30 de abril de 2014

Discografia Básica - Revoluções Por Minuto

Em 1984 o RPM gravou um EP que já contava com as músicas “Louras Geladas” e “Revoluções por minuto”. Neste registro a banda utilizou bateria eletrônica, pois seu baterista, Charles Gavin, saiu do grupo para integrar o Titãs, substituindo André Jung. (Leia mais sobre isto aqui).


Este EP gerou interesse de várias gravadoras e o RPM acabou fechando contrato com a gravadora Sony. Em 1985 sairia o primeiro disco da banda, Revoluções Por Minuto. A capa do disco foi uma escolha dos músicos de um quadro feito por um amigo artista plástico. A gravadora não gostou muito da escolha, pois queria uma foto dos integrantes na capa, tentando explorar a boa aparência de Paulo Ricardo e Fernando Deluqui, porém o desenho estilizado da banda foi o escolhido. O baterista P.A. não aparece na capa, pois entrou no grupo no meio das gravações do álbum.

Não demorou muito para o disco estourar. Logo na primeira música, “Rádio pirata”, a banda constrói um verdadeiro hino, com um refrão contagiante. O tecladinho simples, mas extremamente “ganchudo”, com uma linha de apenas três notas feito por Luiz Schiavon virou um dos riffs mais interessantes do rock nacional até então. Ponto para Schiavon, que mesmo sendo um pianista com formação erudita, conseguia criar algo simples, mas extremamente interessante.



“Olhar 43” foi outro sucesso estrondoso do disco. A linha de baixo feita com Slap por Paulo Ricardo, mostra que ele não só era um galã que agradava as meninas, mas também um bom instrumentista que tinha muito conhecimento técnico. Mesmo com uma letra complexa (mas muito bem construída) e sem refrão a música foi uma das mais tocadas daquele ano.

O belo piano e o clima emocional de “A cruz e a espada” fizeram desta canção uma das mais belas do disco. Alguns anos depois a música foi regravada com a participação de Renato Russo. O belo rock “Estação do inferno” mostra bem o que era o RPM, uma banda extremamente coesa, que conseguia misturar elementos do rock com sintetizadores, com extrema competência.

“Louras Geladas” selou de vez o sucesso do RPM no país inteiro, tocando exaustivamente em várias rádios ao mesmo tempo. Este sucesso gerou uma espécie de “Beatlemania” em relação à banda, com fãs enlouquecidas na porta do hotel, gritando o dia inteiro e shows lotados pelo Brasil todo. 



Enquanto o lado A do álbum era mais pop, com músicas mais dançantes, o lado B era bem mais denso. A banda mergulhava no rock progressivo e fazia letras mais sérias e politizadas. Músicas como “Liberdade / guerra fria”, “Juvenília” e a pesada “P´resse Vício” tinham letras que retratavam a realidade política e econômica da época.

Para encerrar o álbum, a emblemática “Revoluções por minuto”, foi feita em cima da um som de teclado sequenciado, que teve sua velocidade aumentada e fica em repetição. O forte barulho do começo da música se tratava de uma corrente de ferro sendo jogada em um cinzeiro. Com uma letra contundente que retratava a situação política daquele momento, mostra que Paulo Ricardo era um talentoso letrista também.




Revoluções Por Minuto foi um daqueles momentos da música em que tudo se encaixou perfeitamente. A química entre os integrantes, o momento da indústria musical da época, que precisava de uma sonoridade mais moderna e a necessidade de ídolos da juventude dos anos 80 geraram um dos melhores álbuns de rock feitos no Brasil. O talento dos quatro integrantes também foi fundamental para o êxito deste trabalho. O RPM infelizmente nunca mais chegou perto da qualidade deste álbum, mas deixou uma marca definitiva na história da música brasileira.







28 de abril de 2014

20 anos sem Cobain - 10 covers do Nirvana

Talvez o Nirvana tenha sido a maior banda dos 90 ou uma das maiores no mínimo. Mas é difícil para alguns entenderem tal afirmação, pois como uma banda com um instrumental tão simples, poderia ter um som tão poderoso e marcante?


Kurt Cobain era um cara fanático por música e tinha inúmeras influências, que colaboraram e muito para a solidificação do estilo único do Nirvana, uma banda que conseguia ser underground e pop ao mesmo tempo, ter um som sujo e pesado e com melodias assoviáveis.

Entre as bandas ouvidas por Kurt Cobain estava até a brasileira Os Mutantes, apresentada por um amigo através de uma fita cassete. Kurt chegou até a escrever um bilhete para o mutante Arnaldo Baptista, em que ele falava em ser engolido pelo sistema.

Para entender um pouco melhor este caldeirão de influências, vamos mostrar neste post alguns covers feitas pelo Nirvana em sua carreira e as versões originais.

“Do you love me?” – Kiss

Este cover mostra o lado mais brincalhão do Nirvana, que costumava no começo de carreira fazer shows mais descontraídos, com covers inusitados.





“D7” – Wipers

Wipers foi uma banda punk norte americana que influenciou diversas bandas do rock alternativo da década de 90. O Nirvana também tocava outra música deles “Return of the rat”. “D7” faz parte do primeiro disco do Wipers, “Is this real”, de 1980.





“My best friend´s girl” – The Cars

O The Cars foi uma banda new wave que surgiu no final dos anos 70. Neste cover Kurt Cobain demonstrava o gosto pelo rock mais pop da new wave. 





“Turnaround” – Devo

Gravada no disco “Incesticide” de 1992, esta é outra música que mostra a influência da new wave no som do Nirvana, através deste cover da banda mais performática dos anos 80.





“Love Buzz” - Shocking Blue

Shocking Blue foi uma banda de rock psicodélico holandesa do final dos anos 60. Love buzz foi gravada pelo Nirvana no álbum Bleach de 1989.





“The man who sold the world” - David Bowie

Falar de David Bowie é chover no molhado, um dos artistas mais influentes da música. Este cover foi gravada pelo Nirvana no Unplugged in New York lançado em cd em 1994.





“Jesus doesn’t want me for a sunbeam” – Vaselines

Vaselines era uma das bandas favoritas de Kurt. Esta versão foi gravada também no Unplugged in New York. Além desta versão, o Nirvana regravou as músicas “Son of a gun” e “Molly´s lips” no disco Incesticide de 1992.





“My Sharona” - The Knack

Cobain era fascinado pelo primeiro disco desta banda, Get the Knack de 1979. Kurt gostava muito de bandas com apelo pop, principalmente aquelas que não ficaram tão conhecidos do grande público.





“Lake of fire” - Meat Puppets

O Meat Puppets é uma banda que mistura country com rock alternativo. A inventividade do som atraiu Kurt, que virou grande fã da banda, que fez uma participação em três músicas do Unplugged in New York, todas elas de autoria dos irmãos Kirkwood.





“Where did you sleep last night” – Leadbelly

O bluesman Leadbelly influenciou inúmeros fãs famosos do rock, entre eles vários artistas da galera de Seattle. Além de ser gravada pelo Nirvana no Unplugged, esta música foi gravada pelo ex-vocalista do Screaming Trees, Mark Lanegan em seu primeiro disco solo, Winding Sheet de 1990.





23 de abril de 2014

Bandas que mudaram de vocalista (e que se deram muito mal)

É comum no meio da música e principalmente do rock, uma banda perder um vocalista. Seja por disputa de egos, morte ou pelo fato do vocalista seguir em carreira solo, algumas bandas tem a difícil tarefa de procurar um substituto e rezar para que os fãs aceitem esta nova fase do grupo.

Alguns grupos se deram bem e tiveram boa aceitação do público com seus novos vocalistas, como por exemplo Alice in Chains, AC/DC, Barão Vermelho entre outras. Outras bandas não tiveram a mesma sorte e tiveram que voltar atrás em suas novas escolhas. Vamos falar de algumas destas presepadas do rock e seus desdobramentos.


Echo & The Bunnymen


No final dos anos 80 o vocalista Ian McCulloch deixou a banda para seguir em carreira solo e foi substituído por Noel Burke. A banda lançou em 1990 o disco Reverberation com o novo vocalista. O resultado final não foi tão ruim, porém era difícil substituir um vocalista com uma voz tão marcante como McCulloch. Pouca gente deu crédito a este disco e logo Burke estava fora da banda. McCulloch voltou à banda em 1997 para alegria dos fãs e gravou mais cinco discos com o grupo, que está em atividade até hoje.





Van Halen


O Van Halen já tinha mudado de vocalista, Sammy Hagar entrou no lugar de Dave Lee Roth em 1985 e conseguiu algo improvável, agradou os fãs antigos e conseguiu conquistar novos fãs, mesmo com seu estilo bem diferente do antigo vocalista. Em 1996 ele saiu da banda e aí o Van Halen já estava abusando da sorte. No seu lugar entrou o vocalista do Extreme, Gary Cherone. Com este novo cantor o grupo lançou em 1998 o disco Van Halen III, que é considerado um dos trabalhos mais fracos da banda. Cherone não durou muito no Van Halen e o vocalista original Dave Lee Roth voltou à banda para delírio dos fãs antigos, gravando em 2012 o disco A Different Kind of Truth.





Iron Maiden


Bruce Dickinson substituiu o vocalista Paul Di´Anno em 1981 e se tornou a grande marca vocal do Iron Maiden. Em 1993 saiu da banda para sair em carreira solo e foi substituído por Blaze Bayley. Os fãs xiitas do Maiden nunca aceitaram o novo vocalista, que gravou os discos The X Factor e Virtual XI. Bayley saiu da banda e em 1999, para alegria dos fanáticos fãs, Dickinson voltou ao Maiden e continua até hoje. O engraçado é que a única música que eu gosto da banda, Man on the Edge é com Bayley nos vocais. Deve ser pelo fato de não ser fã do som feito pelo Iron Maiden.





 INXS


Com a morte de seu vocalista Michael Hutchence em 1997, o INXS decidiu arranjar um substituto para seu carismático vocalista. Foi criado um reality show em 2004 chamado Rock Star para escolher um novo cantor para o grupo. J. D. Fortune foi o ganhador e gravou em 2005 o disco Switch. Obviamente não chegou ao sucesso dos discos com Hutchence, só que infelizmente o INXS não poderia chamar seu antigo vocalista de volta.





Capital Inicial


Pouca gente sabe, mas o Capital teve outro vocalista além de Dinho Ouro Preto. Em 1993 ele brigou com os outros integrantes e fundou outra banda chamada Vertigo, lançando um disco solo em 1995 também. No seu lugar entrou Murilo Lima que gravou com o Capital o álbum Rua 47. O disco não teve nenhum sucesso e logo Murilo Lima saiu da banda. Dinho Ouro Preto retornou ao grupo em 1998 e segue até hoje à frente dos vocais da banda de Brasília.





21 de abril de 2014

Novos sons: Savages

O rock atual está infestado por bandas indies “coxinhas” que fazem um som bem comercial travestido de música alternativa. Bandas como Arcade Fire, que fazem um rock de arena, mas se dizem alternativos só para agradar o público em geral. Na maioria destas bandas falta aquela pegada, aquele “punch” que o rock antigamente costumava ter.


Algumas bandas acabam resgatando então esta pegada de fases anteriores do rock. Este é o caso da Savages, um quarteto inglês só de garotas, que tem como integrantes a vocalista Jehnny Beth, a guitarrista Gemma Thompson, a baixista Ayse Hassan e a baterista Fay Milton. Impossível ouvir a banda e não associar o som a grupos do pós-punk como Siouxsie and the Banshees e Joy Division, principalmente pela voz de Jehnny e as linhas de baixo marcantes de Ayse Hassen.


A primeira vez que ouvi falar da banda foi quando o jornalista André Barcinski comentou sobre o show delas no Lollapalooza do Chile deste ano, falando sobre como eram sexys e boas de palco. Confesso que quando vi um clipe da banda não achei nada de sexy ali, mas vendo depois o show delas pela tv no Brasil vi que realmente a vocalista é mesmo sexy mesmo com aquele visual Ian Curtis dela. Aliás, o show delas no Lollapalooza Brasil foi um dos melhores do festival, com muito vigor e com um rock muito bem tocado. 

Ano passado saiu o primeiro disco da banda, Silence Yourself. Neste trabalho de estreia o grupo mostra um rock com bastante distorção, baixo pulsante e bateria furiosa. As letras também são boas e passam longe do feminismo panfletário que se espera de uma banda atual que só tenha mulheres com visual forte e andrógeno. Com forte apelo visual, o Savages mostra uma banda feminina que não precisa apelar para vulgaridade para se destacar, outra qualidade a ser valorizada nesta banda.



A música de abertura “Shut up” já mostra logo de cara as principais características da banda, uma guitarra nervosa, linha de baixo muito bem marcada, bateria forte e a interpretação segura da vocalista Jehnny Beth. As distorções da boa guitarrista Gemma Thompson dão tom nas músicas seguintes, como em “I am here” e “City´s Full”. Os belo riffs de “Strife” e “She will” (riff que lembra mais bandas do rock alternativo americano como Sonic Youth e Mudhoney), também se destacam neste disco.



A banda também acerta quando desacelera um pouco como em “Waiting for a sign” e na bela música de encerramento “Marshall dear”. Na instrumental “Dead nature” podemos perceber que o grupo também ouviu muito Bauhaus em sua formação musical. A temática do disco também é interessante, o nome do disco (traduzindo: Silencie-se) mostra a ideia do ser humano voltar mais a si mesmo, olhar e refletir sobre suas atitudes.





As meninas do Savages se sairiam muito bem neste primeiro disco, com um rock pulsante e direto, mostrando serem boas instrumentistas. Um rock não muito original, que remete a várias influências oitentistas, mas com mais acertos do que erros. Uma banda com muito mais testosterona do que muita banda por aí que só tem marmanjos. 





16 de abril de 2014

Antes tarde do que nunca – O primeiro disco solo de Johnny Marr

Johnny Marr foi guitarrista de uma das maiores de todos os tempos, o The Smiths e só depois de 26 anos do término da banda lançou seu primeiro disco solo: The Messenger, lançado em fevereiro de 2013. Só agora peguei para ouvir este trabalho e não consigo para de ouvir, um grande disco sem dúvida alguma.


No Smiths se destacava como um dos melhores guitarristas de sua geração, com sua guitarra econômica e ao mesmo tempo genial, seus arpejos e dedilhados que transformaram as músicas do grupo inglês em verdadeiros hinos de uma juventude desiludida e sem rumo da Inglaterra. A briga entre Marr e Morrissey é um das mais emblemáticas e misteriosas da história do rock. Os dois já receberam ofertas milionárias de diversos festivais mundo afora e nunca aceitaram fazer uma reunião de volta do Smiths.



Após o traumático término da banda, Marr participou de diversos projetos. O mais famoso deles é o Electronic, com o vocalista do New Order, Bernard Summer e com participações do vocalista do Pet Shop Boys, Neil Tennant. Este grupo tinha um som bem diferente do Smiths e era obviamente uma mistura de New Order com Pet Shop Boys. Com o Electronic lançou três discos: Electronic (1991), Raise the Pressure (1996) e Twisted Tenderness (1999). Também tocou em dois discos da banda The The entre o final da década de 80 e início da década de 90.





Nos anos 2000 fez participação com diversos grupos, entre eles Modest Mouse e The Cribs. Finalmente lançou em 2013 seu primeiro disco solo. The Messenger é um álbum com bastante apelo pop, grandes melodias e não lembra muito o som feito pelo guitarrista na época do Smiths.

O disco tem certa dose de peso nas guitarras como na faixa de abertura “The right right thing” e em “Generate Generate”. Marr capricha nas melodias vocais, lembrando um pouco o som de bandas como Teenage Funclub em “Lockdown” e “Upstars”. Mesmo não tendo uma voz tão potente, constrói belas harmonias e mostra segurança na interpretação das músicas.



Outro destaque do disco como não poderia deixar de ser é a guitarra de Marr. Como sempre econômico e certeiro nos pequenos detalhes, cria linhas de guitarras que ficam na cabeça como na música título “The Messenger” e em “The crack up”, mostrando que continua em forma e sendo um dos melhores guitarristas em atividade.

Neste primeiro trabalho, Marr dá uma aula para as bandas indies da atualidade. Mostra que às vezes o simples é o mais certo, fazer melodias simples e certeiras não fazem mal a ninguém. Que este seja o início de vários grandes lançamentos, e que novas bandas se inspirem mais no trabalho deste grande artista.





14 de abril de 2014

20 anos sem Cobain - As gravações de Nevermind

Depois do lançamento de Bleach e a crescente popularidade da banda no meio da cena underground do rock americano, era o momento do Nirvana lançar seu segundo disco. Kurt Cobain queria dar novos rumos à sonoridade da banda. Estava um pouco cansado daquele som “metálico” e sujo de Bleach e queria fazer um som mais pop, mais palatável, mas sem perder o peso do rock que o grupo fazia.


Em meados de 1990 a banda já tocava músicas que fariam parte deste próximo álbum. Canções como “Lithium”, “In bloom”, “Polly” e “Breed” (que se chamava “Imodium” nas primeiras apresentações) já eram tocadas com o baterista Chad Channing. Cobain não estava satisfeito com o som que Chad estava fazendo nestas novas músicas. O estilo dele combinava como as músicas de Bleach, mas faltava mais versatilidade para o novo som que Kurt queria fazer.

Cobain então decidiu demitir Chad Channing da banda. Ele não chegou a falar para Chad diretamente que ele estava fora, apenas colocou um anúncio procurando um novo baterista e avisou que eles iriam viajar para excursionar sem ele. Os substitutos neste período foram Dale Crover do Melvins e Dan Peters do Mudhoney.

Certa vez Kurt e Krist Novoselic assistiram ao show da banda Scream que tinham na bateria Dave Grohl.  Eles ficaram espantados com a performance de Dave e falaram que precisavam de um baterista daqueles no Nirvana. Pouco tempo depois o Scream tinha terminado e Dave entrou em contato com Novoselic, por intermédio da banda Melvins e em pouco tempo já estava integrado ao Nirvana.

Depois que Dave Grohl entrou na banda, o Nirvana passou a ser uma máquina em que tudo funcionava. Grohl é um excelente baterista de rock, uma batida forte e versátil, era tudo que a banda precisava para engrenar de vez. Pode se perceber a diferença entre Channing e Grohl nas duas diferentes versões de “In bloom”, gravada  em 90 por Channing e em 91 por Grohl.





Após fecharem contrato com gravadora Geffen, a banda aceitou trabalhar com o produtor Butch Vig para o segundo disco. Vig era um desconhecido até então, mas a banda gostou do trabalho dele com a banda Killdozer. O disco foi gravado entre maio e junho de 1991, no lendário estúdio Sound City, na Califórnia, onde já tinham sido feitos discos como Rumours do Fleetwood Mac e alguns discos de sucesso de Tom Petty dos anos 70.

Desde a primeira vez que Butch Vig ouviu “Smells like teen spirit” já sabia que ali estava uma das músicas mais poderosas que já tinha ouvido. Quando viu a banda tocando ao vivo no estúdio a música ficou espantado com a força e vitalidade da canção e ficou pedindo para a banda tocar novamente para assimilar a música e pensar o que iria fazer nas gravações para torná-la ainda mais poderosa.

O videoclipe de “Teen spirit” virou um marco na história da música. Cobain se inspirou em um filme cult da década de 70 com Matt Damon em que um grupo de alunos destroem uma escola. Outra inspiração para o clipe foi o filme Rock n´roll High School dos Ramones.

Dirigido por Samuel Bayer, demorou horas para ser filmado, o que deixou Kurt realmente puto, ou seja, a raiva mostrada por ele no vídeo era verdadeira. No clipe aparecem alguns personagens, entre eles o zelador da escola, que nada mais nada menos seria a representação de Cobain, que foi zelador de uma escola em uma das piores fases de sua vida. No final das filmagens os figurantes do vídeo (que eram fãs da banda) pediram ao diretor para quebrar todo o cenário, o diretor já exausto disse que tudo bem e virou aquela rebelião juvenil que vemos no final do clipe.



Em “In bloom”, música que já tinha sido gravada pela banda na época da Sub Pop, percebe-se como os vocais de Cobain e Grohl se encaixavam perfeitamente, além da linha de baixo de Novoselic e a bateria de Grohl que dialogavam fluentemente, mostrando que a banda agora era uma máquina de fazer grandes canções com cada peça funcionando muito bem.

Krist Novoselic é um integrante que não tem sua importância devidamente reconhecida. Um grande baixista (literalmente, no alto de seus 2,00 metros de altura), que também tinha uma função de ser o “escudo” de Cobain, que era muito inseguro em relação ao seu trabalho mas sempre tinha em Novoselic (um dos poucos grandes amigos que teve na vida) o apoio necessário para continuar a banda.

“Come as you are” tornou-se um dos maiores clássicos da história do rock. O riff básico, mas extremamente emotivo desta canção se tornou obrigatório para qualquer um que queira aprender a tocar guitarra ou violão. Kurt “roubou” este riff de uma canção de uma banda que admirava muito, o Killing Joke. Apenas desacelerou a introdução da música “Eighties”. A banda até pensou em processar o Nirvana, mas Kurt afirmou que fora uma homenagem e nada aconteceu. Dave Grohl em 2003 tocou bateria no disco do Killing Joke e disse que esta era uma forma de pagar o riff roubado para esta grande canção do Nirvana.





Butch Vig foi muito importante para o sucesso de Nevermind. Sua produção competente, explorando tudo o que o Nirvana tinha de melhor e alguns truques utilizados por ele foram essenciais para que se transformasse em um grande disco de rock. Vig utilizou muitas dobras de vocais, sendo que Kurt não gostava muito da ideia, Vig então afirmou que John Lennon fazia isto em seus discos e acabava convencendo Kurt a fazer. Em “Drain you” o produtor utilizou cinco guitarras juntas com distorções diferentes para dar um som mais encorpado à música.

“Polly” foi uma das músicas que deram mais trabalho para gravar. Por isto foi usada no disco uma versão voz e violão de Kurt gravada no Smart Studio em 1990, com os pratos de bateria tocados por Chad Channing. “Something in the way” também deu trabalho para Vig e para o Nirvana. Kurt queria uma versão mais suave e mostrou para Vig no violão como deveria ser. Vig ficou impressionado com aquela versão, e gravou ali na hora com Kurt quase sussurrando a letra. O violoncelo de Kirk Canning não afinava completamente com o violão de Kurt mas este desacerto deu um tom mais triste e intimista à música que encerra Nevermind. 

Na primeira prensagem de Nevermind havia uma música secreta depois de “Something in the way”. “Endless nameless” era uma jam feita pela banda com muitas distorções e desafinações, com mais de 6 minutos. A banda costumava incluir a canção em alguns shows e quebrava os instrumentos ao final dela.



A capa do álbum veio de uma ideia de Kurt após assistir um documentário sobre nascimento de bebês em piscinas. Com a imagem do bebê nadando na piscina, Cobain achou que faltava mais alguma coisa. Foram inseridos diversos objetos pendurados em um anzol até que a nota de dólar foi escolhida. A capa de Nevermind foi censurada em diversas lojas, devido ao pênis ereto do garoto embaixo d’água.

É difícil ter a dimensão da importância deste álbum. Um disco que afetou a vida de todos que participaram dele e de uma geração de fãs de rock. Não foi à toa que tirou Michael Jackson do topo da parada em 1992 e vendeu mais de 30 milhões de cópias até hoje. Um dos momentos mais emblemáticos do rock e discografia básica para qualquer um que queira entender o rock feito nos anos 90 em diante.



9 de abril de 2014

Outros sons: Cocteau Twins

O Cocteau Twins foi formado em 1979 na Escócia e tinha em sua formação original a vocalista Elizabeth Frazer, o guitarrista Robin Guthrie e o baixista Will Heggie. Em sua carreira lançaram os seguintes álbuns: Garlands (1982), Head over Heels (1983), Treasure (1984), Victorialand (1986), The Moon and the Melodies (1986), (com Harold Budd), Blue Bell Knoll (1988), Heaven or Las Vegas (1990), Four-Calendar Café (1993) e Milk and Kisses (1996).


Esta banda escocesa fazia um som único, graças às modulações de voz de Liz Frazer, misturada com o som dark feito pelos outros integrantes, com batidas eletrônicas e linhas de guitarra estranhas, mas extremamente envolventes. Em seu primeiro álbum, Garlands, a banda tinha um som puxado mais para o gótico, graças à atmosfera densa criada por seus integrantes para que Liz cantasse com seu talento natural fazendo efeitos incríveis com sua voz.


O estilo do Cocteau Twins foi denominado de Dream Pop, que mistura vocais etéreos com uma sonoridade dark e toques de psicodelia. Outras bandas que se destacaram neste estilo foram o Dead Can Dance e o This Mortal Coil, ambas as bandas dos anos 80.

Em 1984 a banda lançou seu melhor disco. Treasure tem músicas com nomes da mitologia grega como Persephone, Pandora e Lorelei. As letras ininteligíveis cantadas por Liz Frazer se misturam aqui com som orquestrado, algo grandioso que parece ser feito em outro mundo. O disco ainda tem um toque de rock industrial na música “Persephone”, que tem uma batida mais pesada do que as músicas características do grupo.



Em 1990 a banda lançou seu disco mais acessível (ou menos estranho), Heaven ou Las Vegas. Algumas músicas deste disco chegaram até a tocar em algumas rádios dos Estados Unidos, algo diferente na carreira da banda, que sempre teve como característica um som bem alternativo. O clip da música título e “Iceblink luck” passavam com certa frequência na MTV, principalmente no clássico Lado B da MTV Brasil.



Em 1996 a banda lançou seu último álbum de estúdio, Milk and Kisses. Outro belíssimo disco, fechando com maestria sua bela discografia. Depois do término da banda, Liz Frazer participou de álbuns projetos, como a trilha sonora do filme O Senhor dos Anéis, no qual ela canta em diversas músicas e também gravou a música “Teardrop” com a banda Massive Atack, participando também em vários shows do grupo.



O Cocteau Twins influenciou diversas bandas do rock alternativo, como o The Sundays, o Cranberries e o My Bloody Valentine. Sua música é muito diferente ao que todos estão acostumados a ouvir, um som etéreo e atmosférico. Uma viagem que não tem volta. Vale a pena conferir. 

7 de abril de 2014

Grandes discos de 1994: Superunknown

O Soundgarden começou no final de 1993 a gravar seu quarto de álbum, no estúdio Bad Animals em Seattle. A banda tinha chegado a um relativo sucesso com o disco anterior, Badmotorfinger, que tinha grandes músicas como “Ousthined” e “Rusty cage”, mas em comparação com outras bandas de Seattle, como Nirvana e Pearl Jam, não tinha um disco que chegasse ao topo das paradas como Nevermind e Ten.


Superunknown foi lançado em março de 1994 e foi produzido por Michael Beinhorn e mixado por Adam Kasper e o produtor do Pearl Jam, Brendan O’Brien. A capa do disco é uma foto distorcida da banda sobre uma imagem de ponta cabeça de uma floresta pegando fogo. A sonoridade do disco é um avanço ao rock feito nos discos anteriores, as músicas estão mais trabalhadas e com arranjos mais variados do que Badmotorfinger.


A banda sempre foi a mais puxada para o metal, comparada com as outras de Seattle. O guitarrista Kim Thayl nunca escondeu em seus poderosos riffs as influências de Black Sabbath e Led Zeppelin. Outra grande qualidade do Soundgarden foi sempre a voz potente e limpa de Cris Cornell, que conseguia agudos que vocalistas como Kurt Cobain e Eddie Vedder obviamente não conseguiam alcançar.

“Let me drown” abre o disco com um riff poderoso e um instrumental muito conciso e bem trabalhado, com um refrão matador que ganha muita força com o vocal de Cornell. “My wave” é talvez o momento mais descontraído (ou menos denso) do disco. “Fell on black days” mostra que o Soundgarden também pode desacelerar um pouco e fazer uma música menos pesada sem perder a qualidade e impacto.




“Mailman” é um rock arrastado e de clima denso, bem característico da banda. “Superunknown” mostra toda a capacidade vocal de Cris Cornell e “Head down” é cantada pelo baixista Ben Shepard, sendo a música bem diferente das demais com um clima meio oriental. Outra música composta e cantada pelo baixista é “Half” um das últimas do disco.

“Black hole sun” é o até hoje o maior sucesso do Soundgarden. A introdução e arranjo de guitarras são fantásticos enquanto a letra fala sobre uma espécie de apocalipse causado por um buraco negro do sol. O videoclipe da música também marcou época e ganhou diversos prêmios na MTV. “Spoonman” é sobre um artista de rua que fazia percussão com colheres, sendo que na música o próprio artista faz um solo ao fundo com suas colheres. 





“The day I tried to live” particularmente é a minha preferida do disco. Lembro-me até hoje quando via o clipe me preparando para ir à escola. Bons tempos do rock dos anos 90. O álbum ainda tem ótimos momentos, como no rock rápido e direto de “Kickstand”, em “4th of July” e na épica “Like Suicide”. Superunknown tem mais de 70 minutos de música, mas a qualidade das músicas não torna o disco “arrastado”. Destaque também para a produção de Michael Beinhorn, que usou muitos overdubs, o que contribuiu em muito para mostrar melhor a força do som do Soundgarden.



Superunknown é o melhor e mais bem sucedido disco do Soungarden. Mostra uma banda em seu melhor momento artístico, no ápice de sua técnica e criatividade. Uma banda com grandes instrumentistas, mas que não utilizam de sua habilidade para fazer firulas ou virtuosismos desnecessários. Cris Cornell com sua voz fora do comum, Kim Thayl com seus riffs fantásticos (e sua expressão séria e sem nunca mostrar algum tipo de sentimento), o competente baixista Ben Shepard e o ótimo baterista Matt Cameron (que hoje toca também no Pearl Jam) criaram um álbum que é um dos melhores dos anos 90.