2 de março de 2016

Vinte anos sem os Mamonas Assassinas

O ano era de 1995, eu assistia a MTV como de costume e de repente aparece um clipe bem tosco, com uns caras vestidos de Chapolin cantando uma música sobre um português que participava de uma suruba e que se dava muito mal. Achei até divertido, mas nunca poderia imaginar que aqueles caras iriam se tornar o maior sucesso musical daquele ano.


O que iria acontecer dali a alguns meses se tornaria inimaginável para os cinco rapazes humildes da cidade de Guarulhos. Dinho, Bento, Júlio, Samuel e Sérgio chegariam ao estrelato de maneira meteórica vendendo mais de três milhões de discos. A banda anteriormente se chamava Utopia e fazia um som mais sério, influenciada por bandas como Legião Urbana e Titãs, mas aquele estilo não combinava como o jeito escrachado e brincalhão de seus integrantes e a mudança do nome do grupo para Mamonas Assassinas e um estilo mais despojado e irônico foi questão de tempo.

Após o vocalista Dinho mostrar duas músicas para o produtor Rick Bonadio, “Mina”, que se tornaria “Pelados em Santos” e “Robocop gay”, Bonadio percebeu o potencial das canções e disse que se a banda fizesse mais músicas como aquelas conseguiria uma gravadora para eles. Após gravarem a demo no estúdio de Rick o grupo depois de um tempo conseguiu contrato com a EMI e o seu primeiro e único disco foi lançado em 23 de junho de 1995.

Pouco tempo depois os Mamonas estavam estourados em todo o Brasil, com quase todas as canções do disco tocando nas rádios, principalmente “Pelados em Santos” e “Vira Vira”. Globo e SBT disputavam a banda à tapa para conseguir levá-los aos seus programas de domingo à tarde. Eu era uma das poucas pessoas que não tinham nem o disco nem a fita cassete dos Mamonas, talvez pelo fato de na época gostar de um rock mais sério (ok eu gostava de Raimundos), mas mesmo assim achava o grupo interessante e divertido.


O disco começava com a porrada “1406” com ótima linha de baixo e riffs de guitarra. O título era uma alusão ao número de telefone de um serviço de compras. Na letra a banda fazia uma crítica ao consumismo em geral. “Vira-vira” foi o primeiro sucesso do grupo, uma canção que mistura o tradicional ritmo português ao rock com uma letra que foi inspirada em uma piada do humorista Costinha, sobre um casal de portugueses que vai parar em uma suruba.

“Pelados em Santos” foi o maior sucesso do álbum, Dinho fez a canção para uma ex-namorada e é uma mistura de música brega com rock. Em “Chopis centis”, a banda rouba o riff de “Should I stay or should I go” do The Clash. A letra fala sobre os desejos das camadas mais simples, de poder levar a namorada ao shopping entre outras coisas. “Jumento Celestino” fala sobre a saga de um nordestino chegando ao Sudeste. Uma letra que foi considerada um pouco preconceituosa, mas na verdade os integrantes eram filhos de nordestinos e apenas fizeram uma sátira com as histórias de vida de seus próprios familiares.


“Uma Arlinda mulher” é uma paródia ao cantor Belchior, tanto que Dinho imita o jeito de cantar dele durante a canção. “Cabeça de bagre I” tem um potente riff de guitarra e fala sobre um péssimo aluno que só tira notas baixas. “Robocop gay” foi também um grande sucesso, com uma letra que fala sobre um super-herói afeminado, claramente inspirado no personagem de Jô Soares nos anos 80, o Capitão Gay. “Bois don´t cry” satiriza o ritmo sertanejo “dor de corno” enquanto “Debil metal” satiriza o heavy metal com um pesado riff de guitarra. Para encerrar o disco a genial “Lá vem o alemão” que tira um barato com os grupos de pagode que faziam sucesso naquela época.

Vale ressaltar que o sucesso dos Mamonas não foi por acaso. Era uma banda afiada que tocava muito bem, destaque para o guitarrista Bento Hinoto. A “cozinha” da banda, formada pelo baixista Samuel Reoli e pelo baterista Sérgio Reoli  segurava muito bem a onda e o tecladista Júlio Rasec mesmo não sendo um grande instrumentista era o cara que participava da parte teatral dos shows. Mas o maior destaque, como não poderia deixar de ser, era o carisma e talento do vocalista Dinho, que se destacava tanto nas letras sarcásticas e inteligentes ao mesmo tempo, quanto nas performances ao vivo. Depois de um sucesso estrondoso de oito meses, a banda teve um fim trágico que nem vale a pena ficar lembrando aqui. Fica na memória uma banda que inovou o cenário musical e que foi o último grande fenômeno da música brasileira.