Depois de vinte quatro anos,
o Depeche Mode finalmente embarcou em São Paulo para dar continuidade à turnê
Global Spirit Tour, que desta vez chegou aos países da América Latina, ao
contrario da última turnê da banda. O único show dos ingleses no Brasil tinha
sido em 1994 no antigo Olímpia, na zona Oeste de São Paulo. Um show polêmico que
não agradou muito aos fãs, em uma fase do grupo em que o vocalista Dave Gahan
passava por muitos problemas com uso de drogas.
A chuva teimava em cair em
São Paulo e o público já todo encharcado esperava ansiosamente o show no
estádio do maior campeão do Brasil e primeiro campeão mundial de clubes quando
exatamente às nove e quarenta e cinco da noite, o Depeche Mode entra no palco e
abre o show com a faixa “Going Backwards” do último disco deles, o excelente “Spirit”
(leia a resenha aqui). Uma canção que fala sobre o estado atual do mundo, em
que estamos regredindo à uma mentalidade de homens das cavernas em que os
pensamentos conservadores e de extrema direita estão ganhando proporções
preocupantes ao redor do mundo.
Na segunda música já vem o
primeiro hit da noite, “It´s No Good” do subestimado disco Ultra de 1996 (a
banda tocou cinco músicas deste disco no show, mais até do que o disco atual). O
público já começava a ficar na mão da banda, cantando em uníssono a letra e o
belo refrão da música. O vocalista Dave Gahan é um show à parte: dança, rebola,
canta muito e preenche todo o palco com muita vitalidade e carisma mesmo já com
seus cinquenta e cinco anos de idade.
“Barrel Of A Gun” também do
disco Ultra vem em seguida com seu clima tenso e dark, seguida por “A Pain That
I Used To” do álbum Playng The Angel de 2005. Outro destaque do show são os
videoclipes que passam no telão durante a maioria das músicas, vídeos dirigidos
pelo quase integrante não oficial do Depeche, Anton Corbijn. Em “Cover Me”
música do disco Spirit, um videoclipe ao fundo que mostra o vocalista Dave
Gahan como um astronauta desiludido dá um outro tom à canção, que tinha tudo
para ser um momento de calmaria do show, mas se transformou em um dos momentos
mais intensos e belos da apresentação.
Depois de “Cover Me” Gahan
sai do palco (para dar uma respirada também, pois não para um segundo quando
está no palco) e dá espaço para que o guitarrista e compositor de quase todas
as canções da banda, Martin Gore, cantar “Insight” e “Home” do disco Ultra (é
turnê de divulgação do Ultra ou do Spirit afinal? Hehehe). Gore canta e toca
magistralmente nas duas canções e mostra que também é um dos destaques do
Depeche Mode. O tecladista grandalhão Andrew Fletcher também seu valor, mas é
mais discreto fica ali na sua, fazendo as bases e mexendo com a galera de vez
em quando.
Na reta final antes do Bis,
uma enxurrada de hits de tirar o fôlego: “Everything Counts”, “Stripped”, “Enjoy
the Silence” e “Never Let Me Down Again” levaram o público ao delírio com todo
mundo cantando e viajando no tempo com músicas que foram trilhas sonoras de
nossas vidas. Destaque também para o tecladista e baterista de apoio da banda
que elevaram ainda mais a qualidade da apresentação do Depeche Mode.
Na abertura do bis, Marin
Gore canta uma versão mais tranquila da clássica “Strangelove” do não menos
clássico álbum “Music For The Masses” de 1987, uma versão linda e emocionante.
Para finalizar mais uma trinca de clássicos, “Walking On My Shoes” (com um
belíssimo vídeo ao fundo em que mostra um artista transexual se transformando),
“A Question of Time” e para encerrar com chave de ouro o Glam Rock de “Personal
Jesus”.
Um show intenso, vibrante e
emocionante que mostra que o Depeche Mode é que nem vinho, quanto mais tempo
fica melhor, uma banda que não se apega só ao passado, que conseguiu se reinventar
através dos anos e lançar um disco atual e vibrante como “Spirit”, um dos
melhores lançamentos do ano passado. Uma apresentação inesquecível, sem dúvida
alguma. Longa vida ao Depeche Mode!
Setlist:
Going Backwards
It's No Good
Barrel of a Gun
A Pain That I'm Used To
Useless
Precious
World in My Eyes
Cover Me
Insight
Home
In Your Room
Where's the Revolution
Everything Counts
Stripped
Enjoy the Silence
Never Let Me Down Again
Bis:
Strangelove
Walking in My Shoes
A Question of Time
Personal Jesus