27 de maio de 2014

Grandes discos de 1994 - Vitalogy

Em 1994 o Pearl Jam já era uma banda com um público consolidado. Seu primeiro álbum, Ten, tinha vendido mais de 10 milhões de cópias, com sucessos que viraram clássicos do rock, como “Alive”, “Even Flow” e “Jeremy”. Seu segundo disco, sem nome, mas que é conhecido como Vs, também agradou o público e manteve a banda no topo das paradas, com músicas como “Daughter” e “Animal”.

A banda se reuniu em 1994 com o produtor Brendan O´Brien para começar a gravar seu terceiro trabalho no lendário estúdio de Seattle, o Bad Animals. O Pearl percebeu que agora poderia arriscar e experimentar mais do que nos discos anteriores e fizeram seu trabalho mais eclético até então.


O encarte do disco foi tirado de um livro de medicina de 1920, também chamado Vitalogy. Este foi o primeiro álbum do Pearl Jam que teve este formato de livro, com capa dura e tudo, algo que virou marca registrada da banda deste disco em diante. Dentro do encarte diversos textos e imagens fazendo referência à anatomia humana e doenças. Um dos encartes mais criativos que eu tive oportunidade de ver em álbuns de rock.


O disco começa com uma música forte, “Last exit”, que integra o setlist de alguns shows da banda até hoje, com o vocal sempre vibrante de Eddie Vedder e as competentes e fortes guitarras de Stone Gossard e Mike McCready. “Spin the black circle” é uma homenagem e ode aos discos de vinil, que na época perdiam espaço para o cd. “Not for you” fala sobre as desvantagens da fama e critica indiretamente a indústria musical. Na época a banda travava uma briga judicial épica contra a empresa que monopolizava a venda de ingressos nos Estados Unidos, a Ticketmaster, contra seus preços abusivos e monopólio de ingressos.



“Nothingman” é uma balada característica do Pearl Jam, com uma letra emocionante e uma das músicas mais bonitas feitas pela banda. As experimentações do disco começam com “Pry to” uma vinheta estranha que antecede a clássica “Corduroy”. Em “Bugs” mais experimentações, em que Vedder toca um acordeom meio desafinado que ele comprou em um brechó. 



“Better man” também se tornou um dos maiores clássicos da banda, enquanto “Aye davanita” é um espécie de mantra, outra música que mostra a vertente experimental do disco. Alguns dizem que a canção “Imortality” foi feita em homenagem a Kurt Cobain, que havia falecido no mesmo ano, fato que foi desmentido por Eddie Vedder, que disse que a letra não fala especificamente sobre o vocalista do Nirvana.

A última faixa do disco, “Hey foxymophandlemama, that's me" é uma colagem musical de 7 minutos, contendo as vozes de paciente psiquiátricos, feita em um hospital dos Estados Unidos. Esta experimentação do Pearl Jam lembra um pouco a faixa “Revolution 9” do álbum branco dos Beatles, algo me diz que a banda se inspirou nos Beatles para ter esta ideia para encerrar o disco.

Vitalogy foi o último trabalho do Pearl Jam com a participação do baterista Dave Abruzesse, que saiu da banda antes do final das gravações do disco, tanto que a última música do álbum foi tocada pelo novo baterista, o ex- Red Hot Chilli Peppers, Jack Irons. Vitalogy foi também bem recebido pela crítica e pelo público, consolidando de vez o Pearl Jam como uma das bandas mais bem sucedidas dos anos 90.




26 de maio de 2014

Jesus & Mary Chain ao vivo em São Paulo – Resenha

Ontem em São Paulo aconteceu o Festival Cultura Inglesa no Memorial da América Latina, tendo como principal atração a banda escocesa Jesus & Mary Chain. O Jesus é uma das bandas mais importantes do rock alternativo, com uma sonoridade que influenciou diversas bandas do Britpop e do Rock alternativo, dos anos 90 pra cá. Tendo como núcleo principal os irmãos Reid, o vocalista Jim e o guitarrista William, a banda lançou seis discos de estúdio: Psichocandy (1985), Darklands (1987), Automatic (1989), Honey´s Dead (1992), Stoned & Deathroned (1994) e Munki (1998).


A banda ainda teve como um de seus integrantes o vocalista do Primal Scream, Bob Gillespie, que tocou bateria no primeiro álbum do Jesus & Mary Chain. O som do Jesus sempre foi feito de músicas melodiosas afundadas em distorções e microfonia, um estilo bem característico, que influenciou muita gente que veio depois. Após o término da banda em 1999, o grupo voltou à ativa em 2007 e segue fazendo shows, mesmo sem lançar um disco de inéditas desde 1998.

Cheguei ao festival quando começava o show da banda Los Campesinos. Nunca tinha ouvido falar na banda, que até chegava a divertir em alguns momentos, mas fazia um som tão derivativo e com um vocal tão desafinado que não empolgaram tanto o público. Uma chuva insistia em cair no domingo em São Paulo e dá-lhe capa de chuva. Era o cenário perfeito para a entrada de uma das bandas mais emblemáticas do Rock.

O Jesus entrou no palco por volta das sete e meia da noite abrindo o show com “Snakedriver”. A chuva deu uma trégua e logo na segunda canção veio o primeiro clássico, “Head on” do disco Automatic de 1989, música que foi regravada pelo Pixies no disco Trompe Le Monde e pela Legião Urbana no Acústico MTV. Alguns estavam incrédulos em ver em um show gratuito seus heróis musicais, que muitos ali só tinham visto na TV e na Internet.


"Blues from a gun” foi a quinta música do show e me fez lembrar o saudoso lado B da MTV Brasil, bons tempos do Rock anos 90. Com seu peso e distorção foi um dos melhores momentos do show. “Sidewalking” e “Cracking up” deram sequência ao show com aquilo que o Jesus faz de melhor, guitarras distorcidas e a voz meio preguiçosa de Jim Reid, uma combinação que tornou o som da banda um clássico.

E por uma daquelas coincidências que só acontecem no rock, logo no início de “Happy when it rains” a chuva fina voltou, dando um clima a mais ao show. Para encerrar o show antes do bis a banda tocou o clássico “Just like honey”, com uma convidada especial para fazer o vocal feminino, porém a baixa qualidade do som impediu que se ouvisse alguma coisa da voz dela.

A banda voltou para o bis e tocou mais três músicas, encerrando o show com o peso e distorção da ótima “Reverence”. Apesar de a banda estar um pouco fora de forma (o vocalista Jim Reid teve que pedir para a banda recomeçar três músicas devido algum integrante estar atravessando) e da qualidade do som não estar tão boa (uma equalização que deixou o som muito grave) o Jesus & Mary Chain saciou a fome daqueles fãs que há muito tempo esperavam a oportunidade de vê-los ao vivo.




Jim Reid falou pouco com o público, mas se mostrou afável mandando até alguns tímidos beijos para a plateia. Um show que poderia ser tachado de burocrático por aqueles que não conhecem muito do estilo da banda, mas com um repertório que compensa qualquer tipo de erro ou introspecção. Algo que só uma banda com trinta anos de carreira pode conseguir. 






*Fotos tiradas por Maurício Millor

21 de maio de 2014

Paranoid – A “Bíblia” do Rock pesado

Em 1970 o Black Sabbath entrava em estúdio para gravar seu segundo disco. Após uma grande estreia, o disco homônimo que tem a clássica capa da mulher misteriosa, o Sabbath já era reconhecido como uma banda promissora, principalmente pelo público, já que a crítica não recebeu bem o primeiro trabalho da banda. O trabalho de estreia já mostrava as grandes características do grupo, um blues pesado, com letras que falavam de ocultismo, com grandes riffs de guitarra de Tony Iommi e o vocal fantástico de Ozzy Osbourne, acompanhados pelo baixo pulsante de Geezer Butler e a bateria selvagem de Bill Ward.


O álbum foi lançado em setembro de 1970 e não demorou muito para emplacar nas paradas de sucesso. Produzido por Rodger Bain, Paranoid se tornou a base para o rock pesado feito dali em diante. O disco era para ter se chamado War Pigs, porém a gravadora ficou com receio por causa da Guerra do Vietnã que acontecia naquela época e a polêmica que isto poderia causar.

A música de abertura, “War pigs”, é um épico de quase oito minutos, com várias mudanças de ritmos e claro, riffs fantásticos de Tony Iommi. Na letra, a banda fala sobre a injustiça da guerra, claramente sobre a Guerra do Vietnã. Uma crítica aos lideres dos países que mandam os pobres para a guerra, enquanto se escondem e só pensam em destruir os adversários, matando pessoas inocentes, como nos trechos da letra: “Políticos se escondem / Eles apenas iniciaram a guerra / Por que eles deveriam sair para lutar?/ Este papel eles deixam para os pobres”.




Tony Iommi quase teve sua carreira interrompida por um grave acidente. Aos 17 anos, quando trabalhava em um fábrica em sua cidade natal, Birmingham, teve sua mão esmagada por uma máquina e perdeu a falange de dois dedos de sua mão direita, justamente a mão que utilizava para fazer os acordes na guitarra, já que é canhoto. Foi um grande trauma para Tony que pensava que não poderia mais tocar guitarra, pois foi desencorajado por diversos médicos.

A grande salvação foi quando ele conheceu o trabalho do artista belga de Jazz, Django Reinhardt, que tocava usando apenas os dedos indicador e médio. Tony então viu que nem tudo estava perdido e começou a tocar colocando encaixes improvisados de plástico nas pontas dos dedos, posteriormente substituídos por próteses. Graças a sua força de vontade e talento, acabou se tornando um dos maiores guitarrista da história do rock.

“Paranoid”, a segunda música do disco, se tornou um dos maiores clássicos de todos os tempos. Um guitarrista que nunca tocou esta música não pode ser considerado realmente um guitarrista. Seu riff simples e sua letra que fala de um homem à beira da loucura transformaram a canção em um hino para diversos jovens do mundo todo. Destaque também para a performance vocal desolada de Ozzy na canção, interpretando muito bem o personagem da música. 



“Planet caravan” mostra o lado suave e psicodélico da banda. Uma música estranha, mas que mostra a toda a musicalidade do Sabbath, que não era uma banda que fazia barulho sem nexo algum, mas uma banda com ótimos instrumentistas. O efeito de vibrato na voz de Ozzy, torna a música ainda mais bela e misteriosa com uma bela percussão e uso de outros instrumentos não muito relacionados ao som pesado do Sabbath. Muitos chegam a pensar que outro integrante teria cantado a música no lugar de Ozzy Osbourne, assim como a música “Solitude” do disco Master of Reality, mas o que ocorreu é que Ozzy cantou em um tom mais baixo nas duas músicas e sua voz ficou bem diferente de seu tom tradicional.


Não há muito mais a falar sobre a música “Iron man”. Talvez o maior riff de guitarra de todos os tempos, também é uma música obrigatória para ser tocada por qualquer guitarrista que se preze. Muitos relacionam a música com o super-herói Homem de Ferro, mas a letra em si não fala sobre ele. Claro que muitos anos depois a Marvel utilizou a canção como tema do filme sobre o Homem de Ferro, com o ator Robert Downey Jr.



“Eletric funeral” para variar tem um riff clássico e fala sobre uma guerra nuclear, com as tradicionais mudanças repentinas de ritmo características do Sabbath. “Hand of doom” fala sobre o vício em heroína e “Rat salad” é o momento instrumental do álbum. “Fairies Wear Boots" é sobre um delírio de Ozzy que começou a ver fadas usando botas depois de ele usar drogas.

Talvez o único defeito de Paranoid na minha opinião seja a qualidade do som, que não conseguiu captar a fúria da banda ao vivo, devido provavelmente a pobre produção e pelos recursos técnicos da época. Em Paranoid o Black Sabbath mostrou que era uma banda que ao contrário do que a crítica dizia, não era um grupo satanista, apesar do interesse pelo ocultismo. Neste disco a banda abordou assuntos como a Guerra, o vício e a loucura do ser humano em geral.

O segundo álbum do Sabbath é a maior referência do rock pesado, tanto no heavy metal (apesar de algumas bandas terem colocado um excessivo virtuosismo no metal, fugindo um pouco da proposta do Sabbath), como o Grunge, o Stoner Rock e qualquer outro estilo de Rock mais pesado. Com uma sonoridade pesada e objetiva, mas muito bem tocada, o Black Sabbath se tornou uma das maiores bandas de todos os tempos, sendo Paranoid parte de uma discografia básica para todos que querem entender o Rock feito após a década de 70.






19 de maio de 2014

Titãs acerta ao voltar ao Rock em disco novo

Nheengatu é o novo disco da banda paulistana Titãs e é 18º álbum de uma prolífera carreira. O título é uma língua derivada do Tupi-Guarani e a capa é um desenho que representa a Torre de Babel. Agora como um quinteto, a banda lança este novo trabalho com a produção do requisitado Rafael Ramos, que produziu discos de Pitty, Los Hermanos entre outros artistas. Este também é o primeiro disco da banda com a participação do baterista Mário Fabre, que substitui Charles Gavin, que deixou a banda em 2010.


Neste novo álbum, o Titãs vem com uma sonoridade mais pesada, deixando um pouco de lado as baladas radiofônicas que estavam presentes nos últimos álbuns do grupo. As letras agora também estão mais fortes, com mais críticas sociais, ao contrário do romantismo que permeava algumas letras de trabalhos anteriores. A sonoridade lembra um pouco discos como Titanomaquia de 1993 e Cabeça Dinossauro de 1986.

“Fardado” abre o disco com um riff pesado e potente, com uma letra cantada com raiva por Sérgio Britto, criticando a violência policial. “Mensageiro da desgraça” é cantada por Paulo Miklos, que continua sendo o melhor cantor da banda, em uma letra que fala sobre um cara que vive na miséria das ruas, citando a pobreza e o crack. “República dos bananas” é cantada por Branco Melo, em uma parceria com o cartunista Angeli, em uma letra com uma estrutura bem característica do Titãs.

“Fala Renata” é uma das mais pesadas do álbum e tem uma mudança de ritmo no meio mudando de rock para uma batida meio baião. Com certeza uma das melhores para tocar nos shows. “Cadáver sobre cadáver” é uma parceria com o eterno titã Arnaldo Antunes. “Canalha” é um cover de Walter Franco, um dos artistas “malditos” dos anos 70, que também teve uma música regravada pelo Ira!, a música “Feito gente”. Um dos momentos de mais calma de Nheengatu, tem um arranjo simples e criativo, com uma boa interpretação de Branco Mello, apesar de suas habituais desafinações.

“Eu me sinto bem” e “Não pode” são rocks divertidos, mas bem dispensáveis, com letras mais infantis, duas músicas que poderiam estar fora do disco. “Flores para ela” é uma das melhores do álbum, fala sobre violência doméstica tem uma boa linha de baixo e muito bem cantada por Paulo Miklos. Em “Senhor” o Titãs usa uma base rítmica que já foi utilizada em músicas como “Massacre” e “Felizes são os peixes”.

Em “Baião de dois” a banda mistura baião com rock e se sai bem, com uma letra interessante. Para finalizar, a boa “Quem são os animais?” em que a banda critica a homofobia e o preconceito racial. O Titãs se sai bem em Nheengatu, um trabalho mais interessante do que os últimos três álbuns de estúdio lançados pela banda. Ao apostar em um rock mais pesado e energético e mesmo apelando para velhos clichês o grupo revigora o seu som e pode dar uma dose a mais de energia aos seus shows, deixando um pouco de lado o pop romântico que incomodava um pouco seus antigos fãs.



14 de maio de 2014

Clássicos da adolescência – Smash

Em 1994 eu estava na sétima série e a MTV era minha referência musical. Certo dia assistia ao Top 10 EUA, programa que passava os 10 clipes mais pedidos no país. Foi quando eu vi uma banda com um clipe meio tosco e que tinha um riff de guitarra meio oriental e aquela música não saia mais da minha cabeça. Este tal clipe era da banda californiana Offspring e a música, “Come out and play”.


A banda já tinha dois álbuns, The Offspring de 1989 e Ignition de 1992, quando lançou o disco Smash em 1994 pela gravadora independente Epitaph Records. O sucesso da música “Come out and play” logo levou o grupo aos primeiros lugares da parada de discos vendidos da Billboard. Esta canção também gerou uma polêmica: A banda Agent Orange acusou o Offspring de ter copiado o riff de “Come out and play” de uma música sua, chamada “Bloodstains”, porém a acusação não deu em nada, pois o riff era feito de uma escala de notas muito utilizada. A banda Vandals fez até uma música tirando um barato do Agent Orange e a frustrada acusação de plágio.







Smash é um disco que transborda energia e rebeldia adolescente. Em sua abertura há uma apresentação falada pelo herói punk Jello Biafra, vocalista do Dead Kennedys. Em seguida vem a primeira porrada do álbum, “Nitro (Youth ennergy)”, uma música que quando você ouve dá a impressão de estar descendo uma montanha russa, de tanta energia e adrenalina que ela causa. “Bad habit” tem uma introdução de baixo que virou obrigatória nos show da banda até hoje, uma canção que começa lenta, mas logo vira um punk rock frenético perfeito para as rodas de porrada dos shows.

“Gotta get away” com sua introdução simples, mas extremamente marcante foi outro sucesso do disco e o videoclipe rodou direto na MTV. O ritmo continua forte em músicas como “Genocide” e “Something to believe in”. Boa parte do sucesso de Smash deve se ao guitarrista Noodles que tinha uma técnica um pouco mais apurada do que um guitarrista de punk rock normal, fazendo riffs velozes e solos simples, mas mostrando técnica e criatividade. O vocalista Dexter Holland é outro destaque, no auge de sua forma, cantando com muita força e garra, às vezes em notas bem difíceis de serem alcançadas. 




“Come out and play” é o grande hit do disco, em uma letra que fala sobre a violência da juventude e brigas de gangue e quanto isto não leva a lugar algum. “Self steem” tem ecos “Nirvanicos”, com um riff e andamento que lembra bastante a banda de Seattle. Outro grande sucesso do álbum, com uma letra que fala de um cara que sabe que é traído e que não tem autoestima.





"Killboy Powerhead" é o único cover de Smash, originalmente gravado pela banda punk Didjits. "What Happened To You" é um ska com um belo solo de guitarra de Noodles. Ainda dá tempo e guardar um pouco de fôlego para pular ao som de “Not the one”, “So alone” e “Smash”.



Smash foi o disco lançado por uma gravadora independente mais vendido da história. Depois deste álbum houve uma briga entre várias grandes gravadoras que ficaram interessados na mina de ouro que o grupo havia se tornado. Finalmente em 97 a banda assinou com a Columbia e lançou o sucessor de Smash, Ixnay On The Hombre, que também fez bastante sucesso. Com o tempo, o Offspring acabou virando uma banda mais radiofônica e perdeu um pouco do punch inicial, mas foi em Smash que a banda teve seu ápice musical, marcando a vida de milhões de adolescentes ao redor do mundo.






12 de maio de 2014

Resenha - Nasi ao vivo no Centro Cultural São Paulo

Marcos Valadão, mais conhecido como Nasi, sempre teve projetos musicais além do Ira!. Desde a banda Voluntários da Pátria, no qual lançou apenas um disco em 1984, o cantor paulistano sempre esteve na ativa, produzindo até um dos primeiros discos de rap feitos no Brasil, da dupla Thaíde e Dj Hum, no final dos anos 80.


Outro projeto famoso de Nasi foi a banda Nasi e Irmãos do Blues. Com este projeto, o cantor lançou três discos de estúdio: Uma Noite Com Nasi & Os Irmãos do Blues (1993), Os Brutos Também Amam (1996) e O Rei da Cocada Preta (2000). Com esta banda, Nasi conseguiu mostrar seu lado mais blueseiro, algo que não havia espaço com o Ira!

Em 2006 finalmente lançou um disco totalmente solo, Onde os Anjos não Ousam Pisar. Em 2010 foi a vez do Cd e Dvd Vivo Na Cena, que foi gravado ao vivo no estúdio e teve várias participações especiais, como o de Marcelo Nova do Camisa de Vênus e Vanessa Krongold da banda Ludov. Perigoso foi lançado em 2012 e foi o seu último projeto solo lançado.

Nasi subiu ao palco neste último sábado no lendário Centro Cultural São Paulo. Um dos melhores locais para assistir shows, com um clima bem intimista e um palco que fica na mesma altura da plateia, reforçando o clima de proximidade entre público e artista. Acompanhado por uma ótima banda de apoio, com Rodrigo Lancellotti na guitarra, Johnny Boy no baixo, André Youssef no teclado e Evaristo Pádua na bateria, Nasi fez um belo apanhado de sua carreira neste show.

A voz “baleada” de Nasi, graças aos vários anos de estrada, excessos e pelos vários quilos a mais, acaba combinando com a sonoridade rockeira de sua carreira solo, que ainda tem boas doses de blues e um pouco do folk casca grossa estilo Johnny Cash. O setlist foi um apanhado geral de sua carreira, com músicas do disco Vivo na Cena como “Aqui não é o meu lugar” e “Eu só poderia crer” e também faixas de seu último disco, Perigoso, como “Dois animais na selva suja da rua”, música que fez sucesso na voz de Erasmo Carlos, “Amuleto” e “Tudo bem”.

Mas o que o público mais queria ver eram as canções de sua clássica banda. Do Ira! ele tocou músicas como “Eu quero sempre mais”, “O girassol”, “Envelheço na cidade” e encerrando o show com a emblemática “Dias de luta”. Destaque para o ótimo baterista Evaristo Pádua, que tocará com o Ira! em sua turnê de volta. Ainda houve espaço para homenagens a outros grandes nomes do rock brasileiro como Raul Seixas, em “As minas do Rei Salomão” e “Rockixe”, Cazuza em “O tempo não para” e Renato Russo em “Música urbana 2”.

O show mostrou que Nasi tem uma carreira muito coerente e muito significativa dentro do rock brasileiro. Um artista que enfrentou diversas crises pessoais e consegue mesclar o rock tradicional de grandes nomes, músicas autorais e músicas de novos artistas dentro do cenário alternativo brasileiro. Foi um belo aperitivo para os fãs do Ira! que esperam ansiosamente o primeiro show de reunião da banda, que acontecerá dia 17 de maio na abertura da Virada Cultural em São Paulo. 

7 de maio de 2014

Os vinte anos de Definately Maybe

Em 1991 Liam Gallagher, Paul Arthurs, Paul McGuigan e Tony McCarroll, montaram uma banda chamada The Rain. O irmão mais velho de Liam, Noel Gallagher logo percebeu que eles não tinham muito futuro e que faltava algo no grupo. Não demorou muito para Noel entrar para a banda e tomar conta de todas as composições, logo depois a banda mudou de nome para definitivamente ser chamada de Oasis.


Em 1993 assinaram contrato com gravadora independente Creation Records. No final do mesmo ano foi lançado o compacto de 12 polegadas da música “Columbia” e em abril de 1994 saiu o single da música “Supersonic”. Definately Maybe chegou às lojas em agosto de 1994 e teve a produção de Owen Morris.

A capa do disco traz inúmeras referências. Na imagem, uma foto tirada na casa do Paul “Bonehead” Arthur, aparece a foto do jogador inglês Rodney Marsh (ex-jogador do time de coração dos irmãos Gallagher, o Manchester City). Há também um pôster de um dos maiores ídolos de Noel, o compositor Burt Bacharath e na televisão aparece uma cena do filme The Good, The Bad and The Ugly. 

Logo neste primeiro registro já se percebiam as referências musicais do Oasis, Beatles, é claro, o Glam Rock dos anos 70 e o rock inglês dos anos 80. A primeira música, “Rock n´roll star” tem uma letra hedonista, que fala do sonho de ser um rock star, nem que seja por um dia. Nesta canção já percebemos uma banda audaciosa e com certa arrogância, característica que acompanhou o Oasis em toda sua carreira.

“Shakermaker” é um dos plágios mais descarados do Oasis. Com certeza foi proposital, pois a música tem a melodia idêntica a um comercial da Coca-Cola de 1971 que tem uma música chamada “I´d like to teach the world to sing”. Teve até uma banda que tirava um barato, chamada No Way Sis, que regravou esta música do comercial para mostrar como era um plágio escancarado. 







“Live forever” é uma das melhores composições de Noel Gallagher, uma letra que fala sobre a brevidade da vida, com excelentes solos de guitarra. Destaque para o clipe da música que mostra diversos artistas do rock que morreram jovens e foram homenageados. “Up in the sky” é uma das mais energéticas do disco, com seu vigoroso riff de guitarra.



“Supersonic” é a melhor música do Oasis, com uma bateria marcante no começo e um riff de guitarra simples, mas que fica na cabeça. Noel Gallagher ainda esnoba, falando que fez a canção em cerca de cinco minutos. “Bring it on down” é uma porrada, mostrando o lado mais sujo do som da banda.



Em “Cigarretes and alcohol”, Noel Gallagher pega emprestado o riff de “Get it on” do T-Rex, para fazer uma das músicas mais polêmicas da banda, uma ode aos excessos da vida na estrada, com um clipe também polêmico, com várias modelos fumando e bebendo. “Slide away” e “Married with children” foram feitas para a namorada na época de Noel, que queria terminar o relacionamento dos dois.





Definately Maybe foi o álbum de estreia mais vendido da história do rock, alcançando mais de 30 milhões de cópias no mundo todo. Um disco que mostrava uma banda muito ambiciosa e querendo conquistar o mundo. Com certeza um dos melhores momentos do rock inglês da década de 90 e uma das melhores estreias da história.




5 de maio de 2014

Pixies lança disco completo após 23 anos

Trompe Le Monde, último disco de estúdio do Pixies saiu em 1991. A banda se separou logo depois, voltando às atividades em 2004, mas nada de um álbum completo. Após a saída da baixista Kim Deal, o grupo resolveu lançar três EPs com músicas inéditas. Indie Cindy é a reunião das músicas destes EPs em forma de disco completo.


Após a saída de Kim Deal, quem assumiu o baixo foi a vocalista da banda The Muffs, Kim Shattuck, que pouco tempo depois foi demitida do Pixies por ser muito falante e extrovertida, destoando dos outros integrantes, algo que a deixou muito surpresa. Para seu lugar foi recrutada a ex-baixista do Zwan, a argentina Paz Lechantin, que até já tocou no Brasil com o grupo este ano no Lollapalloza.

A produção de Indie Cindy ficou a cargo de Gil Norton, que já tinha trabalhado com a banda nos clássicos Doolittle de 1989 e Bossanova de 1990. O baixo nas músicas foi gravado pelo músico de apoio Simon "Dingo" Archer. A arte da capa foi feita pelo mesmo artista plástico que fez as capas dos EPs lançados anteriormente, Vaughan Oliver. 

O álbum começa com a pesada “"What goes boom" que lembra o pouco em seu vocal algumas músicas de Trompe Le Monde. “Green and blues” é mais calma, com belos efeitos de guitarra e refrão mais pop. “Bagboy” tem uma parte que lembra um pouco hip hop e um refrão cantado por uma misteriosa voz feminina (que não é de Kim Deal, já que esta música foi lançada quase na mesma época da saída da baixista). “Indie cindy” é outra típica música do Pixies, com letra meio falada meio cantada.

“Madgdalena 318” tem um vocal atmosférico e lembra um pouco algumas músicas do disco Bossanova. “Silver snail” tem um vocal com muito reverb e clima viajante, enquanto “Blue eyed hexe” tem um riff marcante que lembra a música “U-mass” de Trompe Le Monde. Um das melhores músicas e mais energéticas do disco. “Ring the bell” é bem pop e harmoniosa com belas harmonias de guitarra de Joey Santiago (o guitarrista ao vivo mais desanimado da face da terra).

"Another toe in the ocean" é outra canção característica da banda, com forte apelo radiofônico, lembra também um pouco a carreira solo de Black Francis. “Andro queen” é meio viajante e psicodélica com efeito de guitarra com tremolo. “Snake” tem um arranjo mais tenso no começo e explode em um refrão contagiante. “Jaime bravo” encerra o disco com uma melodia fácil e assoviável.

O Pixies se saiu muito bem neste novo trabalho. Um disco de alto nível que não compromete a curta, mas bela carreira fonográfica da banda. Um álbum que pode decepcionar aqueles que esperavam um novo Doolittle ou um novo Surfer Rosa, mas seria difícil chegar ao nível de clássicos do rock alternativo deste porte. Claro que Kim Deal faz muita falta, mas o Pixies conseguiu suprir esta ausência e dá uma revigorada em seu repertório, tendo a banda agora novo material, sem ter que ficar tocando somente as mesmas músicas de 20 anos atrás.