéditas. Canções como “Identikit” e “True love waits” (esta com mais de vinte anos) já eram executadas ao vivo pela banda há algum tempo. Mesmo com essa sensação de “disco de gaveta” o resultado final se torna bem acima da média.

O disco abre com o primeiro single lançado, da canção “Burn the witch”, que ganhou um belo videoclipe em animação. A música é a melhor do disco, com um belo arranjo com orquestra que dá um peso à música. A letra é para variar um tanto enigmática, falando sobre uma bruxa que deve ser queimada. “Daydreaming” foi o segundo single e videoclipe a ser lançado. Uma música lenta e arrastada com um clima “ambient” e com seis minutos de duração. Uma prova de ferro ao ouvinte, que se passar dessa canção com certeza vai ouvir o disco até o final. Já é a canção preferida pelos fãs do Radiohead deste álbum.


“Decks dark” tem uma letra reflexiva com uma melodia envolvente e arranjos que lembram algumas coisas do Ok Computer. “Desert island disk” tem uma sonoridade mais acústica e climática, com uma letra que faz referência ao término de um relacionamento amoroso de mais de vinte anos de Thom Yorke. “Full stop” assim como os últimos trabalhos do Radiohead tem influência do Krautrock dos anos setenta, de bandas como Neu! e Can, com uma pitada do trip hop de bandas como Portishead. Na letra mais uma referência ao fim de um relacionamento: “Eu desejo que você realmente sinta falta de mim".


“Glass eyes” é uma daquelas canções melancólicas que Thom Yorke sabe fazer com maestria, com um belo arranjo de cordas. “Identikit” é uma das melhores do disco, com uma interessante linha de baixo e um vocal fantasmagórico. A música cresce do meio para o final com um coro estranho e interessante ao mesmo tempo. “The numbers” é uma canção de protesto com uma letra com vários clichês: “Conclamamos o povo / As pessoas têm esse poder / Os números não irão decidir / O sistema é uma mentira”. A música cresce do meio para o final, graças aos arranjos de orquestração.

“Present tense” tem uma percussão latina que dá um frescor à canção, em outra música que fala sobre um coração partido.  “Tinker tailor soldier sailor rich man poor man beggar man thief” é totalmente krautrock, parecendo uma das trilhas sonoras feitas pelo guitarrista Jhonny Greenwood para o diretor Paul Thomas Anderson para filme “O Mestre”, climática e etérea ao extremo. “True love Waits” é uma antiga canção que aparece no EP I Might Be Wrong Live. Nela, Yorke canta no eu lírico feminino, clamando para que o seu grande amor não vá embora.

Mesmo com um disco com músicas não totalmente inéditas, o Radiohead acabou se saindo muito bem neste novo álbum. A arte de Thom Yorke e Cia não é nada óbvia e isto torna o Radiohead uma das bandas mais interessantes dos último vinte anos e este disco é mais uma bela viagem musical, mostrando que nem sempre o caminho mais fácil é o que dá mais retorno. Até Thom Yorke se surpreendeu com o sucesso que o disco vem fazendo. Isto mostra que o público ainda dá valor ao que é feito com sinceridade e sem interesse exclusivamente comercial.