10 de junho de 2020

Ira! se reinventa e lança grande disco

Em 2007 a banda paulista Ira! lançou o álbum “Invisível DJ” e um pouco depois a banda implodiu, por brigas internas entre os integrantes e de Nasi com o empresário Júnior, que também é seu irmão. “Invisivel DJ” tinha bons momentos, mas parece que ali faltava algo, um trabalho que não empolgou tanto os fãs, talvez pela produção de Rick Bonadio e pelo clima entre os integrantes, que já não era tão amistoso. 


Em 2014 a banda voltou à ativa, somente com Nasi e Edgard Scandurra da formação clássica. Eu, como grande fã, fiquei muito feliz e obviamente fui conferir os shows de retorno, porém nesses shows o grupo apresentou uma canção inédita bem fraca, chamada “ABCD”. Como fã me incomodava uma banda tão incrível mostrar algo tão abaixo do que já tinham lançado e me deixou com receio sobre algum novo álbum do Ira!.

Finalmente em 2020 surge um novo disco do quarteto paulistano (agora contando também com Evaristo Pádua na bateria e Johnny Boy no baixo). O primeiro single “O Amor Também Faz Errar” demorou um pouco pra pegar, mas ali já estava tudo o que o novo álbum poderia oferecer, aquele estilo meio The Who, uma daquelas canções de amor simples e diretas que somente um gênio como Edgard Scandurra pode oferecer aos fãs.

Nossa Amizade” é a segunda canção do álbum, mais uma bela balada, muito inspirada, mostrando aquela vertente romântica que a banda sempre teve desde sua estreia com o álbum “Mudança de Comportamento” (o que rendeu até xingamentos do público punk na época do lançamento, chamando a banda de “menudos”, pois estavam acostumados com a pegada punk do compacto de “Pobre Paulista”, de 1984). “Respostas” é mais seca e pesada, com letra existencialista e solos e riffs matadores de Edgard Scandurra.

Mulheres à Frente da Tropa” é uma linda homenagem às mulheres, guerreiras que lutam em um mundo machista e desigual e que rendeu um belo videoclipe. Uma canção com uma pegada Folk, bem ao estilo do projeto anterior da banda, “Ira! Folk” e com um belo coro feminino também. “Você me Toca” é totalmente Hendrixiana, a guitarra de Edgard Scandurra come solta, pesada e suingada ao mesmo tempo.




Efeito Dominó” já é uma das canções mais lindas feitas pelo Ira!. Tem a participação da cantora Virginie Boutaud, vocalista da banda Metrô (do hit oitentista “No Balanço das Horas”) tanto nos vocais quanto na composição da música. Virginie canta até um trecho em francês e no final Scandurra faz um solo de guitarra espetacular, como não poderia deixar de ser. Nasi também está cantando muito bem, mesmo com as limitações vocais que a idade e os anos de estrada causaram.



Chuto Pedras e Assobio” é uma canção linda e simples, com uma melodia que fica na cabeça, com aquela poesia urbana que Edgard Scandurra sabe fazer muito bem. “Eu Desconfio de Mim” é a mais oitentista do álbum, com uma pegada pós-punk envolvente. “O Homem Cordial Morreu” é uma crítica à sociedade atual, enquanto “A Torre” encerra muito bem o disco, destaque para os vocais femininos que engrandecem a música.

Ira”, o álbum (sem exclamação), mostra que a banda tem muito a dizer ainda e que ainda pode produzir grandes canções. A produção de Apollo 9 também merece destaque, conseguindo extrair um grande som, principalmente da guitarra de Edgard Scandurra, que soava meio tímida no trabalho anterior, por exemplo. Um grande triunfo do grupo, mostrando que o Ira! ainda é relevante, mesmo depois de quase quarenta anos de estrada.