Em 1979 a fase de euforia em
relação ao movimento punk já havia passado e um dos nomes mais importantes do
estilo, o The Clash, se preparava para gravar seu terceiro disco de estúdio,
após o disco de estreia de 1977 e o segundo, Give´Em Enough Rope de 1978.
A banda em seus primeiros álbuns já dava pistas que iriam além dos três acordes
e da sonoridade punk, mas seu disco mais variado musicalmente e mais audacioso
ainda estava por vir.
Quando começaram a gravar o
disco, o Clash passava por um momento conturbado, pois tinham mandado embora dois
empresários em sequência. Produzido por Guy Stevens, London Calling foi uma
guinada na carreira da banda, mostrando novas influências e ritmos musicais
como Ska, Reggae, Rockabilly e até mesmo Jazz, algo impensável para os mais
ortodoxos punks.
A faixa de abertura que dá
nome ao disco é um petardo que mostra o inconformismo do grupo com a situação
política e social do mundo, citando o desastre nuclear de Three Mile Island e
criticando a euforia criada pela mídia com o fenômeno do Punk Rock no final dos
anos 70: “Chamando Londres, não esperamos que você nos guiará /A falsa
Beatlemania mordeu a poeira".
A canção “London Calling” se
tornou um hino inconformista e tem um ritmo contagiante que parece mesmo um
chamado contra o conformismo e as injustiças sociais. A linha de baixo marcante
e a interpretação forte e segura do vocalista Joe Strummer tornaram a canção um
dos maiores clássicos do rock em todos os tempos.
“Brand new cadillac” é
originalmente do cantor Vince Taylor, um Rockabilly gravado nos anos 60
enquanto “Jimmy Jazz” é uma canção com bastante influência do Jazz que na letra
critica a violência policial. “Hateful” foi influenciada pelas canções de Bo
Diddley, um dos pioneiros do Rock e “Rudie can´t fail” mistura Ska e Soul
Music.
“Spanish Bombs” fala sobre a
Guerra Civil Espanhola, com uma belíssima letra, mostrando a vertente
politizada da banda. “Lost in the supermarket” é cantada por Mick Jones e
mostra a veia mais pop do Clash, em uma letra que critica o consumismo. “Clampdown”
é uma porrada que critica o capitalismo e o sistema, em uma das canções mais incendiárias
da banda.
O Reggae “Guns of Brixton” é
cantada pelo baixista Paul Simonon e mostra como o Clash influenciou muitas
bandas mundo afora, como Rancid (praticamente uma cópia do Clash) entre outras.
“Train in vain” é o lado romântico do grupo e um de seus maiores sucessos
radiofônicos. A banda Garbage até sampleou a batida inicial em um de seus
maiores sucessos, “Stupid Girl”.
A capa do álbum é também um
clássico, na imagem o baixista Paul Simonon quebra seu baixo em um
show. A arte foi inspirada na capa do primeiro disco de Elvis Presley, lançado
em 1956. Isto mostra como o Punk sempre buscou resgatar as raízes do Rock, a
sua simplicidade harmônica e o seu ritmo contagiante. O
Clash com sua consciência política exigiu que o disco mesmo sendo duplo fosse
vendido pelo preço de um o que acabou sendo acatado pelos lojistas em geral.
London Calling se
transformou em um dos maiores clássicos do Rock e mostra uma banda em seu auge
criativo, mostrando a evolução musical de Strummer e Cia. Um álbum que foi
muito além do Punk e se tornou disco de cabeceira de muitos jovens ao redor do mundo, em uma época que garotos montavam bandas para tentar mudar o
mundo e não apenas para ficarem famosos e ganhar rios de dinheiro.