Em 1992, depois do
estrondoso sucesso do clássico Nevermind de 1991 houve um grande alvoroço por
parte dos fãs do Nirvana, ávidos por novas canções da banda e também da
gravadora, de olho nos novos milhões que poderia arrecadar com a venda de
discos (sim, naquela época a divulgação das músicas era na base do cd, da fita
k-7 e do LP, as plataformas digitais de música eram coisa de filme de ficção científica).
Para saciar esta sede por
novas canções, em 15 de dezembro de 1992 era lançado o álbum Incesticide, uma
coletânea de raridades do Nirvana, contendo músicas que tinham sido lançadas em
EPs, compactos e sessões de programas de rádio. Com este lançamento o Nirvana
teria também mais tempo para lançar um novo disco de inéditas que saiu somente em setembro de 1993, o também clássico e essencial In Utero.
Na capa do disco aparece um
ser raquítico segurando algo que parece ser uma papoula, um desenho feito pelo
próprio Kurt Cobain que representava a si mesmo e sua luta contra o vício de
heroína. Outra curiosidade sobre o álbum é que quatro bateristas tocaram nas 15
músicas do disco, sendo eles: Dave Grohl ("Turnaround", "Molly's
Lips", "Son of a Gun", "Been A Son", "New Wave Polly" e “Aneurysm”), Chad Channing (“Dive”,“Stain e “Big Long Now”), Dale
Crover, baterista do Melvins ("Beeswax", "Downer",
"Mexican Seafood", "Hairspray Queen" e "Aero Zeppelin")
e Dan Peters, baterista do Mudhoney (“Sliver”).
A canção inicial “Dive” (que
iria fazer parte de um segundo disco do Nirvana pela gravadora Sub Pop, algo que acabou
não acontecendo) é uma das mais raivosas e estranhas do repertório do Nirvana, abre
o disco com um riff de baixo tenebroso logo entrando a guitarra envenenada de
Kurt Cobain, tendo uma das letras mais depressivas de Kurt, “Me escolha, me
escolha, yeah / Todo mundo está esperando / Me bata, me bata, yeah / Eu sou
realmente bom em apanhar / Mergulhe, Mergulhe, Mergulhe em mim”.
“Stain” (que fez parte do EP
Blew de 1989) tem uma sonoridade bem underground e uma letra autodepreciativa,
enquanto em “Sliver”, Kurt faz a letra na visão de uma criança que quer mais
atenção de seus pais. “Been a Son” é uma das melhores canções pop/punk do
Nirvana. “Turnaround” é um cover da banda Devo, uma das preferidas de Cobain,
assim como “Molly´s Lips” e “Son of a Gun” são covers da banda Vaselines, outro
grupo cultuado pelo líder do Nirvana (essas duas últimas fizeram parte de uma
sessão do famoso programa de rádio de John Peel da BBC de Londres).
“New Wave (Polly)” é uma
versão punk da clássica canção do disco Nevermind enquanto "Beeswax",
"Downer", "Mexican Seafood", "Hairspray Queen" e
"Aero Zeppelin" fizeram parte da primeira demo que a banda gravou
ainda com o nome de Ted Ed Fred em 1988 contando com Dale Crover na bateria. O
disco fecha com “Big Long Now” (que ficou de fora do disco Bleach por ser lenta
e arrastada demais) e ”Aneurysm”.
Se Incesticide não é um dos
discos mais vendidos e preferidos dos fãs, pelo menos é um álbum que mostra uma
vertente mais underground e punk do Nirvana, mostrando o que o grupo era
realmente diferente do som bem produzido e polido de Nevermind. Uma coleção de
canções belas e ao mesmo tempo estranhas, que ajuda a entender a mente genial e
confusa de Kurt Cobain, um dos maiores ícones do rock dos últimos tempos.