29 de setembro de 2013

In Utero - O grande epitáfio do Nirvana

No mês de setembro completaram-se 20 anos do lançamento do álbum In Utero, último disco de estúdio do Nirvana. Para celebrar esta data, será lançada uma edição especial com faixas bônus e o dvd do show Live and loud, gravado pela MTV americana em dezembro de 1993.

Após o sucesso estrondoso de Nevermind e do lançamento da coletânea de raridades e sessões na rádio BBC, o Incesticide, era o momento do Nirvana lançar algo novo. Insatisfeitos com o som excessivamente bem produzido de Nevermind, a banda buscava agora uma sonoridade mais crua, que representasse melhor o som do Nirvana. Para isto foi chamado para a produção Steve Albini, líder da banda alternativa Big Black e produtor de discos como Surfer Rosa do Pixies e Rid of Me da PJ Harvey.


Em fevereiro de 1993, o grupo foi ao Pachyderm Studio para começar a gravar o álbum. Em janeiro do mesmo ano, fizeram a pré-produção do disco em sua passagem pelo Brasil, nos estúdios da BMG, no Rio de Janeiro e em São Paulo.

Para evitar a interferência da gravadora na gravação do disco, o Nirvana se isolou no estúdio e os integrantes pagaram do próprio bolso as sessões. Kurt Cobain escolheu Albini pelo fato dele ter produzido dois de seus discos favoritos, Surfer Rosa dos Pixies e Pod dos Breeders. Inspirado nestes álbuns, Cobain queria utilizar a técnica de gravação de Albini, que consistia em capturar o ambiente natural de um espaço, com a utilização de vários microfones.


Esta técnica utilizada por Albini, foi responsável pelo som de bateria ultra pesado do disco, ele colocou cerca de 30 microfones em volta do kit de bateria de Dave Grohl. A gravação do disco foi rápida, durou cerca de duas semanas, a banda optou em gravar tocando juntos, exceto nas músicas “Very Ape” e “Tourette´s”, em que a bateria foi gravada em separado, perto da uma cozinha, para captar a reverberação do local. A mixagem do álbum foi terminada em 5 dias.

Nem o Nirvana nem a gravadora ficaram totalmente satisfeitos com o som final do disco, eles acharam que os vocais ficaram muito baixos e o som do baixo ficou inaudível. Cobain tentou convencer Albini a remixar as músicas, mas Albini se recusou a voltar a trabalhar no disco, pelo fato de achar que tinha entregue a banda um disco com um som alternativo, conforme a banda queria.

Para solucionar este problema, foi chamado para remixar as faixas o produtor Scott Litt, que trabalhou em diversos discos do R.E.M. Foram remixadas as faixas que iriam para as rádios, como “Heart-Shaped Box” e “All Apologies”. O restante do álbum foi praticamente inalterado, somente sendo aguçado o som de baixo nas faixas e aumentado os vocais das músicas em 3 decibéis.


A arte do disco dirigida por Robert Fisher foi inspirada nos conceitos de nascimento e morte, sendo a capa um manequim transparente anatômico com asas de anjo e na contracapa foram utilizados modelos de fetos e partes de corpos sobre uma cama de orquídeas e lírios. 


In Utero não é um disco pesado somente em sua sonoridade, a temática do disco é muito forte, sendo citados temas como doenças, estupro, aborto e suicídio, temas muito difíceis, mas que faziam parte do universo doentio de Kurt Cobain.

Na música de abertura, “Serve the Servants”, Cobain fala sobre o episódio que marcou sua vida negativamente, o divórcio de seus pais. Depois deste fato sua vida nunca mais foi a mesma, ele passou seus dias de adolescência sem ter um lar fixo, o que culminou em sua personalidade soturna e depressiva. Trechos da letra como “Eu tentei arduamente ter um pai” e “Esse lendário divórcio está se tornando tão entediante” demonstram o trauma que foi em sua vida este divórcio. 


Em seguida, na música “Scentless Aprentice”, Kurt se inspira no livro O Perfume para fazer a letra. Neste livro é contada a história de um aprendiz de perfumista que tenta criar o perfume definitivo, matando mulheres virgens e ficando com seu perfume. Detalhe curioso da música é que o riff de guitarra foi feito pelo Dave Grohl, fora a bateria fantástica da música que dispensa comentários. 



“Heart Shaped Box” foi o primeiro single do disco e ganhou um clip fantástico dirigido pelo grande diretor Anton Corbijn (que dirigiu diversos clipes do Depeche Mode e o filme Control sobre o Joy Division). A letra da música, como a maioria das letras de Cobain é bem enigmática, mas dá a entender que fala da relação dele com sua mulher, Courtney Love, como nos trechos: “Ela me olha como uma pisciana quando estou fraco”, “Rompido o hímen de sua magnitude fui deixado para trás / Jogue seu cordão umbilical para que eu possa subir” ou “Eu comeria seu câncer quando você enegrecer”.



A música “Rape Me” causou muita polêmica, porém Kurt Cobain deixou claro em diversas entrevistas que era uma canção anti-estupro, tanto que a banda já tinha feito alguns shows beneficentes em apoio às vítimas de estupro. Alguns analisam a letra da música como uma forma de protesto com a Imprensa que de alguma forma invadia a vida pessoal de Kurt, prejudicando sua vida em algumas ocasiões, fato improvável, pois a música foi feita antes do Nirvana atingir o sucesso.

Em “Frances Farmer Will Have Her Revenge on Seatlle” Cobain se inspira na biografia da atriz Frances Farmer. No refrão da música declara: “Sinto a falta do conforto de estar triste”. “Dumb” é o momento de calmaria do disco, com uma letra que fala sobre a culpa de Kurt em não se sentir totalmente feliz. “Very Ape” tem um grande riff de guitarra, demonstrando a evolução de Kurt e da banda em relação às composições de Nevermind.




“Milk It” é outra música que fala sobre a relação de interdependência de Kurt e Courtney Love como nos trechos: “Nós alimentamos um ao outro / Nós podemos dividir nossa endorfina” ou “Seu leite é minha merda / minha merda é o seu leite” e a parte mais dura da letra: “Pense no lado bom do suicídio”. Realmente era o sinal de que nada ia bem na vida de Kurt.

Em “Pennyroyal Tea” a letra fala de uma substância abortiva: “Sente-se e tome chá de poejo / Descontinue a vida que há dentro de mim” e também fala dos graves problemas estomacais de Cobain, algo que prejudicou muito a vida de Kurt, levando o mesmo a utilizar heroína como anestésico para suas fortes dores.

“Radio Friendly Unit Shifter” mostra o caminho musical que provavelmente o Nirvana iria seguir, uma linha mais barulhenta, abusando das microfonias e efeitos de guitarra. “Tourette´s” é uma pedrada, talvez a música mais pesada do disco. Cobain deve ter se inspirado na doença Sindrome de Tourette, doença bem comum em moradores de rua, em que a pessoa começa a gritar palavrões de forma repetitiva.


Para fechar o álbum, em “All Apologies” questiona sua vida: “Estou casado / enterrado” “O que mais poderia ser? / Somente desculpas”. As edições não americanas do disco ainda contam com uma música a mais a “Gallows of Rubbing Alcohol Flow Trought the Strip”, que foi gravada no estúdio do Brasil.

Com o álbum In Utero, o Nirvana conseguiu o que parecia impossível, fazer um disco ainda melhor do que Nevermind, um disco mais pesado e com uma sonoridade que demonstrava mais o que era o Nirvana ao vivo, um som rústico, mas mesmo assim com grandes melodias. Kurt conseguiu transformar seu mundo doentio em uma grande peça de arte, colocando beleza em seu último suspiro musical, um artista que no fundo queria viver, mas foi vencido pelas drogas e pela falta de amor familiar. 


27 de setembro de 2013

Alice in Chains relembra última grande fase do rock em show em São Paulo

Quando o Alice in Chains anunciou que iria voltar à ativa com um novo vocalista, após a morte do vocalista e fundador da banda Layne Staley, muitos (inclusive eu) duvidaram que isto daria certo e que a banda continuasse a fazer grandes músicas. 


O novo vocalista, William Duvall, já gravou dois bons discos com o Alice in Chains, Black Gives Way to Blue de 2009 e The Devil Puts Dinossaurs Here de 2013 e mostrou personalidade ao assumir os vocais da banda, mesmo com um timbre de voz e visual diferentes ao de Layne Staley.


Ontem a banda se apresentou em São Paulo, no Espaço das Américas e fez um show que relembrou a última grande fase do rock, o início dos anos 90, em que várias bandas de Seattle como Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden despontaram no cenário mundial, com grandes músicas e um rock bem mais autêntico do que as bandas atuais.

O show começou com a pedrada “Them bones” do álbum de maior sucesso da banda, Dirt de 1992, já mostrando que o show iria priorizar os grandes hits. Logo após veio “Dam the river” do mesmo disco, levantando o público e com um som muito bom, mesmo com a acústica não muito favorável do Espaço das Américas.


As músicas dos últimos dois discos com Duvall se encaixaram bem no repertório do show, com bom recebimento do público, como “Check my brain” , “Hollow” e “Stone”, mostrando que ele foi aprovado pelos fãs da banda.




O grande destaque da banda, é claro, é o guitarrista Jerry Cantrell, um dos melhores guitarristas de sua geração, que tem total domínio de seu instrumento e ainda hoje faz grandes riffs de guitarra e belos solos. A combinação de vozes entre Cantrell e Duvall funciona muito bem, o que é de suma importância na maioria das músicas da banda. Destaque também para o baixista Mike Inez, que já tocou com o Ozzy Osbourne e para o excelente baterista Sean Kinney.

Outras músicas que levantaram a plateia foram as músicas do último disco de estúdio com Layne Staley, o álbum Alice in Chains de 1995 (mais conhecido como disco do cachorro). “Again” e a surpresa “Grind” levaram os fãs (eu inclusive) a uma espécie de túnel do tempo, para uma época em que o rock estava em alta e a MTV passava as bandas de Seattle direto em sua programação.

Para fechar o show, no bis, a banda volta vestida com a camisa da seleção brasileira (o vocalista William Duvall ficou a cara do jogador Dante) e tocou as clássicas “Would?” e “Rooster” ambas do álbum Dirt. No final rolou uma homenagem com as camisas da seleção com o nome do falecido vocalista Layne Staley e do também falecido baixista Mike Starr penduradas no palco.

Um dos poucos aspectos negativos foi a curta duração do show, apenas uma hora e meia, (sendo que Bruce Springsteen, na casa dos 60 anos fez um show de três horas uma semana antes no mesmo local). No final das contas o saldo foi bem positivo, a banda fez um show de rock com muita competência e sem muita enrolação, mostrando que é uma das maiores bandas da geração anos 90.

Setlist:

Them Bones
Dam That River
Hollow
Check My Brain
Again
Man in the Box
Your Decision
Last of My Kind
Stone
No Excuses
It Ain't Like That
We Die Young
Sludge Factory
Grind
Nutshell

Bis:

Would?
Rooster

26 de setembro de 2013

Thom Yorke faz disco envolvente em Amok

Só agora fui ouvir o novo projeto de Thom Yorke chamado Atoms for Peace. O que era apenas para ser sua banda de apoio em sua turnê solo acabou virando um grande projeto musical. Nesta nova banda, Thom Yorke tem a companhia de Flea do Red Hot Chilli Peppers no baixo, o produtor Nigel Godrich nos teclados, programações e guitarras, Joey Waronker, que já tocou com Smashing Pumpkins e Beck, na bateria e Mauro Refosco na percussão.


O disco Amok, lançado em março deste ano, segue a linha dos últimos trabalhos de Yorke, tanto com o Radiohead em seu último álbum King of Limbs, ou em seu disco solo chamado The Eraser. O som continua predominantemente eletrônico, fazendo fundo para as lamentações e esquisitices de Thom Yorke, com grande influência do som de bandas do Krautrock dos anos 70, como Can e Neu.

Neste disco, porém, ao contrário de King of Limbs, (que até hoje não consegui definir se gostei ou não) Yorke consegue criar um clima mais envolvente e mais inspirado do que seu último álbum com o Radiohead. Os arranjos, basicamente só com bateria eletrônica e efeitos, fazem uma base que combina perfeitamente com as harmonias vocais de Yorke.


Um dos destaques do disco é a música “Ingenue”, que ganhou um clipe em que Yorke mostra seus dotes de dançarino, ao lado de uma versão feminina sua:



Flea deve ter participado deste projeto pelo fato de ser um som totalmente diferente daquele que ele toca no Red Hot Chilli Peppers, (uma banda que cada vez mais faz música sob encomenda para as rádios). Ele tem neste disco uma função bem diferente do que em sua banda principal. Aqui em vez de fazer um som funkeado, faz uma base sólida com seu baixo, com progressões muito interessantes, que casam muito bem com a sonoridade do disco.


Outro diferencial do disco é a parte percussiva, que fica a cargo de Mauro Refosco. Na música “Unless”, a marcação lembra um pouco um baião, tocado de uma forma mais acelerada. 




Realmente o disco Amok deu liga, graças também ao grande entrosamento dos integrantes, que mesmo com estilos diferentes conseguiram criar um belo álbum. Agora é esperar para ver se Yorke segue com o Radiohead ou se aventura em uma nova empreitada musical. 









22 de setembro de 2013

A obra prima de Raul Seixas: Gita

Uma vez há alguns anos, trabalhei com um cara que uma vez me disse que a música do Raul Seixas era (palavras dele) uma “baianice”, de forma pejorativa. Eu na época, não conhecia tanto a obra de Raul, apenas tinha aquela imagem do cantor maluco beleza, que gravou com o Balão Mágico e que tinha diversos covers mais malucos ainda, por isto nem falei nada para este cidadão.

Hoje, conhecendo um pouco melhor a obra deste grande artista da música brasileira, teria xingado este cara e falado que ele não entende porra nenhuma de música. Raul Seixas foi um artista revolucionário, de grande talento, que deixou uma obra de grande qualidade. 


Em 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho criaram a Sociedade Alternativa, inspirada nos conceitos de Aleister Crowley, no qual o lema era “Faça o que tu queres, há de ser tudo da lei”. A ditadura militar através do Dops prendeu e mandou para o exílio nos Estados Unidos, Paulo Coelho e Raul Seixas, pois pensavam que a Sociedade Alternativa era um movimento armado contra o governo.

Gita, terceiro álbum de Raul, foi lançado em 1974 e foi o disco mais vendido de sua carreira, alcançando a marca de 600 mil cópias. A capa do disco é uma provocação ao regime militar, nela o cantor está vestido de guerrilheiro com um boné ao estilo Che Guevara e uma guitarra vermelha, em clara alusão ao socialismo.

O álbum tem como grande característica o ecletismo de estilos musicais, entre eles o rock, o folk, baião, bolero e blues. Logo na primeira música “Super Heróis”, Raul narra uma história cômica e coloca diversas personalidades no meio da viagem, como Pelé, Emerson Fittipaldi e Marlon Brando.


Na música “Medo da Chuva”, Raulzito demonstra na letra que não acredita muito na monogamia, fato que se comprova no documentário “O início, o fim e o meio” no qual a fama de conquistador do músico é comprovada pelas suas musas.

Em “As aventuras de Raul Seixas na cidade de Thor”, um baião com letra em forma de repente, Raul critica aqueles que o acusam de “Profeta do apocalipse”. “Moleque maravilhoso” tem um clima meio Frank Sinatra, com arranjo ao estilo big band, outra música que demonstra a versatilidade do disco.



Logo na música seguinte, o Maluco Beleza já muda totalmente de estilo e faz um bolero ao estilo Nelson Gonçalves na música “Sessão das dez”, com uma grande interpretação vocal. Na sequência três clássicos da carreira de Raul “Sociedade Alternativa, “Trem das sete” e “S.O.S”.

Para terminar este clássico álbum vem a música “Gita” talvez a canção mais emblemática da carreira de Raul Seixas. A música foi inspirada no livro hindu com mais de seis mil anos chamado “Bhagavad Gita”. A música fez grande sucesso na época e ganhou um clip no programa Fantástico. 


Raul Seixas nos deixou no dia 22 de agosto de 1989, devido a complicações geradas pelo alcoolismo, porém sua obra continua atual e sua contribuição para a música brasileira está marcada para sempre, um artista que deixou um legado de ousadia e desprendimento ao que está estabelecido. 










18 de setembro de 2013

Pearl Jam lança novo single

Mês que vem mais precisamente no dia 15 de outubro sairá o novo álbum do Pearl Jam chamado Lightning Bolt. Este será o primeiro álbum da banda depois do disco Backspacer de 2009.


A música em questão se chama “Sirens”, uma belíssima balada de quase seis minutos, bem característica do Pearl Jam, com grande interpretação vocal de Eddie Vedder. Segue abaixo o clipe oficial da música:



No começo do mês a banda já tinha lançado o single “Mind your manners”, uma música mais pesada e mais puxada para o punk:



Essas duas músicas lançadas pelo Pearl Jam demonstram que um grande disco vem por aí e que provavelmente deve superar o disco anterior, o regular Backspacer. Assim que o disco for lançado farei uma análise do novo álbum aqui no blog.

Tracklist de Lightning Bolt:

01. Getaway
02. Mind Your Manners
03. My Father’s Son
04. Sirens
05. Lightning Bolt
06. Infallible
07. Pendulum
08. Swallowed Whole
09. Let The Records Play
10. Sleeping By Myself
11. Yellow Moon
12. Future Days

16 de setembro de 2013

Ideologia: Eu quero uma para viver

Lá se vão 25 anos do lançamento do disco Ideologia de Cazuza e as letras e concepções ideológicas do disco continuam atuais. Ideologia foi o terceiro e melhor disco da carreira solo de Cazuza, lançado depois de Exagerado (1985) e Só se for a dois (1987).

Em 1988, após fazer tratamento contra a AIDS no final de 1987, Cazuza começou as gravações daquele que seria seu melhor e mais elaborado disco até então. A banda de apoio para a gravação do disco contava com os seguintes integrantes: Nilo Romero no baixo, Rogério Meanda na guitarra, João Rebouças nos teclados e Fernando Moraes na bateria e percussão.




O disco já diz a que veio a partir de sua capa, no qual são misturados diversos símbolos ideológicos, como a Suástica e a Estrela de Davi, o que gerou certa polêmica na época. Nada mal para Cazuza, um artista provocador e irreverente desde sempre. A produção ficou a cargo de Nilo Romero e o amigo de longa data Ezequiel Neves.

Começando pela música título, o riff de guitarra clássico e primeira frase da letra da música “Meu partido/É um coração partido” já demonstram que não se trata de um disco qualquer. “Meu heróis morreram de overdose/ Meus inimigos estão no poder” é outra frase clássica e emblemática do disco, culminando com o refrão perfeito “Ideologia/ Eu quero uma pra viver”. 





Na segunda música, “Boas Novas” Cazuza já mostra sua luta contra a AIDS: “Senhoras e senhores/ Trago boas novas/ Eu vi a cara da morte e ela estava viva”. Em “O assassinato da flor”, é narrada em forma de poesia a história de uma fã que quer entregar-lhe flores “Foi por amor/ O assassinato da flor”.

Em “Orelha de Eurídice” Cazuza faz uma analogia utilizando o personagem da mitologia grega, se destacando o arranjo de saxofone da música. “Guerra Civil” é uma parceria de Cazuza com o cantor Ritchie.

A música “Brasil” é um dos maiores clássicos do rock brasileiro e da carreira de Cazuza, uma parceria com George Israel do Kid Abelha, uma letra atual até os dias de hoje, “Brasil mostra a tua cara/ Quero ver quem paga pra gente ficar assim” ou “Meu cartão de crédito é uma navalha”. “Brasil” fez sucesso também na voz da Gal Costa, sendo a música trilha sonora da novela global “Vale Tudo” em 1988.


“Um trem para as estrelas” é uma parceria com Gilberto Gil, outra belíssima música com um arranjo bem sutil, mas com uma letra nem tanto “Estranho teu Cristo Rio/Com os braços sempre abertos/ Mas sem proteger ninguém”. “Vida fácil” critica aqueles que só querem se dar bem e “Blues da Piedade” declara: “Vamos pedir piedade/ Senhor piedade/ Pra essa gente careta e covarde”

“Obrigado por ter se mandado” é outra letra irônica de Cazuza, agradecendo ao amor que se foi por ter saído de sua vida. “Minha flor, meu bebê” é uma balada com uma letra muito bela, um dos momentos suaves do disco. Para finalizar, “Faz parte do meu show” com seu arranjo de cordas, meio bossa nova, mostra na letra um Cazuza romântico e provocador. Ganhou o prêmio de melhor música do Troféu Imprensa de 1988.

Cazuza nos deixou no dia 7 de julho de 1990, deixando um legado inestimável para o rock e a música brasileira em geral. Um artista único que com este disco conseguiu reunir aquilo que tinha de melhor em seu trabalho, tanto como letrista, tanto como cantor.