24 de abril de 2019

Os trinta anos do disco Doolittle do Pixies


Semana passada completaram-se trinta anos do lançamento de “Doolittle”, segundo disco do Pixies (se não contarmos o EP “Come on Pilgrim” de 1987). Um álbum que influenciou o rock dos anos noventa, bandas como Nirvana e Weezer beberam muito da fonte de Black Francis e Cia. Kurt Cobain nunca escondeu que “Smells Like Teen Spirit” foi totalmente influenciada pela dinâmica das canções do Pixies.


“Surfer Rosa”, o disco anterior (o melhor álbum deles) foi produzido pelo lendário Steve Albini, o que gerou uma sonoridade bem mais crua, com aquele som de bateria que só Albini conseguia gravar. O disco não foi bem comercialmente, mas anos depois de tornou um disco clássico e Albini foi chamado por Kurt Cobain para produzir “In Utero”, o derradeiro trabalho do Nirvana.

Para a produção de “Doolittle” foi recrutado Gil Norton, que deixou a banda com uma sonoridade um pouco mais limpa do que o disco anterior. Gil também foi responsável pela mudança de algumas músicas como “There goes my gun” que inicialmente era um punk rock estilo Husker Du e acabou tendo seu ritmo mais cadenciado, mudando o andamento da canção.

O tema principal das letras de “Doolittle”, compostas pelo vocalista e guitarrista Black Francis (ou Frank Black, como queiram) é o surrealismo, as letras em si não têm tanto sentido, segundo Francis eram apenas palavras que se encaixavam bem e que o intuito era entreter e divertir as pessoas, sem grandes mensagens. A faixa inicial, “Debaser” começa com o baixo matador da eterna musa do rock alternativo Kim Deal, na letra Francis se inspirou no filme “Um Cão Andaluz” de Luis Buñuel, lançado em 1929.


“Tame” tem apenas três acordes e é uma “paulada na alma”, uma das canções mais fortes da banda ao vivo, com gritos e sussurros de Deal e Francis. “Here comes your man” tem uma linha de baixo que se tornou um clássico e é a música de maior sucesso comercial do Pixies até hoje. Destaque também para a guitarra estilo surf music de Joey Santiago na canção. “Monkey gone to heaven” fala sobre uma possível catástrofe ambiental e tem cordas e violinos. No trecho mais forte da música Francis canta: “Se o homem é cinco e o diabo é seis, então Deus é sete” mostrando um conhecimento bíblico do vocalista.


“La la love you” é uma música boba, quase infantil, cantada pelo baterista David Lovering, enquanto “Hey” é uma tensa canção de amor com um belo dueto vocal de Francis e Deal. Para encerrar, “Gounge away” antecipa tudo aquilo que aconteceria no rock alternativo dos anos noventa: começo leve, explosão no refrão, gritaria e guitarras urrando.


“Doolittle” é o disco de maior sucesso do Pixies e o seu trabalho mais importante e influente. O grupo ainda lançou dois belos trabalhos, “Bossanova” em 1990 e “Trompe Le Monde” em 1991. Depois disto a banda acabou e foi voltar somente em meados dos anos 2000 com alguns discos que não fazem feio, mas não se comparam aos trabalhos iniciais, ainda mais depois da saída de Kim Deal. De qualquer forma, “Doolittle” é um álbum clássico que deve estar na coleção de qualquer amante de música que se preze.



1 de abril de 2019

Tudo ao Mesmo Tempo Agora – O disco maldito do Titãs


No final dos anos oitenta, mais precisamente em 1989, a banda paulistana Titãs lançava seu quinto disco “O Blesq Blom”. Neste trabalho o grupo fez uma mistura de rock, mpb, funk (o original, não o do Rio) e música regional, graças à participação da dupla pernambucana Mauro e Quitéria, que a banda encontrou em uma praia em uma viagem ao Recife.


Este álbum foi muito elogiado pela crítica e rendeu sucessos como “Miséria”, “Flores” e “O Pulso”. O disco também influenciou garotos que posteriormente criaram o movimento “Mangue Beat” nos anos noventa, como Fred 04 e Chico Science. O Titãs chegava ao final dos anos oitenta como uma das bandas mais bem sucedidas do rock brasileiro.

O começo dos anos noventa não foi nada fácil para o rock nacional, outros ritmos começavam a ganhar mais espaço (como o sertanejo e a lambada) e um novo governo logo de cara soltou um plano econômico mirabolante que confiscou o dinheiro da poupança das pessoas, gerando uma crise ainda maior na economia, minguando os shows e dando muito prejuízo aos músicos em geral.

Foi neste clima caótico que a banda entrou em estúdio em 1991 para gravar seu sexto trabalho. O Titãs resolveu que iria meter a mão na massa e se auto produzir. O objetivo era fazer um som mais cru, mais rock e com letras mais fortes, com temas na maioria das vezes escatológicos.

O disco começa com muito peso, em “Clitóris” a letra reverencia este órgão que tem somente uma função no corpo da mulher: dar prazer. “Já” tem uma daquelas letras clássicas e totalmente influenciadas pelo non sense e pela escola concretista, nela Arnaldo Antunes questiona: “Você já tentou varrer a areia da praia?”.



Em “Isso pra mim é perfume” Nando Reis faz uma canção escatológica de amor, com os versos mais podres possíveis: “Isso para mim é enfeite / A cabeça do pau / Faz esporra de leite / Pra tomar de manhã / No café da manhã / E também no almoço / E depois no jantar” e “Amor / eu quero te ver cagar”. Canções com letras de apenas duas ou três estrofes também chamam a atenção neste álbum como “Não é por falar” e “Obrigado”.



O disco “Tudo ao Mesmo Tempo Agora” foi muito criticado pelo jornalismo musical e foi um fracasso de vendas, por motivos óbvios, mas mostrou uma banda ousada, que resolveu chutar a balde e mandar tudo pra puta que pariu. O disco posterior, “Titanomaquia”, veio ainda mais raivoso e pesado, com a produção de Jack Endino, produtor do primeiro disco do Nirvana, “Bleach”. Esses dois trabalhos do Titãs são hoje cultuados pelos fãs, mostrando que o Titãs é uma das poucas bandas no Brasil que conseguem fazer rock pesado em português como muita propriedade.