17 de novembro de 2013

Os bastidores do Acústico do Nirvana

Em 18 de novembro de 1993, o Nirvana gravava sua participação no programa Unplugged da MTV Norte Americana. Depois de vários meses de negociação entre a emissora e a banda, finalmente o Nirvana aceitou participar e fazer um show acústico. Kurt Cobain ficou muito receoso, pois o grupo nunca fazia shows com os instrumentos desplugados, sem as tradicionais distorções nas guitarras que consagraram o som da banda.


Para este show o Nirvana recrutou para uma participação especial os irmãos Cris e Curt Kirkwood, da banda Meat Puppets, banda de rock country alternativo, que Cobain era muito fã. Provavelmente Kurt chamou os dois pelo fato de serem instrumentistas mais virtuosos, com um pouco mais de técnica do que Cobain, algo que poderia acrescentar ao som do show acústico.

Os ensaios foram bem tensos, a banda ficava mais tempo discutindo o repertório com a produção da MTV do que propriamente tocando. O Nirvana queria fazer um show diferente do habitual, com músicas menos conhecidas de seu repertório e alguns covers, enquanto a MTV queria que eles dessem preferência para os sucessos.


Para os ensaios, os irmãos Kirkwood foram proibidos de fumar maconha, devido ao processo de desintoxicação sofrido por Cobain na época. O que acabou irritando os irmãos foi o fato de Kurt chegar aos ensaios aparentemente drogado, com sua blusa velha de flanela e seu chapéu de lenhador, parecendo um velho caipira.

Enfim chegara o dia do show e Kurt estava muito nervoso e apreensivo, tanto pelo show quanto pela abstinência das drogas. Com o vocalista passando muito mal antes do acústico, foi necessário que alguém procurasse “algo” que amenizasse a sua dor e como não conseguiram arranjar heroína, conseguiram um pouco de Valium, um poderoso tranquilizante.

Quando a apresentação começou havia um clima de tensão no ar, tanto da plateia quanto na expressão da face de Kurt Cobain. Antes de dar boa noite aos presentes, Cobain respirou fundo, como se dissesse “Seja o que Deus quiser” e anunciou a primeira música da noite “About a girl” do primeiro disco da banda, Bleach de 1989. A banda tocou a música com perfeição, mesmo não tendo conseguido ensaiar direito com esta nova formação acústica.




Kurt começava a se soltar um pouco e logo em seguida veio o primeiro grande sucesso ser tocado, “Come as you are”, um dos maiores clássicos da história do rock, com a interpretação serena de Cobain. Neste show a banda ainda contava com a participação do novo guitarrista Pat Smear e da violonista Lori Goldston.

Em “Jesus doesn´t want me for a sunbeam”, Krist Novoselic tocou acordeom e Dave Grohl tocou baixo, nesta música que foi o primeiro cover tocado na noite. A canção é de uma banda que Kurt venerava, chamada The Vaselines. Em seguida, Cobain disse que iria acabar com a próxima música, que seria “The man who sold the world”, do ídolo David Bowie. Kurt usou distorção na hora do solo da música, algo que não seria permitido em um show acústico, porém foi aberta esta exceção ao Nirvana. A banda fez uma versão bem fiel ao original, realçando a beleza e a qualidade desta grande canção de Bowie.




A decoração do palco era feita por candelabros com velas pretas e lírios. O produtor da MTV, Alex Coletti, perguntou a Cobain se aquilo não ficaria parecendo um funeral e Kurt confirmou que era isto mesmo que ele queria, que o palco parecesse uma espécie de Missa Negra. Era sinal que nada ia bem na mente perturbada do líder do Nirvana.

Na música “Pennyroyal tea” Kurt perguntou ao restante da banda se deveria tocar esta música sozinho, Dave Grohl então falou que ele poderia tocar sozinho. A banda tinha tentado nos ensaios algumas opções para a música, mas não dava certo. Cobain acabou protagonizando um dos momentos mais emocionantes do programa, mostrando toda sua fragilidade e ao mesmo tempo sua grande força na hora de interpretar esta grande canção.

Depois vieram “Dumb”, “Polly” e “On a plain”, Cobain até brincou falando que era estranho tocar estas músicas em sequência, pois elas tinham basicamente os mesmos acordes. Em “Something in the way” Kurt pediu para Dave fazer a marcação com a baqueta para que não perdesse o ritmo, algo que mostrava a simplicidade da banda. Não se tratava ali de grandes rockstars que achavam que eram deuses e sim caras que amavam a música acima de tudo. 




Enfim era chegada a hora da participação dos irmãos do Meat Puppets. O Nirvana tocou três músicas da banda: “Plateau”, “Oh me” e “Lake of fire”, coincidentemente (ou não) as três músicas falavam sobre morte. As versões ficaram ótimas e se encaixaram perfeitamente ao repertório do show, graças também aos bons solos de violão de Curt Kirkwood. 

Após tocarem “All apologies” era hora de tocar a última música do show. A banda pediu sugestões da plateia, que pediu músicas inviáveis para um acústico como “In bloom” e “Scentless aprentice”. Kurt resolveu acabar com aquela indecisão e resolveu tocar uma música se seu performer preferido, o cantor de blues Leadbelly. A versão do Nirvana para “Where did you sleep last night” foi arrebatadora, principalmente pela interpretação sofrida de Cobain.

A banda saiu do palco ovacionada, todos ali saíram emocionados com aquela experiência única, de ver o Nirvana em sua essência, provando que atrás daquela barulheira toda, havia grandes músicas e um grande cantor. Outro fato importante foi que a banda tocou todas as músicas na sequência, sem repetições. Os erros, microfonias e falhas no andamento ficaram ali, dando mais naturalidade ao show.

Nos bastidores após a apresentação, Kurt foi muito elogiado por sua performance, mas não parecia muito empolgado, tanto que quando uma produtora disse que ele tinha tocado muito bem, Kurt falou que ela estava exagerando e que ele sabia que era um péssimo guitarrista. Coisas da personalidade complicada e autodepreciativa do líder do Nirvana.

O acústico do Nirvana só foi lançado em CD um ano depois em Novembro de 1994. O disco ficou em primeiro lugar na listagem da Billboard. Um show que mostrou a grande qualidade das músicas do Nirvana, a simplicidade e ao mesmo tempo a força das composições deste que foi o último grande mito do rock. 







2 comentários:

  1. Não sei se você já comentou em alguma matéria do seu blog, pois ainda não li todas, mas quando veio ao Brasil, Kurt queria muito conhecer Arnaldo Baptista, que ele admirava enquanto a mídia aqui...

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  2. Sim, ele escreveu um bilhete e mandou para o Arnaldo elogiando o trabalho dele, falando em enfrentar o sistema e etc....o Arnaldo deve ter guardado este bilhete até hoje...tem uma história hilária relacionada a este fato, contada na Autobiografia da Rita Lee que eu não vou contar porque não se vc já leu, mas eu dei muita risada kkkkk...Se quiser me adicionar no facebook para conversarmos mais sobre música estou como Roberto Troccoli. Abraço!

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