29 de novembro de 2013

Os melhores discos de 2013 (Parte 1)

2013 não foi um ano fácil para a música. A MTV Brasil acabou, picaretagens como Anita, Naldo e Miley Cyrus ganharam cada vez mais espaço na mídia, enquanto artistas novos com qualidade se matam no underground para conquistar seu lugar ao sol.

Mesmo com tantas adversidades, alguns artistas conseguiram se destacar em meio a este marasmo, em sua maioria artistas consagrados, que tiveram que ressurgir das cinzas para mostrar para a nova geração como se deve fazer música. Vamos então começar a eleger segundo o blog, os melhores discos lançados este ano.


David Bowie – The Next Day


Fazia dez anos que o bom e velho Bowie não lançava um álbum de músicas inéditas. Seu último trabalho de estúdio tinha sido o disco Reality de 2003. Depois de vários rumores sobre o estado de saúde do cantor, saiu este ano o disco The Next Day e Bowie não decepcionou.

Bowie ficou dois anos em silêncio compondo e gravando as bases para este disco junto com o produtor Toni Visconti. Na capa do disco, brinca com a clássica capa do disco Heroes de 1977, colocando um quadro branco escrito o nome do disco novo sobre a icônica foto. Se em discos clássicos como Ziggy Stardust e Alladin Sane, Bowie assume outros personagens para cantar suas músicas, neste novo álbum ele prefere não criar nenhum personagem, nem mostrar sua cara na arte do disco, fazendo que as músicas falem por si só. 

Logo na primeira música, que leva o nome do disco, Bowie declara “"Aqui estou / Não propriamente morto / Meu corpo deixado para apodrecer numa árvore oca", dando a ideia da força das novas músicas, que estão impregnadas em suas letras de reflexões sobre a fama, problemas de saúde e depressão.

Em “Stars (Are out tonight)”, Bowie critica os artistas em geral que fazem de tudo pela fama, mas no fundo invejam a vida simples das pessoas “normais”. O disco ainda tem pérolas pop como “Valentine´s day” e “Boss of me” e belíssimas músicas reflexivas como "Where Are We Now?" e "You Feel So Lonely You Could Die". The Next Day foi considerado o melhor trabalho de Bowie em anos e em apenas uma semana chegou ao topo da parada britânica de discos mais vendidos. Valeu a pena tanto tempo de espera. 










Alice in Chains – The Devil Put Dinossaurs Here


São poucas as bandas que conseguem se reerguer após a perda de um vocalista. O Alice in Chains teve que passar por um processo de reconstrução após a morte de seu grande vocalista, Layne Staley em 2002, devido a uma overdose de drogas.

William Duvall foi escolhido em 2007 para ser o novo vocalista da banda, para dividir as harmonias com o guitarrista Jerry Cantrell. O que tinha tudo para dar errado deu liga e banda lançou um ótimo disco em 2009, Black Gives Way to Blue, com várias referências a perda de seu vocalista original. Duvall segurou bem a bronca e deu segurança para que Cantrell pudesse tocar e cantar com mais desenvoltura.

Este ano a banda lançou um novo disco, The Devil Put Dinonossaurs Here, que traz a sonoridade característica da banda, rocks densos e arrastados, com muito peso e também algumas delicadezas acústicas. O grande destaque do disco é Cantrell, que é capaz de fazer riffs colossais (como em “Stone” e “Hollow”), solos com belíssimos timbres, como por exemplo, em “Low Ceilling" e cantar na maioria das músicas, mostrando grande desempenho vocal, principalmente nos momentos mais calmos como em “Voices” e “Scalpel”.

Com este álbum, o Alice in Chains demonstra que a nova formação veio para ficar e que pode dar continuidade a bela discografia do grupo. A banda está em ótima forma e ainda veio ao Brasil este ano, fazendo shows competentes no Rock in Rio e em São Paulo. Com certeza um dos destaques musicais de 2013.












27 de novembro de 2013

Ritchie e seu Voo de coração

O cantor e compositor inglês Ritchie tem uma trajetória bem peculiar dentro do rock nacional. No começo dos anos 70 por um acaso do destino conheceu na Inglaterra os integrantes do grupo Mutantes (Rita Lee e Liminha) que estavam viajando para comprar instrumentos e na época Ritchie estava gravando um disco com seu projeto musical Everyone Envolved, no qual tocava flauta. 

Feita a amizade com os Mutantes, Ritchie foi convidado a ir ao Brasil. A identificação com o país foi instantânea e em 1972 entra para a banda Scaladácia de São Paulo, que tinha como um de seus integrantes o guitarrista Fábio Gasperini (irmão do baixista do Ira!, Ricardo Gaspa). A banda acabou se dissolvendo antes de gravar o primeiro disco.  


Em 1973 Ritchie se muda para o Rio de Janeiro e dá aulas de inglês para músicos como Gal Costa e Egberto Gismonti. Já em 1975 se junta à banda progressiva Vímana, que entre seus integrantes tinham o baterista Lobão e o guitarrista Lulu Santos. O Vímana terminou antes de gravar o primeiro disco.


Em 1982 apesar de achar que estava com uma idade um pouco avançada para encontrar o sucesso, depois de muitas tentativas frustradas em bandas, Ritchie decide fazer seu primeiro trabalho solo e chama o letrista Bernardo Vilhena para compor com ele. A música “Menina Veneno” foi gravada no estúdio do produtor Liminha em 4 canais e lançada como compacto pela CBS em 1983.

A CBS não botou muita fé no potencial da música e lançou o compacto primeiramente nas rádios do Nordeste com uma forma de teste e o sucesso foi estrondoso, logo a música chegou as rádios do sudeste, sendo vendidas mais de 500 mil cópias deste compacto, um marco no mercado fonográfico brasileiro.




Após este sucesso era chegada a hora de gravar e lançar o primeiro disco solo de sua carreira. Com a produção de Liminha, “Voo de coração” foi lançado em 1983 e como banda de apoio para gravação teve a participação dos antigos companheiros de Vímana, Lobão na bateria e Lulu Santos na guitarra, além do próprio Liminha no baixo. Com uma banda competente destas na gravação o disco não poderia dar errado.

O sucesso do disco foi espantoso, sendo vendidas cerca de Um milhão e duzentas mil cópias (o dobro do que foi vendido do disco Thriller de Michael Jackson no Brasil.). O disco ia muito além de “Menina Veneno”, tendo também outros hits como “A vida tem destas coisas” (Regravada pelo grupo Ira! no disco de covers Isto é Amor de 1999), “Casanova” e a música título. 



A qualidade das composições, as letras e a ótimo desempenho vocal de Ritchie garantiram o sucesso deste álbum, sendo um disco pioneiro no Brasil, com o uso de sintetizadores e técnicas avançadas de produção para a época. Com a fama crescente, shows lotados e alta rotatividade na televisão e rádio, Ritchie foi chamado de o “novo rei do rock”, causando certo ciúme no rei Roberto Carlos, que diz a lenda, ouvia este disco obsessivamente tentando entender porque aquele gringo fazia tanto sucesso. 

Depois deste imenso sucesso, Ritchie ainda lançou os discos “E a vida continua” de 1984 e “Circular” de 1985, sem a mesma repercussão de “Voo de coração”. Desiludido com a indústria musical, Ritchie virou Web designer e só voltou a lançar um disco solo em 2002. 

O álbum “Voo de coração” é um daqueles clássicos que marcaram uma época, em um tempo em que a concepção artística e cuidados com as letras e arranjos das músicas eram levados a sério, um dos melhores discos do rico cenário rock/pop brasileiro dos anos 80.












24 de novembro de 2013

Closer - A angústia de Ian Curtis

O segundo disco da banda Joy Division, Closer, foi lançado dois meses após a morte de seu vocalista, Ian Curtis. A capa do disco, a foto de uma lápide, gerou uma triste coincidência, pois tinha sido escolhida bem antes do falecimento de Ian, fato que deu um ar mais triste para o álbum. A foto da lápide foi tirada no Cemitério Staglieno, em Gênova, Itália.

Em relação ao disco anterior, Unknown Pleasures, a banda deu um salto qualitativo em relação ao seu som. Se no disco anterior o grupo fazia um som mais básico e raivoso, em Closer há uma maior experimentação de timbres e reverberações, graças à evolução musical dos integrantes e pela produção sempre revolucionária de Martin Hannet, que colocou a banda para gravar em uma espécie de capela, para captar melhor as ressonâncias do som do Joy Division.


A primeira música, “Atrocity Exhibition”, foi inspirada pela coletânea de romances condensados, com o mesmo nome, do autor  J.G. Ballard. A guitarra frenética de Bernard Sumner (não, na verdade quem toca a guitarra nesta música é o baixista Peter Hook, conforme o mesmo relatou em seu livro, Unknown Pleasures), misturada com a bateria tribal de Stephen Morris são o fundo perfeito para a voz de barítono de Ian Curtis cantar sobre a sede das pessoas por atrocidades e fatos violentos.

Em “Isolation”, a linha de baixo fantástica de Peter Hook se mistura com som de sintetizadores com uma letra que fala sobre isolamento, com uma das letras mais desesperadas de Ian Curtis como nos trechos: "Mãe, eu tentei, por favor, acredite em mim / Estou fazendo o melhor que posso / Me envergonha as coisas que tenho feito / Me envergonha a pessoa que sou / Isolamento / isolamento / isolamento".

O ritmo lento e claustrofóbico de “Passover” dá fôlego para o ouvinte poder assimilar a pancada que vem depois. “Colony” tem uma guitarra metálica, com um ritmo militar que atordoa os ouvidos, com a interpretação sempre forte de Curtis, com sua voz grave e assustadora, em um dos momentos mais pesados do álbum.





"A Means to an End" tem uma base rítmica que se aproxima um pouco do que a banda se tornou depois da morte de Curtis, o New Order, com mais uma linha de baixo matadora de Peter Hook e uma sonoridade quase dançante. Na letra, percebe-se mais uma vez o talento de Curtis como nos trechos: “Nós lutamos para o bem - ficamos lado a lado / Nossa amizade nunca morreu / Em ondas estranhas - baixas e altas / Nossa visão tocou os céus / Imortais com pontos a provar / Eu depositei minha confiança em ti.”

“Twenty four hours” tem uma variação repentina de ritmo, enquanto “Heart and soul” tem uma combinação hipnótica de baixo e bateria, demonstrando que ali estavam grandes instrumentistas de extrema criatividade. O disco termina com duas músicas fúnebres, porém muito belas em “Decades” e “The eternal”.

Closer demonstrou para o mundo a genialidade do Joy Division e também a mente perturbada e triste de seu vocalista. Ian Curtis se matou em 23 de maio de 1980, depois de saber que sua mulher havia abandonado ele. O rock perdia ali um de seus poetas mais promissores.













22 de novembro de 2013

As superbandas do rock

É bem comum dentro do rock, alguns integrantes de bandas consagradas se juntarem em projetos paralelos, para sair um pouco da rotina de suas bandas e fazer um som diferente. Esses supergrupos não costumam durar muito, seja pelo ego de seus integrantes, seja pelo fato de terem que voltar a sua banda de origem. Neste post iremos relembrar algumas destas superbandas e as grandes músicas que criaram ou regravaram.

Velvet Revolver


Formado pelos ex-integrantes do Guns n´Roses Slash, Duff Mckagan e Matt Sorum e pelo vocalista do Stone Temple Pilots, Scott Weiland, a banda fazia uma som que era uma mistura de Guns com Stone Temple Pilots (óbvio né?). Este supergrupo até que durou muito, dois discos, Contraband de 2004 e Libertad de 2007. Devido à loucura de Weiland ele foi expulso da banda. Houve rumores de que a banda iria continuar com outro vocalista, mas parece que a ideia não foi adiante.








Audioslave


Formado pelos integrantes do Rage Against the Machine, Tom Morello, Brad Wilk e Tim Commerford com o vocalista do Soundgarden Cris Cornell, a banda bateu um recorde, gravou três discos juntos, Audioslave de 2002, Out of Exile de 2005 e Revelations de 2006. Além de lembrar o som das duas bandas matrizes, ainda emulava ecos de Led Zeppelin e Black Sabbath em seu som.






 Traveling Wilburys


Imagine um time que tivesse esses jogadores juntos: Maradona, Garrincha e Zico. O Traveling Wilburys era a versão banda deste time, que contava nada mais nada menos como seus intregrantes, George Harrison, Roy Orbinson, Bob Dylan e ainda Tom Petty de lambuja. Esse timaço lançou apenas dois discos Traveling Wilburys Volume 1 e Volume 3 e não conseguiu fazer mesmo com tanta gente genial junta, canções tão marcantes quanto de seus integrantes em suas respectivas carreiras.








Mad Season


Este supergrupo foi formado em 1994, pelo guitarrista do Pearl Jam, Mike McCready, o baterista do Screaming Trees, Barret Martin e pelo vocalista do Alice in Chains, Layne Staley. A banda fazia o tradicional rock de Seattle, bem arrastado e depressivo, com uma dose de rock setentista e um toque de jazz e blues. Só durou um disco, Above, lançado em 1995.








The Backbeat Band


Esta banda foi formada apenas para fazer a trilha sonora do filme que no Brasil se chamou Os Cinco Rapazes de Liverpool. Na trilha, músicas dos Beatles e alguns rocks da década de 50. A banda era formada pela nata do rock alternativo da época: Dave Grohl do Nirvana, Greg Dulli do Afhan Whigs, Dave Pirner do Soul Asylum, Thurston Moore do Sonic Youth e Mike Mills do R.E.M.











20 de novembro de 2013

Top 10 The Clash

O The Clash foi uma das mais importantes bandas da história do rock. Um grupo que foi muito além do Punk Rock, misturando Reggae, Ska, Dub, Rockabilly entre outros estilos. A banda era formada pelo vocalista e guitarrista Joe Strummer (falecido em 2002), o também vocalista e guitarrista Mick Jones, o baixista Paul Simonon e o baterista Topper Headon.


A banda lançou em sua curta carreira, 6 discos de estúdio: The Clash (1977), Give ‘Em Enough Rope (1978), London Calling (1979), Sandinista! (1980), Combat Rock (1982) e Cut the Crap (1985). O Clash sempre inovou a cada disco, misturando novos elementos em seu som, sempre com letras com preocupações políticas e sociais. Para relembrar esta brilhante carreira, vamos mostrar alguns dos melhores momentos da banda:

Clampdown (London Calling 1979)

Esta música faz parte do álbum mais clássico da banda, com uma pegada raivosa e tem uma letra que critica o sistema dominante.



Tommy Gun (Give ‘Em Enough Rope 1978)

Aqui vemos toda a visceralidade do The Clash em uma letra que faz referência à metralhadora Tommy Gun.




London Calling (London Calling 1979)

Impossível resistir ao chamado do The Clash nesta música, um dos maiores clássicos do rock, em uma letra que alerta sobre uma possível guerra nuclear.





Rock the Casbah (Combat Rock 1982)

Nesta canção a banda mostra um ritmo mais dançante e a letra fala sobre a proibição do rock no Irã pelo Aiatolá Khomeini.




Lost in the Supermarket (London Calling 1979)

Mais um grande momento do álbum London Calling, em uma letra que fala sobre consumismo, cantada por Mick Jones.




Police and Thieves (The Clash 1977)

Do primeiro disco da banda, impossível ficar imune ao som envolvente desta música e sua ótima linha de baixo.




I Fought the Law (The Clash 1977 US Version)

Presente na versão norte americana do primeiro álbum do Clash, esta música é um cover de Sonny Curtis e gravada em 1959 por sua banda, The Crickets.




Spanish Bombs (London Calling 1979)

Mais um clássico da banda, que fala na letra sobre a Guerra Civil Espanhola.




Should I stay or should I go? (Combat Rock 1982)

Qual o guitarrista que nunca tocou o riff desta música, básico, mas extremamente genial? Essa música marcou um grande momento de minha vida, era o toque do meu celular e tocou bem na hora do nascimento de minha filha.




Train in vain (London Calling 1979)

Até os caras durões do Clash tem um lado romântico, nesta música que encerra o clássico disco London Calling.
















17 de novembro de 2013

Os bastidores do Acústico do Nirvana

Em 18 de novembro de 1993, o Nirvana gravava sua participação no programa Unplugged da MTV Norte Americana. Depois de vários meses de negociação entre a emissora e a banda, finalmente o Nirvana aceitou participar e fazer um show acústico. Kurt Cobain ficou muito receoso, pois o grupo nunca fazia shows com os instrumentos desplugados, sem as tradicionais distorções nas guitarras que consagraram o som da banda.


Para este show o Nirvana recrutou para uma participação especial os irmãos Cris e Curt Kirkwood, da banda Meat Puppets, banda de rock country alternativo, que Cobain era muito fã. Provavelmente Kurt chamou os dois pelo fato de serem instrumentistas mais virtuosos, com um pouco mais de técnica do que Cobain, algo que poderia acrescentar ao som do show acústico.

Os ensaios foram bem tensos, a banda ficava mais tempo discutindo o repertório com a produção da MTV do que propriamente tocando. O Nirvana queria fazer um show diferente do habitual, com músicas menos conhecidas de seu repertório e alguns covers, enquanto a MTV queria que eles dessem preferência para os sucessos.


Para os ensaios, os irmãos Kirkwood foram proibidos de fumar maconha, devido ao processo de desintoxicação sofrido por Cobain na época. O que acabou irritando os irmãos foi o fato de Kurt chegar aos ensaios aparentemente drogado, com sua blusa velha de flanela e seu chapéu de lenhador, parecendo um velho caipira.

Enfim chegara o dia do show e Kurt estava muito nervoso e apreensivo, tanto pelo show quanto pela abstinência das drogas. Com o vocalista passando muito mal antes do acústico, foi necessário que alguém procurasse “algo” que amenizasse a sua dor e como não conseguiram arranjar heroína, conseguiram um pouco de Valium, um poderoso tranquilizante.

Quando a apresentação começou havia um clima de tensão no ar, tanto da plateia quanto na expressão da face de Kurt Cobain. Antes de dar boa noite aos presentes, Cobain respirou fundo, como se dissesse “Seja o que Deus quiser” e anunciou a primeira música da noite “About a girl” do primeiro disco da banda, Bleach de 1989. A banda tocou a música com perfeição, mesmo não tendo conseguido ensaiar direito com esta nova formação acústica.




Kurt começava a se soltar um pouco e logo em seguida veio o primeiro grande sucesso ser tocado, “Come as you are”, um dos maiores clássicos da história do rock, com a interpretação serena de Cobain. Neste show a banda ainda contava com a participação do novo guitarrista Pat Smear e da violonista Lori Goldston.

Em “Jesus doesn´t want me for a sunbeam”, Krist Novoselic tocou acordeom e Dave Grohl tocou baixo, nesta música que foi o primeiro cover tocado na noite. A canção é de uma banda que Kurt venerava, chamada The Vaselines. Em seguida, Cobain disse que iria acabar com a próxima música, que seria “The man who sold the world”, do ídolo David Bowie. Kurt usou distorção na hora do solo da música, algo que não seria permitido em um show acústico, porém foi aberta esta exceção ao Nirvana. A banda fez uma versão bem fiel ao original, realçando a beleza e a qualidade desta grande canção de Bowie.




A decoração do palco era feita por candelabros com velas pretas e lírios. O produtor da MTV, Alex Coletti, perguntou a Cobain se aquilo não ficaria parecendo um funeral e Kurt confirmou que era isto mesmo que ele queria, que o palco parecesse uma espécie de Missa Negra. Era sinal que nada ia bem na mente perturbada do líder do Nirvana.

Na música “Pennyroyal tea” Kurt perguntou ao restante da banda se deveria tocar esta música sozinho, Dave Grohl então falou que ele poderia tocar sozinho. A banda tinha tentado nos ensaios algumas opções para a música, mas não dava certo. Cobain acabou protagonizando um dos momentos mais emocionantes do programa, mostrando toda sua fragilidade e ao mesmo tempo sua grande força na hora de interpretar esta grande canção.

Depois vieram “Dumb”, “Polly” e “On a plain”, Cobain até brincou falando que era estranho tocar estas músicas em sequência, pois elas tinham basicamente os mesmos acordes. Em “Something in the way” Kurt pediu para Dave fazer a marcação com a baqueta para que não perdesse o ritmo, algo que mostrava a simplicidade da banda. Não se tratava ali de grandes rockstars que achavam que eram deuses e sim caras que amavam a música acima de tudo. 




Enfim era chegada a hora da participação dos irmãos do Meat Puppets. O Nirvana tocou três músicas da banda: “Plateau”, “Oh me” e “Lake of fire”, coincidentemente (ou não) as três músicas falavam sobre morte. As versões ficaram ótimas e se encaixaram perfeitamente ao repertório do show, graças também aos bons solos de violão de Curt Kirkwood. 

Após tocarem “All apologies” era hora de tocar a última música do show. A banda pediu sugestões da plateia, que pediu músicas inviáveis para um acústico como “In bloom” e “Scentless aprentice”. Kurt resolveu acabar com aquela indecisão e resolveu tocar uma música se seu performer preferido, o cantor de blues Leadbelly. A versão do Nirvana para “Where did you sleep last night” foi arrebatadora, principalmente pela interpretação sofrida de Cobain.

A banda saiu do palco ovacionada, todos ali saíram emocionados com aquela experiência única, de ver o Nirvana em sua essência, provando que atrás daquela barulheira toda, havia grandes músicas e um grande cantor. Outro fato importante foi que a banda tocou todas as músicas na sequência, sem repetições. Os erros, microfonias e falhas no andamento ficaram ali, dando mais naturalidade ao show.

Nos bastidores após a apresentação, Kurt foi muito elogiado por sua performance, mas não parecia muito empolgado, tanto que quando uma produtora disse que ele tinha tocado muito bem, Kurt falou que ela estava exagerando e que ele sabia que era um péssimo guitarrista. Coisas da personalidade complicada e autodepreciativa do líder do Nirvana.

O acústico do Nirvana só foi lançado em CD um ano depois em Novembro de 1994. O disco ficou em primeiro lugar na listagem da Billboard. Um show que mostrou a grande qualidade das músicas do Nirvana, a simplicidade e ao mesmo tempo a força das composições deste que foi o último grande mito do rock. 







15 de novembro de 2013

Titãs no país dos banguelas

São poucas as bandas que conseguem manter o nível de qualidade logo após lançar um disco clássico. Foi assim com o Nirvana, que lançou o excelente In Utero após o fenômeno Nevermind, o R.E.M. quando lançou o grande Automatic For The People após o estrondoso Out Of Time e os Beatles é claro, que lançaram diversos discos clássicos em sequência.

Após o sucesso de Cabeça Dinossauro, terceiro disco dos Titãs que sacramentou o sucesso da banda tanto de crítica como de público, era hora de lançar algo novo. Os Titãs novamente chamaram o produtor Liminha, ex-baixista do Mutantes, que se tornara nos anos 80 um dos maiores produtores musicais do Brasil. 


Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas foi lançado em 1987, o título do disco veio de uma história inusitada, um dos integrantes comentou com outro que tinha feito uma entrevista com uma pessoa para trabalhar em sua casa e ficou espantado pelo fato desta pessoa não ter vários dentes em sua boca. O outro Titã então respondeu: “Mas nem Jesus tem dentes no país dos banguelas”. A frase foi tão forte que estimulou os Titãs a batizarem o disco com este nome.

O disco tem dois lados bem distintos, o lado A é composto por músicas mais “funky”, com o uso de baixo sintetizado, tocado pelo produtor Liminha e por batidas eletrônicas, além de experimentações com uso de samplers e sequenciadores.

Começando o disco, em “Todo mundo quer amor”, Arnaldo Antunes canta/recita uma letra característica do lado concretista do Titãs, em cima de uma base com um baixo bem marcado e um forte som de bateria eletrônica. Logo em seguida em “Comida” o ritmo mais funk é característico, graças também a forte marcação do baixo, música que se tornou um dos maiores clássicos da banda.



Em “O inimigo”, as experimentações titânicas vêm à tona, enquanto “Corações e Mentes” e “Diversão” mostram o potencial pop da banda, músicas que refletem alguns dos anseios da juventude, como procurar por sexo, amor e diversão.

O lado B do disco é bem diferente, tem um som bem mais voltado ao rock, com letras mais voltadas ao protesto e crítica social. Em “Jesus não tem dentes no país dos banguelas” em apenas uma frase o Titãs consegue resumir a situação de nosso país, de extrema injustiça social e desigualdade.

“Desordem” é outra música emblemática do disco, um petardo com uma das melhores letras feitas pela banda. “Lugar nenhum” é outra paulada do disco, onde Arnaldo Antunes declara que nenhuma pátria o pariu, uma música com um riff clássico e uma bateria pesada, um dos momentos mais rock do disco.




Em “Nome aos bois” são citados diversos desafetos da banda, entre eles Stalin e Hitler, mais uma música característica da vertente concretista dos Titãs, na letra da música são citados apenas nomes, sem rimas ou estrofes. Para finalizar o disco, a música bônus “Violência”, sendo recitado no final da música, um trecho do livro de Marques de Sade.

Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas mostra bem a grande qualidade do grupo Titãs, o fato de uma banda com oito compositores, cinco vocalistas, conseguir criar uma unidade sonora em meio a tanta diversidade de ritmos e sons. Sem dúvida uma das maiores e mais inventivas bandas de rock do Brasil.









13 de novembro de 2013

Revolver - Quando os Beatles mergulharam de vez na psicodelia

Em 1966 os Beatles lançavam seu sétimo disco, Revolver. Gravado no lendário estúdio Abbey Road, a banda buscava com este álbum fazer algo totalmente diferente do que tinha feito antes. Se o disco anterior, Rubber Soul, apontava para novos caminhos na carreira do Fab Four, com Revolver a banda abandonou de vez a fase “Iê iê iê”, para entrar na fase mais experimental de sua carreira.


A capa do disco foi feita pelo alemão Klaus Voorman, amigo da banda desde os tempos em que eles tocavam em Hamburgo. Trata-se de uma ilustração feita com desenhos e colagens de fotos tiradas pelo fotógrafo Robert Whitaker. Esta capa é uma das mais belas da discografia dos Beatles, junto com a histórica capa de Sgt. Pepper´s Lonely Hearts Club Band.


O disco abre com a música “Taxman”, cantada por George Harrison. A letra da música fala sobre os impostos abusivos cobrados na Inglaterra naquela época. Logo no início da música, já percebemos algumas inovações na gravação do disco, pois começa tocando os instrumentos de um lado da caixa de som e depois entrando os vocais do outro lado da caixa, separadamente. “Taxman” tem uma base rítmica que foi muito imitada por outras bandas, como por exemplo, em “Start!” da banda inglesa The Jam e pela banda brasileira Ira! em “Longe de tudo”.



“Eleanor rigby” teve inspiração em seu nome em um túmulo que ficava em um cemitério perto da onde a antiga banda de John Lennon, The Quarrymen costumava se apresentar. Com seu arranjo orquestrado, cheio de violinos e cordas e sua letra triste e comovente é um dos momentos mais belos do álbum. “I’m only sleeping” já demonstra a influência das viagens lisérgicas da banda em seu som. Cantada por John Lennon, no solo tem um efeito de som de guitarra invertido, mais uma inovação feita pelos Beatles, antecipando o que seria feito anos depois por artistas como Jimi Hendrix.

“Love you to” é outra música de Harrison, que mostra as influências da música indiana, graças ao uso de cítara e tabla. A canção ainda conta com uma distorção de guitarra ao fundo do refrão, muito surpreendente para os padrões da época. Em Revolver percebe-se um crescimento na participação de George nas composições do grupo, tanto que ele canta em mais outras duas músicas do disco, um número considerável em comparação aos discos anteriores. Harrison demonstrava neste álbum que era tão talentoso quanto Lennon e McCartney.



“Yellow Submarine”, cantada por Ringo Star convida o ouvinte a uma viagem, ao mundo da fantasia dos Beatles, uma viagem psicodélica e musical ao mesmo tempo. A canção ainda tem alguns efeitos de estúdio como som de bolhas, água e instrumentos de sopro.

Em “She said she said” no trecho da letra, segundo diz a lenda, que diz: "I know what it's like to be dead" ("Eu sei como é estar morto"), seria uma frase dita pelo ator Peter Fonda após tomar ácido. George Harrison tocou baixo nela, pois Paul McCartney brigou com Lennon durante as gravações da música. A canção também foge do padrão de compasso 4/4 para 3/4, algo que seria usado por John posteriormente em outras músicas com “All you need is Love” e “Happiness is a warm gun”.

“Good day sunshine" é uma típica música de McCartney, com seu arranjo complexo e seu tom alegre, cantada com acompanhamento de piano. “And your bird can sing” com suas guitarras dobradas e o vocal melodioso cantado por Paul e John é a base do estilo que mais tarde seria conhecido como Power Pop.



“Doctor Robert” é sobre um médico que receitava anfetaminas para pacientes famosos, enquanto “Got to get you into my life" fala sobre a experiência de McCartney com a maconha. Tempos depois ele assumiu que a sonoridade da música teve muito da influência da música negra feita na gravadora Motown.

"Tomorrow never knows" foi inspirada no livro de Timothy Leary, "O Livro Tibetano da Morte". A utilização de loop de bateria na canção antecipou o que iria ser feito na música eletrônica muitos anos depois, tanto que foi usada pela dupla Chemical Brothers em uma de suas músicas. O jeito de cantar de Lennon junto com o experimentalismo e clima viajante da canção tornou uma das bases do rock psicodélico feito a partir de então.

Com o disco Revolver e os discos lançados posteriormente, os Beatles provaram porque são considerados a Bíblia do rock mundial e a maior banda de rock de todos os tempos. Uma banda que é a base para quase tudo o que foi feito depois, com uma música que é atemporal e que poderia continuar fazendo sucesso mesmo daqui a cem anos.







11 de novembro de 2013

Siamese Dream - O disco que levou o Smashing Pumpkins ao estrelato

Em 1991 a banda de Chicago Smashing Pumpkins lançava seu primeiro álbum, Gish, pela Caroline Records. O disco foi ofuscado pelo sucesso de Nevermind do Nirvana, mas já era perceptível neste registro as principais qualidades da banda.

A mistura de rock setentista (o heavy metal do Black Sabbath e o rock progressivo), com o clima dark da década de 80 (de bandas como The Cure e Joy Division) e a ótima qualidade instrumental da banda, mostrava que o Smashing Pumpkins poderia se destacar em meio aquela enxurrada de bandas alternativas que estavam surgindo no início dos anos 90.

Em 1993 chegara a hora de lançar o segundo disco e provar se a banda tinha vindo para ficar ou não. Foi recrutado para a produção do disco, o produtor Butch Vig, que já tinha produzido Gish dos Pumpkins e Nevermind do Nirvana. Siamese Dream foi lançado em julho de 1993 cheio de expectativas, inclusive da banda.

O Smashing Pumkins era uma grupo de desajustados. Billy Corgan era o grandalhão e líder intelectual da banda, que tinha mão de ferro para controlar tudo, Jimmy Chamberlin era um baterista virtuoso que tinha sérios problemas de heroína, D’arcy era a baixista, uma garota estranha que tocava sem mudar muito sua expressão facial e James Iha tinha um jeito meio misterioso. 


O clima das gravações de Siamese Dream não era dos melhores, Corgan estava com sérios problemas com a depressão, Chamberlain estava afundando no vício de heroína e D’Arcy e James Iha tinham acabado de terminar um relacionamento amoroso.

O perfeccionismo de Billy Corgan tornou a produção do álbum muito estressante, cada integrante tinha que fazer o seu melhor e regravar várias vezes suas partes até que ficasse bom para Corgan. Em algumas musicas era até Corgan que gravava as partes para que ficasse do jeito que ele queria.

O som do disco teve bastante influência das bandas Shoegazer, que utilizavam na gravação camadas de guitarras, para dar um efeito espacial ao som. Para obter este efeito a banda chamou um engenheiro de som Flood, que já tinha trabalhado com a banda My Bloody Valentine no clássico disco Loveless.

Entre a temática das letras, Corgan exorciza alguns fantasmas do passado, como sua conturbada relação familiar e critica também a sociedade americana e a indústria fonográfica. No encarte, utilizou fotos antigas de sua família com as letras escritas à mão por cima, reforçando a ideia de exprimir sentimentos e mágoas que havia sentido em toda sua vida.

O disco abre com a parede de guitarras de “Cherub Rock”, um rock potente com camadas de guitarra, em uma letra que critica a indústria da música americana, como no trecho “Enlouqueça e Desista / Não interessa no que você acredita / Fique frio /E seja o bobo de alguém esse ano”.




Em “Today”, Corgan fala na letra sobre tentar superar a depressão, algo que estava muito presente em sua vida: “Hoje é o melhor / Dia que eu já vivi / Não posso viver o amanhã / Amanhã é muito distante / Meus olhos se queimarão / Antes de alcançá-lo”. No videoclipe desta música há uma explosão de cores, contrastando com o tema triste da letra. Passei muito tempo pensando que James Iha era uma mulher por causa do vestido que ele usa no clipe.




“Hummer” mostra o lado mais progressivo da banda, com variações rítmicas na música, com trechos em que a banda desacelera e produz partes climáticas. No final da letra Corgan pergunta: “Você sente que o amor é real?”.

“Disarm” é um dos momentos mais belos do disco, com arranjos de cordas e uma letra muito forte, revelando reminiscências do passado: “O assassino em mim / É o assassino em você / Meu amor”. “Soma” tem a participação do baixista do R.E.M. Mike Mills no piano, uma música que começa tranquila e no meio explode com guitarras furiosas.

“Geek USA” critica a hipocrisia na sociedade americana, uma pedrada que mostra todo o virtuosismo e talento do baterista Jimmy Chamberlin, além do duelo de guitarras de James Iha e Billy Corgan com o baixo pulsante de D’Arcy. Uma música que mostra bem a química entre os integrantes, que mesmo tão antagônicos, quando se juntavam pareciam que tinha sido acendido um pavio de pólvora.




“Mayonaise” é outro momento de beleza do disco, uma letra emocionante com o tradicional som de guitarra da banda, como nos trechos “Junte seus bolsos cheios de tristeza /E fuja comigo amanhã” ou “Vamos tentar diminuir a dor / Mas nos sentiremos os mesmos / Bem, ninguém sabe / Aonde vão nossos segredos”.

O álbum ainda tem grandes momentos a seguir como a música “Spaceboy” em que Corgan fez em homenagem a seu meio irmão que tem autismo e o peso colossal misturado com um toque de psicodelia e rock progressivo de “Silverfuck”. O disco encerra com duas pérolas em um clima mais ameno: “Luna” e “Sweet Sweet”.

Siamese Dream foi um sucesso e elevou o Smashing Pumpkins ao status de grande banda. Um dos melhores discos da década de 90 que comprovou o talento do grupo, que se tornou uma das mais importantes do rock alternativo norte americano e revelou Billy Corgan como um dos compositores mais talentosos de sua geração.