Em 1979 a banda pós-punk Joy
Division lançava seu primeiro disco, Unknown Pleasures. O álbum foi gravado no
Strawberry Studios em Stokport com a produção de Martin Hannet. O grupo optou
em lançar o disco pela pequena gravadora Factory Records, mesmo tendo sido assediados por grandes corporações. A banda queria mais independência artística, ao
contrário de bandas como o The Cure, que já estava em uma grande gravadora e já
tinha que mudar sua direção musical (Aliás, o The Cure não ia muito com a cara
do Joy Division, talvez por esta liberdade que o Cure não tinha).
A banda não tinha muito
tempo e nem dinheiro por isto as gravações foram rápidas, sem muita enrolação e
regravação de instrumentos. A capa do álbum virou um ícone do rock, trata-se de
um gráfico de sinal de rádio captado por um telescópio. A ideia da capa foi do
guitarrista Bernard Sumner e ela virou referência para muitos artistas, com sua
arte minimalista e misteriosa.
“Disorder” abre o disco com
um ritmo pulsante, com uma linha de baixo fantástica de Peter Hook e logo após
entram os riffs de guitarras certeiros de Sumner. Na letra, Ian Curtis divaga
sobre seus conflitos interiores: “Podem estas sensações me fazerem sentir os
prazeres de um homem comum? / Estas sensações mal me mantêm interessado para
outro dia / Eu peguei o espírito, perdi a sensibilidade, ignoro a surpresa”.
“Day of the lords” é lenta e
arrastada, propositalmente e uma das mais pesadas do disco. O produtor Martin
Hannet adicionou teclados na mixagem final a contragosto dos integrantes, mas o
resultado final foi excelente, Peter Hook afirmou que Hannet estava certo, pois
os teclados suavizam e melhoram a música.
Hannet reclamou durante
as gravações que a banda ainda não tinha músicas suficientes para o álbum e
forçou os integrantes a comporem mais duas músicas. Mesmo contrariados, o
baterista Steve Morris e o baixista Peter Hook compuseram mais duas canções,
que seriam “Candidate” e “From safety to where”, sendo que a segunda ficou de
fora do álbum. O guitarrista Bernard Sumner não gostou de “Candidate” e gravou
as guitarras com extrema má vontade com uma guitarra bem “econômica”. Mesmo
considerando uma música não totalmente terminada, Hook afirma que ela é uma
grande canção exatamente por isto.
“Insight” tem uma das linhas
de baixo preferidas de Hook. Ao contrário das outras bandas, em que o baixista
apenas segue as melodias da guitarra, no Joy Division era o contrário, as linhas
de baixo eram feitas primeiro e a guitarra e os outros instrumentos deveriam
seguir a linha de baixo. Outro destaque desta faixa é a bateria de Steve
Morris, que mistura elementos acústicos e eletrônicos, um baterista que acabou
desenvolvendo um novo estilo que influenciou muitos músicos.
“New dawn fades” é uma das
melhores canções do Joy Division. Com um grande riff de guitarra e uma linha de
baixo dilacerante, tem o fundo perfeito para a letra de Curtis, que fala sobre
uma reflexão sobre o que talvez fosse a morte: “Oh, eu caminhei sobre a água,
corri através do fogo / Parece que não consigo sentir mais / Era eu, esperando
por mim / Esperando por algo mais / Eu, me vejo agora /Esperando por outra
coisa”.
“She´s lost control” se
tornou um dos maiores clássicos da banda. Isto se deve pelos experimentalismos
feitos pela banda e pelo produtor Martin Hannet, transformando a canção em algo
único e inovador. O som de um aerossol foi usado para criar alguns efeitos da
bateria, além do uso de um sintetizador de bateria como um gerador de ruído
branco, sendo Steve Morris um dos primeiros bateristas a usá-lo. Na letra, Ian
Curtis fala sobre uma garota epilética que tem dificuldades de manter seu
emprego e acaba morrendo durante um ataque. Uma letra totalmente
autobiográfica, afinal Curtis sofreu até a morte com sua epilepsia.
Bernard Sumner queria que “Shadowplay” soasse
como “The Ocean” do Velvet Underground. Uma música sombria e pulsante, que se
tornou referência para o rock alternativo em geral. Sumner faz bons riffs de
guitarra e segundo Hook, Sumner era um guitarrista subestimado às vezes, com
grandes contribuições ao som do Joy Division. Na letra, Curtis fala sobre o
submundo da sociedade, de forma ácida e sombria.
Sem falsa modéstia, Peter
Hook fala que a linha de baixo de “Wilderness” é fantástica (e para variar, é
mesmo) e é um ataque de Ian Curtis contra os dogmas da religião em forma de
poesia. “Interzone” é o momento mais punk do álbum, com Hook fazendo os vocais
principais e Curtis fazendo os backing vocals. Segundo Hook, Ian era legal
neste aspecto, não tinha o ego inflado e deixava os outros integrantes cantarem
se fosse necessário. O disco termina com a soturna “I remember nothing” com
vários sons de vidros quebrados durante sua execução, outra ideia do produtor
Martin Hannet.
Em Unknown Pleasures temos uma
banda em seu auge criativo: um letrista fantástico como Ian Curtis, um baixista
fenomenal como Peter Hook e instrumentistas que experimentavam ao máximo como
Sumner e Morris, aliados a um grande produtor, que utilizou recursos inovadores
de gravação como placas de eco e delays. Esta somatória de fatores transformou
este álbum em algo único e definitivo dentro do rock, um dos discos mais
influentes da história, sem dúvida alguma.