22 de maio de 2017

Cris Cornell e a maldição do rock de Seattle

O impacto da morte do cantor Cris Cornell, vocalista do Soundgarden (e também do Audioslave e Temple of the Dog) no dia 18 de maio reverbera até agora no mundo da música. Uma morte inesperada, mesmo com um histórico trágico e sombrio por trás do rock feito pelas bandas de Seattle. Cornell estava em plena forma, tinha acabado de fazer um show na cidade de Detroit com o Soundgarden, quando decidiu tirar sua própria vida em um quarto de hotel, aos cinquenta e dois anos, deixando a esposa e três filhas.


A primeira morte relacionada às bandas de Seattle aconteceu antes mesmo do que foi chamado anos mais tarde de Movimento “Grunge” pelos jornais especializados estourar. O vocalista Andrew Wood da banda Mother Love Bone faleceu em março de 1990 devido a uma overdose de heroína, uma banda promissora que recebeu vários elogios da crítica com seu recém-lançado disco de estreia, “Apple”. Como todos já sabem, os outros integrantes do Mother Love Bone recrutaram um novo vocalista, chamado Eddie Vedder e formaram o Pearl Jam. O resto é história.


O Soundgarden, ao contrário do Pearl Jam que estourou logo de cara com seu disco de estreia, “Ten”, teve uma evolução gradativa após o lançamento de seu primeiro disco, “Ultramega OK” de 1988, chegando ao sucesso mundial apenas em 1994, com o fantástico álbum “Superunknown”. Cris Cornell e a galera do Soundgarden por serem uma das bandas pioneiras do cenário de Seattle, sempre ajudaram de alguma forma as outras bandas, como o Nirvana, por exemplo, que chegou a abrir alguns shows deles e assinou com a gravadora Sub Pop por ter como referência os EPs “Screaming Life” e “Fopp” lançados pelo Soundgarden pela Sub Pop.


A morte de Kurt Cobain em abril de 1994 foi outra pá de cal no chamado Movimento “Grunge”. A relação do abuso de drogas e a depressão do vocalista do Nirvana culminaram em um dos momentos mais trágicos do rock. Parecia que todo o esforço das bandas para saírem do underground e chegarem ao mainstream fazendo um rock pesado e honesto tinha ido por água abaixo. Mesmo assim, o trio de ferro de Seattle, Alice in Chains, Pearl Jam e Soundgarden, continuou na ativa lançando belos trabalhos em seguida. 

O Soundgarden resolveu encerrar suas atividades logo após o lançamento do disco “Down on the Upside” de 1996 e Cris Cornell seguiu em carreira solo. Em abril 2002 o rock de Seattle sofreu outro baque, o vocalista do Alice in Chains, Layne Staley foi encontrado morto devido a uma overdose de drogas. Layne estava longe dos palcos há uns cinco anos e para quem o conhecia, sua morte não foi uma grande surpresa, devido a sua personalidade soturna e seu abuso de drogas pesadas.


Cris Cornell no começo dos anos 2000 se juntou aos integrantes do Rage Against The Machine e estava formada a superbanda Audioslave que lançou três discos e foi uma parceria mais do que bem sucedida. O vocal potente de Cornell combinou perfeitamente com as guitarras cheias de efeito do Tom Morello e o peso da cozinha do baterista Brad Wilk e do baixista Tim Commerford.


O Soundgarden voltou à ativa e em 2012 lançou o mediano (para os padrões Soundgarden) King Animal. A banda voltou a fazer turnês e o baterista Matt Cameron se revezava entre a banda e o Pearl Jam. Outra morte que aconteceu neste meio tempo foi a de Scott Weiland, do Stone Temple Pilots, em 2015. Mesmo a banda não sendo de Seattle e teoricamente não ter feito parte do Movimento “Grunge” foi contemporânea a estas bandas e sempre foi comparada (injustamente) com o Pearl Jam.


Muitas teorias irão aparecer sobre a trágica morte de Cris Cornell, a mais forte, cogitada por sua esposa é a de que Cornell tomou uma dose errada de um remédio controlado e teve alucinações suicidas. O certo é que o mundo do rock perdeu uma de suas maiores vozes e um artista que sempre exorcizou seus medos e angústias em letras soturnas e pessimistas. Mais uma morte trágica de um cenário musical que foi o último grande movimento de rock dos últimos tempos, em que grandes bandas chegaram ao sucesso fazendo um rock pesado e de muita qualidade.