30 de abril de 2017

Primeiro disco do Violeta de Outono ganha edição especial de trinta anos

A banda paulistana Violeta de Outono foi formada em 1985 pelo guitarrista e vocalista Fábio Golfetti e pelo baterista Cláudio Souza. Logo depois entraria o baixista Angelo Pastorello para completar a primeira formação do grupo. No mesmo ano o Violeta gravou uma demo chamada “Memories” e logo a banda gravou seu primeiro EP pela gravadora independente Wop Bop Records, chamado “Reflexos da Noite” em 1986.


Em 1987 sairia o primeiro disco completo da banda, chamado apenas “Violeta de Outono”. O álbum trazia algumas referências, entre elas a psicodelia dos anos sessenta e o rock progressivo de bandas como Pink Floyd e Gong. Logo de cara o disco chamou a atenção de muita gente, pois era bem diferente do som que era feito pelas bandas de rock brasileiras nos anos oitenta.



Este ano foi relançado o primeiro disco da banda em CD, comemorando trinta anos. Na abertura do álbum temos a clássica “Outono”, com um belo dedilhado de guitarra inicial e uma letra que foi adaptada do poema “Claustro de Outono” de Li Yu do século X. Uma música que se tornou obrigatória nos shows da banda. “Declínio de Maio” vem logo em seguida com mais psicodelia e uma letra viajante e abstrata.



Em “Faces” percebemos melhor a influência de Pink Floyd graças à guitarra com slide de Fábio Golfetti e o clima caleidoscópico da canção. “Luz” tem uma bela linha da baixo aliada a batida frenética da bateria de Claudio Souza no inicio da canção. “Retorno” é a primeira canção instrumental do disco e prepara o terreno para a melhor música do álbum e da carreira do Violeta de Outono: “Dia eterno”. Uma canção com um brilhante trabalho de guitarras de Golfetti e uma letra psicodélica e sonhadora ao mesmo tempo.



“Noturno deserto” é uma das mais pesadas do disco enquanto a instrumental “Sombras flutuantes” é uma tour de force de quase sete minutos, mostrando toda a qualidade técnica da banda, que tem grandes instrumentistas. O disco termina com o cover dos Beatles “Tomorrow never knows”, do clássico disco Revolver de 1966, álbum em que os quatro rapazes de Liverpool mergulharam de vez na psicodelia.


Este homônimo disco do Violeta de Outono é um dos grandes clássicos do rock brasileiro e paulistano. Enquanto as outras bandas do rock dos anos oitenta bebiam do pós-punk e da new wave, o Violeta veio com uma proposta bem diferente, trazendo a psicodelia e o rock progressivo que algumas bandas brasileiras já faziam nos anos setenta de volta. Um relançamento que pode mostrar o belo trabalho deste grupo às novas gerações, carentes de boas referências musicais na atualidade. 


10 de abril de 2017

Spirit - Depeche Mode lança seu melhor disco dos últimos vinte anos

Formado em Essex, Inglaterra, em 1980, o Depeche Mode surgiu na leva do Synthpop, juntamente com bandas como Soft Cell, Ultravox entre outras. Com o passar do tempo foi lapidando seu som e a partir do disco Black Celebration, de 1986, onde passou a ter uma sonoridade mais “dark” e densa, começou a se transformar em uma das bandas de maior sucesso e influência da década de oitenta.


Com uma carreira praticamente irretocável e uma discografia sem muitos deslizes, a banda lançou este ano o politizado Spirit, seu décimo quarto álbum de estúdio. O disco ganhou um significado a mais depois das declarações do neonazista e apoiador de Donald Trump, Richard Spencer, que também é fã do Depeche há muito tempo, dizer que a banda tem o som da “nova direita”. Spirit se mostra uma resposta a este insulto, com letras que criticam o avanço do conservadorismo e da extrema direita ao redor do mundo.

O álbum abre com a colossal “Going Backwards”, uma canção de abertura com uma força que há tempos não víamos em um disco da banda. Com uma belíssima letra e arranjos com a marca registrada do Depeche Mode, com aqueles timbres de sintetizadores e batidas eletrônicas de extremo bom gosto. Nesta canção Martin L. Gore critica a sociedade atual, dizendo que estarmos voltando para trás, para o tempo das cavernas: “Nós estamos retrocedendo / Armados com novas tecnologias / Retrocedendo / Para uma mentalidade de homens das cavernas”.

Em “Where´s the revolution” a banda pergunta onde está a revolução e se mostra decepcionada com a falta de atitude do mundo em geral em relação aos abusos de políticos e governantes. Uma outra canção muito forte com um refrão que ao vivo deverá funcionar muito bem. “The worst crime” tem um ritmo que na primeira audição poderá soar um pouco monótono, mas vai envolvendo o ouvinte aos poucos, com uma letra que pergunta: “Como podemos ter cometido o pior crime?”.


“Scum” é umas das melhores músicas do disco, com uma batida forte e um clima tenso, tem uma letra que pergunta o que fazemos para melhorar o mundo. “You move” é o que de mais próximo eles chegaram no disco de sua sonoridade dos anos oitenta, com um clima mais dançante e uma letra que não fala de política, mas sim de alguém que está sendo seduzido pela dança de outra pessoa.

“Cover me” é uma belíssima balada, que emociona sem ser piegas. “Eternal” é uma declaração de amor, cantada por Martin L. Gore, enquanto “Poison heart” (não é cover do Ramones), composta pelo vocalista Dave Gahan, tem um clima meio trip hop com um belo arranjo de guitarras, falando sobre uma decepção amorosa. Outro ponto alto de Spirit.

“So much love” não deixa a peteca cair e dá continuidade ao clima do álbum, já “Poorman” tem um ritmo meio blues, falando sobre uma pessoa que vive nas ruas. “No more (This is the last time)” é outra linda canção, com a tradicional interpretação segura e concisa do vocalista Dave Gahan. “Fail”, cantada por Martin L. Gore encerra o disco concluindo que estamos falhando como seres humanos neste mundo: “Pessoas, como estamos lidando? / É inútil até mesmo começar esperando / Que a justiça prevalecerá / Que a verdade vai derrubar as previsões / Nossa dignidade naufragou / Oh, nós falhamos”.


Em Spirit vemos um Depeche Mode mais engajado e politizado, algo que nunca foi característico na banda. Com arranjos mais concisos e seguros e canções bem inspiradas, Spirit se consolida como o melhor trabalho da banda, nos últimos vinte anos, desde Ultra de 1996. O Depeche Mode agora embarca em uma turnê mundial que chegará ao Brasil em março, no melhor estádio do Brasil. Com certeza várias músicas deste álbum estarão no setlist e não farão feio perto dos inúmeros sucessos do grupo.