28 de dezembro de 2014

O desafiador disco do The Who – Who´s Next

Após o estrondoso sucesso do disco Tommy, uma ópera rock que conta a história de um garoto cego, surdo e mudo que vira um campeão de Pinball (o enredo é bem mais complexo que isto, só para resumir) os ingleses do The Who, capitaneados pelo guitarrista e cérebro da banda Pete Townshend embarcaram em outro projeto audacioso: Lifehouse era outro projeto conceitual, em que consistia em um concerto ao vivo que os ouvintes teriam seus dados pessoais transferidos para um sintetizador análogo para criar músicas continuas que se complementavam.


Towshend ainda queria transformar este projeto maluco em um filme. Vendo que era inviável fazer Lifehouse, Pete se desentendeu com o produtor Kit Lambert e entrou em uma crise existencial e entrou em um colapso depressivo. Como Lifehouse foi compreendido apenas pelo seu criador, o jeito era começar do zero um novo trabalho, que teria que suceder Tommy, um dos melhores discos de todos os tempos.

A banda voltou à Inglaterra e começou a gravar as bases do novo disco no estúdio de Glyn Johns. Era uma época de grandes avanços tecnológicos nos estúdios e o The Who aproveitou muito bem esta fase e usou pela primeira vez a técnica da “parede de som” e o uso de sintetizadores, que desagradaram um pouco os fãs mais antigos do grupo, mas que mostraram uma grande inovação dentro do cenário do rock daquela época.

A capa do disco foi uma paródia ao filme 2001: Uma Odisseia no Espaço, mostrando a banda como se tivesse acabado de urinar em um bloco de concreto gigante. A capa já demonstrava a ambição e busca de grandiosidade no som do novo álbum. Outra ideia para a capa era a foto do baterista Keith Moon vestido com um espartilho e segurando um chicote, ideia que (ainda bem) foi descartada no final pela banda. Who´s Next foi lançado em 2 de agosto de 1971 e se tornou o disco mais vendido da banda em toda sua carreira. 

Who´s Next é uma coleção de canções fortes e poderosas. A faixa de abertura “Baba O´Riley” (nome tirado da junção dos nomes do guru de Townshend, Meher Baba e do compositor Terry Riley) tem uma estrutura simples com três acordes, mas cresce com o peso da guitarra de Pete e da bateria cheia de viradas espetaculares de Keith Moon e ainda conta com um som hipnótico de sintetizador na introdução e no final ainda tem um belíssimo solo de violino. Logo de cara já podemos ver um disco ambicioso e muito bem produzido.



O disco ainda tem muitos momentos fantásticos como a forte “Bargain”, as contagiantes “Getting in tune” e “Going mobile”, as emocionantes baladas “Behind blue eyes” e “The song is over” e a divertida “My wife”, composta pelo excelente baixista John Entwistle. Para encerrar, o hard rock “arrasa quarteirão” de “Won't Get Fooled Again” uma canção monstruosa que mostra toda força do The Who, principalmente nas apresentações ao vivo.



A versão remasterizada ainda conta com algumas canções que participariam do furado projeto Lifehouse, músicas também excelentes como “Pure and Easy”. Em Who´s Next, o The Who teve que provar para si mesmo que não precisava fazer um disco conceitual, que contasse necessariamente uma história, como o álbum Tommy. Lançar um grande disco após fazer um clássico é para poucos, e só bandas fantásticas como o The Who conseguem vencer esta missão. Um disco essencial para qualquer ouvinte de rock que se preze.




18 de dezembro de 2014

Clássicos do Brasil - Nós Vamos Invadir Sua Praia

No início dos anos 80 o Brasil passava por um processo de redemocratização, com o fim do regime militar. Esta fase deu muita inspiração para muitos grupos jovens de rock mostrarem seus trabalhos. A primeira banda a chegar a estourar e tocar no Brasil, foi a Blitz, liderada pelo ator e cantor Evandro Mesquita e também contando em sua formação a cantora Fernanda Abreu.


Em 1982, com o hit “Você não soube me amar” a Blitz conquistou o Brasil, com seus shows performáticos e seu carisma. O Rio de Janeiro saltava na frente e mostrava um novo rock feito no Brasil que logo foi chamado de “rock de bermuda” devido ao seu estilo despojado e irreverente. Não demorou muito para a galera de São Paulo dar o troco e querer mostrar seu som para o resto do país.

Roger Moreira no começo dos anos 80, quando montava sua banda de rock pensou em diversos nomes para a banda e outro integrante sugeriu um nome: Ultraje. Roger achou esse nome muito punk e que não combinava com a sonoridade que eles estavam fazendo. Quando ele chegou para o guitarrista da banda na época, Edgard Scandurra e perguntou o que ele achava do nome Ultraje, Edgard respondeu: “Ultraje o quê? Ultraje a Rigor?”. Roger gostou e este acabou sendo o nome definitivo da banda.

O Ultraje já tinha lançado dois compactos que fizeram sucesso, com as músicas “Inútil/Mim quer tocar” e “Eu me amo/Rebelde sem causa” quando foram para o estúdio Nas Nuvens, do produtor Liminha para gravar seu primeiro disco. O clima nas gravações era de muita zueira, os integrantes do Ultraje faziam “pegadinhas” com o pessoal do estúdio e o alto astral das gravações contribuiu para o clima do disco de estreia da banda.

Nós Vamos Invadir Sua Praia foi lançado em 13 de julho de 1985 e logo estourou no Brasil, tendo nove de suas onze músicas tocadas nas rádios. A música de abertura, que tem o mesmo nome do álbum, tem a participação especial de Ritchie, Lobão, Léo Jaime e Selvagem Big Abreu (Da banda João Penca e Seus Miquinhos Amestrados) e é uma reposta ao “rock de bermuda” feito no Rio, avisando que uma nova onda musical estava vindo por aí. 



"Rebelde sem causa" fala sobre a rebeldia juvenil, mesmo tendo tudo os adolescentes tendem a se sentirem insatisfeitos. Uma letra que levou muitos jovens brasileiros a se identificarem com o tema. "Mim quer tocar" é uma paródia ao Reggae, em uma letra que critica a forma como os músicos são tratados, muitas vezes tendo que tocar de graça e não tendo o reconhecimento devido.

Em "Zoraide" Roger questiona se quer mesmo manter um relacionamento, enquanto “Ciúme” fala o sentimento de possessividade que a maioria das pessoas tem. “Inútil” tem um riff de guitarra clássico do rock nacional, feito por Edgard Scandurra e se tornou um dos hinos da redemocratização brasileira. “Marylou” é imbecil e escrachada, composta por Scandurra e Roger Moreira. “Eu me amo” critica aqueles que se adoram, enquanto “Independente futebol clube” fala sobre não depender emocionalmente em um relacionamento e fazer o que se bem entende. 



Nós Vamos Invadir Sua Praia é um clássico do rock brasileiro e o melhor disco da carreira da banda. Infelizmente o Ultraje nunca mais conseguiu fazer um trabalho que chegasse perto a este êxito e vive até hoje somente das canções deste disco. Isto não diminui a importância deste trabalho e as qualidades apresentadas pela banda neste álbum, a irreverência e ao mesmo crítica embutidas nas letras, em uma das fases mais prolíferas da música brasileira. 



16 de dezembro de 2014

Melhores discos de 2014 – Parte 2

A segunda metade de 2014 também teve alguns bons lançamentos de grandes bandas e artistas, como U2, Foo Fighters e Morrissey. Mesmo não sendo os melhores discos da carreira destes grandes nomes da música, ainda sim ganharam destaque e provocaram reações positivas  da crítica e do público. Vamos então relembrar neste post outros grandes discos lançados este ano.


Morrissey – World Peace is None of Your Business 


A lenda do rock britânico lançou finalmente um novo disco, cinco anos após o lançamento de Years of Refusal de 2009. Com suas letras afiadas, critica neste trabalho os governantes e suas guerras, a realeza britânica (para variar) e as touradas e maus tratos em animais. Ao contrário da resenha que fiz para o disco (para ler clique aqui) ouvindo melhor o álbum, percebemos alguns arranjos meio confusos e uma música ou outra menos inspirada, sendo este disco longe de ser um dos melhores trabalhos de Morrissey, mas comparado com a mediocridade atual, ainda pode ser considerados um dos lançamentos mais relevantes do ano. 



Manic Street Preachers – Futurology


Esta grande banda galesa, que infelizmente não tem tantos fãs assim no Brasil, lançou este ano seu décimo terceiro disco e não decepcionou. Bastante influenciados pelo rock dos anos 80 e pela música eletrônica europeia do final dos anos 70, o grupo liderado por James Dean Bradfield se destacou entre os melhores discos lançados em 2014. Leia a resenha completa aqui.



U2 – Songs of Innocence


Depois de alguns discos mais direcionados à música pop, o U2 resolveu resgatar um pouco de sua pegada rockeira dos anos 80 e reviver um pouco da juventude de seus integrantes em Songs of Innocence. A banda se saiu bem, apesar de duas ou três músicas menos inspiradas, o disco é um dos melhores de 2014 e um dos mais empolgantes dentre seus últimos lançamentos. Destaque para variar, The Edge mostra que ainda tem lenha para queimar, lembrando um pouco daquele guitarrista que se destacou nos anos 80. Leia a resenha completa aqui.



Foo Fighters – Sonic Highways


Um dos discos mais aguardados de 2014, Sonic Highways foi lançado juntamente com o documentário dirigido por Dave Grohl com o mesmo nome, que conta um pouco da história da música norte americana em oito cidades e estúdios diferentes. As gravações em diversos estúdios e cidades influenciaram a sonoridade do Foo Fighters, que também teve diversas participações especiais. Leia a resenha completa aqui



Plebe Rude – Nação Daltônica


A Plebe voltou com tudo e após oito anos de seu disco anterior, R ao Contrário, lançou este belo trabalho, que critica a sociedade brasileira e sua alienação. A banda está com uma ótima pegada, graças ao novo baterista Marcelo Capucci e para o eterno guitarrista do Inocentes, Clemente, que grava seu segundo cd como integrante da banda. Leia a resenha completa aqui.




11 de dezembro de 2014

Polêmicas versões do rock brasileiro

Na história da música brasileira, regravar e fazer versões de sucessos internacionais sempre foi comum, desde os tempos da jovem guarda, primórdios do rock brasileiro, até os dias de hoje. O problema é quando o artista arrisca pegar um clássico e passar para o português, mudando às vezes totalmente a temática da música, ou até mesmo estragando os belos arranjos que a música original tinha. Vamos relembrar algumas versões que deram o que falar, mais para o mal do que para o bem.

Capital Inicial – “Sem cansar” (Versão original “C'Est Comme Ça” de Les Rita Mitsouko)


Em 2004 o Capital Inicial lançou o disco Gigante, (que de gigante só tem o nome) e resolveu fazer uma versão do clássico do rock francês dos anos 80, C'Est comme ça” de Les Rita Mitsouko. A música fez sucesso também nas baladas rock do Brasil daquela década e a banda de Dinho Ouro Preto resolver fazer esta “homenagem”, mas acabaram estragando a música da pobre Mitsouko. Com uma letra esdrúxula e um arranjo que deu um certo peso às guitarras, prejudicando a guitarra oitentista do original, o Capital fez uma versão constrangedora e um videoclipe ainda pior.  





Ira! – “Eu não sei” (Versão original “I can´t explain” do The Who)


Em 1998, o Ira! lançou o disco Você Não Sabe Quem Eu Sou e causou um estranhamento nos fãs mais radicais, devido a inserção de elementos eletrônicos ao tradicional rock mod feito pela banda. Neste álbum o grupo resolveu fazer uma versão de suas maiores influências, o The Who. Apesar de alguns elementos eletrônicos, a música ficou bem fiel a original, inclusive na letra e o Ira! até que não se saiu mal desta vez. A letra em português foi feita por Roger Moreira do Ultraje a Rigor, que também participa da regravação do Ira!





Nenhum de Nós - “Astronauta de Mármore” (Versão original “Starman” de David Bowie)


Em 1988 a banda Nenhum de Nós resolveu fazer uma versão do Totem da música pop mundial: David Bowie. Aposto que mesmo antes de ser lançada esta versão já era odiada pela crítica, afinal era um sacrilégio fazer uma versão em português de uma música de Bowie. A versão dos gaúchos, “Astronauta de Mármore” foi um dos maiores sucessos do ano e é tocada até hoje pelo grupo em seus shows. A crítica em geral odeia este cover e ficou convencionado que a versão é um lixo. Talvez a banda tenha exagerado em algumas imagens poéticas forçadas da letra: “A lua inteira agora é um manto negro / Os fins das vozes do meu rádio ou ou”, mas na minha opinião "Astronauta de mármore" é ótima e marcou muito minha infância.





Titãs – “A balada de John e Yoko” ( Versão original “The ballad of John and Yoko dos Beatles)


Em seu disco de estreia, o Titãs resolveu fazer uma versão da música “The ballad of John and Yoko”, single lançado pelos Beatles em 1968. A parte instrumental ficou bem fiel ao original, já a letra é bem forçada e tem imagens poéticas bem estranhas: “Cristo não é biscoito / As coisas andam ruins /Se é mau aos dezoito / Me crucificam no fim” ou em “Cristo não é fumaça / O sol está de rachar / Se bebe a garrafa / Me traz a cruz e o altar”. Realmente o Titãs não foi muito feliz nesta versão.





Capital Inicial – “O passageiro” (Versão original “The Passenger” de Iggy Pop)


Já que o Capital não obtinha muito êxito em suas composições (seus maiores sucessos foram compostos por Renato Russo), o jeito era fazer versões e para o disco Eletricidade de 1993, a banda resolveu fazer um cover de “The passenger” de Iggy Pop. Desta vez o grupo se deu bem e fez uma versão correta, com uma letra e arranjos fieis ao original, apesar de muita gente odiar esta canção, graças aos empolgados “la la las” cantados por Dinho Ouro Preto.





9 de dezembro de 2014

Grandes discos de 1994 – The Downward Spiral

A banda Nine Inch Nails (na verdade composta somente por Trent Reznor e músicos de apoio) já tinha dois discos lançados em 1994, Pretty Hate Machine de 1989 e o EP Broken de 1992. Era o momento para o líder e faz tudo da banda, Trent Reznor, criar um álbum ambicioso e conceitual, usando os elementos que dominava muito bem, rock industrial e música eletrônica.


Para a gravação do disco, Reznor se isolou na famosa mansão em que ocorreu um dos maiores crimes da história, quando Charles Manson planejou e seus seguidores mataram várias pessoas, entre elas, a atriz Sharon Tate, que era esposa do diretor Roman Polanski. Nas paredes foi escrita com sangue das vítimas a palavra Pigs (Porcos). O clima tenso e fantasmagórico da casa acabou influenciando a sonoridade caótica e raivosa do disco.

Para a produção, Reznor contou com Flood, que trabalhou com bandas como U2 e Smashing Pumpkins. O conceito do disco é talvez um relato autobiográfico de Trent Reznor, o personagem central passa por diversos estados psíquicos e questiona a religião, o amor e a vida em geral, mostrando um estado de autodestruição, provavelmente causados pelo uso de drogas pesadas.

As canções caóticas, com baterias estrondosas e guitarras enfurecidas, logo caíram nas graças da juventude norte-americana, que estava órfã de um de seus maiores ícones de rebeldia na época, Kurt Cobain havia se matado em abril daquele ano. O mundo perturbador criado por Reznor pode ser muito bem percebidos nas letras fortes e depressivas, que questionam até a existência de Deus, como na música “Heresy”: “Deus está morto / E ninguém se importa / Se existe um inferno / Eu verei você lá”.

“March of the pigs” é uma música essencial no setlist da banda até hoje. Uma canção que altera momentos de fúria e calmaria ganhou um videoclipe de uma tomada só que passava bastante na MTV na época, um vídeo simples que tem a banda tocando em um fundo branco, mas que mostra toda a revolta e pegada do som do Nine Inch Nails. 



“Closer” é a melhor música da banda e ganhou um videoclipe sensacional, um dos melhores feitos na década de 90. O vídeo teve várias imagens censuradas, pois mostrava várias cenas perturbadoras de sadomasoquismo, horror e símbolos religiosos. Dirigido por Mark Romanek, ganhou diversos prêmios. A canção ainda tem um dos refrões mais fortes do rock alternativo “Eu quero foder você como um animal”.



A obsessão pela palavra “Pig” no disco, pode ter sido influenciada pelos assassinatos comandados por Charles Manson, apesar disto ser desmentido por Trent Reznor. “Hurt” foi outro grande sucesso do álbum, música que encerra o conceito do disco, em que o personagem desabafa, em uma letra triste e confessional. A canção foi regravada em 2003 por Johnny Cash e foi o seu epitáfio, seu último videoclipe antes de morrer e também foi dirigido por Mark Romanek.





Anos depois do sucesso do disco, dois garotos invadiram uma escola em 1999, mataram diversas pessoas e cometeram suicídio, episódio que ficou conhecido como o Massacre de Columbine. Logo depois foi divulgado que os dois garotos disseram anteriormente que foram influenciados pelo álbum The Downward Spiral e suas letras para planejarem o crime. Este fato fez com que a mídia e alguns movimentos conservadores se revoltassem contra a banda de Reznor e também com Marylin Manson, que também teve suas músicas citadas como influência para os garotos.

The Downward Spiral foi aclamado pela crítica e pelo público, sendo um dos melhores discos dos anos 90 e o melhor trabalho do Nine Inch Nails até hoje. A mistura bem equilibrada de peso e música eletrônica e o desespero e raiva expressadas por Trent Reznor resultaram em um álbum que preenchia um vazio na juventude norte americana, que se mostrava frustrada e sem perspectivas em meados dos anos 90.



4 de dezembro de 2014

Plebe Rude lança novo disco após oito anos

A banda brasiliense Plebe Rude lançou em novembro deste ano seu novo álbum, Nação Daltônica. O último trabalho de estúdio lançado pelo grupo foi R ao Contrário de 2006, que foi vendido em bandas de jornal, junto com uma revista. Em 2011, a Plebe lançou o disco ao vivo, Rachando o Concreto.


Alguns fatores atrasaram o término deste novo álbum, como a viagem do baixista André X para o exterior para fazer mestrado e também pelo fato do vocalista Phillipe Seabra ter sido convidado a fazer a trilha sonora do filme Faroeste Caboclo, que inclusive ganhou o prêmio de melhor trilha sonora, na premiação mais importante do cinema brasileiro.

A Plebe Rude sempre andou à margem do mainstream, nunca fazendo baladas românticas e algumas concessões que outras bandas brasileiras tiveram que fazer, para não sucumbir dentro do mercado fonográfico nacional. A prova disto é a demora entre o lançamento entre um disco e outro, devido também a algumas separações e saídas de alguns integrantes, como a baterista Gutje e o guitarrista e vocalista Jander Bilaphra, ambos integrantes da formação original da Plebe. 

A entrada do vocalista e guitarrista do Inocentes, o lendário Clemente em 2004 deu um novo “punch” para a banda sendo este já seu segundo disco de estúdio com a Plebe. A sonoridade do grupo continua sendo aquele punk rock bem melodioso, com letras críticas e bem feitas, e a mistura dos vocais que dão uma harmonia interessante às músicas.

O conceito do disco se resume bem no título do álbum: Uma nação alienada, que não consegue enxergar direito, ouve músicas ruins e é dominada pela mídia. Começando pela música “Retaliação”, uma música típica da banda, letra engajada e bela linha de baixo. “Anos de luta” faz referência no título à clássica “Dias de Luta” do Ira! e no final ainda tem uma brincadeira da banda, falando para todo mundo cantar junto, coisa que não combina com o estilo da Plebe.


“Mais um ano você” tem uma bateria encorpada (o baterista Marcelo Capucci é um dos destaques do disco) e uma letra crítica, que fala em mais um ano perdido. “Que tem fez você” tem um belo riff e uma boa pegada, enquanto “Sua história” tem a participação de uma orquestra sinfônica, um dos momentos mais emocionantes do álbum.

“Rude resiliência” tem também destaque em sua bateria, enquanto “Quem poderá culpá-lo” tem um teclado que fica na cabeça e é mais legal do disco. “Tudo que poderia ser” já fazia parte do disco ao vivo, Rachando o Concreto e “Go ahead” teve todos os instrumentos tocados por Seabra, exceto a bateria. “Três passos” começa com uma linha da baixo nervosa e tem boas linhas de guitarra.

Nação Daltônica mantém o nível de qualidade do disco anterior e mostra que a Plebe Rude ainda tem algo a dizer e está em ótima forma. Prova de que nem sempre o artista tem que acompanhar o mercado fonográfico, seguir suas convicções é sempre o mais correto e que fazer música com conteúdo sempre será algo valorizado.



2 de dezembro de 2014

Melhores discos de 2014 – Parte 1

O ano de 2014 teve bons lançamentos no cenário do rock. Para variar não surgiu nenhuma grande banda nova, então grandes nomes tiveram que mostrar como se faz, lançando bons discos, alguns ressurgindo depois de muitos anos sem lançar um álbum de estúdio, como por exemplo, o Pixies. Vamos relembrar os melhores trabalhos de 2014, segundo o blog.

The Horrors – Luminous


Esta banda inglesa é uma das melhores do cenário atual e lançou este ano seu quarto álbum, Luminous. O álbum é uma continuação natural do disco anterior, o bem sucedido Skying de 2011. Com muita influência do rock psicodélico dos anos 60 e do rock inglês dos anos 80 e 90, o grupo do esquisitão vocalista Faris Rotter lançou um dos discos mais interessantes do ano. Leia a resenha completa aqui



Pixies – Indie Cindy


Depois de vinte e três anos o Pixies finalmente lançaram um disco novo. Após o lançamento de três EPs em 2013, a banda resolveu reunir tudo em um álbum só. Indie Cindy não faz feio na discografia do grupo, tendo um conteúdo bem mais interessante do que as bandas alternativas atuais. Após a saída conturbada da baixista Kim Shattuck (que foi despedida por ser muito extrovertida) a banda segue em turnê com a ex-baixista do Zwan, Paz Lechantin. Leia a resenha completa aqui.



Titãs – Nheengatu


Os veteranos roqueiros paulistas do Titãs voltaram finalmente a fazer rock pesado em seu último trabalho, Nheengatu. A banda deixou um pouco de lado as baladas românticas dos discos anteriores e fez um som mais rústico e pesado, com letras que criticam desde a violência da polícia até o preconceito racial e sexual. Um disco que deu mais um gás na carreira da banda e trouxe novos fãs para o Titãs. Leia a resenha completa aqui.



Bob Mould – Beauty and Ruin


Um dos maiores nomes do rock alternativo, Bob Mould lançou este ano Beauty and Ruin, uma coleção de petardos que misturam punk com power pop sessentista, na medida certa. Depois do aclamado Silver Age de 2012, Mould manteve o alto nível neste trabalho, mostrando que está em uma de suas melhores fases. Leia a resenha completa aqui



Pitty – Setevidas


A cantora baiana lançou este ano seu quarto disco de estúdio, após uma breve pausa em seu trabalho solo, quando fez parceria com o guitarrista Martin e montou o projeto Agridoce, com um som mais melodioso e acústico. Pitty voltou ao rock neste novo álbum, que foi gravado com todo mundo tocando junto e que foi influenciado nas letras por alguns momentos difíceis passados pela cantora, como a morte do amigo e ex-guitarrista Peu. Leia a resenha completa aqui.



27 de novembro de 2014

Paul McCartney ao vivo em São Paulo – Um show para lavar a alma

Eram quase dez horas da noite, quando o eterno Beatle entrou no palco da Arena Allianz Parque ontem, embaixo de uma chuva fina. No dia anterior (primeiro dia de show) uma chuva torrencial já tinha caído em São Paulo, algo cada vez mais raro na cidade. Era talvez sinal de que algo especial estaria para acontecer.


A primeira música não poderia ser mais adequada: “Magical mistery tour” do álbum de mesmo nome, lançado em 1967. Era o anúncio que todos ali iriam embarcar em uma viagem mágica. O som começou com alguns problemas, a voz de Paul estava bem baixa, coberta pelo som do público que cantava a música em uníssono.

McCartney exibia a mesma simpatia de sempre, com os textos decorados em português e o script do show anterior, mesmo assim mostrando seu carisma e boa forma apesar de sua avançada idade. Logo em seguida veio “Save us” música que abre seu último disco de estúdio, o ótimo New, lançando em 2013. 

O som foi melhorando aos poucos e logo após tocar “All my loving” dos Beatles e “Listen to what the man said” da época dos Wings, veio a emocionante “Let me roll it”, uma de suas melhores canções solos, do não menos clássico disco Band on The Run de 1973. Com seu riff de guitarra estranho e genial e seu fantástico refrão emocionou o público. “Paperback Writer” foi um momento em que o show pegou fogo em uma versão mais pesada e energética do que a original.

McCartney se dirige ao piano e todos percebem que vem por aí mais momentos intimistas e emocionantes. “My valentine” é dedicada a sua atual esposa e no telão aparece o clipe da música, com os atores Johnny Depp e Natalie Portman descrevendo a letra da música em linguagem de sinais.

Em "Nineteen hundred and Eighty-Five", música que encerra Band on The Run, Paul mostra que sabe balancear seu setlist, colocando esta música mais agitada e certeira no meio de duas baladas. Em “The long and winding road” do disco Let it Be, muitos marmanjos tiveram que se conter para não rolar aquela lágrima no canto do olho (eu inclusive). “Maybe I’m amazed”, outro clássico de sua carreira solo, foi cantada com vigor por Paul, mesmo com as dificuldades vocais impostas pela idade.

O refrão de “We Can Work It Out” levou o público ao delírio, enquanto o set acústico de “And I love her” e “Blackbird” emocionou até os mais durões. O legal era ver a mistura de gerações no show, como por exemplo, do meu lado a filha com a mãe, uma jovem senhora. A mãe pulava e agitava como uma adolescente, enquanto a filha se preocupava com a empolgação excessiva da mãe. Uma cena bonita, que mostra o quão mágico era aquele momento.

A chuva apertava e Paul emendou duas músicas de seu último disco, “New” e “Queenie eye”. A enérgica “All together now” do disco Yellow Submarine fez a galera (palavra que Paul pronunciou em um português macarrônico durante o show) dançar e se encantar com as loucas projeções do telão.

“Lovely rita” e “Being for the Benefit of Mr. Kite” foram as únicas músicas tocadas do disco Sgt. Pepper´s. “Something” foi dedicada ao seu grande amigo George e teve uma breve introdução tocada com um ukelele. “Eleanor rigby” do disco Revolver foi cantada em plenos pulmões, em uma das canções mais bonitas dos Beatles.

Em “Ob-La-Di, Ob-La-Da” virou festa geral, todos dançando e cantando esta música que de tão imbecil, acaba sendo fantástica. Aí meus caros, o setlist pegou fogo de vez e foi uma paulada atrás da outra: “Band on the run”, “Back in the USRR”, “Let it be” (esta, a que mais me emocionou particularmente), “Live and let die” (com direito a show pirotécnico, literalmente colocando fogo no palco) e lógico como não poderia faltar, “Hey Jude”, com todos cantando em uma só voz.

McCartney se despediu com o carisma de sempre antes do primeiro Bis que logo de cara abriu com um dos riffs mais famosos da história em “Day tripper”. “Get back” e “I saw her standing there” fecharam o primeiro bis, levando o público à loucura. No segundo Bis, Paul ainda tinha cartas escondidas na manga e mandou “Yesterday”, “Helter skelter”, para quebrar tudo, no primeiro rock pesado feito na história e para encerrar com chave de ouro, a clássica sequência do final do antológico disco Abbey Road, “Golden slumbers”, “Carry that weight” e “The end”. Um final apoteótico para um show inesquecível.

O público saiu satisfeito e extasiado após ouvir quase trinta músicas dos Beatles e mais outros clássicos do bom e velho Paul. McCartney demonstrou porque é o maior compositor vivo da música contemporânea e que está em ótima forma. Alguns poderiam dizer que ele só não fez chover, mas até isto ele conseguiu. Um show para lavar a alma, literalmente. 





Setlist:

1- Magical Mystery Tour
2- Save Us
3- All My Loving
4- Listen to What the Man Said
5- Let Me Roll It
6- Paperback Writer
7- My Valentine
8- Nineteen Hundred and Eighty-Five
9- The Long and Winding Road
10- Maybe I’m Amazed
11- I’ve Just Seen a Face
12- We Can Work It Out
13- Another Day
14- And I Love Her
15- Blackbird
16- Here Today
17- New
18- Queenie Eye
19- Lady Madonna
20- All Together Now
21- Lovely Rita
22- Everybody Out There
23- Eleanor Rigby
24- Being for the Benefit of Mr. Kite!
25- Something
26- Ob-La-Di, Ob-La-Da
27- Band on the Run
28- Back in the U.S.S.R.
29- Let It Be
30- Live and Let Die
31- Hey Jude

Bis
32- Day Tripper
33- Get Back
34- I Saw Her Standing There

Bis
35- Yesterday
36- Helter Skelter
37- Golden Slumbers
38 - Carry That Weight
39 - The End

24 de novembro de 2014

Foo Fighters não surpreende em Sonic Highways

O Foo Fighters vinha de três discos irregulares, One By One de 2002, In Your Honor de 2005 e Echoes, Silence, Patience and Grace de 2007, quando finalmente lançou em 2011 um ótimo disco, Wasting Light, com a produção do eterno produtor de Nevermind, Butch Vig. A forma de gravação do álbum foi à maneira antiga, na base da fita analógica, o que deu talvez deu uma sonoridade mais encorpada e uma pegada mais forte ao disco, sucesso de crítica e de público.


O novo trabalho da banda de Dave Grohl é um projeto audacioso. O grupo resolveu gravar em oito cidades diferentes e ainda fazer um documentário, com o mesmo nome do disco, Sonic Highways, falando sobre a cena musical de cada cidade e um pouco da história da música norte americana. Segundo Grohl seria uma espécie de tributo às raízes da música norte americana, uma ideia interessante, que atraiu ainda mais o público para este novo álbum.

Mais uma vez trabalhando com o produtor Buth Vig, neste disco o Foo Fighters faz músicas mais longas e trabalhadas, com várias participações especiais, tentando de alguma forma acrescentar algo novo no tradicional rock feito pela banda, com guitarras distorcidas, riffs certeiros e refrões que ficam na cabeça. A maior duração das músicas provavelmente se deve à influência do rock dos anos 70, já que Grohl vem fazendo diversas parcerias com artistas que se destacaram nesta década.

“Something from nothing” foi o primeiro single do álbum. Começa lenta e vai crescendo durante sua execução com bons riffs de guitarra, com slides e a participação do guitarrista Rick Nielsen do Cheap Trick, grupo que influenciou bastante as bandas de Seattle dos anos 90. Com um refrão explosivo, termina com uma sonoridade pesada e frenética, uma das melhores do disco. Uma canção tradicional do Foo Fighters, não muito diferente do que o grupo já tinha feito no álbum anterior. 



“Feast and Famine” é mais energética, com refrão forte e riffs interessantes. Segundo reza a lenda tem a participação da banda Bad Brains nos vocais, mas na ficha técnica do disco, não aparece o nome da banda nesta canção. “Congregation” tem uma melodia que fica na cabeça e tem a participação de Zak Brown na guitarra e vocal."What did I do?/God as my witness" é mais pop e é dividida em duas partes. Tem a participação de Gary Clark Jr. na guitarra.


“Outside” é melhor canção do disco, tem a participação do guitarrista do Eagles, Joe Walsh com um belo solo de guitarra. Esta canção tem o que o Foo Fighters sabe fazer de melhor: Rock poderoso com bons riffs e melodia certeira. “In the clear” conta com a Preservation Hall Jazz Band como grupo de apoio nos metais. “Subterranean” é uma música mais densa e climática com efeitos de E-bow e uma letra mais reflexiva. A última canção, “I am a river” é um épico de sete minutos, (fala-se na participação de Joan Jett na guitarra, mas ela também não aparece nos créditos) com arranjo de orquestra feito por Tony Visconti. Uma balada emocionante que encerra o disco com honestidade.

Sonic Highways é um bom disco, mostrando que o rock com guitarras altas ainda tem seu espaço, mas apesar de todos os esforços, Dave Grohl e companhia não conseguiram fugir totalmente da fórmula que vem consagrando o som do Foo Fighters há quase vinte anos. Quem esperava algo totalmente novo pode se decepcionar com este disco, porém o Foo Fighters mostra que ainda é uma das poucas bandas de rock da atualidade que pode fazer um disco pesado e consistente e ainda conseguir êxito comercial.