O impacto da morte do cantor
Cris Cornell, vocalista do Soundgarden (e também do Audioslave e Temple of the
Dog) no dia 18 de maio reverbera até agora no mundo da música. Uma morte
inesperada, mesmo com um histórico trágico e sombrio por trás do rock feito
pelas bandas de Seattle. Cornell estava em plena forma, tinha acabado de fazer
um show na cidade de Detroit com o Soundgarden, quando decidiu tirar sua
própria vida em um quarto de hotel, aos cinquenta e dois anos, deixando a
esposa e três filhas.
A primeira morte relacionada
às bandas de Seattle aconteceu antes mesmo do que foi chamado anos mais tarde
de Movimento “Grunge” pelos jornais especializados estourar. O vocalista Andrew
Wood da banda Mother Love Bone faleceu em março de 1990 devido a uma overdose
de heroína, uma banda promissora que recebeu vários elogios da crítica com seu recém-lançado
disco de estreia, “Apple”. Como todos já sabem, os outros integrantes do Mother
Love Bone recrutaram um novo vocalista, chamado Eddie Vedder e formaram o Pearl
Jam. O resto é história.
O Soundgarden, ao contrário
do Pearl Jam que estourou logo de cara com seu disco de estreia, “Ten”, teve uma
evolução gradativa após o lançamento de seu primeiro disco, “Ultramega OK” de
1988, chegando ao sucesso mundial apenas em 1994, com o fantástico álbum “Superunknown”.
Cris Cornell e a galera do Soundgarden por serem uma das bandas pioneiras do
cenário de Seattle, sempre ajudaram de alguma forma as outras bandas, como o
Nirvana, por exemplo, que chegou a abrir alguns shows deles e assinou com a
gravadora Sub Pop por ter como referência os EPs “Screaming Life” e “Fopp”
lançados pelo Soundgarden pela Sub Pop.
A morte de Kurt Cobain em
abril de 1994 foi outra pá de cal no chamado Movimento “Grunge”. A relação do
abuso de drogas e a depressão do vocalista do Nirvana culminaram em um dos
momentos mais trágicos do rock. Parecia que todo o esforço das bandas para
saírem do underground e chegarem ao mainstream fazendo um rock pesado e honesto
tinha ido por água abaixo. Mesmo assim, o trio de ferro de Seattle, Alice in
Chains, Pearl Jam e Soundgarden, continuou na ativa lançando belos trabalhos em
seguida.
O Soundgarden resolveu
encerrar suas atividades logo após o lançamento do disco “Down on the Upside”
de 1996 e Cris Cornell seguiu em carreira solo. Em abril 2002 o rock de Seattle
sofreu outro baque, o vocalista do Alice in Chains, Layne Staley foi encontrado
morto devido a uma overdose de drogas. Layne estava longe dos palcos há uns
cinco anos e para quem o conhecia, sua morte não foi uma grande surpresa,
devido a sua personalidade soturna e seu abuso de drogas pesadas.
Cris Cornell no começo dos anos
2000 se juntou aos integrantes do Rage Against The Machine e estava formada a
superbanda Audioslave que lançou três discos e foi uma parceria mais do que bem
sucedida. O vocal potente de Cornell combinou perfeitamente com as guitarras
cheias de efeito do Tom Morello e o peso da cozinha do baterista Brad Wilk e do
baixista Tim Commerford.
O Soundgarden voltou à ativa
e em 2012 lançou o mediano (para os padrões Soundgarden) King Animal. A banda
voltou a fazer turnês e o baterista Matt Cameron se revezava entre a banda e o
Pearl Jam. Outra morte que aconteceu neste meio tempo foi a de Scott Weiland,
do Stone Temple Pilots, em 2015. Mesmo a banda não sendo de Seattle e
teoricamente não ter feito parte do Movimento “Grunge” foi contemporânea a
estas bandas e sempre foi comparada (injustamente) com o Pearl Jam.
Muitas teorias irão aparecer
sobre a trágica morte de Cris Cornell, a mais forte, cogitada por sua esposa é
a de que Cornell tomou uma dose errada de um remédio controlado e teve
alucinações suicidas. O certo é que o mundo do rock perdeu uma de suas maiores
vozes e um artista que sempre exorcizou seus medos e angústias em letras
soturnas e pessimistas. Mais uma morte trágica de um cenário musical que foi o
último grande movimento de rock dos últimos tempos, em que grandes bandas
chegaram ao sucesso fazendo um rock pesado e de muita qualidade.