29 de setembro de 2014

Dummy e o estranho mundo do Portishead

Realmente o ano de 1994 musicalmente foi um dos melhores da década de 90, vide a seção do blog “Grandes discos de 94”. Neste mesmo ano surgia uma banda de Bristol, Inglaterra, formada por Georf Barrow, Beth Gibbons e Adrian Utley. Dummy, primeiro disco do Portishead, foi lançado em Outubro de 1994, e redefinia um estilo que estava cada vez mais se destacando, o trip hop.


Formada em 1991 em um dos piores momentos econômicos da Inglaterra, a banda reunia elementos que até então nenhuma outra banda tinha feito com tanta propriedade: Música eletrônica, jazz, hip hop e um toque de filmes Noir. O grupo não chegou a criar o trip hop, pois artistas como Tricky e Massive Attack já faziam este tipo som antes, mas foi o Portishead com seu primeiro disco que conseguiu atingir um público maior, ganhando mais atenção da crítica e do público.

As grandes qualidades do Portishead se devem principalmente pelo “cabeça” da banda, o multi-instrumentista Georf Barrow, com seu grande conhecimento de música eletrônica, além de ser um bom guitarrista e da grande capacidade vocal de Beth Gibbons. Barrow afirma que leva as bases para Gibbons e a voz dela vai se moldando conforme o ritmo da música, como uma espécie de “camaleão” musical. 

A primeira canção do álbum, “Mysterions” tem um clima misterioso e efeitos fantasmagóricos, com grande desempenho vocal de Gibbons e competente guitarra de Barrow. “Sour times” foi o primeiro sucesso do Portishead com seu clima intimista e melancólico com uma guitarra surf de Barrow. A base da música foi feita em cima de uma trilha do filme Missão Impossível.



Em “Strangers”, Beth Gibbons canta notas agudas e graves com a mesma desenvoltura, em cima de uma base eletrônica com elementos de jazz. “It could be sweat” tem um clima doce e triste ao mesmo tempo, enquanto “Wondering star” tem scratches de hip hop, em uma das mais belas do disco. “It´s a fire” (que não aparece na versão do Reino Unido) tem arranjo com cordas e emociona, enquanto “Numb” tem um clima de clube esfumaçado e uma estranha percussão.

“Glory box” foi outro grande sucesso do álbum, com uma base que foi sampleada de uma música de Isaac Hayes, com uma interpretação sofrida de Gibbons, um solo distorcido de guitarra que dá um tom de estranheza e melancolia, com certeza uma das melhores músicas feitas pelo Portishead. “Glory box” sacramentou definitivamente o estilo da banda, surgindo até várias cópias por aí, como a banda Moloko, que fez certo sucesso nos anos 90. Destaque também para o clássico videoclipe da canção.


Dummy ganhou diversos prêmios de melhor disco de 1994 e em 95 ganhou o Mercury Prize, um dos mais importantes da Inglaterra. O Portishead criou neste primeiro trabalho um universo próprio, daqueles tipos de artistas que fazem um som único, como o Cocteau Twins, por exemplo. Um disco que redefiniu e popularizou um estilo e merece todo e qualquer tipo de homenagem.



24 de setembro de 2014

Péssimos discos de grandes bandas

A maioria das bandas de rock que lançam vários discos costuma derrapar algumas vezes. É difícil manter a qualidade do trabalho com mudanças de integrantes, brigas internas, abuso de drogas e crises criativas. Mesmo assim tem alguns artistas que exageram na dose e acabam lançando discos que viram bombas que nem o fã mais fanático consegue ouvir, se transformando em verdadeiros fracassos comerciais e de crítica. Neste post vamos lembrar alguns álbuns de grandes bandas que são ruins e um pouco da história de cada um.

Queen – Hot Space (1982)


O Queen lançava em 1982  seu décimo disco de estúdio, Hot Space e já era uma banda mais do que consagrada. Embalada pelo sucesso do disco anterior, The Game e do single “Another one bites the dust” o grupo mudou sua direção musical em Hot Space. O som agora era ainda mais pop e influenciado pela black music e pela disco, com uso de sintetizadores.

O disco até que tem bons momentos como “Back chat”, “Life is real” (em homenagem a John Lennon) e a ótima “Under pressure” em parceria com David Bowie. O restante do disco é bem abaixo do aquilo que uma grande banda como o Queen pode produzir, destaque (negativo) para a constrangedora “Las palavras de amor”. É considerado por muitos o pior trabalho do Queen. 






The Cult – The Cult (1994)


O Cult já tinha lançado discos clássicos como Love de 1985 e Eletric de 1987. Em 1994 a banda passava por uma entressafra e contava com dois novos integrantes no baixo e na bateria, permanecendo apenas o vocalista Ian Astbury e o guitarrista Billy Duff da formação original.

O disco autointitulado de 1994, o famoso “disco da cabra” é o trabalho mais fraco do Cult. Tentando fazer uma mistura de U2 (da fase Achtung Baby) com Simple Minds um pouco mais barulhento a banda não se sai bem. Só se salvam um pouco os singles “Coming down” e “Star” o restante é uma coleção de músicas fracas e sem criatividade. 





Guns n´Roses – Chinese Democracy


Na metade dos anos 90 o Guns n´Roses se desfez, o guitarrista Slash e os outros integrantes de desentenderam com o vocalista Axl Rose e saíram da banda. Axl afirmava sempre a que a banda não tinha acabado e que trabalhava em um novo trabalho do grupo com uma nova formação. O tal disco começou a ser produzido em 1996 e virou uma das maiores lendas da história do rock.

Todo ano Axl dizia que o dizia o álbum seria lançado e nada, até que em 2008 finalmente saiu a “obra prima” do novo Guns, Chinese Democracy. O tal esperado disco foi um verdadeiro fiasco e decepcionou até os fãs mais ardorosos. Uma coleção de músicas fracas e que não tinham nada a ver com aquele Hard Rock potente feito pela banda no início de carreira. 

Agora o Guns fazia uma mistura de Linkin Park com Nu Metal cheio de efeitos eletrônicos. Axl canta de forma irritante sendo difícil ouvir até o final esta porcaria. Prova que Slash e companhia é que eram os protagonistas do Guns e que fizeram muita falta neste trabalho sofrível de Axl Rose.





Metallica e Lou Reed – Lulu (2011)


A inusitada parceria entre o Metallica e Lou Reed começou na cerimonia do Rock ´n roll Hall of Fame de 2009. Depois do encontro ficou a intenção de gravar algo juntos, o que só aconteceu em 2011. Lou Reed estava começando a escrever uma peça chamada Lulu em 2009 e logo transformou esta ideia em um disco conceitual.

O que se escuta no disco Lulu é Reed cantando/recitando as letras enquanto o Metallica parece que toca meio que aleatoriamente. Às vezes a combinação parece que dá liga, mas na maioria do disco o que se ouve é uma sonoridade estranha e desconexa. Mesmo sabendo que se trata de um disco experimental é preciso ter coragem para ouvir este trabalho até o fim.




22 de setembro de 2014

O Concreto Já Rachou – Um disco cada vez mais atual

Quase trinta anos depois de seu lançamento, o disco da banda brasiliense Plebe Rude, O Concreto Já Rachou, continua com um discurso nas letras que combinam perfeitamente aos dias atuais, tanto na política como na indústria fonográfica. Aí vem a pergunta: Será que nada mudou? Ficamos estagnados ou a Plebe previu o futuro e fez uma música que seria sempre atual? É o que discutiremos neste post.


Formada em 1981, a Plebe Rude assinou contrato com a EMI em 1985 e lançou seu primeiro disco, na verdade um EP com 7 músicas e apenas 21 minutos de duração, chamado O Concreto Já Rachou. Mesmo tendo material para um disco completo a gravadora pelo visto preferiu lançar um álbum com poucas canções, com receio da receptividade do público. O álbum foi um sucesso, alcançando mais de 200 mil cópias vendidas, sendo o trabalho mais bem sucedido da banda.

Com Phillipe Seabra nas guitarras e vocais, Jander Billaphra nas guitarras e vocais, André X no baixo e Gutje Woortman na bateria, a Plebe na época fazia um som com muito influência de grupos como The Clash e PIL. O revezamento nos vocais e as letras politizadas e sem romantismo diferenciavam a banda dos seus contemporâneos da década de 80. 

Mesmo sendo pessoas com boa condição econômica e social, os integrantes mostravam neste disco em suas letras e ideologias, uma preocupação com situação do país. A desigualdade social, o abuso policial e os interesses mercantilistas das grandes gravadoras eram os alvos principais das letras da banda. As letras fortes misturadas com um sonoridade punk e ao mesmo tempo melodiosa  transformaram O Concreto Já Rachou em um dos discos mais clássicos do rock brasileiro.

A música de abertura “Até quando esperar” fala das injustiças sociais que ocorrem no Brasil. Uma canção que poderia soar datada, mas mesmo o país estar melhor economicamente do que na década de 80, o nível de pobreza ainda é muito grande. Na letra feita por Phillipe Seabra e André X, o grupo afirma que tem boas condições financeiras, mas isto não é motivo para esquecer o mundo ao redor, ao contrário de muitos ricaços e socialites que se fecham em seus pequenos mundos e parece viver em uma redoma de vidro. 



“Proteção” fala sobre a repressão e violência policial, resquícios ainda da ditadura militar, que em 1985 tinha terminado havia pouco tempo. Cada vez mais atual esta letra combina perfeitamente com os abusos da polícia militar, principalmente no Estado de São Paulo, que ocorrem com muita frequência hoje em dia: “A PM na rua nosso medo de viver / O consolo é que eles vão me proteger / A única pergunta é: me proteger do que? / Sou uma minoria mais pelo menos falo o que quero apesar repressão”.



 “Johnny Vai à Guerra” foi inspirada no livro de 1939 e filme de 1971 que foi traduzido no Brasil com este mesmo nome. Fala sobre um jovem que vai à guerra de forma forçada e se sente perdido em meio aquele conflito. Uma letra que podemos relacionar com as guerras que acontecem ainda hoje e os milhares de jovens que são recrutados e acabam morrendo na guerra.

“Minha renda” critica a ganância das grandes gravadoras na época que interferiam na sonoridade do artista, para que ele fosse cada vez mais comercial: “Um lá menor aqui, um coralzinho de fundo (fundo!) / Minha letra é muito forte? Se quiser eu a mudo / e tem que ter refrão (sim!) um refrão repetido (repetido!) / pra música vender, tem que ser accessível!”.

A música tem até uma homenagem a Herbert Vianna “Já sei o que fazer para ganhar muita grana / Vou mudar meu nome para Herbert Vianna”. Vianna acabou se tornando amigo da Plebe e produziu o disco O Concreto Já Rachou. A letra de “Minha renda” retrata muito bem a situação da música mundial. Os artistas estão cada vez mais artificiais e comerciais, sem atitude e fazendo música só para vender mesmo. No Brasil a situação parece ser ainda pior: Pseudo artistas, duplas que se dizem sertanejas fazendo música da pior qualidade, entre outras armações imperam nas paradas de sucesso nas rádios e na TV. 



"Sexo e Karatê" fala sobre o excesso de cenas de sexo e violência nos filmes e séries da TV da época. Isto pouco mudou nos dias atuais, podemos fazer até uma analogia que o Karatê da letra seria hoje em dia as tais lutas de MMA, uma espécie de “violência gratuita com regras”, que impera nas TVs e que geram milhões em dinheiro aos envolvidos. A música tem a participação de Fernanda Abreu nos vocais.

“Seu jogo” fala do jogo sujo que algumas pessoas são capazes de fazer. “Brasília” encerra o disco falando sobre uma cidade que foi criada para ser a capital do Brasil e acabou virando símbolo da inoperância e corrupção: “Capital da esperança / asas e eixos do Brasil / Longe do mar, da poluição / Mas um fim que ninguém previu”.

Com certeza as melhores obras são aquelas que são feitas para durar para sempre. Acho que nem os integrantes esperavam que 29 anos depois do lançamento de seu primeiro disco, as letras seriam tão verídicas e atuais. É difícil constatar que em alguns aspectos, nada mudou no Brasil em 29 anos e que estamos estagnados há muito tempo. Ponto para a Plebe Rude que diferente do rock brasileiro alienado atual (poucas bandas novas tem opiniões políticas em suas letras) soube analisar como poucas a situação caótica de nosso país. Não é a toa que O Concreto Já Rachou é um dos melhores discos feitos no país.



17 de setembro de 2014

O grande primeiro álbum do Foo Fighters

Existem alguns discos que você ouve na adolescência e que ficam na sua memória afetiva para sempre. O primeiro disco do Foo Fighters é um daqueles que se enquadram neste perfil, até hoje escuto e continua sendo um dos meus cinco álbuns preferidos de todos os tempos.

Após a trágica morte de Kurt Cobain, muitos fãs assim como eu ficaram órfãos de seu talento e de suas grandes músicas. Isto não foi diferente para o então baterista do Nirvana, Dave Grohl, que ficou sem rumo após o final repentino de sua banda. Grohl já compunha quando estava no Nirvana, tanto que a canção “Marigold” foi lançada como lado B do single “Heart-shaped box” e foi cantada e composta por Grohl. 


O que poucos sabem é que Dave já tinha lançado um trabalho solo em 1992, sobre o codinome Late. Lançado somente em fita cassete, o álbum tem o nome de Pocketwatch e contém 10 músicas de autoria de Grohl. Entre elas, “Friend of a friend”, que faria parte dos discos do Foo Fighters, In Your Honor e Skin and Bones, “Marigold” lançado com o Nirvana um ano depois e “Winnebago” lado b do single da música “This is a call”.



Em outubro de 1994, Grohl entrou em estúdio com a ajuda do produtor Barret Jones que já tinha trabalho com ele no projeto Late, para gravar demos de algumas de suas composições. Nesta demo ele tocou todos os instrumentos e cantou. A fita chamou a atenção de grandes gravadoras e em 1995 acabou assinando com a Capitol Records para lançar este que seria o primeiro disco do Foo Fighters.

Dave chamou para participar da banda dois ex-integrantes da banda de Seattle Sunny Day Real State, o baixista Nate Mendel e o baterista William Goldsmith e para a outra guitarra chamou Pat Smear, ex-integrante da lendária banda punk The Germs e guitarrista do Nirvana na turnê do disco In Utero. Estes integrantes não tocaram em nenhuma faixa do álbum de estreia do Foo Fighters, Grohl gravou tudo, exceto a segunda guitarra da canção X-Static, gravada por Greg Dulli do Afghan Whigs.

O disco transborda punk e energia em todas as suas 12 faixas, com muita melodia, algo herdado claramente do Nirvana e das bandas precursoras do rock alternativo dos anos 80, Husker Dü e Black Flag. “This is a call” foi composta após a morte de Cobain e faz referência à Ritalina, remédio utilizado para o tratamento de crianças hiperativas. Talvez uma letra autobiográfica, mas as letras de Grohl para este disco segundo ele mesmo, não fazem tanto sentido. Uma música energética e poderosa, mostrando que uma nova grande banda surgia dentro do cenário do rock.



Lembro-me até hoje da estreia do videoclipe de “I´ll stick around” em 1995, a MTV passava o clipe de hora em hora e eu o assistia várias vezes, muito entusiasmado com a nova banda de Grohl. No refrão da música Dave diz “Eu não devo nada a você” e em outro trecho da letra diz “Será que sou o único que vê / Que sua loucura é ensaiada?”. Muitos consideram um recado à viúva de Cobain, Courtney Love, desafeto de Grohl e dos outros integrantes do Nirvana por muitos anos. O clipe é totalmente influenciado pela banda DEVO, tanto que foi o próprio vocalista do DEVO, Gerald V Casale que o dirigiu.



“Big me” tem uma melodia “Beatleniana” e foi o primeiro clipe do Foo Fighters com a tradicional marca bem humorada que acompanha o grupo até hoje. “Alone + easy target” e “Good grief” são pedradas que mostram também toda visceralidade de Grohl na bateria, assim como nos tempos de Nirvana. “Floaty” misturas guitarras distorcidas com violões com melodia nostálgica que Dave sabe fazer como poucos. 



“Weenie beenie” tem vocais distorcidos e gritados, com muito peso e energia, enquanto “Oh George” é extremamente melódica e cativante, uma homenagem ao beatle George Harrison. “For all the cows” tem aquela estrutura começo leve / refrão pesado enquanto “X-static” tem guitarras unidimensionais tocadas por Grohl e Greg Dulli. “Wattershed” é outra porrada, que não perde o pique em nenhum momento. “Exhausted” fecha o disco com muita distorção e microfonias, em uma canção que Grohl fez na época do Nirvana e que Cobain gostava muito e queria utilizar em futuros trabalhos da banda.


Este primeiro trabalho do Foo Fighters foi muito bem recebido por crítica e público. A banda saiu em turnê e logo deixou de ser apenas um projeto para ser umas das bandas mais bem sucedidas dos últimos tempos. Um disco clássico que marcou minha adolescência e de muitas pessoas. Hoje a banda toca em estádios e tem um som mais grandioso, mas foi com esta sonoridade crua e simples deste disco de estreia que a banda conquistou seus primeiros fãs.










15 de setembro de 2014

OK Computer – O fim do Britpop?

Em 1997 o Britpop já não era aquele estouro que era dois anos antes com a briga pelas paradas de sucesso entre Blur e Oasis. As principais bandas deste “movimento” já estavam procurando novos horizontes e sonoridades, não se importando tanto com as paradas e com o que a crítica iria dizer. O Radiohead, que na verdade musicalmente não tinha muito a ver com as bandas deste gênero, acabou também participando de certa forma do Britpop, pelo seu grande sucesso na mesma época dos seus conterrâneos ingleses.


O Radiohead lançaria neste mesmo ano seu disco mais complexo até então, o espetacular OK Computer. Um trabalho denso que em suas letras carrega o domínio do tecnológico sobre o humano, as fraquezas e dúvidas das pessoas em geral. Era uma espécie de final simbólico do Britpop, agora parecia que as bandas inglesas tinham chegado ao mundo adulto, podendo fazer trabalhos mais ousados e não tão comerciais.

Muito se especula sobre esta obra do Radiohead, que é um disco conceitual, com início meio e fim, que se inspirou no livro 1984, entre outras muitas teorias. Também se fala muito sobre o encarte enigmático do disco e algumas frases que parecem não ter sentido algum. Muitos acreditam que ali existam mensagens sublimares deixadas propositalmente pela banda.

O fato é que OK Computer abriu uma nova era dentro do rock em geral. O uso da tecnologia de ponta através de computadores Macintosh e a distribuição de música pela internet foram um dos fatores pioneiros deste trabalho. Muitos dizem que OK Computer é o Dark Side of the Moon dos anos 90. Eu ainda acho o disco do Radiohead ainda mais forte e impactante do que o álbum do Pink Floyd.

O disco tem uma sonoridade espacial e futurista. O grande destaque do trabalho, além das letras e vocais de Thom Yorke é sem dúvida o guitarrista e faz tudo Jonny Greenwood. Ele tocou no álbum guitarra, teclados, piano, mellotron, órgão, glockenspiel e foi responsável pelos arranjos de cordas. Sempre com versatilidade, acabou criando um estilo próprio de tocar, sempre com solos e riffs marcantes e criativos.

“Airbag”, primeira canção do álbum, tem uma letra que fala sobre um personagem que sobrevive a um acidente graças a um airbag e tem a missão agora de salvar o universo. Com um clima futurista misturado a um bom riff de guitarra, tem elementos eletrônicos que tornam a música uma experiência estranha e envolvente, assim como restante do disco. 




“Paranoid android” é uma suíte de quase 7 minutos com mudanças bruscas de andamento. O título foi inspirado no personagem Marvin, o Andróide Paranóico, do livro O Guia do Mochileiro das Galáxias. Na letra uma pessoa à beira da loucura não consegue se encaixar no mundo ao seu redor, tentando se desvencilhar da escravidão tecnológica: “Eu posso ser paranoico / mas não um androide”. Thom Yorke afirmou que se inspirou nas últimas músicas de Abbey Road dos Beatles, para fazer a canção, com suas mudanças de ritmo e três partes. 




O clima espacial de “Subterranean homesick alien” (título que faz clara alusão a “Subterranean homesick blues” de Bob Dylan) combina perfeitamente com a letra da música, que fala sobre um personagem que foi abduzido por aliens e ninguém acredita. “Exit music (For a film) é um das canções mais tristes e melancólicas de Yorke, culminando em um refrão ao mesmo tempo raivoso e emocionante.

“Let down” apesar de sua sonoridade um pouco mais pop, disfarça uma letra pessimista, mostrando o desapontamento com o mundo atual e com a própria vida. Em “Karma police” Yorke tece reclamações à tal “Polícia do Karma” em cima de uma bela base de piano e sintetizadores. Destaque para o estranho e surpreendente vídeo feito para esta música. 




“Fitter happier” é uma programação feita por Thom Yorke em um computador, que dá instruções de como uma pessoa deve ser para se sentir melhor e mais saudável, como fazer exercícios três vezes por semana, se dar bem com colegas de trabalhos, coisas que dificilmente todos conseguem alcançar. Uma crítica irônica de como somos controlados por uma sociedade cheia de regras e imposições.

“Electioneering” é mais pesada e destoa do restante do álbum. Aqui Yorke muda um pouco o foco e fala de política. “Climbing up the walls” é estranha e misteriosa, com um clima bem dark. “No surprises” é uma das canções mais belas da carreira do Radiohead, fala sobre uma vida sem alarmes e sem surpresas, que a maioria das pessoas tem que se acostumar. Com uma mistura de Glockenspiel e uma linha de baixo hipnotizante, lembra uma canção de ninar, que de infantil não tem nada.

“Lucky” é a mais lenta do disco e tem vários ápices durante a execução. Na letra o tal homem que salvaria o Universo em “Airbag” tem sua missão concluída. Este fato levam muitos a crer que o disco seja uma obra de começo meio e fim, mas fica tudo no campo da especulação. A canção que mais lembra Pink Floyd em todo o disco. “The tourist” termina o álbum com um tom emocionante e desesperançoso.

Ok Computer é considerado um dos melhores e mais importantes trabalhos feitos nos anos 90 e não é por menos. Era o começo de uma nova era tecnológica dentro da música. A maioria do que foi feito em diante no rock inglês teve um pouco deste disco, vide trabalhos de bandas como Doves, Coldplay e Travis. Era o final do Britpop e começo da fase adulta do novo rock inglês. O começo também de uma nova fase na carreira da banda, que lançaria trabalhos bem esquizofrênicos como Kid A de 2000 e Amnesiac de 2001. Uma grande viagem para o ouvinte, sem dúvida alguma. 



10 de setembro de 2014

Clássicos do Brasil – Vivendo e Não Aprendendo

A banda paulista Ira! entrava em estúdio em maio de 1986 com a responsabilidade de gravar no melhor estúdio do Brasil, o Nas Nuvens, além de contar com o produtor mais renomado da época, Liminha, ex-baixista do Mutantes que se tornara uma espécie de Midas do rock brasileiro dos anos 80, produzindo quase todos os discos importantes da década.


A relação entre Liminha e os integrantes da banda durantes as gravações não foi das melhores. Segundo Liminha, os caras do Ira! eram mais introvertidos e de personalidade forte, algo que prejudicou bastante a relação entre as duas partes. A banda achava que o produtor interferia demais no som do Ira!, o que os irritava bastante. O estopim foi o fato do grupo mostrar para Liminha a música "Smithers-Jones" do The Jam como base para o que eles queriam fazer na música “Flores em Você”. Liminha considerou aquilo desafinado e quando a banda terminou de gravar a canção “Flores em você” com quarteto de cordas, Liminha provocou Nasi, falando: “Viu como é bom cantar com uma trilha afinada?”.

Como a relação banda/produtor não ia bem, o Ira! voltou para São Paulo para terminar as gravações do disco com a ajuda do produtor Pena Schmidt. Graças a esta conturbada gravação, a produção do disco foi dividida e nos créditos aparece como produzido por Pena Schimdt, Liminha, Vitor Farias, Paulo Junqueiro e Ira!. O álbum foi lançado em 25 de agosto de 1986, após muita expectativa dos fãs e da gravadora da banda.

O show de lançamento do disco foi um dos mais antológicos do rock brasileiro. Foi o famoso show na Praça do Relógio na USP em 11 de outubro de 1986, que teve como bandas de abertura Vultos e Violeta de Outono. Na plateia estava gente como Renato Russo da Legião Urbana e Paula Toller do Kid Abelha. Esta apresentação é considerada pela banda uma de suas melhores e mais representativas.

Em Vivendo e Não Aprendendo temos uma banda muito coesa e sabendo muito bem o que está fazendo com seus instrumentos. A excelente “cozinha” da banda, composta na época por Ricardo Gaspa no baixo e André Jung na bateria, se destacam no álbum tanto quanto o vocal de Nasi e a guitarra de Edgard Scandurra. Podemos ouvir o baixo pulsante de Gaspa nitidamente em todas as canções e André Jung provando que não era um baterista sem “pegada”, como era considerado ao ser expulso do Titãs, tocando com força e técnica em todo o disco.

“Envelheço na cidade” abre o álbum mostrando que Vivendo e Não Aprendendo não era um disco comum. Um clássico tanto do rock nacional quando do repertório do Ira! sendo obrigatória em todos os shows, é um hino urbano sobre o passar do tempo e a nostalgia dos anos que se passaram. O riff de guitarra inicial culminado em um refrão apoteótico, cantado a plenos pulmões, tornou esta canção algo grandioso e clássico. 



“Casa de papel”, feita por Edgard Scandurra em homenagem ao seu filho Daniel é um som característico da banda nesta fase, com bastante influência de bandas como Jam e The Who. A letra fala sobre como crescemos rapidamente e a infância vira uma lembrança distante. “Dias de luta” é uma das melhores músicas de todos os tempos, com sua letra existencialista e seu riff marcante, outra canção mais do que obrigatória nos show do Ira!.



“Tanto quanto eu” é Mod até o talo, com uma linha de baixo vibrante de Ricardo Gaspa, enquanto “Vitrine viva” é mais suingada, tanto que nos shows da banda sempre tem vários improvisos e experimentações nesta canção. “Flores em você” tem quarteto de cordas e tem bastante influência de “Eleanor Rigby” do Beatles. Foi trilha sonora da novela O Outro e alavancou as vendas do álbum. “15 anos” também é nostálgica, fala sobre um homem que quer voltar no tempo e começar tudo de novo. “Nas ruas” é uma daquelas tradicionais músicas bem urbanas do Ira! que nos remete a enfumaçada São Paulo e sua selva de pedra.

As outras duas canções do disco foram outro motivo de discórdia na história da banda. Os integrantes queriam que o trabalho tivesse apenas oito músicas, mas a gravadora queria incluir as duas músicas do primeiro compacto da banda, “Gritos na multidão” e “Pobre paulista”. A banda acabou concordando, mas só se as canções fossem como uma espécie de bônus, gravadas ao vivo. As versões ao vivo foram gravadas na antiga casa de shows Broadway e tiveram a participação da guitarrista da banda As Mercenárias, Ana Maria Machado. 

Vivendo e Não Aprendendo é o disco de estúdio mais vendido do Ira! com cerca de 200 mil exemplares. É também o mais coeso em termos de banda, Edgard Scandurra se tornava ali um dos melhores guitarristas do Brasil, Nasi cantava com paixão e muito bem enquanto Gaspa e Jung não deixavam por menos, fazendo a banda finalmente uma máquina de fazer rock n´roll com toda a engrenagem funcionando perfeitamente. Um disco que marcou a vida de muita gente, (inclusive a minha) se tornando um dos maiores clássicos do rock brasileiro em todos os tempos.



8 de setembro de 2014

Plastic Ono Band - O grito primal de John Lennon

Após a conturbada separação dos Beatles, em 1970, John Lennon junto com a sua inseparável Yoko Ono deu início ao tratamento criado pelo psicólogo Arthur Janov, denominado Terapia Primal. Tal tratamento consiste em que o paciente, através de muito choro e gritos expresse sentimentos reprimidos de sua vida. É a técnica “Lágrima por medos” (foi daí que a banda Tears For Fears tirou seu nome). Neste procedimento, Lennon tratou de seus traumas envolvendo o abandono de seu pai e a morte de sua mãe.


Depois deste intenso tratamento de quatro meses, John volta para a Inglaterra para gravar seu primeiro disco solo (sem considerar os discos experimentais feitos com Yoko). Para a produção, contou com a ajuda de Phill Spector, que já tinha trabalho no disco Let It Be dos Beatles. O álbum contou com Ringo Starr na bateria em algumas canções, Alain White na bateria das outras músicas, Klaus Woorman (amigo de Lennon da época que os Beatles tocaram em Hamburgo no começo de carreira) no baixo, e Billy Preston nos teclados. 

O disco John Lennon/Plastic Ono Band foi lançado em 11 de dezembro de 1970 é o resultado da Terapia Primal em forma de música. Neste álbum Lennon exorciza seus traumas de infância e também o fim dos Beatles em onze canções dilacerantes, com uma sonoridade econômica nos arranjos, mas complexas em suas emoções.

“Mother” começa ao som de tenebrosos sinos, e acompanhado somente de piano e bateria Lennon fala sobre sua mãe, que deixou a criação dele a cargo de uma tia e só reapareceu em sua vida quando John era adolescente (e acabou morrendo após um atropelamento) e de seu pai que o abandonou ainda pequeno. A letra é uma das mais emocionantes de Lennon: “Mãe você me teve / mas eu nunca tive você” e no final “Mãe não se vá / Papai volte para casa”. 



“Hold on” é uma mensagem de apoio a Yoko em relação às críticas que ela sofria por ser responsabilizada pelo fim dos Beatles. Era uma forma de dizer “agora somos nós dois contra o resto do mundo”. Em “I found out” Lennon fala sobre a liberdade que acabou de descobrir e ainda alfineta seus ex-companheiros de Beatles como nos trechos: “O velho Hare Krishna não é melhor que você / Apenas deixa você louco com nada para fazer / Mantém você ocupado com uma torta no céu / Não há nenhum guru quem possa enxergar através de seus olhos” (um recado a George Harrisson) e no trecho “Eu vi drogados, eu já passei por tudo / Eu vi religiões de Jesus a Paul”.

“Working class hero” mostra que Lennon após o fim dos Beatles tinha mais liberdade para falar sobre assuntos mais sérios, como o ativismo político. “Isolation” fala sobre o sentimento de solidão e isolamento que as pessoas passam no decorrer de suas vidas. “Remember” é sobre as lembranças do passado, enquanto “Love” é sobre o amor puro e simples. 

O jeito gritado de cantar de Lennon em “Well, well, well” mostra de onde artistas como Kurt Cobain se inspiraram. “God” tem uma das letras mais fortes de John, falando que “Deus é um conceito / Pelo qual medimos nossa dor”. Na letra ainda fala que não acredita na Bíblia, Jesus, Elvis, Zimmerman (Bob Dylan) e nos Beatles e que só acreditava nele e Yoko. No final decreta: “Eu era a morsa / Mas agora sou John / Então queridos amigos / Vocês precisam continuar / O sonho acabou”. “My mummy´s dead” é o epitáfio que fala da trágica morte de sua mãe.

O álbum chegou ao oitavo lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos e sexto na Inglaterra. É considerado por muitos o melhor trabalho solo de John Lennon e um dos melhores lançados por um ex-Beatle. Após este disco, Lennon se sentiu de certa forma mais livre de seus fantasmas do passado e com mais força para continuar sua brilhante carreira. 





3 de setembro de 2014

Banda do Mar faz alegria dos Hipsters em seu primeiro disco

Quando ouvi falar que o casal mais cool da música brasileira, Mallu Magalhães e Marcelo Camelo iriam montar uma banda juntos pensei “Lá vem mais um sonífero por aí”, a tirar pelos trabalhos solos de ambos, que particularmente não me empolgam muito, ao contrário do trabalho de Camelo com os Los Hermanos, que acho bem interessante.


Mas nada como ouvir primeiro para criticar depois não é? Ouvindo com atenção o disco homônimo da banda, que ainda conta com o baterista e percussionista português Fred Ferreira, podemos dizer que o disco tem qualidades e não é tão desanimado quanto poderia ser. Na capa do disco, a foto de uma garota, trata-se de uma modelo e não de Mallu Magalhães como alguns podem pensar.

O disco começa com a canção “Cidade Nova”, uma música mais próxima ao som que o Los Hermanos fazia, com uma boa marcação de baixo, melodia pop, com uma letra que fala sobre o amor e a cidade. Tem um solo mais rock e um final mais distorcido e barulhento.

“Mais ninguém” é animada e dançante com baixo bem marcado. A canção tem um videoclipe com os integrantes dançando desengonçadamente, parece que foram contaminados com a síndrome de Thom Yorke, que virou dançarino em seus vídeos mais recentes. Um vídeo bem barato e simples, mostrando que os artistas atualmente não estão gastando rios de dinheiro para fazer clipes, afinal não existe mais MTV Brasil para dar prêmios aos melhores vídeos. A péssima dicção de Mallu Magalhães infelizmente prejudica o entendimento da letra. 



“Hey Nana”, cantada por Camelo é uma das melhores do disco, com uma bela melodia, guitarras meio “praianas”. Uma canção agradável que fala de amor, assim como a maioria das canções do trabalho. “Muitos chocolates” é um rockinho esperto, que fala sobre uma garota que reclama do namorado, com um desempenho vocal um pouco melhor de Mallu Magalhães.


“Pode ser” é mais cadenciada, lembrando o trabalho solo de Camelo, com uma letra romântica cantada em dueto com Magalhães. “Mia” é bem percussiva e dançante, com um belo solo no final, fala sobre a gata de estimação de Mallu. “Dia clarear” é mais acústica, com uma sonoridade mais MPB em um clima tranquilo, sem ficar sonolenta.

“Me sinto ótima” é um rock/blues característico dos discos de Mallu, com assovios no início e no final da música. “Faz tempo” é bem Los Hermanos, enquanto “Seja como for” começa bem e fica entediante no decorrer da canção. “Vamo embora” encerra o disco em uma ode de Marcelo Camelo a tal Morena, que aparece em noventa por cento de suas canções. 

Neste primeiro disco A Banda do Mar faz um som pop e despretensioso que vai agradar em cheio a galera do circuito Hipster /Sesc /Faculdade de Letras. Músicas que tem o amor como tema principal, vão conquistar em cheio as garotas que cantam as músicas de Camelo de cor e apreciam os discos da estranha Mallu Magalhães.