28 de maio de 2018

O Passo do Lui – O disco que levou o Paralamas do Sucesso ao estrelato


O primeiro disco do Paralamas do Sucesso, Cinema Mudo, de 1983, apesar de relativo sucesso graças à música título e “Vital e sua Moto”, não agradou totalmente aos integrantes Herbert Vianna, Bi Ribeiro e João Barone. A produção cheia de ecos, efeitos e teclados a pedido da gravadora deixou a banda um pouco frustrada com o resultado.


Para o segundo disco, O Passo do Lui, lançado em 1984, foi selecionado o produtor Marcelo Sussekind, agora com total supervisão da banda, que queria uma sonoridade mais simples e uma produção mais minimalista, privilegiando a sonoridade do baixo, da guitarra e bateria.

O Passo do Lui foi um sucesso instantâneo. Sete das dez músicas do álbum tocaram no rádio. O disco começa com a canção “Óculos”, uma ode aos olhos de vidro espalhados no mundo, pedindo para que as garotas não os rejeitem por causa dos óculos. Uma música com um ritmo meio caribenho no começo e com uma letra bem fácil de decorar, que fica na cabeça. Uma das canções que menos gosto do Paralamas, confesso.

“Meu Erro” vem a seguir e se tornou um dos maiores sucessos do grupo. Sua melodia fácil e pop misturada com uma letra simples e romântica é presença garantida tanto nos shows da banda quanto em karaokês Brasil afora. “Fui Eu” é outra música que fica na cabeça e também foi gravada pelo grupo new wave Sempre Livre. “Romance Ideal” mostra que Herbert Vianna é um especialista em compor músicas românticas e sonhadoras que não se tornam piegas e ainda tem um ótimo solo de guitarra no final.



“Ska” é uma música energética, deixando o ouvinte com aquela vontade de dançar, enquanto “Mensagem de Amor” é a canção mais roqueira do disco, com um clima mais denso e um final apoteótico, com solo de guitarra sensacional de Herbert Vianna. “Me Liga” é outra música que mostra a veia romântica de Vianna e foi acusada por Lobão de ser um plágio conceitual de “Me Chama”, composta por ele. Intriga da oposição.


“Assaltaram a Gramática” é uma parceria de Lulu Santos e Wally Salomão e tem a participação de Lulu cantando. Para encerrar o disco, a instrumental “O Passo do Lui”, uma homenagem a um amigo da banda que dançava muito bem.

Um fato que ajudou em muito o sucesso do disco foi a apresentação da banda no Rock in Rio de 1985. O ótimo show do Paralamas além de alavancar as vendas do álbum, ainda consolidou o grupo como uma das maiores bandas daquela nova safra do rock brasileiro dos anos oitenta que estava surgindo.

O disco O Passo do Lui foi o trabalho que levou o grupo ao estrelato, mostrando que ali estava uma banda que além de ter a parte rítmica mais variada e competente do novo rock brasileiro, tinha um dos compositores mais habilidosos da música nacional, capaz de fazer tanto hits dançantes como baladas fortes e dilacerantes. Um dos grandes discos do rock brasileiro dos anos oitenta, sem dúvida alguma. Essencial!



3 de maio de 2018

Stone Temple Pilots supera a perda de dois vocalistas e lança belo disco

O Stone Temple Pilots é um dos grupos mais bem sucedidos dos anos noventa, surgindo na mesma época de bandas do chamado “Movimento Grunge” de nomes como Nirvana, Pearl Jam, Alice in Chains e Soundgarden. Depois da comparação inicial com o sucesso da música “Plush” do disco “Core” com o Pearl Jam, o grupo se firmou com o tempo e conseguiu tirar o estigma injustamente colocado pela mídia de “Pearl Jam cover”.


O grande problema enfrentado desde sempre pelo STP foi o vício em drogas pesadas do vocalista Scott Weiland. Cansados destes problemas, os integrantes Dean e Robert Deleo e o baterista Eric Kretz formaram em 1997 com o vocalista do Filter a banda Talk Show que lançou um disco homônimo no mesmo ano, tendo uma relativa repercussão.

Weiland acabou voltando a tocar com os caras do Stone Temple Pilots e lançando dois álbuns, “Number 4” de 1999 e “Shangri-la-dee-da” de 2001. Depois disto saiu novamente do grupo e se juntou com alguns ex-integrantes do Guns n´Roses formando o Velvet Revolver, que lançou dois discos e depois se dissolveu, mais uma vez pelo vício e temperamento de Scott Weiland, entre outros problemas.

O último disco lançado pelo STP com o Scott foi em 2010, depois disto Weiland saiu de vez e a banda recrutou em 2013 o vocalista Chester Benington do Linkin Park, gravando algumas músicas e fazendo alguns shows. Chester ficou pouco tempo no Stone Temple Pilots, voltando para sua banda original. Em Dezembro de 2015, Scott Weiland morreu devido a uma overdose e Chester Benington acabou cometendo suicídio em Julho de 2017.

Mais uma vez o Stone Temple Pilots teria que se reinventar, desta vez em 2017 a banda chamou o participante do Reality Show Musical “The X Factor” Jeff Gutt para assumir os vocais. Uma escolha arriscada, vide o exemplo do INXS que no inicio dos anos 2000 chamou o ganhador de um Reality para ser o vocalista. A banda lançou um disco com ele em 2004 e não teve boa aceitação da crítica e dos fãs.

Este ano o STP lançou seu sétimo disco de estúdio, autointitulado. Uma prova de fogo para o grupo e principalmente para o novo vocalista Jeff Gutt, que tem um timbre de voz similar ao de Weiland, o que na verdade se tornou um triunfo ao seu favor. O álbum abre com a potente “Middle of Nowhere”, pesadona e urgente. “Guilty” vem em seguida mantendo a pegada da primeira música, antecedendo a melhor música do disco: “Meadow” tem um riff de guitarra que fica na cabeça e um refrão contagiante, no melhor estilo dos grandes sucessos da banda.


"Thought She'd Be Mine" é uma belíssima balada, com violões e belos slides de guitarra de Dean Deleo, uma das melhores do disco. “Roll Me Under” é demolidora e agradará todos os órfãos do grunge dos anos noventa. "The Art of Letting Go" e "Finest Hour" lembram em suas letras os dois amigos perdidos, uma singela homenagem aos dois grandes cantores da banda que se foram.

No final das contas, o Stone Temple Pilots se sai muito bem neste novo trabalho. O grupo acertou em manter a essência de seu som e graças à competência de seus músicos, com a guitarra sempre presente de Dean Deleo e a cozinha segura e azeitada do baixista Robert Deleo e do baterista Eric Kretz conseguiu produzir uma coleção de boas canções que podem ser ouvidas do início ao fim sem nenhuma faixa ser pulada. Quem está aprovado também é o novo vocalista Jeff Gutt, seguro e emulando quase que espiritualmente os vocais de Scott Weiland algumas vezes, mostra que veio pra ficar e acrescentar muito ao trabalho do Stone Temple Pilots.