Em 1974 a banda Secos e
Molhados estava no auge, seu primeiro disco tinha vendido mais de Um milhão de
cópias e se tornava um marco dentro da música brasileira. Após uma turnê no
México, o vocalista Ney Matogrosso ficou sabendo que a banda tinha assinado
alguns documentos e sem perceber assinaram um documento que autorizava a troca
do empresário da banda. A partir daí Ney ficou decepcionado com os novos rumos
do grupo e decidiu que iria sair da banda, logo após a gravação do segundo
disco.
Para surpresa de Ney, ele
descobriu que não tinha contrato com a gravadora e que estava livre para fazer
o que bem entendesse. Fechou então um contrato com a gravadora Continental e
acabou conhecendo em um show o maestro argentino Astor Piazzola. Piazzola
convidou Ney para ir até a Itália para gravar duas músicas com ele. As músicas
“As ilhas” e “1964” foram mostradas para a gravadora Continental, que gostou
muito do resultado.
Em 1975, Matogrosso reuniu
uma banda com vários músicos experientes, para começar a fazer os arranjos
daquele que seria seu primeiro disco solo. Os ensaios para o disco se tornavam
enormes jam sessions e a cada vez que as músicas eram tocadas surgiam um novo
solo e um novo arranjo. Foi preciso Ney organizar as coisas para que finalmente
as músicas tivessem uma cara definitiva.
Produzido por Billy Bond,
Água do Céu Pássaro saiu em 1975 e para Ney Matogrosso o disco era uma carta de
intenções, estava ali tudo que ele pensava a respeito do universo musical, as
suas influências e a forma de expressão que ele queria utilizar em sua arte. Ney
não queria nenhum tipo de silêncio no disco, então foram utilizados diversos
sons da natureza, como água, vento e animais nos intervalos das faixas. A capa
do disco mostra um artista “animalizado”, meio homem, meio bicho, reforçando o
contexto artístico do álbum.
“Homem de Neanderthal” de Sá
e Guarabyra abre o disco com sons da natureza e o grito primal de Ney
Matogrosso. “Corsário”, música de João Bosco, tem sons de cítara misturados com
a percussão brasileira, com uma letra poética. “Açucar candy” é a mais roqueira
do disco, e tem uma letra com referências eróticas, enquanto “Pedra de rio” é
um dos momentos mais bonitos do álbum, com a interpretação sempre fantástica de
Matogrosso.
“Bodas” de Milton Nascimento
e Ruy Guerra é um épico de 7 minutos, com um clima tenso e refrão explosivo,
com uma letra que fala sobre a colonização portuguesa no Brasil. “Coubanakan”
tem um ritmo latino envolvente, enquanto “América do sul” se tornou um clássico
na carreira de Ney e foi o primeiro videoclipe feito no Brasil. Na versão em cd
ainda saíram como bônus as duas músicas gravadas com Piazzolla e lançadas em
compacto na época, “Ilhas” e “1964”.
Água do Céu Pássaro foi o
marco inicial de uma carreira solo muito bem sucedida de Ney Matogrosso. O
disco era uma evolução ao som dos Secos e Molhados, mostrando uma riqueza de
arranjos e qualidade nas letras que viraram marca registrada no trabalho do
cantor. O disco não teve um grande sucesso comercial, mas artisticamente teve
muito impacto e é um dos mais impressionantes registros feitos na música
brasileira. Após este álbum Ney lançou o disco Bandido e teve grande êxito
comercial e daí por diante sua carreira só gerou grandes momentos.