7 de dezembro de 2016

Peter Hook mostra repertório arrebatador de New Order e Joy Division em show em São Paulo

Peter Hook após sua conturbada saída do New Order montou uma nova banda com o nome de Peter Hook and The Light, que desde 2010 vem fazendo shows celebrando o repertório das duas bandas em que Hook foi fundador, os lendários New Order e Joy Division. O repertório da apresentação de ontem foi calcado em dois discos chamados Substance, o do New Order foi lançado em 1987 e o do Joy Division lançado em 1988.


Esta nova empreitada de Hook conta com seu filho, Jack Bates, no baixo, o ex-vocalista de outro projeto de Hook, o Monaco, David Potts, nas guitarras e vocais, além de Paul Kehoe na bateria e Andy Poole nos teclados e programações. O show começou pontualmente às 22:00 hs com a tribal “In a lonely place” do Substance do New Order. O primeiro grande momento foi a execução de “Ceremony” uma daquelas canções que mostram a fase de transição do New Order que no começo ainda tinha bastante do som do Joy Division. Hook mostrou que ainda está em grande forma com seu baixo sempre se destacando e seguro nos vocais também.

Quando começaram as primeiras batidas de “Blue monday”, um dos maiores clássicos do New Order, o público já começou a dançar e depois cantar a letra em uníssono, relembrando o apogeu da banda nos anos 80. Assistir ao vivo a linha de baixo impressionante de Hook em “The perfect kiss” foi uma experiência e tanto, fora que a banda executou com muita fidelidade os efeitos e percussões da música, um dos pontos altos do show.

Com o jogo começando a ficar ganho era só deixar rolar mais uma tonelada de sucessos do New Order cantados pelo público com paixão e nostalgia como em “Bizzare love triangle”, “True Faith” e “1963”. A primeira parte do show com canções do New Order estava encerrada e o melhor do show ainda estava por vir.

Após um pequeno intervalo, a banda volta ao palco para tocar as canções do disco Substance do Joy Division. O eletro rock dançante dá lugar a um pós-punk hipnotizante, transformando a segunda parte do show em um culto ao finado e genial vocalista e letrista Ian Curtis. Começando com “No love lost” logo em seguida veio uma sequência que era covardia, “Disorder” com sua linha de baixo fantástica e o peso da clássica “Shadowplay” levaram o público ao delírio. Ouvir “Transmission” e “She lost control” em sequência, canções que moldaram o gosto musical de muita gente (inclusive o meu) foi algo arrebatador, mostrando que estar ali era um momento único e especial.

Hook dedicou a linda “Atmosphere” ao time de futebol da Chapecoense, vítima de um trágico acidente aéreo, o que tornou sua execução algo ainda mais belo e emocional. Para fechar o show não poderia faltar o maior clássico do Joy Division, “Love will tear us apart”, emocionando todos que estavam ali presentes. No final da apresentação, Hook ainda deu uma de Morrissey, tirou a camisa e jogou para a galera, que a disputou como um verdadeiro troféu.


Depois da saída da banda do palco o público ainda ficou cantando a melodia de “Love will tear us apart” por alguns minutos, o que tornou tudo ainda mais belo e emocionante. Este show mostrou que esta nova banda de Hook não é somente uma banda tributo, mas também é a prova que o baixista é um dos artistas mais importantes e influentes dos últimos trinta anos. Mostrou também a importância de Joy Division e New Order, duas bandas essenciais para quem quer entender o pós-punk e o rock feito nos 80. 

Setlist:

New Order

In a Lonely Place
Procession
Cries and Whispers
Ceremony
Everything's Gone Green
Blue Monday
Confusion
Thieves Like Us
The Perfect Kiss
Subculture
Shellshock
State of the Nation
Bizarre Love Triangle
True Faith
1963

Joy Division

No Love Lost
Disorder
Shadowplay
Komakino
These Days
Warsaw
Leaders of Men
Digital
Autosuggestion
Transmission
She's Lost Control
Incubation
 Dead Souls
Atmosphere
Love Will Tear Us Apart


24 de setembro de 2016

Nevermind – Vinte e cinco anos de uma revolução musical

Há vinte e cinco anos um disco que mudaria os rumos do rock era lançado. Três caras que vieram do nada, Kurt Cobain, Krist Novoselic e Dave Grohl não imaginariam que iriam entrar para a história da música mundial com seu recém-lançado disco Nevermind em vinte e quatro de setembro de 1991.


O cenário musical da época era infestado de armações musicais e o rock estava em baixa, as bandas de hard rock farofa estavam saindo de cena e só quem tinha bala na agulha, ou seja, um grande investimento por trás poderia entrar nas paradas de sucesso e tocar nas rádios. Havia uma cena underground, mas em uma era pré-internet era praticamente impossível sair desse gueto de pequeno público.

O Nirvana, liderado por Kurt Cobain, apareceu com um rock explosivo e autêntico, mostrando em suas letras e som a raiva e a frustração de uma juventude entediada e sem rumo. Uma banda que apareceu sem grande marketing e de forma intensa e natural, ao contrário do que vemos na cena musical de hoje em dia.

A mistura perfeita de punk e pop fez deste álbum um disco essencial, talvez o último grande clássico da história do rock. A produção de Butch Vig também foi de suma importância para o sucesso de Nevermind, Vig conseguiu “polir” o som do grupo sem perder o peso e o punch do som do Nirvana.

Como praticamente tudo já foi dito deste disco e eu também já fiz um post sobre ele (leia aqui ), vou fazer um faixa a faixa fazendo um pequeno comentário sobre este clássico do rock:

“Smells like teen spirit” – Um grande disco tem começar com um hino. O riff simples e ao mesmo forte e impactante transformou a canção em um verdadeiro fenômeno assim que a música e o clipe começaram a tocar incessantemente na rádio e na TV. A performance explosiva de Kurt nos vocais surpreende até hoje.


‘In Bloom” – O Nirvana virou uma máquina a partir da entrada de Dave Grohl na banda em 1990. Percebe-se a diferença nítida na dinâmica da música com ele na bateria em relação ao baterista anterior, Chad Channing que criou a batida característica da música. A canção tem uma letra estranha e irônica, criticando aqueles que nem sabem o que estão cantando.


“Come as you are” – Outro hino do disco começa com um riff roubado da música “Eighties” do Killing Joke. Com uma das melhores letras e harmonias feitas por Cobain é a primeira música que praticamente todo mundo aprende no violão. 


“Breed” – Uma canção incendiária com um baixo distorcido e aquela fúria característica de Cobain tanto nos vocais quando na guitarra. Uma das melhores para ser tocada ao vivo, presente em quase todos os shows do Nirvana após o lançamento do disco.


“Lithium” – Outro hino e uma das músicas mais confessionais de Kurt. Um refrão que dá vontade de cantar a plenos pulmões e a música que o público mais agitava nos shows do Nirvana. Muitos jovens se identificaram com a letra, que fala sobre um vazio que praticamente todos nós sentimos em alguma fase da vida.


“Polly” – Um dos poucos momentos acústicos do disco, fala sobre o caso de uma garota que foi raptada, na visão do sequestrador. A interpretação de Kurt e o tosco som do violão dão um clima tão intimista que você pode até imaginar a história que Cobain está contando na canção.


“Territorial pissings” – Uma canção que critica o machismo, com um instrumental demolidor, uma música punk em sua essência, capaz de deixar o roqueiro mais durão totalmente atordoado com tamanho barulho e peso.


“Drain you” – Momento romântico do disco, com uma letra dedicada a uma ex-namorada de Cobain que deu um pé na bunda dele, a roqueira do grupo Biquini Kill, Tobi Vail. Era a canção preferida de Kurt, tanto que tocava ela em praticamente todos os shows do grupo.


“Lounge act” – Mais uma dedicada a Tobi Vail, tanto que Cobain nem tocava ela quando Courtney Love estava por perto. Uma música melodiosa e romântica, mostrando de Kurt não era só ódio e ressentimento.


“Stay away” – Outra canção incendiária em que Kurt dispara contra todos, da moda até mesmo Deus, dizendo que ele é gay.


“On a plain” – Uma pérola perdida do disco, uma das músicas mais belas compostas por Cobain, um recado velado aos seus familiares e todos aqueles que rejeitaram Kurt durante sua vida. “Amo a mim melhor do que você / Sei que é errado, mas o que posso fazer?”


“Something in the way” – Uma mítica canção em que Kurt narra uma época que ele morou embaixo de uma ponte. Na verdade ele não chegou a morar, ficava apenas matando um tempo nela, mas Cobain era especialista em se auto depreciar. Um final belo e melancólico para um disco fenomenal.


“Endless nameless” – A famosa música secreta de Nevermind. Uma canção experimental e desconexa, que servia para a banda destruir tudo no final dos shows. 


6 de julho de 2016

A Moon Shaped Pool é mais uma bela viagem musical do Radiohead

Que o Radiohead há tempos faz o que bem entende com sua música sem se importar muito com resultados comerciais todo mundo já sabe. Este novo trabalho da banda intitulado A Moon Shaped Pool é o mais novo exemplo da excentricidade e da forma como o Radiohead criou seu próprio universo, em que são necessárias muitas audições e atenção aos detalhes para entrar no clima e na viagem proposta pela banda.


Depois de cinco anos após o lançamento de seu último disco, o não menos estranho e controverso King of Limbs, o Radiohead lança um álbum com músicas não totalmente inéditas. Canções como “Identikit” e “True love waits” (esta com mais de vinte anos) já eram executadas ao vivo pela banda há algum tempo. Mesmo com essa sensação de “disco de gaveta” o resultado final se torna bem acima da média.

O disco abre com o primeiro single lançado, da canção “Burn the witch”, que ganhou um belo videoclipe em animação. A música é a melhor do disco, com um belo arranjo com orquestra que dá um peso à música. A letra é para variar um tanto enigmática, falando sobre uma bruxa que deve ser queimada. “Daydreaming” foi o segundo single e videoclipe a ser lançado. Uma música lenta e arrastada com um clima “ambient” e com seis minutos de duração. Uma prova de ferro ao ouvinte, que se passar dessa canção com certeza vai ouvir o disco até o final. Já é a canção preferida pelos fãs do Radiohead deste álbum.


“Decks dark” tem uma letra reflexiva com uma melodia envolvente e arranjos que lembram algumas coisas do Ok Computer. “Desert island disk” tem uma sonoridade mais acústica e climática, com uma letra que faz referência ao término de um relacionamento amoroso de mais de vinte anos de Thom Yorke. “Full stop” assim como os últimos trabalhos do Radiohead tem influência do Krautrock dos anos setenta, de bandas como Neu! e Can, com uma pitada do trip hop de bandas como Portishead. Na letra mais uma referência ao fim de um relacionamento: “Eu desejo que você realmente sinta falta de mim".


“Glass eyes” é uma daquelas canções melancólicas que Thom Yorke sabe fazer com maestria, com um belo arranjo de cordas. “Identikit” é uma das melhores do disco, com uma interessante linha de baixo e um vocal fantasmagórico. A música cresce do meio para o final com um coro estranho e interessante ao mesmo tempo. “The numbers” é uma canção de protesto com uma letra com vários clichês: “Conclamamos o povo / As pessoas têm esse poder / Os números não irão decidir / O sistema é uma mentira”. A música cresce do meio para o final, graças aos arranjos de orquestração.

“Present tense” tem uma percussão latina que dá um frescor à canção, em outra música que fala sobre um coração partido.  “Tinker tailor soldier sailor rich man poor man beggar man thief” é totalmente krautrock, parecendo uma das trilhas sonoras feitas pelo guitarrista Jhonny Greenwood para o diretor Paul Thomas Anderson para filme “O Mestre”, climática e etérea ao extremo. “True love Waits” é uma antiga canção que aparece no EP I Might Be Wrong Live. Nela, Yorke canta no eu lírico feminino, clamando para que o seu grande amor não vá embora.

Mesmo com um disco com músicas não totalmente inéditas, o Radiohead acabou se saindo muito bem neste novo álbum. A arte de Thom Yorke e Cia não é nada óbvia e isto torna o Radiohead uma das bandas mais interessantes dos último vinte anos e este disco é mais uma bela viagem musical, mostrando que nem sempre o caminho mais fácil é o que dá mais retorno. Até Thom Yorke se surpreendeu com o sucesso que o disco vem fazendo. Isto mostra que o público ainda dá valor ao que é feito com sinceridade e sem interesse exclusivamente comercial. 

10 de junho de 2016

Black Sabbath x Vanusa – Plágio ou coincidência?

Em 1973 a cantora brasileira Vanusa lançava seu quarto disco de estúdio, que contava com a canção que iria se tornar seu maior sucesso, “Manhãs de setembro”. Entre as canções do disco, estava uma música em inglês com um belo riff de guitarra, chamada “What to do”. Um som bem ao estilo anos 70, mostrando o lado roqueiro da cantora.


Vanusa sempre foi uma artista que lançou belos trabalhos, mas com o passar do tempo e graças à indústria musical em que poucos artistas conseguem ficar em destaque por muito tempo, a cantora caiu um pouco no ostracismo para o grande público e reapareceu em um episódio bem constrangedor, quando se perdeu ao cantar o hino nacional brasileiro em uma cerimônia, devido a alguns remédios que ela estava usando na época, que a deixaram um pouco atordoada.


O episódio mesmo causando alguns transtornos para a cantora acabou sendo uma espécie de marketing às avessas e sua agenda de shows até melhorou depois do episódio, fazendo Vanusa gravar um comercial de TV satirizando o dia que cantou o hino de forma atrapalhada.

Em 1974, o Black Sabbath, um dos maiores grupos de rock de todos os tempos lançava seu quinto disco de estúdio, Sabbath Bloody Sabbath. Muitos não gostam tanto deste disco, por causa do uso de teclados e sintetizadores em algumas músicas, lembrando bandas do rock progressivo, mas na minha opinião é um dos melhores discos do Sabbath. A música que dá título ao disco é a melhor canção do álbum, com seu riff fantástico e um dos melhores da discografia da banda, fora o vocal de Ozzy Osbourne que atinge notas tão altas que chegam até a assustar.


Muitos anos depois com a chegada da internet muita gente percebeu que o riff de “Sabbath bloody sabbath” é idêntico ao riff da canção “What to do” da Vanusa. E aí ficou a pergunta, quem copiou quem afinal? Coincidência ou plágio mesmo? Como o disco da Vanusa saiu cinco meses antes do disco do Sabbath, o mais provável é que o guitarrista Tony Iommi e Cia copiou o riff da canção da cantora brasileira.

Reza a lenda que circula na Internet que o guitarrista do Black Sabbath estava sem ideias para compor as canções do que seria o quinto disco da banda e pediu para sua equipe e amigos que trouxessem discos de vários artistas ao redor do mundo, para ter inspiração para compor os riffs das músicas do álbum. Entre esses discos estaria o da Vanusa que contava com a canção “What to do”. Iommi teria se empolgado tanto com a canção que além de copiar o riff (taran tan taran tan tan tan tan tan tan) copiou também a parte mais lenta da música.


Muito difícil saber se esta história é verdadeira ou não já que na época era bem complicado arranjar discos de artistas fora do eixo Estados Unidos/ Inglaterra, mas que as canções se parecem muito, isto não dá para se negar. Vanusa foi questionada se iria processar o Black Sabbath, mas disse que não tinha interesse, pois acredita que seja uma coincidência. O mais legal é que Vanusa prometeu colocar a canção “What to do” em seu repertório, alimentando ainda mais esta polêmica musical. (Se quiserem saber mais algumas histórias de plágio na história da música cliquem aqui)


20 de maio de 2016

Legião Urbana 30 anos – Resenha

Depois do imbróglio com o filho e herdeiro de Renato Russo e com um ano de atraso, finalmente saiu a edição especial de 30 anos do primeiro disco da Legião Urbana, lançado em 1985. Composto por dois CDs, esta edição conta com o primeiro CD com o disco da Legião na íntegra e remasterizado e o segundo CD tem versões demo e algumas raridades, mas nenhuma música inédita da banda.


A remasterização do disco realçou as boas linhas de baixo feitas pelo saudoso baixista Renato Rocha e as guitarras econômicas e eficientes de Dado Villa-Lobos ficaram bem mais nítidas do que no lançamento original. No encarte do disco há várias referências à história do rock de Brasília, como o surgimento do Aborto Elétrico, banda que após seu término resultou no surgimento da Legião e do Capital Inicial.

Mesmo sem nenhuma canção inédita, o segundo CD tem momentos interessantes, como as três primeiras faixas, versões demos e cruas de “Geração Coca-Cola”, “Ainda é cedo” e “A dança”. Ambas estavam na primeira demotape da banda que foi mostrada ao produtor Marcelo Sussekind, que não se empolgou muito com o som do grupo.

“Química” aparece com uma versão bem crua e foi gravada para o programa Clip Clip Pirata da Rede Bobo e tem uns trechos antes da música de Renato Russo explicando aos câmeras como gostaria de ser filmado, somente de frente sem ser de perfil. Depois de duas outtakes de “Perdidos no espaço” e “O reggae” há uma faixa em que Renato Russo apresenta a banda de uma forma divertida e didática. Em “Ainda é cedo (take 9)”, Renato Russo mostra sua impaciência com o baixista Renato Rocha, que não toca a linha de baixo como Russo gostaria, tanto que foi o próprio vocalista que gravou o baixo na versão original do disco.


“Chamadas de rádio” é uma faixa desnecessária, com os integrantes da Legião chamando o pessoal para ver o show da banda. “Petróleo do futuro”, “Será” e outra versão de “Ainda é cedo” (a terceiro do cd) saíram da primeira fita demo gravada pela banda em Brasília, com uma tosquíssima qualidade de som. Outra faixa desnecessária é “Aduhhhhhhhh!” uma vinheta que a banda tocava nos shows quando alguma corda de algum instrumento tinha que ser trocada. No final ainda há duas versões remixes, uma da música “A dança” feita pelo produtor dos Beastie Boys, Mario Caldato e de “O reggae” feita pelo Liminha.


Legião Urbana 30 anos é uma bela homenagem a um dos discos mais importantes já lançados no rock brasileiro. Um álbum que mostra uma banda crua e ainda sem o tom messiânico que Renato Russo iria colocar nos discos posteriores. Mesmo com poucas surpresas é uma boa pedida para os fãs de uma das maiores bandas do rock brasileiro. 


22 de abril de 2016

Bob Mould lança mais um belo disco

Bob Mould lançou este ano seu décimo terceiro disco solo de estúdio, Patch The Sky. O álbum vem depois de dois belos trabalhos, Silver Age de 2012 e Beauty And Ruin de 2014 (leia a resenha deste álbum aqui.). Mould é um dos artistas mais influentes do rock alternativo, tendo sido vocalista de bandas importantes como Husker Du na década de 80 e do Sugar na década de 90.


Guitarrista de mão cheia, Mould sabe como ninguém misturar guitarras altas e rápidas com melodias com belos ganchos pop que ficam na mente e essa característica continua evidente neste novo trabalho do cantor. As letras continuam com um tom reflexivo, com Mould tentando exorcizar fantasmas interiores de um homem que já está na faixa dos cinquenta anos.

O disco abre com efeitos de guitarras interessantes em “Voices in my head”, primeiro single de trabalho do álbum. Uma canção com uma melodia fácil e com um ritmo cadenciado, com uma letra existencialista. Destaque para os criativos solos de guitarra de Mould na música. “End of things” já um punk rock vigoroso e cheio de energia, com uma letra que fala sobre a brevidade das coisas.


“Hold on” é o segundo single do disco mostrando a veia melódica característica de Mould com um potente refrão e guitarras vigorosas. “You say you” tem uma pegada pop e paredes de guitarra ao fundo enquanto “Losing sleep” tem uma andamento bem diferente do som habitual de Mould, com uma bela linha de baixo. “Pray for the rain” é um punk rock simples e direto, sem maiores firulas.


“Lucifer and God” é uma das melhores do disco, com uma grande melodia e letra acima da média. “Hands are tied” tem um ritmo frenético, ótima para ser tocadas nos shows para as tradicionais rodas punks. “Black confetti” é a melhor música do disco, um rock poderoso com uma melodia envolvente e guitarras no talo, ao melhor estilo Mould de composição.
                                                                                                   

O álbum termina tirando o pé do acelerador, com a bela Monument, um ótimo encerramento para um bom trabalho. Mesmo Patch The Sky não sendo um álbum tão bom quanto os dois anteriores ainda sim é um interessante lançamento em um momento tão escasso para o rock atual. Bob Mould mostra que ainda tem muito a oferecer e que está em plena forma e é um dos poucos artistas que nunca decepcionam em seus discos. 


2 de março de 2016

Vinte anos sem os Mamonas Assassinas

O ano era de 1995, eu assistia a MTV como de costume e de repente aparece um clipe bem tosco, com uns caras vestidos de Chapolin cantando uma música sobre um português que participava de uma suruba e que se dava muito mal. Achei até divertido, mas nunca poderia imaginar que aqueles caras iriam se tornar o maior sucesso musical daquele ano.


O que iria acontecer dali a alguns meses se tornaria inimaginável para os cinco rapazes humildes da cidade de Guarulhos. Dinho, Bento, Júlio, Samuel e Sérgio chegariam ao estrelato de maneira meteórica vendendo mais de três milhões de discos. A banda anteriormente se chamava Utopia e fazia um som mais sério, influenciada por bandas como Legião Urbana e Titãs, mas aquele estilo não combinava como o jeito escrachado e brincalhão de seus integrantes e a mudança do nome do grupo para Mamonas Assassinas e um estilo mais despojado e irônico foi questão de tempo.

Após o vocalista Dinho mostrar duas músicas para o produtor Rick Bonadio, “Mina”, que se tornaria “Pelados em Santos” e “Robocop gay”, Bonadio percebeu o potencial das canções e disse que se a banda fizesse mais músicas como aquelas conseguiria uma gravadora para eles. Após gravarem a demo no estúdio de Rick o grupo depois de um tempo conseguiu contrato com a EMI e o seu primeiro e único disco foi lançado em 23 de junho de 1995.

Pouco tempo depois os Mamonas estavam estourados em todo o Brasil, com quase todas as canções do disco tocando nas rádios, principalmente “Pelados em Santos” e “Vira Vira”. Globo e SBT disputavam a banda à tapa para conseguir levá-los aos seus programas de domingo à tarde. Eu era uma das poucas pessoas que não tinham nem o disco nem a fita cassete dos Mamonas, talvez pelo fato de na época gostar de um rock mais sério (ok eu gostava de Raimundos), mas mesmo assim achava o grupo interessante e divertido.


O disco começava com a porrada “1406” com ótima linha de baixo e riffs de guitarra. O título era uma alusão ao número de telefone de um serviço de compras. Na letra a banda fazia uma crítica ao consumismo em geral. “Vira-vira” foi o primeiro sucesso do grupo, uma canção que mistura o tradicional ritmo português ao rock com uma letra que foi inspirada em uma piada do humorista Costinha, sobre um casal de portugueses que vai parar em uma suruba.

“Pelados em Santos” foi o maior sucesso do álbum, Dinho fez a canção para uma ex-namorada e é uma mistura de música brega com rock. Em “Chopis centis”, a banda rouba o riff de “Should I stay or should I go” do The Clash. A letra fala sobre os desejos das camadas mais simples, de poder levar a namorada ao shopping entre outras coisas. “Jumento Celestino” fala sobre a saga de um nordestino chegando ao Sudeste. Uma letra que foi considerada um pouco preconceituosa, mas na verdade os integrantes eram filhos de nordestinos e apenas fizeram uma sátira com as histórias de vida de seus próprios familiares.


“Uma Arlinda mulher” é uma paródia ao cantor Belchior, tanto que Dinho imita o jeito de cantar dele durante a canção. “Cabeça de bagre I” tem um potente riff de guitarra e fala sobre um péssimo aluno que só tira notas baixas. “Robocop gay” foi também um grande sucesso, com uma letra que fala sobre um super-herói afeminado, claramente inspirado no personagem de Jô Soares nos anos 80, o Capitão Gay. “Bois don´t cry” satiriza o ritmo sertanejo “dor de corno” enquanto “Debil metal” satiriza o heavy metal com um pesado riff de guitarra. Para encerrar o disco a genial “Lá vem o alemão” que tira um barato com os grupos de pagode que faziam sucesso naquela época.

Vale ressaltar que o sucesso dos Mamonas não foi por acaso. Era uma banda afiada que tocava muito bem, destaque para o guitarrista Bento Hinoto. A “cozinha” da banda, formada pelo baixista Samuel Reoli e pelo baterista Sérgio Reoli  segurava muito bem a onda e o tecladista Júlio Rasec mesmo não sendo um grande instrumentista era o cara que participava da parte teatral dos shows. Mas o maior destaque, como não poderia deixar de ser, era o carisma e talento do vocalista Dinho, que se destacava tanto nas letras sarcásticas e inteligentes ao mesmo tempo, quanto nas performances ao vivo. Depois de um sucesso estrondoso de oito meses, a banda teve um fim trágico que nem vale a pena ficar lembrando aqui. Fica na memória uma banda que inovou o cenário musical e que foi o último grande fenômeno da música brasileira. 


22 de janeiro de 2016

Último disco de David Bowie é uma genial despedida

Como todos já sabem, David Bowie deixou este mundo no dia 10 de janeiro deste ano, dois dias após lançar seu último disco, que tem sido chamado de Blackstar. Muito já se foi dito sobre Bowie, que ele era o “camaleão” do rock entre outros clichês do tipo, mas o certo é que ele foi um dos artistas mais revolucionários da história da música pop universal. Sempre inquieto, com guinadas surpreendentes em sua carreira, se tornou um ícone tanto musical como comportamental, ditando mudanças na moda e na música. (Leia sobre as diferentes faces de Bowie aqui.)

Depois de mais de dez anos longe dos estúdios, Bowie lançou em 2013 o disco The Next Day, (leia a resenha sobre o disco aqui.) meio que de surpresa quando quase ninguém esperava um novo lançamento dele. Um disco com grandes ganchos pop que foi sucesso de crítica e de público. Seu mais novo e derradeiro disco, Blackstar, é bem mais introspectivo e com bastante influência de Jazz e música experimental. O tom das canções dá a entender que Bowie talvez já sentisse que estes seriam seus últimos dias e que sua inevitável morte estava por vir. Ninguém da imprensa ficou sabendo que o cantor estava com câncer em estado avançado e de forma repentina, Bowie acabou falecendo no dia 10 de janeiro em sua casa, junto a sua família.

“Blackstar”, música de abertura do álbum é um épico de quase dez minutos, com um clima tenso e claustrofóbico, com uma sonoridade densa que mistura Jazz e batidas eletrônicas. Bowie nesta canção é uma espécie de mensageiro com frases enigmáticas que falam sobre a morte como no trecho “Algo aconteceu no dia que ele morreu / O espírito ascendeu um metro e então se afastou / Alguém tomou seu lugar e bravamente chorou / (Eu sou uma estrela negra, eu sou uma estrela negra)”. No meio da canção há uma mudança de andamento em que se percebe uma voz mais frágil do cantor, mostrando uma vulnerabilidade provavelmente por causa de seu estado de saúde.


"Tis a pity she was a whore" é um pouco mais leve que a anterior, com ótimos arranjos de sax e piano, misturando jazz e experimentalismo com o sax de Donny McCaaslin soando de forma livre em cima da harmonia da música. “Lazarus” tem um clipe em que Bowie  está com olhos vendados como se estivesse em seus últimos momentos, percebendo que está indo para outra dimensão mesmo sem conseguir se desconectar totalmente do mundo terreno.


"Sue (Or in a season of crime)" tem uma base rítmica mais caótica, enquanto “Girls loves me” tem um acento mais eletrônico, lembrando coisas do disco Earthling de 1997, com um belo refrão. “Dollar days” é uma emocionante balada ao piano e um com um lindo arranjo de sax. “I can´t give everything away” encerra o disco com um clima mais pop meio anos oitenta, em tom de despedida e com um fantástico solo de guitarra ao final.

Como em toda sua carreira, David Bowie lançou mais um trabalho em que eleva a arte a sua maior potência, uma obra que fecha com extrema competência uma discografia repleta de grandes discos e canções que influenciaram milhões de pessoas e diversos artistas em todo mundo. Fica a lembrança de um artista completo que nunca se acomodou e sempre surpreendeu. Obrigado Bowie!



7 de janeiro de 2016

Discografia Básica - Led Zeppelin IV

Quando os quatro integrantes da banda inglesa Led Zeppelin entraram em estúdio no final de 1970 para gravar seu quarto álbum, já tinham em mente que teriam que fazer um disco grandioso, que justificasse o intuito inicial da banda de ser um supergrupo de rock, que chegasse ao topo do mundo. A banda já tinha clássicos como “Whole lotta love” e “Dazed and confused” mas faltava ainda aquele disco definitivo, que mudasse os rumos do rock n´roll.


Jimmy Page, assim que a banda Yardbirds terminou queria formar uma superbanda, com Keith Moon e John Entwistle do The Who na bateria e no baixo e Jeff Beck na guitarra. Infelizmente não foi possível, então Page recrutou músicos promissores, o vocalista bonitão Robert Plant do Band of Joy que trouxe junto com ele o monstro John Bonham na bateria e por último entrou o maestro John Paul Jones no baixo. O Led Zeppelin, portanto, foi uma banda formada para ser grande, não foram quatro moleques que eram amigos e resolveram fazer um som de forma descompromissada e chegaram ao auge.

Após um terceiro álbum não tem bem recebido pela crítica, o quarto disco da banda era uma prova de fogo para mostrar que ali estavam gigantes do rock que entrariam de vez para o hall dos clássicos do gênero. Led Zeppelin IV saiu em março de 1971 e é uma coleção de canções fantásticas e colossais.

O disco na verdade não tem um nome, ele é popularmente chamado de Led Zeppelin IV por ser o quarto disco da banda. Cada um dos integrantes escolheu um símbolo que o representasse na arte do álbum. O símbolo de Page é o Zoso, que representa na língua grega salvação. O de John Bonham mostra três símbolos interligados e representa a trindade familiar entre homem, mulher e criança. O símbolo de John Paul Jones é bem parecido com o do baterista e tem um círculo no meio que significa pessoa com confiança e competência. O desenho escolhido por Plant era uma pena dentro de um círculo, sendo que a pena significa lealdade, verdade e justiça e o círculo significa a vida.


Esta escolha de símbolos mostra o profundo interesse da banda em temas como o ocultismo, o misticismo e a simbologia. A capa também se tornou um clássico, uma enigmática foto de um senhor curvado levando uma considerável porção de galhos nas costas. Led Zeppelin IV também é o disco mais eclético do grupo, ao misturar rock, blues, folk e música folclórica.

Abrindo com a fantástica “Black dog”, que tem um dos riffs mais sensacionais e copiados do rock (só ouvir a canção “Cochise” do Audioslave, por exemplo) a canção na verdade fala de um cara desesperado por uma mulher e na letra nada se fala sobre o tal “cachorro negro”. O título foi dado à canção em homenagem a um cão que perambulava perto do estúdio de gravação do disco. “Rock n´ roll” é outra pedrada, um blues acelerado em que Page mostra porque é dos maiores guitarristas de todos os tempos.


“The battle of evermore” faz referência ao livro Senhor dos Anéis e tem a participação da cantora Sandy Denny nos vocais. “Stairway to heaven” é uma épica canção com quatro partes, que fala na letra sobre os percalços da vida até chegarmos ao paraíso. Tornou-se um dos maiores clássicos da história do rock e a canção mais tocada nas rádios em todos os tempos. “Misty moutain hop” é pesada e tem a batida forte de Bonham como grande característica, aliada ao belo riff de Page e o vocal agudo e seguro de Plant.


“Four sticks” ganhou este nome pelo fato de John Bonham ter usado quatro baquetas na gravação da música e tem um andamento diferente das tradicionais canções do Zeppelin. “Going to California” mostra o lado folk da banda e ganhou uma homenagem do Pearl Jam em “Given to fly” (para não dizer que a banda copiou a música na cara dura). Para encerra todo o peso colossal da bateria de Bonham na psicodélica “When the levee breaks”.

Led Zeppelin IV foi um sucesso de público e de crítica e se tornou o terceiro disco mais vendido de todos os tempos. Influenciou praticamente tudo que veio depois no rock, seja no heavy metal, hard rock ou no grunge dos anos 90. Com este álbum finalmente se tornaram gigantes e conquistaram o mundo todo, fazendo turnês milionárias para os padrões da época. Um verdadeiro marco dentro da história do rock.