Morrissey
sempre foi um artista polêmico, mas nos últimos anos seu
comportamento ranzinza e seu apoio a um partido de extrema direita da
Inglaterra e seu repúdio a imigrantes em várias entrevistas gerou
uma revolta em boa parte de seus fãs, muitos deles agora pegaram
ranço dele e não querem mais saber de suas músicas e novos
lançamentos.
Em
2019, Morrissey lançou um disco de covers chamado “California
Son”, um trabalho que achei bem mediano, com versões mornas de
artistas como Bob Dylan e Joni Mitchel. Parecia que seria a derrocada
do cantor inglês, facilitando a vida de quem estava disposto a
odiá-lo.
No
dia 20 de março saiu o novo disco de Morrissey chamado “I am Not a
Dog on a Chain”, depois de lançar algumas músicas ao longo dos
últimos meses. O novo trabalho tem bastante da música eletrônica e
é superior ao bom último disco de inéditas, “Low in High School”
de 2017 e também superior ao irregular “World Peace is None of
Your Bussiness” de 2014.
O
álbum começa com a ótima “Jim Jim Falls” com batidas
eletrônicas e um ótimo refrão e levada inspirada. A letra fala de
uma pessoa que está pensando em cometer suicídio e que Morrissey
pouco se importa com isso. “Love Is On It´s Way Out” também é
bem inspirada, quase um Trip-Hop, enquanto ‘'Bobby, Don’t You
Think They Know?' conta com a voz da lenda da Motown, Thelma Houston,
com toques eletrônicos e de Soul Music.
“I
Am Not a Dog on a Chain” é provocativa, Morrissey fala na letra que
não é um cachorro adestrado e que tem sua própria opinião e que
não precisa da mídia. “What Kind of People Live in These Houses”
tem uma boa pegada pop e “Knackbout World” é uma das melhores do
disco, com refrão que fica na cabeça. “Darling I Hug a Pilow”
tem sopros e um arranjo bem suave e a letra trata de solidão e amor
platônico, temas recorrentes no começo de carreira de Morrissey.
O
álbum dá uma caída na ok “The Truth About Ruth” e na tentativa
de ser Bowie em “The Secret of Music”, que é muito longa e não
muda muito durante sua execução. O disco termina com a ótima e
épica “My Hurling Days are Done” lembrando os melhores momentos
da carreira do cantor inglês desde sua fase nos Smiths.
“I
Am Not a Dog in Chain” é o melhor e mais consistente trabalho de
Morrissey nos últimos anos. Se no começo de carreira, nos Smiths,
Morrissey era um artista que escrevia o que os adolescentes tímidos
e rejeitados queriam ouvir, hoje é um velho retrógrado que apoia o
fascismo e a xenofobia e que parece não estar nem aí com seus fãs.
O problema é que suas canções continuam ótimas e ele continua com
a voz intacta e cantando muito, ao contrário de muitos cantores de
sua idade. Um grande dilema para os fãs que não concordam com suas
ideias muitas vezes estúpidas e polêmicas.