4 de dezembro de 2019

Automatic for the People – A obra prima definitiva do R.E.M.


Em 1991 o R.E.M. se tornou uma das bandas de maior sucesso ao redor do mundo graças ao disco Out of Time e seu maior hit, a canção “Losing my religion”, que além de ser brilhante tem um videoclipe icônico que alavancou ainda mais a carreira da banda. Parecia improvável que o R.E.M. conseguisse algo que chegasse perto de todo aquele sucesso e em 1992 lançaram um novo álbum intitulado Automatic for the People, nome de um restaurante que ficava na cidade natal dos integrantes, Athens na Geórgia.




A sonoridade do álbum assim como do disco anterior era predominantemente acústica, sem muitas guitarras e com arranjos de cordas feitos por nada mais nada menos que John Paul Jones, ex-baixista do Led Zeppelin. As letras eram ainda mais tristes e introspectivas do que o disco anterior e segundo o vocalista Michael Stipe, era resultado da crise dos trinta anos dos integrantes da banda e a preocupação com o que estava ocorrendo com a juventude nos Estados Unidos.

O disco começa com “Drive”, uma canção sombria e misteriosa com belos arranjos de cordas que vai crescendo durante sua execução. O videoclipe também marcou época, mostrando Michael Stipe sendo carregando por uma multidão de fãs. “Try not to breathe” é uma canção que fala sobre morte, enquanto “The sidewinder sleeps tonite” é mais otimista e tem uma das melhores performances vocais de Michael Stipe.


“Everybody hurts” foi sem dúvida o maior sucesso do álbum, uma canção triste que foi inspirada no aumento de casos de suicídio no começo da década de 90 nos Estados Unidos. O videoclipe também fez muito sucesso e ganhou vários prêmios e foi inspirado no filme "8 ½" de Frederico Fellini, lançado em 1963. No vídeo várias pessoas estão presas em um congestionamento, mostrando todo o vazio e a angústia delas.


“Sweetness follows” é uma canção estranhamente bela e triste (pra variar) e mesmo não tendo sido um grande sucesso é um dos melhores momentos do álbum. Em “Monty got a raw deal” e “Ignoreland” o clima fica mais animado, saindo um pouco do tom depressivo do disco. “Man on the moon” foi outro sucesso e foi feita em homenagem ao comediante Andy Kaufman.

“Nightswimming” é uma linda canção com um piano tocado pelo baixista Mike Mills e fala sobre a juventude dos integrantes e quando eles nadavam nus nas piscinas de sua cidade natal. “Find the river” fecha o álbum com um clima nostálgico. Mesmo com o estrondoso sucesso do disco, a banda preferiu não sair em turnê para divulgá-lo, assim como no trabalho anterior. Automatic foi produzido por Scott Litt e a capa foi feita por Anton Corbijn. 


O álbum vendeu mais de 15 milhões de cópias e é considerado por muita gente o melhor disco da banda. Kurt Cobain era um grande fã do R.E.M. e esse era um de seus discos preferidos, tanto que ele se inspirou bastante nele para fazer o Acústico do Nirvana e reza a lenda também que foi último álbum que ele escutou antes de morrer. Automatic for the People foi a obra prima definitiva do R.E.M., depois disso a banda voltou às guitarras com o fenomenal disco Monster (o meu preferido deles), mas nunca mais chegou perto do sucesso alcançado com Automatic for the People.

16 de outubro de 2019

Barão Vermelho supera a desconfiança dos fãs e lança belo disco


Como todos já sabem, o Barão Vermelho em 1985 era uma das maiores bandas do rock brasileiro, a consagração veio com um show histórico no Rock in Rio. Cazuza já despontava como um dos maiores compositores de sua geração quando decidiu deixar a banda e seguir em carreira solo. O Barão passava por um grande baque e o guitarrista Roberto Frejat se viu obrigado a ocupar os vocais do grupo.


Essa nova fase com Frejat nos vocais no início foi bem complicada, as vendas dos discos diminuíram e a banda tinha dificuldade de emplacar músicas nas rádios. Gradativamente, o grupo foi reconquistando espaço e Frejat se consolidou como vocalista do Barão Vermelho, tendo muita gente que prefere ele nos vocais do grupo ao Cazuza (eu, por exemplo).

Em 2017, depois de um hiato de 4 anos, alguns integrantes resolveram voltar com a banda, no caso, o baterista Guto Goffi, o tecladista Mauricio Barros e o guitarrista Fernando Magalhães. Roberto Frejat preferiu continuar com sua carreira solo e não quis participar desta volta, então os outros integrantes recrutaram o cantor e guitarrista Rodrigo Suricato para os vocais e caíram na estrada.

Este ano o Barão Vermelho lançou um novo álbum, “Viva” (por enquanto disponível apenas nas plataformas digitais) seu primeiro disco de material inédito desde o disco homônimo de 2004. A desconfiança do público em geral foi grande, será que a banda conseguiria superar mais uma troca de vocalista e lançar músicas boas e relevantes?

“Viva” começa com o Rock/Blues vigoroso de “Eu nunca estou só”, uma canção marcada por um belo arranjo no piano e conta com a participação do Rapper BK, um bom aquecimento para o restante do álbum que tem em seguida a música “Por onde eu for”, que tem teclados moog e uma levada Pop/Rock com uma letra pra cima. “Jeito” também tem uma levada mais leve com um refrão fácil.


“Tudo por nós” é um rock mais vigoroso que as canções anteriores, lembra mais o Barão antigo, com belos riffs de guitarra e um vocal mais forte de Suricato. “Um dia igual ao outro” é a música mais bonita do disco, com uma letra mais reflexiva, uma bela levada no piano e um marcante refrão. “Vai ser melhor assim” também lembra o velho Barão Vermelho, com um riff de guitarra seco, um rock vigoroso e potente.


“Castelos” é outra belíssima balada, agora cantada pelo tecladista Mauricio Barros, com arranjo de cordas. Em “A solidão de engole vivo”, Suricato tem um timbre vocal que mais lembra o de Frejat de todas as canções do álbum. Encerrando o disco, “Pra não te perder” tem uma pegada meio Folk/Blues e conta com a cantora Letrux, mostrando que a banda quer dialogar musicalmente com a nova geração, como o Capital fez em seu último disco “Sonora” com diversas participações de novos expoentes do rock brasileiro.

Em “Viva”, o Barão Vermelho acabou calando a boca de muitos críticos que achavam que a banda iria ser uma imitação de si mesma, com Suricato nos vocais. Um disco que mostra que o grupo ainda tem muita relevância e que pode ainda criar belas canções. O que era improvável aconteceu, a banda se reinventou mais uma vez. Vida longa ao Barão Vermelho!

25 de setembro de 2019

Supergrupos que não deixaram muita saudade


Na história da música sempre foi muito comum artistas já consagrados se juntarem para formar novas bandas, como forma de sair da rotina de seus grupos e fazer novos sons. Algumas deram muito certo como o Audioslave, o Velvet Revolver entre outras (leia mais sobre estas bandas aqui). Algumas parcerias, porém, não deram muito certo e caíram no esquecimento, neste post vamos relembrar alguns supergrupos que foram formados, mas que não deixaram muita saudade nem muitas lembranças para o público em geral.

Tinted Windows

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Esse supergrupo era formado por uma galera muito aleatória. O guitarrista James Iha do Smashing Pumpkins, Taylor Hanson do Hanson e Bun E. Carlos do Cheap Trick eram uns dos integrantes. A banda lançou um disco autointitulado em 2009 e não deixou saudade. Alguém aí se lembra dessa superbanda?





9 Mil Anjos

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Aqui no Brasil já tivemos alguns projetos inesperados, o 9 Mil Anjos era formado por Junior Lima, Champignon do Charlie Brown Jr., Peu, ex- guitarrista da Pitty e mais um vocalista. A banda só lançou um disco e não obteve muito êxito. Em 2013 dois integrantes da banda, Peu e Champignon infelizmente acabaram cometendo suicídio. 






Little Joy

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Entre seus integrantes, o Little Joy tinha o baterista do Strokes, Fabrizio Moretti e o vocalista do Los Hermanos, Rodrigo Amarante. Com um som com clima de sol e praia, a banda lançou somente um disco em 2008 e até que fez certo sucesso entre os fãs das duas bandas, mas o projeto ficou por aí mesmo.



SuperHeavy

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Esse aqui era um supergrupo. Mesmo. Entre seus integrantes estavam nada menos que Mick Jagger (daquela banda lá), Joss Stone, Dave Stewart do Eurythmics e Damian Marley, um dos filhos do homem. Lançaram um disco homônimo em 2011 e ninguém se lembra de nenhuma canção deste álbum. Uma parceria que não deu liga, definitivamente.





Banda do Mar

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Formada pelo casal Marcelo Camelo, do Los Hermanos e Malu Magalhães, a Banda do Mar lançou um disco em 2014 e causou furor nos Indies e Hipsters de plantão, porém a parceria ficou por aí mesmo e ouvir a Malu Magalhães cantando é tarefa para pessoas com muita boa vontade. 



18 de julho de 2019

Os dez maiores discos do rock brasileiro dos anos 80

A década de 80 foi a chamada “Década de Ouro” do rock brasileiro, devido a um grande número de grandes bandas e compositores que fizeram canções que são atuais até hoje e que ainda tocam nas rádios e fazem a cabeça de milhares de pessoas, tanto as novas gerações quanto a galera que foi adolescente naquela época. 

Vários fatores contribuíram para uma grande leva de novos talentos dentro do rock nacional, entre eles, a abertura política, os problemas sociais e também o fato desses novos compositores  serem de famílias abastadas e poderem ter acesso a equipamentos e discos importados e ao mesmo tempo terem uma consciência política e social que combinavam com os anseios do povo brasileiro.

Hoje no blog comentarei sobre dez grandes discos do rock brasileiro dos anos oitenta, levando em conta além de sua qualidade musical e sucessos radiofônicos, seu contexto político e social e sua importância dentro do cenário brasileiro desta importante década.

Legião Urbana – “Legião Urbana” (1985)

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O disco de estreia da Legião Urbana é uma das melhores estreias do rock brasileiro. Logo neste primeiro trabalho a banda mostra toda sua energia e seu descontentamento social em canções como “Soldados”, “O Reggae” e “Petróleo do Futuro”. Com influência de bandas como The Cure, Joy Division e Gang of Four, a Legião construiu neste álbum um pós-punk tupiniquim que casou muito bem com as letras politizadas e melancólicas de Renato Russo. Leia mais sobre este disco neste link



Titãs – “Cabeça Dinossauro” (1986)

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“Cabeça Dinossauro” foi o terceiro disco da banda e era a prova de fogo para eles, pois os dois primeiros discos não tinham vendido o suficiente e era o último disco de contrato com a gravadora. Neste trabalho o Titãs finalmente encontrou uma sonoridade mais concisa e pesada e disparou contra vários setores da sociedade com em “Igreja”, “Estado Violência” e “Polícia”. Leia mais sobre este disco neste link



Ira! – “Vivendo e Não Aprendendo” (1986)

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O segundo disco do Ira! é uma coleção de clássicos do rock brasileiro como “Envelheço na Cidade”, “Dias de Luta” e “Flores em Você”. A tensão dos integrantes com o produtor Liminha foi uma das polêmicas envolvendo este trabalho que teve um resultado final incrível e segue como um dos melhores discos da discografia da banda. Leia mais sobre este disco neste link



Cazuza – “Ideologia” (1988)

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O terceiro disco do poeta carioca mostrava um cantor mais maduro, Cazuza não era mais o exagerado, mas sim um cara preocupado com os rumos do país. Com clássicos indiscutíveis como a música título, “Brasil” e “Faz Parte do Meu Show” se tornou o melhor trabalho solo dele e um dos melhores discos da década de oitenta. Leia mais sobre este disco neste link



Legião Urbana – “Dois” (1986)

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O segundo disco da Legião era pra ter sido duplo e tem um som mais refinado e trabalhado do que o primeiro disco, mas as influências de The Cure e Smiths continuam ali. Neste álbum temos clássicos como “Daniel na Cova dos Leões”, “Tempo Perdido” e “Índios”. A esta altura Renato Russo já se destacava como um dos maiores letristas de sua geração. Leia mais sobre este disco neste link .



 Os Paralamas do Sucesso – “Selvagem?” (1986)

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Foi neste terceiro disco que a banda começou a ficar mais politizada e a mistura de reggae, ska e música africana era o fundo para crônica social de Herbert Vianna em canções como “Alagados”, a música título e “Teerã”. Um álbum essencial para qualquer coleção que se preze. Leia mais sobre este disco neste link



RPM – “Revoluções Por Minuto” (1985)

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O primeiro trabalho do RPM foi um disco revolucionário, com o uso de sintetizadores e bases eletrônicas. Este álbum gerou um dos maiores fenômenos da história da música brasileira, o disco “Rádio Pirata ao Vivo” um dos álbuns mais vendidos de todos os tempos no país. Quase todas as canções de “Revoluções Por Minuto” tocaram na rádio, o que elevou este trabalho a um dos mais marcantes do rock brasileiro. Leia mais sobre este disco neste link.  



Plebe Rude – “O Concreto Já Rachou” (1986)

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Mais uma grande banda da safra de Brasília. Mesmo com integrantes de famílias ricas, a Plebe Rude sempre teve uma postura crítica ao que estava ocorrendo no Brasil, com letras que falavam sobre a pobreza e as injustiças sociais. Destaque para clássicos como “Até Quando Esperar” e “Proteção”. Leia mais sobre este disco neste link




Titãs – “Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas” (1987)

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O próprio título do álbum já é um retrato de um país pobre e cheio de incertezas. Com um lado A mais dançante e um lado B mais roqueiro, “Jesus” é um dos melhores discos dos anos 80 e da carreira do Titãs, que estava no auge de sua criatividade e ainda com todos seus principais integrantes que foram saindo da banda com o tempo. Leia mais sobre este disco neste link



Os Paralamas do Sucesso – “O Passo do Lui” (1984)

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O segundo disco do Paralamas parece mais um coletânea de sucessos do que um disco de estúdio. Quase o álbum inteiro foi tocado nas rádios e gerou clássicos como “Meu erro” e “Ska”. Um disco bem mais trabalhado do que o álbum anterior, que tinha sido feito de uma forma que não agradou seus integrantes. Leia mais sobre este disco neste link .  





24 de abril de 2019

Os trinta anos do disco Doolittle do Pixies


Semana passada completaram-se trinta anos do lançamento de “Doolittle”, segundo disco do Pixies (se não contarmos o EP “Come on Pilgrim” de 1987). Um álbum que influenciou o rock dos anos noventa, bandas como Nirvana e Weezer beberam muito da fonte de Black Francis e Cia. Kurt Cobain nunca escondeu que “Smells Like Teen Spirit” foi totalmente influenciada pela dinâmica das canções do Pixies.


“Surfer Rosa”, o disco anterior (o melhor álbum deles) foi produzido pelo lendário Steve Albini, o que gerou uma sonoridade bem mais crua, com aquele som de bateria que só Albini conseguia gravar. O disco não foi bem comercialmente, mas anos depois de tornou um disco clássico e Albini foi chamado por Kurt Cobain para produzir “In Utero”, o derradeiro trabalho do Nirvana.

Para a produção de “Doolittle” foi recrutado Gil Norton, que deixou a banda com uma sonoridade um pouco mais limpa do que o disco anterior. Gil também foi responsável pela mudança de algumas músicas como “There goes my gun” que inicialmente era um punk rock estilo Husker Du e acabou tendo seu ritmo mais cadenciado, mudando o andamento da canção.

O tema principal das letras de “Doolittle”, compostas pelo vocalista e guitarrista Black Francis (ou Frank Black, como queiram) é o surrealismo, as letras em si não têm tanto sentido, segundo Francis eram apenas palavras que se encaixavam bem e que o intuito era entreter e divertir as pessoas, sem grandes mensagens. A faixa inicial, “Debaser” começa com o baixo matador da eterna musa do rock alternativo Kim Deal, na letra Francis se inspirou no filme “Um Cão Andaluz” de Luis Buñuel, lançado em 1929.


“Tame” tem apenas três acordes e é uma “paulada na alma”, uma das canções mais fortes da banda ao vivo, com gritos e sussurros de Deal e Francis. “Here comes your man” tem uma linha de baixo que se tornou um clássico e é a música de maior sucesso comercial do Pixies até hoje. Destaque também para a guitarra estilo surf music de Joey Santiago na canção. “Monkey gone to heaven” fala sobre uma possível catástrofe ambiental e tem cordas e violinos. No trecho mais forte da música Francis canta: “Se o homem é cinco e o diabo é seis, então Deus é sete” mostrando um conhecimento bíblico do vocalista.


“La la love you” é uma música boba, quase infantil, cantada pelo baterista David Lovering, enquanto “Hey” é uma tensa canção de amor com um belo dueto vocal de Francis e Deal. Para encerrar, “Gounge away” antecipa tudo aquilo que aconteceria no rock alternativo dos anos noventa: começo leve, explosão no refrão, gritaria e guitarras urrando.


“Doolittle” é o disco de maior sucesso do Pixies e o seu trabalho mais importante e influente. O grupo ainda lançou dois belos trabalhos, “Bossanova” em 1990 e “Trompe Le Monde” em 1991. Depois disto a banda acabou e foi voltar somente em meados dos anos 2000 com alguns discos que não fazem feio, mas não se comparam aos trabalhos iniciais, ainda mais depois da saída de Kim Deal. De qualquer forma, “Doolittle” é um álbum clássico que deve estar na coleção de qualquer amante de música que se preze.



1 de abril de 2019

Tudo ao Mesmo Tempo Agora – O disco maldito do Titãs


No final dos anos oitenta, mais precisamente em 1989, a banda paulistana Titãs lançava seu quinto disco “O Blesq Blom”. Neste trabalho o grupo fez uma mistura de rock, mpb, funk (o original, não o do Rio) e música regional, graças à participação da dupla pernambucana Mauro e Quitéria, que a banda encontrou em uma praia em uma viagem ao Recife.


Este álbum foi muito elogiado pela crítica e rendeu sucessos como “Miséria”, “Flores” e “O Pulso”. O disco também influenciou garotos que posteriormente criaram o movimento “Mangue Beat” nos anos noventa, como Fred 04 e Chico Science. O Titãs chegava ao final dos anos oitenta como uma das bandas mais bem sucedidas do rock brasileiro.

O começo dos anos noventa não foi nada fácil para o rock nacional, outros ritmos começavam a ganhar mais espaço (como o sertanejo e a lambada) e um novo governo logo de cara soltou um plano econômico mirabolante que confiscou o dinheiro da poupança das pessoas, gerando uma crise ainda maior na economia, minguando os shows e dando muito prejuízo aos músicos em geral.

Foi neste clima caótico que a banda entrou em estúdio em 1991 para gravar seu sexto trabalho. O Titãs resolveu que iria meter a mão na massa e se auto produzir. O objetivo era fazer um som mais cru, mais rock e com letras mais fortes, com temas na maioria das vezes escatológicos.

O disco começa com muito peso, em “Clitóris” a letra reverencia este órgão que tem somente uma função no corpo da mulher: dar prazer. “Já” tem uma daquelas letras clássicas e totalmente influenciadas pelo non sense e pela escola concretista, nela Arnaldo Antunes questiona: “Você já tentou varrer a areia da praia?”.



Em “Isso pra mim é perfume” Nando Reis faz uma canção escatológica de amor, com os versos mais podres possíveis: “Isso para mim é enfeite / A cabeça do pau / Faz esporra de leite / Pra tomar de manhã / No café da manhã / E também no almoço / E depois no jantar” e “Amor / eu quero te ver cagar”. Canções com letras de apenas duas ou três estrofes também chamam a atenção neste álbum como “Não é por falar” e “Obrigado”.



O disco “Tudo ao Mesmo Tempo Agora” foi muito criticado pelo jornalismo musical e foi um fracasso de vendas, por motivos óbvios, mas mostrou uma banda ousada, que resolveu chutar a balde e mandar tudo pra puta que pariu. O disco posterior, “Titanomaquia”, veio ainda mais raivoso e pesado, com a produção de Jack Endino, produtor do primeiro disco do Nirvana, “Bleach”. Esses dois trabalhos do Titãs são hoje cultuados pelos fãs, mostrando que o Titãs é uma das poucas bandas no Brasil que conseguem fazer rock pesado em português como muita propriedade.



28 de fevereiro de 2019

Os cinco melhores discos do Engenheiros do Hawaii

A banda gaúcha Engenheiros do Hawaii é um daqueles grupos que despertam uma relação de amor e ódio no público do rock. Quem é fã é fã mesmo, tendo os shows um caráter messiânico, com todos cantando as letras em catarse. Quem odeia, não suporta ouvir um acorde e muito menos as letras e a voz do Humberto Gessinger. 



Eu, particularmente, gosto da banda, apesar do caos poético das letras de Gessinger e os arranjos meio “Frankenstein” que algumas músicas têm. Gostando ou não, temos que admitir que o Engenheiros marcou o rock nacional, com sucessos que tocaram no Brasil todo. Hoje no blog, elejo os melhores álbuns dessa polêmica banda.

“A Revolta dos Dândis” (1987) 


Segundo disco do grupo, o primeiro com a formação que ficou mais famosa e que gravou os principais trabalhos da banda: Humberto Gessinger no baixo, Augusto Licks na guitarra e Carlos Maltz na bateria. Traz sucessos como “Terra de Gigantes”, “Infinita Highway” e “Refrão de Bolero”. Neste álbum as letras de Gessinger já começavam a ser criticadas e decifradas, graças às citações nas letras de autores como Albert Camus e Jean-Paul Sartre.



“O Papa é Pop” (1990)


Este é o disco de estúdio mais vendido da banda, tendo mais de 500 mil cópias vendidas na época. Aqui, o Engenheiros já começa a flertar de vez com o rock progressivo, como em "A Violência Travestida Faz Seu Trottoir" e "Anoiteceu em Porto Alegre". O álbum teve sucessos estrondosos como a música título, “Exército de um Homem Só” e “Era um Garoto que Amava os Beatles...”. Um trabalho com uma sonoridade até meio tosca, com uso de bateria eletrônica e midi pedalboard. 



“Várias Variáveis” (1991)


Neste trabalho o Engenheiros abandonou a sonoridade mais eletrônica do disco anterior e apostou em um som mais orgânico e pesado. Produzido pela própria banda, teve sucessos como “Piano Bar”, “Ando Só” e “Muros e Grades”. A banda ainda presta homenagem à música tradicional gaúcha com a regravação de “Herança do Pampa Pobre” do Gaúcho da Fronteira.



“Gessinger, Licks e Maltz” (1992)


Aqui o Engenheiros mergulha de vez no rock progressivo, tanto que até o nome do álbum foi inspirado no trio Emerson, Lake and Palmer. A sonoridade lembra uma espécie de Rush tupiniquim (com as devidas proporções, é claro) e na minha opinião é o melhor disco da banda. O álbum teve sucessos como “Ninguém = Ninguém” e “Parabólica”, esta composta em homenagem à filha de Humberto Gessinger.



“!Tchau Radar!” (1999)


Depois da formação Gessinger, Licks e Maltz a formação que tocou neste disco é a melhor do Engenheiros. Além de Gessinger no baixo, a banda contava com Luciano Granja na guitarra, Lucio Dorfman nos teclados e Adal Fonseca (que já foi baterista do Kid Abelha) na bateria. Neste álbum há uma bela coleção de canções e trouxe novos sucessos do grupo como “Eu que não Amo Você” e um belíssimo cover de “Negro Amor”, versão de Caetano Veloso para “It´s All Over Now, Baby Blue” de Bob Dylan.





28 de janeiro de 2019

Cinco grandes discos que completam vinte anos em 2019

O ano de 1999 foi emblemático, pois havia aquele medo do ano 2000, que o mundo iria acabar, aquela balela toda. No meio musical o rock já perdia fôlego e as boy bands e as cantoras pop já voltavam a dominar a cena, mesmo assim belos discos de rock foram lançados naquele ano. Eu tinha dezoito anos na época e alguns discos fizeram minha cabeça e de muita gente. Hoje vamos relembrar cinco álbuns que marcaram aquela época e que completam vinte anos de lançamento em 2019.  

Red Hot Chilli Peppers – “Californication”


Depois do sucesso mundial de Blood Sugar Sex Magic, de 1991, a banda lançou em 1995 o álbum One Hot Minute e apesar de um relativo sucesso, nada se compara ao que foi a repercussão do álbum Californication. Canções muito inspiradas e com uma pegada mais leve aliadas a videoclipes muito bem feitos levaram este disco aos primeiros lugares das paradas e rendeu sucessos incontestáveis como “Scar Tissue”, “Other Side” e a faixa título. Produzido por Rick Rubin, um dos maiores produtores de todos os tempos, elevou ainda mais o patamar da carreira do grupo. 



Ira! – “Isso é Amor”


Após o lançamento do disco Você Não Sabe Quem Eu Sou, de 1998, álbum que mistura rock, psicodelia e música eletrônica, a banda paulistana resolveu que seria a hora de gravar um disco de covers, algo que estava na “moda” no final dos anos noventa, tanto que bandas como Barão Vermelho e Titãs também lançaram álbuns de versões nesta mesma época. O Ira! montou um repertório com músicas que eles ouviram na adolescência e infância e também homenagearam o rock brasileiro dos anos oitenta. O disco tem versões de Erasmo e Roberto Carlos (“Sentado à beira de um caminho”), Ronnie Von (“Minha gente amiga”), Chico Buarque (“Jorge Maravilha”), Lobão (“Chorando pelo campo”), Legião Urbana (“Teorema”) entre outros. O resultado foi excelente e o disco fez bastante sucesso, graças aos belos arranjos feitos pela banda. 






Foo Fighters – “There´s Nothing Left to Lose”

There´s nothing left to lose foi o terceiro disco lançado pelo Foo Fighters e levou a banda definitivamente ao status de uma das bandas mais bem sucedidas dos últimos vinte e cinco anos. Aqui o grupo baixou um pouco as guitarras e conseguiu hits radiofônicos como “Learn to fly” e “Breakout”, fora os videoclipes sensacionais que aumentaram ainda mais o sucesso deste grande álbum. 




Los Hermanos - "Los Hermanos"


O disco de estreia do Los Hermanos foi lançado também em 1999 e logo de cara trouxe um dos maiores sucessos do pop rock nacional. “Ana Júlia” recebeu até uma versão em inglês do cantor Jim Capaldi, com a participação até de George Harrison na guitarra. Outras canções como “Primavera” e “Quem Sabe” fizeram a cabeça da galera transformando a banda em um das maiores revelações do pop rock nacional do final da década de noventa. 





Silverchair – “Neon Ballroom”


Quando o Silverchair apareceu os críticos falavam que a banda era uma cópia de Nirvana e Pearl Jam. Em seu terceiro disco, Neon Ballroom, os garotos australianos mostraram que eram muito mais do que uma mera cópia do som de Seattle e lançaram seu melhor trabalho, mais maduro e com muita influência de Led Zeppelin. Sucessos como “Anthem for the year 2000”, “Ana´s song” e “Miss you love” elevaram ainda mais a carreira do grupo, que depois acabou terminando após mais dois discos e hoje em dia o vocalista Daniel Johns virou um cantor pop, renegando seu passado roqueiro. Um dos discos mais bacanas de 1999.