15 de dezembro de 2015

Só a necrofilia da arte justifica o lançamento de Montage Of Heck: The Home Recordings

Imagine que você é um músico e faz gravações caseiras, sem maiores intenções, tocando e cantando porcamente só para exercitar seu lado criativo. Vinte e um anos após sua morte, um diretor de cinema resolve fazer um documentário sobre sua vida, descobre essas gravações e resolve lançá-las em um disco para o mundo inteiro ouvir. É isto que aconteceu com o pobre Kurt Cobain com o lançamento do CD Montage Of Heck: The Home Recordings.


O diretor Brett Morgen, do documentário sobre Kurt Cobain que foi lançado este ano (leia a resenha sobre o filme aqui) descobriu em sua pesquisa horas e horas de fitas com gravações de trechos de músicas, colagens musicais e outros experimentalismos de Kurt, além de várias pinturas, esculturas e outros itens que mostravam como Cobain era um artista extremamente criativo. Com o propósito de lançar uma trilha sonora para o filme, no final de novembro saiu o disco com trinta e uma “canções”, tiradas das gravações caseiras feitas pelo eterno líder do Nirvana.

Para fãs fervorosos do Nirvana e Kurt Cobain (como eu, por exemplo) que estão sempre à espera de algum material novo, alguma gravação inédita, seja da banda ou até mesmo de Kurt cantando no banheiro ou algo do tipo é bem vinda. Praticamente todas as gravações do Nirvana em estúdio já foram lançadas e a gravadora achou este “tesouro” guardado a sete chaves e é claro, os executivos da indústria da música querem descolar mais alguns dólares com o último grande astro do rock.

Musicalmente falando, pouca coisa se aproveita em Montage Of Heck: The Home Recordings. Talvez algumas das gravações pudessem se tornar grandes canções um dia, como “Burn de rain” (se Kurt não fosse interrompido por um telefonema no meio da gravação por alguém à procura de sua namorada na época, Tracy Marander) ou até mesmo “She only lies”, mas na maioria delas são apenas rascunhos de canções que jamais seriam lançadas.

O álbum tem uma versão de “And I love her” dos Beatles, mostrando o lado Beatlemaníaco de Kurt (apesar dele não gostar tanto de Paul McCartney) com Cobain cantando de uma forma singela e descompromissada ao mesmo tempo. Há também versões embrionárias de canções que fariam parte de discos do Nirvana, como “Been a son”, “Scoff” e “Frances Farmer will have her revenge on Seattle”.


A intenção do diretor do filme era mostrar com estas canções o processo criativo de Kurt, como ele estava sempre compondo e tendo ideias interessantes. Ouvindo o disco como fã é até interessante e divertido ouvir palhaçadas como “Beans” e “Montage of Kurt” e experimentalismos musicais como “Reverb experiment” e “Scream”, mostrando que provavelmente se ele não tivesse morrido iria partir para um caminho mais estranho e experimental em sua música.

O problema é quando pensamos no artista, que procura sempre mostrar o que há de melhor em seu trabalho. Será que Cobain iria querer lançar algum dia essas gravações se estivesse vivo? Obviamente a resposta seria não, mas a indústria musical precisa sempre extrair tudo dos artistas que já morreram, sem se importar se aquilo seria relevante para suas carreiras ou não. Só a necrofilia da arte justificaria um lançamento como este, mas de qualquer forma, para os órfãos fãs de Kurt Cobain qualquer migalha seria bem aceita, devido ao pouco material gravado em vida pelo artista. 


7 de dezembro de 2015

Tributo a Scott Weiland

Semana passada, no dia três de dezembro morreu aos quarenta e oito anos Scott Weiland que ficou mais conhecido como vocalista do Stone Temple Pilots e do Velvet Revolver e atualmente fazia turnê com sua banda de apoio o Wildabouts (leia a resenha do último disco lançado por Weiland aqui). O cara teve uma vida conturbada e seu excesso no uso de drogas e álcool prejudicou sua carreira, sendo que foi expulso de suas bandas anteriores várias vezes e o que parecia inevitável infelizmente aconteceu. Em suas últimas apresentações ele aparecia irreconhecível, visivelmente debilitado e sua morte parecia questão de tempo. Hoje no blog vamos lembrar grandes momentos deste que foi um dos maiores cantores do rock dos últimos vinte anos.


Stone Temple Pilots – “Plush”

Nesta canção que é o maior sucesso do STP temos uma das performances vocais mais memoráveis de Weiland. A letra feita por ele fala sobre uma garota que foi brutalmente assassinada. Muitos compararam sua voz com a de Eddie Vedder, mas quem entende mesmo de rock e tem bom ouvido pode perceber que os dois têm bem diferentes. 


Stone Temple Pilots – “Wicked garden”

Esta foi a primeira canção que ouvi do STP e daí por diante virei fã desta banda. O vocal forte e explosivo no refrão virou marca registrada de Weiland, que foi talvez o maior responsável pelo sucesso do Stone Temple Pilots na década de noventa. 


Stone Temple Pilots – “Creep”

Com um vocal bastante influenciado nesta canção por Steven Tyler do Aerosmith, Weiland interpreta com exatidão o personagem deprimido e reflexivo da música, em uma das mais belas e melancólicas canções do STP.


Stone Temple Pilots – “Interstate love song”

Em um dos maiores sucesso da banda, Weiland mostra mais uma vez que era um grande cantor, mostrando o lado menos raivoso e mais melódico do grupo.


Stone Temple Pilots – “Big empty”

Esta versão para o Acústico MTV é de arrepiar, impressionante o vocal de Weiland nesta canção que faz parte do disco Purple e da trilha sonora do filme “O Corvo”. 


Stone Temple Pilots – “Big bang baby”

Neste disco o STP deu uma mudada na sua sonoridade e esta canção tem um lado mais Glam Rock. Weiland canta com uma voz mais rouca, diferente da voz grave característica dos discos anteriores, talvez para fugir um pouco das comparações equivocadas com os vocais de Eddie Vedder do Pearl Jam.


Stone Temple Pilots – “Trippin´ on a hole in a paper heart”

Uma das grandes qualidades de Weiland era a presença de palco, neste vídeo vemos a capacidade de empolgar o público, mostrando porque Weiland era um dos maiores “frontmens” em atividade no rock.


Scott Weiland – “Barbarella”

De seu primeiro e elogiado primeiro disco solo, 12 Bar Blues de 1998, “Barbarella” mostra toda a influência de David Bowie no trabalho de Scott Weiland, neste estranho videoclipe. 


Velvet Revolver – “Slither”

Depois de sair do Stone Temple Pilots em 2002, Weiland se juntou a esta super banda de rock, formada por Slash na guitarra, Duff McKagan no baixo e Matt Sorum na bateria, três ex-integrantes da formação clássica do Guns n´Roses. O estilo vocal de Weiland casou perfeitamente com a sonorida feita pelos ex-Guns e a banda fez bastante sucesso, até é claro, Weiland levar um pé na bunda pelos seus frequentes excessos com drogas. 


Scott Weiland And The Wildabouts – “Jean Genie”

Aqui com sua última banda, fazendo um cover de um clássico de David Bowie. Mesmo debilitado Weiland presta tributo a uma de suas maiores influências com muita competência.


25 de novembro de 2015

Discografia Básica - London Calling

Em 1979 a fase de euforia em relação ao movimento punk já havia passado e um dos nomes mais importantes do estilo, o The Clash, se preparava para gravar seu terceiro disco de estúdio, após o disco de estreia de 1977 e o segundo, Give´Em Enough Rope de 1978. A banda em seus primeiros álbuns já dava pistas que iriam além dos três acordes e da sonoridade punk, mas seu disco mais variado musicalmente e mais audacioso ainda estava por vir.


Quando começaram a gravar o disco, o Clash passava por um momento conturbado, pois tinham mandado embora dois empresários em sequência. Produzido por Guy Stevens, London Calling foi uma guinada na carreira da banda, mostrando novas influências e ritmos musicais como Ska, Reggae, Rockabilly e até mesmo Jazz, algo impensável para os mais ortodoxos punks.

A faixa de abertura que dá nome ao disco é um petardo que mostra o inconformismo do grupo com a situação política e social do mundo, citando o desastre nuclear de Three Mile Island e criticando a euforia criada pela mídia com o fenômeno do Punk Rock no final dos anos 70: “Chamando Londres, não esperamos que você nos guiará /A falsa Beatlemania mordeu a poeira". 


A canção “London Calling” se tornou um hino inconformista e tem um ritmo contagiante que parece mesmo um chamado contra o conformismo e as injustiças sociais. A linha de baixo marcante e a interpretação forte e segura do vocalista Joe Strummer tornaram a canção um dos maiores clássicos do rock em todos os tempos.

“Brand new cadillac” é originalmente do cantor Vince Taylor, um Rockabilly gravado nos anos 60 enquanto “Jimmy Jazz” é uma canção com bastante influência do Jazz que na letra critica a violência policial. “Hateful” foi influenciada pelas canções de Bo Diddley, um dos pioneiros do Rock e “Rudie can´t fail” mistura Ska e Soul Music.

“Spanish Bombs” fala sobre a Guerra Civil Espanhola, com uma belíssima letra, mostrando a vertente politizada da banda. “Lost in the supermarket” é cantada por Mick Jones e mostra a veia mais pop do Clash, em uma letra que critica o consumismo. “Clampdown” é uma porrada que critica o capitalismo e o sistema, em uma das canções mais incendiárias da banda. 


O Reggae “Guns of Brixton” é cantada pelo baixista Paul Simonon e mostra como o Clash influenciou muitas bandas mundo afora, como Rancid (praticamente uma cópia do Clash) entre outras. “Train in vain” é o lado romântico do grupo e um de seus maiores sucessos radiofônicos. A banda Garbage até sampleou a batida inicial em um de seus maiores sucessos, “Stupid Girl”.


A capa do álbum é também um clássico, na imagem o baixista Paul Simonon quebra seu baixo em um show. A arte foi inspirada na capa do primeiro disco de Elvis Presley, lançado em 1956. Isto mostra como o Punk sempre buscou resgatar as raízes do Rock, a sua simplicidade harmônica e o seu ritmo contagiante. O Clash com sua consciência política exigiu que o disco mesmo sendo duplo fosse vendido pelo preço de um o que acabou sendo acatado pelos lojistas em geral.

London Calling se transformou em um dos maiores clássicos do Rock e mostra uma banda em seu auge criativo, mostrando a evolução musical de Strummer e Cia. Um álbum que foi muito além do Punk e se tornou disco de cabeceira de muitos jovens ao redor do mundo, em uma época que garotos montavam bandas para tentar mudar o mundo e não apenas para ficarem famosos e ganhar rios de dinheiro. 


9 de novembro de 2015

Inusitadas versões de músicas do Nirvana

Hoje no blog vamos relembrar alguns artistas que gravaram ou fizeram versões bem inusitadas de canções desta que foi a última grande banda do rock. Estas versões mostram que Kurt Cobain era mesmo um grande compositor e fazia belas harmonias, pois as músicas funcionam muito bem em ritmos como reggae, mpb e pop. 

Little Roy – “Dive”


Este cantor de reggae fez um disco inteiro de versões de músicas do Nirvana, chamado The Battle of Seattle, lançado em 2011. Impressionante como esta canção pesada do Nirvana ficou bem no ritmo jamaicano.





Patti Smith – “Smells like teen spirit”


Uma das cantoras mais influentes do rock fez uma fantástica releitura do maior clássico do Nirvana. Lançado no álbum Twelve de 2007, é uma versão mais delicada com bandolins e a tradicional interpretação emocionante de Smith. Cobain com certeza ficou muito lisonjeado. 



Caetano Veloso – “Come as you are”


Até o nosso querido Caê se rendeu ao talento de Kurt e fez a sua versão MPB/World music deste outro clássico do Nirvana. A canção ganhou uma outra roupagem e bem diferente do arranjo original. 



Manic Street Preachers – “Been a son”


Os galeses do Manic Street Preachers regravaram esta canção do Nirvana em sua coletânea de raridades, Lipstick Traces, de 2003. Uma versão mais lenta e acústica, com direito a belos slides de violão. 




Miyavi – “Blew”

O cantor pop japonês fez uma versão exótica da soturna canção do Nirvana. Detalhe para o inglês improvisado do cantor, mesmo assim ficou bem legal o cover deste japa maluco.





27 de outubro de 2015

Top 10 Iggy Pop

James Newell Osterberg nasceu em 21 de abril de 1947. Mais conhecido como Iggy Pop, se tornou no decorrer dos anos um dos artistas mais performáticos e influentes da história do rock. No final da década de 60 liderou o The Stooges, banda considerada como precursora do punk rock, lançando dois discos clássicos: The Stooges de 1969 e Fun House de 1970. Em 1977 lançou seu primeiro disco solo, The Idiot, produzido pelo amigo David Bowie, que produziu também o segundo disco solo de Pop, Lust For Life. A canção “China girl”, presente no primeiro disco de Iggy Pop foi regravada por Bowie em seu álbum Let´s Dance de 1983.


Iggy Pop quando garoto assistiu a um show do The Doors e ficou fascinado com a performance maluca de Jim Morrison e percebeu que era aquele tipo de postura no palco que ele iria adotar em sua carreira. Pop também foi um dos primeiros artistas a fazer o Stage Diving, pulando em cima do público durante os shows. Hoje vamos relembrar dez grandes momentos da carreira deste grande artista, que dias atrás fez um apoteótico show em São Paulo. 

“I wanna be your dog” (Do disco The Stooges de 1969)

Maior clássico da carreira do The Stooges tem toda a urgência e visceralidade que se tornariam características básicas do punk rock. Música e discos obrigatórios para aqueles que querem entender o que veio depois na década de setenta. 



“Search and destroy” (Do disco Raw Power de 1973)

Canção explosiva e direta que se tornou uma cartilha para muitos roqueiros. Ouvindo a canção vemos a influência em diversas bandas antigas e da atualidade, como o The Hives, por exemplo.


“No fun” (Do disco The Stooges de 1969)

Também do clássico primeiro disco dos Stooges, um canção característica da banda, simples, direta e urgente. 


“Fun house” (Do disco Fun House de 1970)

Do segundo disco da banda, tem uma sonoridade mais diversificada com a presença de um saxofone, mas com a mesma pegada característica do Stooges.


“China girl” (Do disco The Idiot de 1977)

Música do primeiro disco solo de Iggy Pop tem uma levada mais pop e uma parceria com David Bowie, que a regravou anos depois. The Idiot foi o último disco que Ian Curtis, vocalista do Joy Division ouviu antes de cometer suicídio em 1980. 


“Lust for life” (Do disco Lust For Life de 1977)

Escrita por David Bowie, esta canção fez bastante sucesso nos anos 90, quando fez parte da trilha sonora do filme Trainspotting de 1996.


“The Passenger” (Do disco Lust for Life de 1977)

Um dos maiores clássicos de sua carreira solo foi regravada pelo Siouxsie And The Banshees e fez bastante sucesso no Brasil na versão do Capital Inicial, com direitos a vários “la la las” de Dinho Ouro Preto. 


“Candy” (Do disco Brick By Brick de 1990)

Talvez o maior sucesso radiofônico de Pop, tem a participação da vocalista do B52´s, Kate Pierson. Um das canções mais bonitas da carreira de Iggy Pop. 


“Wild America” (Do disco American Caesar de 1993)

Esta música me marcou bastante. Passava na MTV na época em que eu comecei a ficar fascinado pelo rock. Neste vídeo podemos ver toda a expressão corporal de Pop, uma de suas maiores características. 


“Corruption” (Do disco Avenue B de 1999)

Uma grande canção que fala de um tema bem conhecido aqui no Brasil. 


15 de outubro de 2015

Ryan Adams melhora canções de Taylor Swift em sua versão de 1989

O cantor e guitarrista Ryan Adams é um daqueles grandes artistas que são ignorados pelo grande público. Na década de 90 participou da promissora banda Whiskeytown, que lançou apenas dois álbuns. Em 2000, Adams lançou seu primeiro disco solo, Heartbreaker, que foi muito elogiado pela crítica e bem recebido pelo público do rock alternativo.


Dotado de uma bela voz e ótimas composições, Adams foi lançando praticamente um disco por ano, mesmo sem estourar nas paradas de sucesso. Entre estes lançamentos podemos destacar o disco Gold, de 2002, que tem o sucesso “New York, New York” que virou um hino sobre o trágico atentado de 2001 e o disco Rock’n´Roll de 2003 (o meu disco preferido dele) em que Adams ironiza o rock alternativo em geral, com indiretas a bandas como Strokes entre outras.

Este ano o cantor aprontou mais uma e resolver regravar o disco inteiro da maior estrela da música pop atual, Taylor Swift. 1989 foi lançado pela cantora ano passado e foi o último grande fenômeno de vendas da música. Adams resolveu refazer os arranjos de todas as canções do disco e mostrar sua versão musical do trabalho de Swift. O resultado final ficou bem interessante, mostrando uma versão rock e folk de canções pop feitas para o consumo em massa.

Sinceramente antes de ouvir o disco original tinha um preconceito com a tal Taylor Swift. Tinha uma imagem de uma cantora pop daquelas insuportáveis da atualidade, mas tenho que assumir que após ouvir as canções de seu último trabalho admito que ela sabe fazer boas canções pop sem ser insuportável. Isto fica mais evidente ao se ouvir as versões da Adams, que mostram que por trás daqueles arranjos exagerados do pop atual, pode haver uma grande canção escondida.

Na abertura do disco, Ryan Adams faz uma versão estilo Bruce Springsteen de “Welcome to New York” transformando-a em um rock potente e vigoroso. A versão de Swift tem um vocal adolescente e uma batida mais dance e oitentista. Em “Blank space” Adams faz um arranjo que prioriza a delicadeza de dedilhados de violão, com uma voz quase sussurrada, que dá um clima melancólico e nostálgico à canção. O original de Taylor Swift é um pop característico, com batida eletrônica e refrão marcante.


Adams transforma “Style” em um rock arrebatador com refrão explosivo e bons riffs de guitarra, melhorando ainda mais a versão original, um pop bem feito e com excelente melodia. “Out of woods” é transformada em uma balada folk triste e melancólica, enquanto a original tem outra abordagem, com batida eletrônica e clima nostálgico.

A versão feita de “All you have to do is stay” por Adams é bem mais inspirada do que de Swift, com uma interpretação mais roqueira, enquanto a original prioriza violões e batidas dançantes. O dance pop feito por Swift em “Shake it off” dá lugar a um clima mais interessante na versão de Ryan Adams, com um tom mais dark e teclados interessantes.

“Bad blood” nas mãos de Adams vira um folk rock bem mais emocional, enquanto o original de Swift é um pop descartável com participação de um Rapper mala. “Wildest dreams” se torna um delicioso soft rock estilo Fleetwood Mac na versão de Ryan, enquanto a original é um pop bem anos 80. “I know places” encerra o disco com uma batida envolvente e guitarras com tremolo, enquanto a versão original é uma balada acústica sem maiores emoções.

Esse despretensioso disco de covers de Ryan Adams não vai mudar o mundo, mas é um álbum excelente, mostrando que estruturalmente as canções de Taylor Swift têm qualidades, mas pecam pelos excessos que a indústria musical atual impõe, com canções às vezes padronizadas, para se ouvir em pequenos aparelhos de MP3. Ponto para Adams, que mostra ser um dos artistas mais interessantes e surpreendentes da atualidade. 


5 de outubro de 2015

New Order supera saída de Peter Hook e lança grande álbum

Quando foi anunciada a saída de Peter Hook do New Order alguns anos atrás, parecia que seria o fim do New Order. Muita gente, inclusive eu, não botava muita fé que a banda conseguiria se reinventar sem um de seus fundadores e sem aquela sonoridade de baixo única que Hook fazia tanto no Joy Division quanto no New Order.


Este ano saiu Music Complete, novo disco de inéditas da banda inglesa e toda a desconfiança caiu por água baixo depois das primeiras audições. Com a ajuda de Stuart Prince (produtor de Madonna entre outros) e Tom Rowlands do Chemical Brothers, o grupo fez um disco pop de alta qualidade, talvez seu melhor trabalho nas últimas duas décadas. Uma mistura que a banda sabe fazer com muita propriedade entre a música eletrônica com guitarras rápidas e certeiras e a voz frágil e emocional de Bernard Sumner.

O disco abre com o primeiro single lançado do álbum, “Restless” é uma tradicional canção do New Order, com elementos eletrônicos, uma linha de baixo interessante sem tentar imitar a sonoridade “hookyana” com uma letra reflexiva com um tom um tanto melancólico. “Singularity” tem uma batida feita para as pistas de dança, ritmo envolvente e teclados interessantes. Na letra uma possível referência aos tempos de Joy Division: “Quatro almas perdidas que não podem voltar para casa / O meu amigo não está aqui, nós derramamos nossas lágrimas”.

“Plastic” é bem anos 80, com vocais femininos estilo Primal Scream, enquanto “Tutti Frutti” lembra algumas coisas do disco Technique de 1989, graças ao vocal robótico utilizado no começo da música. A canção tem participação da cantora La Roux assim como na música seguinte, “People on the high line” que funciona muito bem para tocar nas pistas de dança, com um piano estilo house music da virada dos anos 80 para os 90.

“Stray dog” é uma faixa surpreendente com a participação de Iggy Pop, cantando/recitando uma letra sombria, na música mais experimental do álbum. “Academic” é outra candidata a hit do disco, com uma levada pop envolvente com violões e sintetizadores e um refrão muito inspirado, lembrando os melhores momentos do New Order. “Nothing but a fool” tem uma levada oriental no começo se transformando durante sua execução em mais uma bela canção pop com guitarras marcantes e belos vocais femininos.

“Unlearn this hatred” é outra canção feita para as pistas de dança, envolvente e dançante, enquanto “The game” tem um interessante looping eletrônico e solos simples e marcantes de guitarra no final. Para fechar o disco, “Superheated” tem a participação do ilustre filho do New Order, Brandon Flowers do The Killers (o nome do grupo foi retirado da banda fictícia do clipe do New Order, “Crystal” de 2001) e termina o disco no clima que permeia todo o álbum, sem deixar a peteca cair.

Em Music Complete, o New Order consegue algo improvável: superar a saída de um integrante chave e fazer um disco de alto nível. A banda não caiu na armadilha de tentar imitar o som feito pelo baixo de Hook e de certa forma se livrou de um clichê, afinal aquela sonoridade de baixo era algo que parecia ser obrigatório no trabalho do grupo. Um grande disco que vai acrescentar novos sucessos ao extenso catálogo de hits de banda. Vida longa ao New Order!


22 de setembro de 2015

Nasi mistura ritmos africanos ao rock em seu novo disco solo

Egbe é o novo trabalho solo do eterno vocalista do Ira!, que mesmo após a volta de sua banda original não deixou de lado sua carreira solo e através de uma campanha de financiamento coletivo lança seu quarto disco (sem considerar os discos lançados como Nasi e Irmãos do Blues). Há algum tempo praticante do Candomblé, neste novo trabalho mostra sonoridades da música africana, misturadas com blues, country e o tradicional rock feito com o Ira! ao longo de mais de trinta anos de carreira.


O disco foi gravado ao vivo no Áudio Arena dentro do estádio do Morumbiba e lançado no formato de DVD também. O que causa uma estranheza inicial é o fato de seis das treze faixas deste disco serem do último trabalho de estúdio de Nasi, Perigoso, lançado em 2012. As canções que se repetem neste disco têm praticamente os mesmos arranjos e estruturas do disco anterior, apenas com uma leve evolução instrumental, e alguns improvisos, graças ao entrosamento da banda ao longo dos shows nos últimos anos.

Começando com o potente rock de “Dois animais na selva suja da rua”, música de Taiguara que ficou famosa também na voz de Erasmo Carlos, Nasi faz uma bela versão com sua baleada voz, que melhorou um pouco graças aos quilos perdidos pelo cantor nos últimos meses. Em “Ori” (que tem um riff de guitarra que lembra “Sex type thing” do Stone Temple Pilots), Nasi pede proteção contra todo o mal em forma de uma oração com o refrão em língua africana.

“Alma noturna” é uma das canções inéditas do disco, com um bom riff e uma pegada bem rock. “Feitiço na rua 23” tem um clima etéreo e belos arranjos de guitarra. “Amuleto” é um divertido country rock estilo Johnny Cash. “Perigoso” tem uma letra autobiográfica, enquanto “Não vejo mais nada de você” é uma balada acústica com uma letra saudosista, que relembra vários lugares da cidade de São Paulo.

“Monia” é outra canção inédita, tem um belo arranjo de órgão e gaita, porém com uma letra meio forçada. “Rubro Zorro”, canção do clássico disco do Ira! Psicoacústica de 1988, ganha um novo arranjo que funciona muito bem, em outra canção ao estilo country rock. “Problemas” é um blues característico que lembra o trabalho de Nasi feito com os Irmãos do Blues na década de noventa. “Se Deus quiser e o diabo deixar” tem bastante influência da música negra americana, com um belo arranjo de sax. “Sol e chuva” tem percussão com berimbau em um ritmo afro-brasileiro. Para encerrar o álbum mais música em ritmo africano em “Egbe onire”.

Neste novo disco, Nasi mostra um consistente trabalho musical, graças também a uma competente banda de apoio e uma ótima captação de som do Áudio Arena. Vamos aguardar agora o novo disco do Ira! que deve sair ano que vem, esperando que não tenha músicas do nível de “ABCD”, uma fraca canção nova que a banda paulistana toca em seus shows após seu retorno aos palcos em 2014. 


11 de setembro de 2015

Os cinquenta anos do disco Help! dos Beatles

Este mês comprei o disco Help! dos Beatles, faltando para mim agora apenas quatro álbuns para completar a discografia básica da banda. Coincidentemente este ano completaram-se cinquenta anos do lançamento deste grande disco do Fab Four. Lançado como trilha sonora do filme de mesmo nome, mostra a evolução da banda que culminaria com a mudança radical na sonoridade dos Beatles com o disco Revolver de 1966.
No auge da Beatlemania teve logo após seu lançamento o antológico show feito no She Stadium em Nova Iorque, sendo o primeiro show feito em um estádio, iniciando a era de grandes espetáculos musicais. Ainda em 1965, segundo reza a lenda, Lennon e Harrison usaram LSD pela primeira vez. O resultado disto todos já sabem: a fase mais psicodélica da carreira da banda.

Logo de cara temos uma das canções emblemáticas dos Beatles, “Help!” seria um desabafo de Lennon sobre o sucesso e o assédio descontrolado das fãs histéricas. Com um refrão fantástico, foi um grande marco dentro da história da música. “The night before” tem aquelas vocalizações que o Fab Four fazia com maestria, em uma canção pop e encantadora.


“You got to hide your love away” tem uma sonoridade influenciada por Bob Dylan, uma balada folk que tem uma letra que dá a entender se tratar de uma relação proibida (ou homossexual). Alguns boatos dizem que a letra fala sobre uma relação “divertida” entre Lennon e o empresário da banda na época, Brian Epstein. “I need you” é cantada por Harrison e tem um riff simples e eficiente, nesta canção composta para a namorada de Harrison na época, Patty Boyd.

“Ticket to ride” foi a introdução dos Beatles à psicodelia e tem uma letra enigmática que tem diversas interpretações. Alguns dizem que é sobre uma garota que deixou Lennon, outros dizem que a letra fala sobre um ticket especial dado a prostitutas em Hamburgo, na Alemanha. “Act naturally” é cantada por Ringo Starr e mostra a paixão do baterista pela música Country, nesta canção composta por Johnny Russel. 


“I´ve just seen a face” é uma divertida canção cantada por McCartney, música que também aparece na versão americana do álbum Rubber Soul. Em “Yesterday” temos a primeira vez que um integrante grava uma canção sem a presença dos outros. McCartney canta com violão acompanhado apenas por um quarteto de cordas. Um dos momentos mais memoráveis do rock é uma das melhores músicas dos Beatles, com uma linda letra, se tornando a canção mais regravada de todos os tempos.


O álbum termina com o potente rock de "Dizzy Miss Lizzy", do compositor Larry Williams, cantada com raiva pelo mais roqueiro e rebelde dos Beatles, John Lennon. Com arranjos simples e minimalistas aliados à bela produção de George Martin, Help!, o disco, se tornou um marco dentro da história do rock. Ali já se percebia que os Beatles não eram apenas quatro rapazes bonzinhos e afinados que faziam músicas para garotas apaixonadas. Os Beatles começavam a se tornar uma banda de rock cada vez mais consistente, gravando um disco clássico atrás do outro, com uma sonoridade que influenciaria a música para sempre.





31 de agosto de 2015

Unknown Pleasures – Um disco definitivo

Em 1979 a banda pós-punk Joy Division lançava seu primeiro disco, Unknown Pleasures. O álbum foi gravado no Strawberry Studios em Stokport com a produção de Martin Hannet. O grupo optou em lançar o disco pela pequena gravadora Factory Records, mesmo tendo sido assediados por grandes corporações. A banda queria mais independência artística, ao contrário de bandas como o The Cure, que já estava em uma grande gravadora e já tinha que mudar sua direção musical (Aliás, o The Cure não ia muito com a cara do Joy Division, talvez por esta liberdade que o Cure não tinha).


A banda não tinha muito tempo e nem dinheiro por isto as gravações foram rápidas, sem muita enrolação e regravação de instrumentos. A capa do álbum virou um ícone do rock, trata-se de um gráfico de sinal de rádio captado por um telescópio. A ideia da capa foi do guitarrista Bernard Sumner e ela virou referência para muitos artistas, com sua arte minimalista e misteriosa.

“Disorder” abre o disco com um ritmo pulsante, com uma linha de baixo fantástica de Peter Hook e logo após entram os riffs de guitarras certeiros de Sumner. Na letra, Ian Curtis divaga sobre seus conflitos interiores: “Podem estas sensações me fazerem sentir os prazeres de um homem comum? / Estas sensações mal me mantêm interessado para outro dia / Eu peguei o espírito, perdi a sensibilidade, ignoro a surpresa”.



“Day of the lords” é lenta e arrastada, propositalmente e uma das mais pesadas do disco. O produtor Martin Hannet adicionou teclados na mixagem final a contragosto dos integrantes, mas o resultado final foi excelente, Peter Hook afirmou que Hannet estava certo, pois os teclados suavizam e melhoram a música.

Hannet reclamou durante as gravações que a banda ainda não tinha músicas suficientes para o álbum e forçou os integrantes a comporem mais duas músicas. Mesmo contrariados, o baterista Steve Morris e o baixista Peter Hook compuseram mais duas canções, que seriam “Candidate” e “From safety to where”, sendo que a segunda ficou de fora do álbum. O guitarrista Bernard Sumner não gostou de “Candidate” e gravou as guitarras com extrema má vontade com uma guitarra bem “econômica”. Mesmo considerando uma música não totalmente terminada, Hook afirma que ela é uma grande canção exatamente por isto.

“Insight” tem uma das linhas de baixo preferidas de Hook. Ao contrário das outras bandas, em que o baixista apenas segue as melodias da guitarra, no Joy Division era o contrário, as linhas de baixo eram feitas primeiro e a guitarra e os outros instrumentos deveriam seguir a linha de baixo. Outro destaque desta faixa é a bateria de Steve Morris, que mistura elementos acústicos e eletrônicos, um baterista que acabou desenvolvendo um novo estilo que influenciou muitos músicos.

“New dawn fades” é uma das melhores canções do Joy Division. Com um grande riff de guitarra e uma linha de baixo dilacerante, tem o fundo perfeito para a letra de Curtis, que fala sobre uma reflexão sobre o que talvez fosse a morte: “Oh, eu caminhei sobre a água, corri através do fogo / Parece que não consigo sentir mais / Era eu, esperando por mim / Esperando por algo mais / Eu, me vejo agora /Esperando por outra coisa”.



“She´s lost control” se tornou um dos maiores clássicos da banda. Isto se deve pelos experimentalismos feitos pela banda e pelo produtor Martin Hannet, transformando a canção em algo único e inovador. O som de um aerossol foi usado para criar alguns efeitos da bateria, além do uso de um sintetizador de bateria como um gerador de ruído branco, sendo Steve Morris um dos primeiros bateristas a usá-lo. Na letra, Ian Curtis fala sobre uma garota epilética que tem dificuldades de manter seu emprego e acaba morrendo durante um ataque. Uma letra totalmente autobiográfica, afinal Curtis sofreu até a morte com sua epilepsia.

Bernard Sumner queria que “Shadowplay” soasse como “The Ocean” do Velvet Underground. Uma música sombria e pulsante, que se tornou referência para o rock alternativo em geral. Sumner faz bons riffs de guitarra e segundo Hook, Sumner era um guitarrista subestimado às vezes, com grandes contribuições ao som do Joy Division. Na letra, Curtis fala sobre o submundo da sociedade, de forma ácida e sombria.



Sem falsa modéstia, Peter Hook fala que a linha de baixo de “Wilderness” é fantástica (e para variar, é mesmo) e é um ataque de Ian Curtis contra os dogmas da religião em forma de poesia. “Interzone” é o momento mais punk do álbum, com Hook fazendo os vocais principais e Curtis fazendo os backing vocals. Segundo Hook, Ian era legal neste aspecto, não tinha o ego inflado e deixava os outros integrantes cantarem se fosse necessário. O disco termina com a soturna “I remember nothing” com vários sons de vidros quebrados durante sua execução, outra ideia do produtor Martin Hannet.

Em Unknown Pleasures temos uma banda em seu auge criativo: um letrista fantástico como Ian Curtis, um baixista fenomenal como Peter Hook e instrumentistas que experimentavam ao máximo como Sumner e Morris, aliados a um grande produtor, que utilizou recursos inovadores de gravação como placas de eco e delays. Esta somatória de fatores transformou este álbum em algo único e definitivo dentro do rock, um dos discos mais influentes da história, sem dúvida alguma.