31 de março de 2014

Água do Céu Pássaro – A grande estreia solo de Ney Matogrosso

Em 1974 a banda Secos e Molhados estava no auge, seu primeiro disco tinha vendido mais de Um milhão de cópias e se tornava um marco dentro da música brasileira. Após uma turnê no México, o vocalista Ney Matogrosso ficou sabendo que a banda tinha assinado alguns documentos e sem perceber assinaram um documento que autorizava a troca do empresário da banda. A partir daí Ney ficou decepcionado com os novos rumos do grupo e decidiu que iria sair da banda, logo após a gravação do segundo disco.


Para surpresa de Ney, ele descobriu que não tinha contrato com a gravadora e que estava livre para fazer o que bem entendesse. Fechou então um contrato com a gravadora Continental e acabou conhecendo em um show o maestro argentino Astor Piazzola. Piazzola convidou Ney para ir até a Itália para gravar duas músicas com ele. As músicas “As ilhas” e “1964” foram mostradas para a gravadora Continental, que gostou muito do resultado.

Em 1975, Matogrosso reuniu uma banda com vários músicos experientes, para começar a fazer os arranjos daquele que seria seu primeiro disco solo. Os ensaios para o disco se tornavam enormes jam sessions e a cada vez que as músicas eram tocadas surgiam um novo solo e um novo arranjo. Foi preciso Ney organizar as coisas para que finalmente as músicas tivessem uma cara definitiva.

Produzido por Billy Bond, Água do Céu Pássaro saiu em 1975 e para Ney Matogrosso o disco era uma carta de intenções, estava ali tudo que ele pensava a respeito do universo musical, as suas influências e a forma de expressão que ele queria utilizar em sua arte. Ney não queria nenhum tipo de silêncio no disco, então foram utilizados diversos sons da natureza, como água, vento e animais nos intervalos das faixas. A capa do disco mostra um artista “animalizado”, meio homem, meio bicho, reforçando o contexto artístico do álbum.

“Homem de Neanderthal” de Sá e Guarabyra abre o disco com sons da natureza e o grito primal de Ney Matogrosso. “Corsário”, música de João Bosco, tem sons de cítara misturados com a percussão brasileira, com uma letra poética. “Açucar candy” é a mais roqueira do disco, e tem uma letra com referências eróticas, enquanto “Pedra de rio” é um dos momentos mais bonitos do álbum, com a interpretação sempre fantástica de Matogrosso.

“Bodas” de Milton Nascimento e Ruy Guerra é um épico de 7 minutos, com um clima tenso e refrão explosivo, com uma letra que fala sobre a colonização portuguesa no Brasil. “Coubanakan” tem um ritmo latino envolvente, enquanto “América do sul” se tornou um clássico na carreira de Ney e foi o primeiro videoclipe feito no Brasil. Na versão em cd ainda saíram como bônus as duas músicas gravadas com Piazzolla e lançadas em compacto na época, “Ilhas” e “1964”.



Água do Céu Pássaro foi o marco inicial de uma carreira solo muito bem sucedida de Ney Matogrosso. O disco era uma evolução ao som dos Secos e Molhados, mostrando uma riqueza de arranjos e qualidade nas letras que viraram marca registrada no trabalho do cantor. O disco não teve um grande sucesso comercial, mas artisticamente teve muito impacto e é um dos mais impressionantes registros feitos na música brasileira. Após este álbum Ney lançou o disco Bandido e teve grande êxito comercial e daí por diante sua carreira só gerou grandes momentos.





26 de março de 2014

Raimundos não faz feio em Cantigas de Roda

Depois da traumática saída de Rodolfo do Raimundos em 2001, o guitarrista Digão teve a árdua missão de substituir o carismático vocalista. A banda tinha lançado seu último disco de estúdio com músicas inéditas em 2002 e desde então vem se segurando com os hits feitos na fase inicial do grupo. De certa forma isto incomodava um pouco, pois dava aquela impressão de banda que vive do passado, faltava um novo trabalho para dar um novo ânimo para o Raimundos.


Este ano, com a ajuda coletiva dos fãs, a banda lançou um novo trabalho com músicas inéditas. Cantigas de Roda foi produzido pelo vocalista da banda Biohazard, Billy Graziadei e gravado no estúdio dele em Los Angeles. Neste novo álbum o Raimundos volta no tempo e faz um som que lembra os discos que levaram o grupo ao sucesso nos anos 90.

“Cachorrinha” abre o disco com um hardcore frenético e sacana, lembrando o primeiro álbum da banda de 1994. “BOP” tem um belo riff, mostrando que Digão ainda tem um belo feeling na guitarra, com uma letra que fala sobre maconha. “Baculejo” tem uma melodia bem pop, belo refrão e guitarras afiadas.

“Cera quente” é uma balada característica do Raimundos, com uma letra sacana como não poderia deixar de ser. “Rafael” é uma música menos inspirada, que fala de um garoto que não gosta de estudar. 

“Dubmundos” tem metais e um ritmo mais suingado, com a participação de Sen Dog do Cypress Hill. “Gordelícia” é um ska que lembra a fase do disco Só No Forevis de 1999. “Politics” encerra o disco com um tom mais sério, mas se perde um pouco em seu discurso politizado.

Em Cantigas de Roda o Raimundos resgata o “Forrócore” que levou o grupo ao sucesso e faz o um rock adolescente e sacana, sem maiores pretensões. Um disco que faz voltar no tempo e lembrar uma fase sem tantos problemas e preocupações. Um trabalho que obviamente não vai mudar o mundo, mas com um saldo final bem positivo e que vai dar um gás ainda maior para a banda brasiliense. 





24 de março de 2014

Discos essenciais para entender o Britpop (Parte 7)

The Verve – Urban Hymns (1997)


O The Verve já tinha dois álbuns lançados, A Storm in Heaven e A Northern Soul, quando se separou por brigas internas. O vocalista Richard Ashcroft reformulou a banda e em 1997 o The Verve lançou seu melhor trabalho: Urban Hymns (Hinos urbanos). O disco foi sucesso de crítica e de público e vendeu mais de 10 milhões de cópias.

A primeira música do disco e de trabalho, “Bittersweet Symphony” rendeu uma grande controvérsia. A banda teria utilizado um trecho de uma música dos Rolling Stones e teve que dar crédito para a dupla Jagger e Richards na música. O single foi um sucesso graças também ao clipe da música, que mostra o vocalista andando nas ruas e trombando com as pessoas, algo que dá muita vontade se fazer andando nas ruas de São Paulo, por exemplo.



“Sonnet” a segunda canção do disco, é uma das melhores composições de Ashcroft, com sua linda letra e a ótima guitarra de Nick McCabe. “The rolling People” é uma Tour de force de 7 minutos, com camadas de guitarra e muita psicodelia do rock dos anos 60.



“The drugs don´t work” é uma música arrebatadora. Uma letra que fala das experiências com drogas, chegando à conclusão que elas não funcionam e não levam a lugar algum, mostrando um homem arrependido e correndo atrás do tempo perdido. “Catching a butterfly” é outro momento psicodélico do disco, com muitas guitarras com wah wah e efeitos.



“Lucky man” foi outro sucesso do disco. Na letra, Ashcroft se considera um homem de sorte por tudo aquilo que passou. A interpretação sempre emotiva do vocalista do The Verve elevou em muito a qualidade das canções, transformando o disco em um dos melhores do rock inglês da década de 90. O disco termina com a música “Come on”, um rock vigoroso com a participação de Liam Gallagher do Oasis nos vocais de apoio.



Urban Hymns talvez tenha sido o último grande momento do Britpop. Ok Computer do Radiohead, lançado no mesmo ano, já apontava para novos horizontes. Terminava ali uma das mais prolíferas fases do rock inglês, grandes discos, bandas, uma época que marcou uma geração de jovens no mundo inteiro.






19 de março de 2014

Discografia Básica: The Hurting – Tears For Fears

O Tears for Fears foi formado em 1981, pelo guitarrista e vocalista Roland Orzabal e pelo baixista e vocalista Curt Smith. O nome da banda foi extraído do tratamento criado por Arthur Janov, chamado Terapia do Grito Primal. Este tratamento consiste em o paciente expressar, sentir e relembrar dores da infância reprimidas há muito tempo. O paciente é levado então a gritar, chorar, ou seja, trocam-se lágrimas por medos neste tratamento. Um paciente famoso deste tratamento foi nada mais nada menos que John Lennon.


Em 1983 saía o primeiro disco da banda: The Hurting. Influenciado pelo tratamento de Janov, a banda lança um disco conceitual, que conta um pouco os traumas de infância de Roland Orzabal, que fez todas as letras do álbum. A capa do disco, um menino solitário chorando em um fundo branco, mostra todo o conceito das letras, os traumas e a falta de amor na infância.

Para este disco a banda contou com os seguintes músicos de apoio: Manny Elias, na bateria e programação de ritmos, Ian Stanley nos teclados, entre outros músicos convidados. A gravação do disco foi bem tensa, no lendário estúdio Abbey Road. A banda trabalhava sete dias por semana, até duas, três da manhã. Tanto esforço valeu a pena: o disco teve três músicas no Top 10 de singles da Inglaterra: Mad World, Pale Shelter e Change.

A primeira música do álbum “The hurting”, já demonstra a grande qualidade dos arranjos construídos pela banda, o uso de sintetizadores e baterias programadas aliados as melodias fantásticas criadas por Orzabal e Smith. É o fundo perfeito para a letra triste sobre uma criança desiludida e sem amor: Você é capaz de entender uma criança / Quando ela chora de dor? / Você é capaz de dar tudo o que ela precisa / Ou você sempre sente o mesmo?


“Mad world” foi um hit instantâneo, cantada por Curt Smith em uma letra que mostra uma criança confusa e que não consegue se adaptar as pessoas e a escola. “Pale shelter” é a melhor música do Tears for Fears. Sua melodia nostálgica nos faz lembrar um passado distante e chega até a dar certo aperto no coração devido a sua melancolia. Mas sua melodia perfeita gera um dos melhores momentos do rock dos anos 80. A letra é um bálsamo que em seu refrão diz tudo: Quando você não me dá amor / Você me dá uma proteção insignificante.





O arranjo e o clima tenso de “Idea as opiates” lembram um pouco do Pink Floyd no disco Dark Side of The Moon. Esta música e “The prisioner” foram totalmente influenciadas por capítulos do livro de Arthur Janov. “Memories fade” e “Suffer the children” dão continuidade ao clima de reminiscências de infância, com grandes arranjos e harmonias vocais. “Suffer the children” tem a participação nos vocais da esposa de Roland Orzabal, Caroline Orzabal.

“Change” foi outro grande sucesso do álbum, com o arranjo envolvente e com o vocal melancólico e arrebatador de Smith. Detalhe para o clipe tosco e divertido e as danças desengonçadas de Orzabal. O disco termina com “Start of the breakdown” um belo final para um álbum clássico e essencial.



The Hurting abriu as portas para o Tears for Fears, que daí por diante foi uma banda colecionadora de sucessos e prêmios. Curt Smith saiu da banda em 1991 e Orzabal continuou com a banda e lançou dois discos bem avaliados sem Smith. Smith retornou a banda em 2003 e ainda lançaram mais um disco juntos em 2004 o álbum Everybody Loves a Happy Ending.

The Hurting é um clássico e mostra que o Tears for Fears não é só uma banda de canções bonitinhas que tocam na Alfa FM, mas uma banda que pode construir um disco com um tema tenso e com muita profundidade. Um álbum essencial para quem quer entender o rock feito nos anos 80. 





17 de março de 2014

Discos essenciais para entender o Britpop (Parte 6)

Radiohead – The Bends (1995)


Sim o Radiohead já foi uma banda de rock e fez parte do “movimento” Britpop. Depois do sucesso estratosférico de “Creep” do primeiro álbum da banda, Pablo Honey era o momento de se consolidar como grande grupo dentro do rock inglês. Se o primeiro disco era mais puxado para o rock alternativo norte americano, com muitas guitarras, em The Bends o Radiohead evolui musicalmente e já dava sinais de que não era uma banda comum.  O uso de sintetizadores e a competentíssima guitarra de Jhonny Greenwood com as grandes composições de Thom Yorke transformaram The Bends em um dos melhores discos da década.

O disco abre com “Planet telex” um rock futurista com sintetizadores que mostra em sua letra a falta de esperança e a robotização do ser humano em geral. Esta é a tônica das letras do disco, a decepção com o mundo moderno e as angústias de uma sociedade cada vez mais plastificada. O peso de “The bends” faz os fãs sentirem um pouco de saudade da época em que o Radiohead priorizava as guitarras.

“Fake plastic trees” é uma das melhores composições de Yorke. Uma interpretação emocionante com uma letra que fala em um mundo feito de plástico e de frustrações. Na gravação da música, Yorke se inspirou muito no disco Grace de Jeff Buckley, tanto que o vocalista do Radiohead desabou a chorar após a gravação da canção. “Fake plastic trees” também fez muito sucesso no Brasil, graças a um comercial sobre crianças com Síndrome de Down que tocava a música de fundo. 



“High and dry” foi outro single de sucesso do disco, enquanto pérolas como “Bones” e a irônica “Nice dream” preenchem o disco com muita qualidade. “My iron lung” mostra as influências do Echo and the Bunnymen no som do Radiohead, principalmente o riff de guitarra inicial. “Just” é uma música característica do Radiohead desta fase mais rock, interpretação sofrida de Yorke, combinadas com as guitarras distorcidas de Ed O´brien e Jhonny Greenwood. Detalhe para o grande videoclipe da música e seu final surpreendente.



Músicas sublimes como “Black Star” e “Street spirit” garantem The Bends como um disco único, de uma banda que evoluiu muito neste trabalho em relação ao primeiro trabalho. A última frase do disco cantada em “Street spirit” mostra um tom de esperança mesmo com a temática pessimista do álbum: “Mergulhe sua alma no amor”. Com certeza o momento mais emocionante do disco.

Se no rock britânico da safra do Britpop tinha as briguinhas forçadas de Blur e Oasis, a afetação do Suede e rock adolescente do Supergrass, havia uma banda que era o contraponto a tudo isto, que começava ali a trilhar um caminho que nenhuma destas bandas conseguiu escolher. Depois de The Bends, o som do Radiohead ficou cada vez mais abstrato, mas com certeza The Bends foi um dos pontos mais altos de sua brilhante carreira. 





13 de março de 2014

Top 10 The Jam

O The Jam foi formado em 1972 e teve em sua formação clássica Paul Weller nos vocais e guitarra, Bruce Foxton no baixo e Rick Buckler na bateria. A banda lançou em sua curta carreira os seguintes álbuns: In The City (1977), This is The Modern World (1977), All Mod Cons (1978), Setting Sons (1979), Sound Affects (1980) e The Gift (1982).


O The Jam fazia um rock ao estilo Mod, estilo característico dos anos 60, com influências de bandas como Beatles, The Who e Kinks, sempre com guitarras furiosas e com certa elegância ao se vestir, com uso de ternos e gravatas, ao contrário das roupas rasgadas do punk.

Com o passar dos anos a banda foi agregando novas influências em seu som, como a Soul Music, Rhythm n´Blues e Rock Psicodélico. Sua influência é evidente em várias bandas que surgiram depois, como por exemplo, The Smiths, Oasis e no Brasil bandas como Ira! e Paralamas do Sucesso.

Com o término da banda, Paul Weller seguiu com uma nova banda o Style Council, com um estilo um pouco diferente com o The Jam, mas inspirado pela Soul Music e pela música pop, mas também com grandes canções e uma discografia coerente. Com o término do Style Council, construiu uma brilhante carreira solo e fez participações em discos do Oasis e outras bandas do Britpop.

Para homenagear esta grande banda, vamos relembrar 10 grandes momentos de sua discografia:

Start! (Sound Affects 1980)




Carnation (The Gift 1982)




A town called malice (The Gift 1982)





Down in the tube station at midnight (All Mod Cons 1978)





That´s entertainment (Sound Affects 1980)





Private hell (Setting Sons 1979)





Runnin on the spot (The gift 1982)





Beat surrender (Single 1982)





To be someone (All mod cons 1978)





Going underground (Single 1980)







10 de março de 2014

Grandes discos de 1994: Monster

Em quase todos os sebos que eu frequento em São Paulo este disco está lá, encostado, cheio de poeira. Monster é um dos discos mais renegados da carreira do R.E.M, e mesmo assim é um dos melhores álbuns da banda.

Após o imenso sucesso de Out of Time e Automatic for the People, discos que tinham uma sonoridade mais acústica com instrumentos como bandolim e violino, a banda decidiu investir em um rock mais barulhento e mais básico, talvez o motivo da rejeição por uma parte do público que estava acostumada com outro tipo de som.


A banda passava por momentos difíceis na época da gravação do álbum, devido a problemas de saúde envolvendo seus integrantes e pela morte de dois grandes amigos, Kurt Cobain e River Phoenix. Diz a lenda que o último disco escutado por Cobain foi Automatic for the People e que ele e o vocalista do R.E.M. Michael Stipe, tinham planos de fazer um trabalho em conjunto.

O disco começa com a clássica “What´s the frequency Kenneth?” com uma guitarra cheia de delays de Peter Buck, um guitarrista que sempre fez o básico e mesmo assim conseguia resultados geniais.



“Crush with eyeliner” tem a participação de Thurston Moore do SonicYouth, dando uma característica ainda mais alternativa à música, abusando também nas distorções e efeitos na guitarra. Nesta canção também se percebe um pouco de influência do Glam Rock dos anos 70.

O experimentalismo de “King of comedy” é algo que também não se via nos discos anteriores e o clima obscuro de “I don´t sleep I dream” é um dos momentos mais belos do álbum. “Star 69” é um rock direto, enquanto “Strange Currencies” é um dos poucos momentos mais pop do disco. 



Em “Tongue”, Stipe faz uma letra com uma visão de uma garota rejeitada, um dos melhores desempenhos vocais de Stipe com o acompanhamento do Órgão e o Piano de Mike Mills. Em “Bang and Blame” o uso de Delay da guitarra de Peter Buck cria um dos melhores arranjos do R.E.M., uma música marcante e uma das melhores da carreira da banda.



“I took your name” e “Circus envy” tem as guitarras tão altas que se sobrepõem aos vocais de Stipe, algo proposital, pois a banda queria um disco com um som sujo e alternativo. “Let me in” foi feita em homenagem a Cobain e foi tocada com uma guitarra dada por Kurt a Stipe. “You” encerra o disco com mais distorções e experimentalismo.

No encarte do disco ainda há um desenho que ficou famoso na MTV nos anos 90, o Garoto Enxaqueca. Na minha opinião, Monster é o melhor disco do R.E.M., mostrando um lado mais roqueiro e mais distante das sutilezas acústicas que consagraram a banda. Infelizmente nem todos entenderam esta nova guinada na carreira do grupo e se desfizeram de um grande disco.








7 de março de 2014

Júlio Barroso: O homem que trouxe a New Wave ao Brasil

Cantor, poeta, ensaísta, beatnik, DJ entre outras coisas, Júlio Barroso foi um dos maiores agitadores culturais que já passaram pela música brasileira. Um cara inquieto, ligado nos 220, que tinha muitas ideias e queria de qualquer forma expressá-las, sempre fazendo jams com vários artistas, em uma espécie de loucura musical.


Em 1980 morou em Nova York e teve contato com os artistas da New Wave. Viu que era aquele tipo de som que estava a fim de fazer e chegando ao Brasil entrou em contato com vários músicos para formar a banda Gang 90 e As Absurdetes. O nome da banda era inspirado na banda Gang of Four e na Pedra 90. Entre os músicos que participaram da banda podemos citar Taciana Barros e o lendário baterista Gigante Brasil. 


Depois de formada a banda, Júlio inscreveu a Gang 90 em um festival, o Festival MPB Shell. A banda não ganhou, mas a performance da música “Convite ao prazer” foi fantástica. Antes disto o grupo já tinha feito uma temporada na discoteca Pauliceia Desvairada, com ótima aceitação do público.

O visual alegre as letras debochadas e o excesso de caras e bocas eram as características trazidas da New Wave trazidas por Júlio Barroso. A banda emplacou o hit “Perdidos na Selva” e logo foi convidada a gravar seu primeiro disco Essa Tal Gang 90 e as Absurdetes. Este projeto contou várias participações especiais, entre elas as de Guilherme Arantes e do guitarrista Wander Taffo.

O disco emplacou hits como “Telefone”, “Nosso louco amor” (que foi trilha sonora de novela da Globo) além de “Perdidos na Selva”. O álbum tinha muita alegria, alto astral, letras inspiradas, que falavam de amor, romance, Jack Kerouac e o que mais passasse pela cabeça de Júlio Barroso.



Barroso era um cara muito louco, usava muitas drogas e álcool. Teve até um episódio curioso em sua vida, Júlio ficou bastante tempo sem um dente da frente em sua boca. Lobão uma vez perguntou a Júlio se ele não tinha dinheiro para consertar aquela falha horrível. Barroso respondeu que ia ficar daquele jeito, pois perdeu o dente no dia que John Lennon morreu, ele tomou um porre ao saber da notícia, caiu bateu de cara e perdeu o dente e dizia que aquilo ficaria em homenagem a alma do grande Beatle. Coisas de um cara maluco como Júlio Barroso.



Em junho de 1984, o pior aconteceu: Barroso caiu da janela de seu apartamento e acabou falecendo. Até hoje não se sabe se foi uma queda acidental ou suicídio, mas a tese mais forte é de que foi acidental, pois Júlio não estava deprimido na época, segundo seus amigos mais próximos.

O reconhecimento da importância de sua banda para os anos 80 ficaram evidentes nas regravações feitas pelo Ira! da música “Telefone” e pelo Barão Vermelho de “Perdidos na Selva”. A Gang 90 ainda lançou dois discos sem seu principal integrante, porém não obtiveram sucesso. Júlio Barroso foi um dos artistas mais interessantes dos anos 80, deixando em pouco tempo um legado importante para o cenário pop rock brasileiro. 





5 de março de 2014

10 músicas para começar a gostar de Ronnie Von

Ronnie Von começou sua carreira como cantor / galã e teve pouco controle de sua arte neste início de carreira. A virada na carreira de Ronnie veio com o disco homônimo de 1969, com grande influência da psicodelia. O cantor chutou o balde, fez o que quis finalmente no estúdio e fez um dos discos mais cultuados da música brasileira.


Ele ainda gravou mais dois discos com os pés no experimentalismo e na fase psicodélica dos Beatles. Leia mais sobre estes álbuns aqui. Mesmo assim muita gente ainda não conhece a rica obra deste cantor e apresentador de TV, por isto vamos indicar 10 músicas para começar a ouvir o som deste carismático e talentoso artista. 


“Meu novo cantar” (Do disco Ronnie Von de 1969)

Logo na primeira faixa deste clássico disco, Ronnie declama que está sem rumo e está em busca de novos horizontes. Muitos teclados Moog e arranjos orquestrados oriundos do maestro Tropicalista Damiano Cozzela dão o tom de experimentalismo desta grande canção. 




“Espelhos quebrados” (Do disco Ronnie Von de 1969)

No inicio da canção ouve-se o som de espelhos sendo quebrados, o que foi feito dentro do próprio estúdio. A música tem em sua letra uma forte influência da poesia concretista. O belo arranjo de cordas dá um aspecto de música feita no século XIX, algo proposital, pois Ronnie queria que ela tivesse este clima mesmo. 



“Anarquia” (Do disco Ronnie Von de 1969)

Em pelo regime militar Ronnie grava uma canção que pede para as pessoas irem para rua fazer uma grande anarquia. Antes da música há uma vinheta que é uma ligação telefônica feita para Ronnie no estúdio em que gravava o disco. Esta gravação é uma crítica à qualidade do serviço telefônico da época, que tinha muitos chiados e ruídos.




“De como meu herói Flash Gordon irá levar-me de volta à Alfa do Centauro meu verdadeiro lar” (Do disco A Misteriosa Luta Do Reino De Parassempre Contra O Império Do Nunca Mais de 1969)

Questionado por um funcionário de sua gravadora que seus discos deveriam ter um nome em vez de somente Ronnie Von, o cantor resolveu provocar e colocar um nome gigantesco não só no disco, como também na primeira canção do álbum. A música também é uma homenagem ao herói dos quadrinhos Flash Gordon. 



“Rose Ann” (Do disco A Misteriosa Luta Do Reino De Parassempre Contra O Império Do Nunca Mais de 1969)

Uma das melhores músicas do disco, a letra é cantada em três idiomas (Inglês, Francês e Português). As mudanças de ritmo da música lembram um pouco o que foi feito no rock progressivo, pouco tempo depois, na década de 70. Uma canção com arranjo riquíssimo, com acordeon, teclados moog e guitarra com tremolo.



“A Máquina Voadora” (Do disco A Máquina Voadora de 1970)

Do terceiro disco da trilogia psicodélica do cantor, a música é uma homenagem a uma das grandes paixões de Ronnie, a aviação. O título da música também é inspirado na obra de Leonardo da Vinci que tem o mesmo nome. 



“O verão nos chama” (Do disco A Máquina Voadora de 1970)

Nesta música Ronnie fala sobre aproveitar a vida sem maiores preocupações. Destaque para a guitarra distorcida, os metais e os teclados que transformam esta canção em algo irresistível.



“Imagem” (Do disco A Máquina Voadora de 1970)

Outra grande canção do disco com uma letra muito bonita, arranjo de cordas e ótima interpretação e Ronnie Von.



“Minha gente amiga” (Lançada em compacto em 1971)

Esta música tem uma letra que fala de um cara comum que busca o amor e o dinheiro. Com uma percussão latina e um riff de guitarra que fica na cabeça é um dos maiores clássicos de sua carreira. Foi regravada pelo Ira! no disco Isso é Amor de 1999.



“Cavaleiro de Aruanda” (Do disco Ronnie Von de 1972)

Ronnie surpreendeu ao gravar esta canção do compositor argentino Tony Osanah. A canção tem como tema a Umbanda e tem um ritmo tribal bem africano, com uma interpretação forte de Ronnie Von. A canção vendeu mais de 2 milhões de compactos e virou tema recorrente nos terreiros de Umbanda. 








3 de março de 2014

O que faltou para o rock brasileiro dos anos 90 deslanchar?

Os anos 80 como todos sabem foi a década de ouro do rock brasileiro. As bandas chegaram ao topo das paradas e foram lançados diversos discos clássicos como Cabeça Dinossauro, Selvagem, entre outros. Os anos 90 chegaram, Plano Collor, a lambada e posteriormente o sertanejo romântico vieram para jogar uma pá de cal e as bandas tiveram que se virar como podiam para sobreviver no duro mundo da indústria musical.


Paralamas do Sucesso, Ira!, Titãs, Legião Urbana entre outros já tinham conquistado um público e graças também ao talento de seus integrantes conseguiram passar por esta turbulenta fase, mesmo com a diminuição da vendagem de discos e de shows. Era o momento de vir uma nova geração, que pudesse manter o nível que estas bandas do rock anos 80 conseguiram chegar. 


Se o rock dos anos 80 era politizado, o dos anos 90 perdeu um pouco dessa pegada mais revolucionária dos belos textos feitos, por exemplo, como as letras de Cazuza e Renato Russo. Surgiu um rock mais adolescente, debochado, sem tanto compromisso com a mensagem a ser passada. 

Talvez a primeira banda desta nova geração a estourar foi o Raimundos em 1994. Apoiados pelo selo criado pelos Titãs, o Banguela Records, o grupo estourou com sua mistura de Hardcore e Forró. Letras que falavam de sexo quase o tempo todo, fugiam do estilo do rock da década anterior, levando vários adolescentes no auge de seus hormônios a levarem a banda ao topo das paradas da MTV e das rádios.



O som forte e potente dos Raimundos trouxe um alento para aqueles que estavam desanimados com os rumos que o rock estava seguindo no Brasil. Mais ou menos na mesma época que os Raimundos estouram surgiu uma banda de Recife que misturava Maracatu com Rock e também trazia novos rumos para o rock brasileiro. Chico Science e Nação Zumbi vieram com tudo e surpreenderam a todos com o som inovador do disco Da Lama ao Caos. Leia mais sobre este grande disco aqui.

O Planet Hemp surgiu em 1995 com seu rock misturado com vários outros ritmos, como o Hip Hop, o Reggae, entre outros e um discurso que defendia abertamente a legalização da maconha. A banda sofreu muitas retaliações por parte da justiça e do governo, sendo presos por apologia às drogas e tudo mais. A identificação dos adolescentes foi instantânea e a banda conseguiu destaque dentro do cenário brasileiro.



Os Mamonas Assassinas também merecem destaque dentro desta fase do rock brasileiro. Com seu som debochado conseguiram um sucesso estrondoso, com o final trágico que todos nós já sabemos. Resta imaginar se a banda conseguiria manter seu sucesso, com letras tão debochadas ou seria uma espécie de Ultraje a Rigor, que vive até hoje de seu único disco de sucesso, Nós Vamos Invadir Sua Praia.

Em 1996 parecia que o novo rock no Brasil 90 iria deslanchar de vez. Várias bandas estavam surgindo, lançando discos ou coletâneas. Lembro-me do programa Gás Total da extinta MTV Brasil, em que começaram a aparecer diversas bandas novas, como Virna Lisi, Big Balls, Tantra entre outros. O Virna Lisi era uma banda de Minas Gerais que fazia uma interessante mistura de rock com música regional. Chegou a fazer certo sucesso, mas a banda não passou do segundo disco. O Big Balls era uma banda paulistana com muito potencial, que tinha uma pegada Hard Rock, mas também não conseguiu grande destaque, infelizmente.





A banda Tantra era uma das promessas dos anos 90. O disco Eles Não Eram Nada foi uma das pérolas da década. O grupo era formado por músicos de apoio da Legião Urbana, o guitarrista e vocalista Fred Nascimento e o baixista Gian Fabra. Com letras mais trabalhadas e um som com influências do rock 80, do grunge e do rock progressivo, o disco foi um dos melhores da década, destaque para a música “Corvos sobre o campo” a o cover de “Tropicália” de Caetano Veloso. Infelizmente mais um caso de uma banda que não deu sequência, parecia que era mais trabalho paralelo dos integrantes, que só lançaram um novo disco em 2006.







Para piorar a situação, o rock tinha que concorrer com ritmos da moda que eram massificados pela mídia como o axé, por exemplo, com suas dancinhas ridículas e letras estapafúrdias. Outras bandas conseguiram se destacar no final da década como Charlie Brown Jr, mas sempre eram bandas como uma temática muito adolescente, faltava conteúdo e um texto que durasse por muito tempo.

Talvez esta falta de conteúdo em alguns casos, falta de sorte em outros e a preferência pelo público por estilos da moda, tenham prejudicado o rock brasileiro nos anos 90. Porém, em comparação com cena da música atual, a década de 90 foi bem mais prolífera e ainda se tinha certa esperança que o rock iria voltar ao topo, ao contrário do momento atual, em que não há quase esperança alguma de que algo novo possa acontecer em relação ao rock brasileiro.