O ano era de 1995, eu
assistia a MTV como de costume e de repente aparece um clipe bem tosco, com uns
caras vestidos de Chapolin cantando uma música sobre um português que
participava de uma suruba e que se dava muito mal. Achei até divertido, mas
nunca poderia imaginar que aqueles caras iriam se tornar o maior sucesso
musical daquele ano.
O que iria acontecer dali a
alguns meses se tornaria inimaginável para os cinco rapazes humildes da cidade
de Guarulhos. Dinho, Bento, Júlio, Samuel e Sérgio chegariam ao estrelato de
maneira meteórica vendendo mais de três milhões de discos. A banda
anteriormente se chamava Utopia e fazia um som mais sério, influenciada por
bandas como Legião Urbana e Titãs, mas aquele estilo não combinava como o jeito
escrachado e brincalhão de seus integrantes e a mudança do nome do grupo para
Mamonas Assassinas e um estilo mais despojado e irônico foi questão de tempo.
Após o vocalista Dinho
mostrar duas músicas para o produtor Rick Bonadio, “Mina”, que se tornaria “Pelados
em Santos” e “Robocop gay”, Bonadio percebeu o potencial das canções e disse
que se a banda fizesse mais músicas como aquelas conseguiria uma gravadora para
eles. Após gravarem a demo no estúdio de Rick o grupo depois de um tempo
conseguiu contrato com a EMI e o seu primeiro e único disco foi lançado em 23
de junho de 1995.
Pouco tempo depois os
Mamonas estavam estourados em todo o Brasil, com quase todas as canções do
disco tocando nas rádios, principalmente “Pelados em Santos” e “Vira Vira”. Globo
e SBT disputavam a banda à tapa para conseguir levá-los aos seus programas de
domingo à tarde. Eu era uma das poucas pessoas que não tinham nem o disco nem a
fita cassete dos Mamonas, talvez pelo fato de na época gostar de um rock mais
sério (ok eu gostava de Raimundos), mas mesmo assim achava o grupo interessante
e divertido.
O disco começava com a
porrada “1406” com ótima linha de baixo e riffs de guitarra. O título era uma
alusão ao número de telefone de um serviço de compras. Na letra a banda fazia
uma crítica ao consumismo em geral. “Vira-vira” foi o primeiro sucesso do
grupo, uma canção que mistura o tradicional ritmo português ao rock com uma
letra que foi inspirada em uma piada do humorista Costinha, sobre um casal de
portugueses que vai parar em uma suruba.
“Pelados em Santos” foi o
maior sucesso do álbum, Dinho fez a canção para uma ex-namorada e é uma mistura
de música brega com rock. Em “Chopis
centis”, a banda rouba o riff de “Should I stay or should I go” do The Clash. A
letra fala sobre os desejos das camadas mais simples, de poder levar a namorada
ao shopping entre outras coisas. “Jumento Celestino” fala sobre a saga de um
nordestino chegando ao Sudeste. Uma letra que foi considerada um pouco
preconceituosa, mas na verdade os integrantes eram filhos de nordestinos e
apenas fizeram uma sátira com as histórias de vida de seus próprios familiares.
“Uma Arlinda mulher” é uma
paródia ao cantor Belchior, tanto que Dinho imita o jeito de cantar dele
durante a canção. “Cabeça de bagre I” tem um potente riff de guitarra e fala
sobre um péssimo aluno que só tira notas baixas. “Robocop gay” foi também um
grande sucesso, com uma letra que fala sobre um super-herói afeminado,
claramente inspirado no personagem de Jô Soares nos anos 80, o Capitão Gay. “Bois
don´t cry” satiriza o ritmo sertanejo “dor de corno” enquanto “Debil metal”
satiriza o heavy metal com um pesado riff de guitarra. Para encerrar o disco a
genial “Lá vem o alemão” que tira um barato com os grupos de pagode que faziam
sucesso naquela época.
Vale ressaltar que o sucesso
dos Mamonas não foi por acaso. Era uma banda afiada que tocava muito bem,
destaque para o guitarrista Bento Hinoto. A “cozinha” da banda, formada pelo
baixista Samuel Reoli e pelo baterista Sérgio Reoli segurava muito bem a onda e o tecladista Júlio
Rasec mesmo não sendo um grande instrumentista era o cara que participava da
parte teatral dos shows. Mas o maior destaque, como não poderia deixar de ser,
era o carisma e talento do vocalista Dinho, que se destacava tanto nas letras
sarcásticas e inteligentes ao mesmo tempo, quanto nas performances ao vivo. Depois
de um sucesso estrondoso de oito meses, a banda teve um fim trágico que nem
vale a pena ficar lembrando aqui. Fica na memória uma banda que inovou o
cenário musical e que foi o último grande fenômeno da música brasileira.