28 de janeiro de 2015

Parallel Lines – O disco definitivo do Blondie

A banda nova iorquina Blondie surgiu em 1974, em meio à efervescente onda punk, se tornando figura frequente no lendário CBGB´s, casa de shows que também foi palco de diversos shows clássicos do Ramones. Seus dois primeiros discos, Blondie, de 1976 e Plastic Letters de 1978, foram bem recebidos pela crítica e pelo público, mas não resultaram em grande sucesso comercial.


Com a linda e carismática Debbie Harry nos vocais, o guitarrista e namorado Chris Stein, Clem Burke na bateria, Jimmy Destri nos teclados, Nigel Harrison no baixo e Frank Infante na outra guitarra, a banda foi ao estúdio em 1978 para gravar seu terceiro disco, com a produção de Mike Chapman. As gravações foram complicadas, devido a forte personalidade de Harry e a imaturidade dos outros integrantes, fato que deu muito trabalho para o produtor, que forçava os integrantes a gravarem várias vezes suas partes, até atingirem o melhor resultado possível.

Todo este esforço e perfeccionismo de Chapman valeram a pena. Paralell Lines foi lançado em julho de 1978 e se tornou o disco de maior sucesso do Blondie. Na capa uma foto dos integrantes de terno com um fundo preto e branco e Debbie lindíssima e elegante com um vestido branco e salto, com cara de brava. Alguns dos integrantes não gostaram da foto, achando que não tinha nada a ver com o estilo do grupo, mas a capa acabou virando um clássico do pós-punk e da new wave.

O Blondie neste trabalho começou a flertar de vez com outros estilos musicais, como a disco music, por exemplo, levando alguns fãs mais ortodoxos a se revoltarem com esta nova guinada musical. Mais para frente, em discos posteriores o grupo flertou ainda com o rap, o reggae, entre outros estilos, mostrando uma banda eclética e que não se conformava musicalmente.

O disco abre com a clássica “Hanging on the telefone” cover do grupo The Nerves. Uma música potente e energética, graças à força vocal de Debbie e a pegada punk/pop da banda, com riffs simples e certeiros de guitarra. “One way or another” é outro hit do álbum, uma música ao mesmo tempo dançante e roqueira. 



“Picture this” é pop e envolvente, enquanto “Fade away and radiate” é mais experimental e viajante, graças à guitarra de Robert Fripp, lendário guitarrista do King Crimson, que toca na música. “Pretty baby” é mais um hit do disco e lembra as bandas femininas vocais dos anos 60 e foi feita em homenagem à atriz Brooke Shields. “I know but I don´t know” tem uma pegada mais roqueira e bons vocais, encerrando o lado A do disco.

“11:59” tem uma pegada punk com teclados, assim como “Will everything happen”. “Sunday girl” é mais pop, com um suave vocal de Harry. “Heart of glass” é sem dúvida o grande destaque de Paralell Lines, uma paródia a disco music que deu muito trabalho para gravar, principalmente a parte da bateria. Uma canção irresistível que tem tudo que uma grande canção pop deve ter, suingue, batida dançante e ainda conta com um vocal leve e contagiante de Debbie, que parece que está cantando em uma espécie de sonho. 


O disco termina com as boas e pegajosas “I´m gonna love you too” e “Just go away”. Paralell Lines liderou a parada de sucessos por muito tempo e vendeu mais de vinte milhões de cópias, tornando-se um dos maiores discos da década de 70. O Blondie está na ativa até hoje e Debbie Harry e seus companheiros de banda são influência para diversas bandas no mundo todo.


24 de janeiro de 2015

Show do Foo Fighters em São Paulo – Uma aula de rock and roll

Quando o Nirvana acabou em 1994 e Dave Grohl resolveu montar uma nova banda, poucos imaginavam que o Foo Fighters chegaria ao estágio que chegou hoje, com shows lotados em grandes estádios e arenas e muitos hits ao longo da carreira, que chega aos vinte anos em 2015.


Uma multidão de cerca de cinquenta mil pessoas esperava embaixo de chuva no velho e ultrapassado estádio do Morumbi o show do grupo, que teve como bandas de abertura Raimundos (infelizmente não cheguei a tempo de ver) e da boa banda inglesa Kaiser Chiefs que tocou seus principais sucessos, como “Ruby”, “I predict a riot” e “Everyday I love you less and less), com muita energia para levantar a bola para a banda de Dave Grohl.

O Foo Fighters entrou no palco por volta das 21 horas, com o jogo já praticamente ganho. A primeira música foi “Something from nothing” do interessante último disco da banda Sonic Highways. Uma canção que começa lenta e explode no final preparando o público para uma sequência matadora de sucessos como “The pretender”, “Learn to fly”, “Breakout”, “Arlandria” e “My hero”, com direito a longas jams sessions e flash mobs da plateia.

A banda está cada vez mais explosiva e entrosada, tocando cada acorde com a força e precisão necessária e sessões de improviso muito bem encaixadas nas músicas. Isso se deve a excelente banda de Grohl, que conta com um baterista monstro como Taylor Hawkins e um cara que tem a história do punk rock nas veias, o carismático guitarrista Pat Smear.

Logo em seguida vieram “Congregation”, “Walk” e “Cold Day in the Sun”, esta última com Taylor Hawkins no vocal, mostrando que como cantor ele é um ótimo baterista. “I´ll stick around” particularmente me levou ao delírio, pois foi o primeiro clipe que vi da banda e que me marcou muito no ano de 1995.

Após uma longa versão de “Monkey wrench” veio um set acústico com as canções “Wheels” e “Times like these”, rolando até um pedido de casamento de um fã que subiu ao palco com sua namorada. O chato foi ter que aguentar uma molecada que ficava perto de mim falando sem parar durante as músicas, mas faz parte, coisas da geração “Flashmob”. Muitas pessoas pareciam não serem tão fãs assim, mais preocupadas em tirar selfies e fumar sua maconha do que cantar as músicas junto com a banda.

Depois do set acústico a banda se reuniu em um mini palco no meio da galera e mandou uma sequência incrível de covers: “Detroit rock city” do Kiss, “Stay with me” do Faces e “Tie your mother down” e “Under pressure” do Queen. Para terminar, outra sequência matadora: “All my life”, “These days”, “Outside”, “Best of you” e a clássica e tradicional música de encerramento dos shows da banda, “Everlong”.

Um show praticamente impecável, que poderia ser ainda melhor se o grupo diminuísse o tempo de algumas jams e inserisse outras músicas que ficaram de fora, como por exemplo, “Generator” e “This is a call”. Alguns criticam Grohl por fazer canções como uma fórmula (calma no começo e explosiva no refrão), mas o rock é isto, uma música explosiva, em que o ouvinte acaba se tornando dono da canção, gritando o refrão como aquilo fosse um desabafo sobre o acontece em sua vida. Um show que mostra como o rock deve ser, enérgico, com guitarras altas e que crie uma identificação com o público. Ponto para Dave Grohl, um dos artistas mais importantes da atualidade. 



Setlist:

Something From Nothing
The Pretender
Learn to Fly
Breakout
Arlandria
My Hero
Congregation
Walk
Cold Day in the Sun
(With 'Tom Sawyer' (Rush song)… more )
I'll Stick Around
Monkey Wrench
Skin and Bones
Wheels
(Soloed by Dave Grohl)

B-Stage
Times Like These
(Half with Dave, half with full band)
Detroit Rock City
(KISS cover)
Stay With Me
(The Faces cover)
Tie Your Mother Down
(Queen cover) (Dave on drums and Taylor on vocals)
Under Pressure
(Queen & David Bowie cover) (Taylor And Dave on vocals)

All My Life
These Days
Outside
Best of You
Everlong




20 de janeiro de 2015

Os 30 anos do primeiro disco da Legião Urbana

Em 2 de janeiro de 1985 era lançado pela gravadora EMI o disco de estreia da Legião Urbana. Produzido por Mayrton Bahia, se tornou um disco definitivo, que catapultou a Legião Urbana para o estrelato e é ainda hoje um trabalho vibrante, um verdadeiro clássico dentro do rock nacional.


A base para o som do álbum era o punk, de bandas como Sex Pistols e Ramones e o pós-punk, de bandas como The Cure, Gang of Four e Joy Division. O punk vinha do resquício da antiga banda de Renato Russo, o lendário Aborto Elétrico, algumas músicas deste disco faziam parte do repertório da banda punk brasiliense, que nunca chegou a gravar um disco.

Muito se fala sobre a falta de técnica dos integrantes da Legião, principalmente de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. Diz a lenda que quando Dado entrou na banda, não sabia fazer um acorde sequer. Mas dentro do rock, principalmente a vertente do punk, do “faça você mesmo”, isto pouco importa. Com poucos acordes e muita garra e vontade muitos jovens mudaram os rumos da música.

Neste disco percebemos uma inocência, uma vontade de mudar o mundo e protestar, algo que não vemos na juventude de hoje. Eram outros tempos, o Brasil acabava de sair de um regime ditatorial, se encaminhando para um governo democrático. Renato Russo ainda não tinha aquele tom “messiânico”, mas já começava a se destacar por suas letras e ideais, sempre com referências literárias.

“Será” começa com um riff roubado de “Jumping someone else´s train” do The Cure. Na letra, Renato se nega a ser dominado e questiona se haverá um futuro melhor. Um clássico instantâneo, graças à interpretação forte do vocalista, algo que virou marca registrada em toda carreira da banda. “A dança” tem uma bela linha de baixo, feita pelo baixista Renato Rocha e é uma crítica a riquinhos mimados que acham que podem comprar tudo com dinheiro, de mulheres às drogas. 





“Petróleo do futuro” critica a situação do Brasil, sempre considerado o “país do futuro” e que nunca sai do lugar. “Ainda é cedo” tem uma linha de baixo bem Joy Division e Dado Villa-Lobos cria simples e certeiros arranjos de guitarra, mesclados com a bateria seca e reta de Marcelo Bonfá. Na letra, uma relação de dependência afetiva entre um homem e uma mulher. “Perdidos no espaço” também fala de uma conturbada relação, citando o famoso seriado dos anos 60.

“Geração Coca-Cola” é da época do Aborto Elétrico e critica uma geração criada pelo capitalismo e materialismo. "O Reggae" é uma daquelas histórias que Renato gostava de contar nas letras. Uma música que tem um instrumental diferente do restante fugindo do rock básico e indo para o reggae. “Baader-Meinhof blues” fala sobre a violência urbana e cita no seu título uma organização guerrilheira alemã de extrema-esquerda, que esteve na ativa na Alemanha Ocidental entre 1970 e 1998.

“Soldados” é outro hino e tem aquela dramaticidade e idealismo presentes na maioria das canções de Renato Russo. Uma bateria marcial serve de pano de fundo para as indagações do vocalista, sobre o futuro da juventude que está prestes a ir para a guerra. “Teorema” faz uma analogia entre um teorema matemático e uma relacionamento e foi regravada pelo Ira! em 1999 no disco Isto é Amor. Em “Por enquanto”, as guitarras pós-punk dão lugar a sintetizadores na canção que mais lembra Joy Division, com uma letra melancólica, que fala sobre um amor que era para durar para sempre e terminou de repente. 



Um ponto fraco deste disco é a produção, as guitarras estão muito baixas, mesmo na versão remasterizada de 1995 (não cheguei a ouvir a nova remasterização lançada há uns dois anos). Mesmo com suas limitações técnicas, Legião Urbana, o disco, é um retrato fiel da juventude dos anos 80. Naquela época ainda havia uma ingenuidade, um idealismo que não se vê nos dias atuais. O disco retratava uma banda crua, mas com uma sinceridade que transformou o álbum em um dos maiores clássicos do rock brasileiro.



16 de janeiro de 2015

Grandes discos de 1995 – Garbage

O produtor norte americano Butch Vig já era conhecido mundialmente em 1993, pois tinha produzido nada mais nada menos que Nevermind do Nirvana, o disco mais importante da década, além de Gish e Siamese Dream do Smashing Pumpkins. Em 1993 se encontrava com o produtor Steve Marker e com seu antigo companheiro de Spooner, sua antiga banda, Duke Erikson, para fazer remixes de músicas do U2 e do Depeche Mode.



Nas horas vagas os três resolveram gravar algumas experimentações sonoras e tiveram a ideia de montar uma banda. Um amigo ouviu aquelas experimentações e disse que aquilo era um lixo (garbage) e este acabou se tornando o nome do grupo. Duke Erikson, mesmo sendo vocalista no Spooner, não queria cantar e a banda estava sem vocalista.


Em 1994, Steve Marker viu na MTV o clipe da música “Suffocate me” da banda Angelfish. Marker se encantou com a voz e a beleza daquela estranha garota ruiva. Shirley Manson foi convidada para fazer alguns testes com os três integrantes do Garbage, mas não se saiu bem e voltou para o Angelfish. Com o fim de sua banda, Manson fez novos testes e finalmente foi aprovada como vocalista do Garbage.

A banda gravou uma demo e mandou anonimamente para algumas gravadoras, pelo fato de não quererem que fossem favorecidos só por causa da fama de Butch Vig como produtor. Depois que conseguiram uma gravadora, demoraram a lançar o disco e lançaram alguns singles e edições limitadas de suas músicas, até que no final de 1995, saiu o primeiro disco do Garbage, com o mesmo nome do grupo.

O primeiro single do álbum “Vow” não chamou tanto a atenção, mas já se percebia ali as grandes qualidades do Garbage, rock misturado com música eletrônica e uma ótima produção aliados a uma cantora linda e carismática, que além de tudo canta muito bem. O segundo single “Queer” chamou mais a atenção, graças também ao seu esquizofrênico videoclipe. 



A banda estourou mesmo com o lançamento de “Only happy when it rains”, sua melhor música até hoje. O vídeo passou exaustivamente na MTV e a canção tocou nas rádios impulsionando as vendas deste disco de estreia. Butch Vig, que era a estrela no começo da banda, agora era ofuscado pelo carisma e talento de Shirley Manson, virando uma nova musa do rock alternativo. Manson sempre se espelhou em grandes artistas femininas do rock, como Patti Smith e Chrissie Hynde do Pretenders. Mulheres que não usavam da vulgaridade, mas sim de seu talento para se sobressair, ao contrário de cantoras medíocres da atualidade como Beyoncé e Miley Cyrus.



“Stupid girl” foi outro grande sucesso do álbum e contém o sampler da bateria da música “Train in vain” do The Clash. Mais um dos truques do experiente produtor Butch Vig. Garbage, o disco, vendeu mais de três milhões de cópias ao redor do mundo e catapultou a banda ao estrelado. O Garbage segue firme e forte até hoje, lançando discos e turnês e foi este disco de estreia que solidificou a base de fãs que o grupo tem até hoje.






13 de janeiro de 2015

Tim Maia x Roberto Carlos – A rivalidade de dois artistas antagônicos

O filme sobre a vida de Tim Maia, que teve como base o livro de Nelson Motta, "Vale Tudo - O Som e a Fúria de Tim Maia" entre outras fontes, fez ressurgir a polêmica vida de um dos maiores artistas que já surgiram na história da música mundial. Tim Maia foi um artista completo, o maior da música negra brasileira, que conseguia fazer música pop, sem perder a qualidade e pegada e suingue que a black music deve ter.


O filme é até bem produzido, com algumas sacadas legais, mas o jeito como Tim Maia foi apresentado, um cara às vezes ressentido e brigão, incomodou pessoas bem próximas a ele, como por exemplo, o filho de Tim, que odiou o filme e falou que ele era bem diferente daquilo que foi retratado. Tim segundo ele era um cara bonachão e amoroso. Realmente essas cinebiografias nunca vão retratar fielmente a personalidade de um grande astro, afinal todos nós temos várias facetas, lados bons e ruins e os grandes artistas tendem a ser ainda mais inconstantes.

Mas o que realmente deu pano pra manga neste filme foi como ele foi apresentado na Rede Bobo. Fragmentado em dois episódios em forma de minissérie, ainda contou com depoimentos de artistas e a narração do ator principal, representando Tim Maia. A polêmica se deu porque no filme, Roberto Carlos foi retratado como um tremendo filho da puta que traiu a confiança de Tim Maia quando eram da mesma banda, se lançando em carreira solo sem avisar ninguém. Na minissérie da Rede Bobo, as partes que tinham, por exemplo, Roberto esnobando Tim Maia, quando Roberto já era rico e famoso, foram cortadas e o “Rei” foi retratado como grande incentivador da carreira de Tim.

Existem muitas histórias que mostram que o chamado “Rei” nunca foi flor que se cheirasse. O primeiro “rival” de Roberto Carlos foi Ronnie Von, que estourou em 1966 com uma versão para a música “Girl” dos Beatles. Roberto Carlos tinha já um programa na Rede Record, a “Jovem Guarda” e a Record acabou contratando Ronnie para que ele não fosse para e emissora concorrente, a Excelsior. Ronnie começou a apresentar o programa “O pequeno mundo e Ronnie Von”. Estranhamente os artistas que iam ao programa de Roberto Carlos não poderiam ir ao programa de Ronnie. Seria uma exigência do “Rei”? Ronnie então teve que chamar artistas mais alternativos, o que foi ótimo, pois acabou lançando Os Mutantes em seu programa e se aproximando dos artistas da Tropicália, como Caetano Veloso e Gilberto Gil. 

Roberto Carlos foi o cara certo, na hora certa. Teve um início de carreira brilhante, com muitos sucessos, o cara cantava e atingia em cheio o público, mesmo não tendo o vozeirão de Tim Maia e nem a beleza de Ronnie Von. Com o passar do tempo, Roberto começou a construir um mundo próprio, rejeitava a imprensa e só dava entrevistas para a Rede Bobo, empresa do qual é artista contratado até hoje. Nunca falou de suas influências musicais, apenas de suas manias e também nunca bateu de frente com o regime militar, ao contrário de alguns artistas de sua época. Há quase quarenta anos, não lança praticamente nada de relevante e vive do passado e de músicas bregas feitas em seus últimos anos de carreira.

Tim Maia era o oposto, foi um dos primeiros artistas independentes do Brasil, ao criar sua própria gravadora, a Vitória Régia. Sempre criando e dando entrevistas divertidas e teve várias lendas ao seu respeito que ele nunca fez questão de censurar. Até a sua morte em 1998, não era um artista acomodado e que vivia do passado. Podemos ver a diferença na personalidade de cada um nas gravações feitas pelos dois artistas da música “Não vou ficar”. A versão de Roberto, mais roqueira, mas com a voz podre e anasalada dele e a versão mais Soul de Tim, com seu potente vozeirão. 





Outra suposta vítima do ego de Roberto Carlos, segundo diz a lenda, foi o cantor Ritchie. Após o sucesso avassalador de seu primeiro disco, Voo de Coração, que vendeu milhões de cópias, sofreu uma espécie de boicote de sua gravadora em seu segundo disco, a gravadora parecia não investir na divulgação do álbum, que foi considerado um fracasso de vendas. Tempos depois, Ritchie se encontrou com Tim Maia em um show e Tim falou que foi Roberto Carlos, que era da mesma gravadora de Ritchie, que tinha tramado o boicote, pois tinha se sentido ameaçado pelo sucesso do cantor de “Menina veneno”. Alguns dizem que esta história foi inventada por Tim Maia para sacanear seu eterno desafeto.

O fato é que essas cinebiografias nunca retratam os artistas com total fidelidade, por isto prefiro documentários, que geralmente retratam melhor a vida deles. Se Roberto Carlos hoje é uma paródia de si mesmo, com certeza se Tim Maia tivesse vivo, ainda faria grandes trabalhos musicais e não se acomodaria com o sucesso feito no passado. 

8 de janeiro de 2015

Novo disco do Smashing Pumpkins é mais um trabalho solo de Billy Corgan

Depois do sucesso mundial do disco Mellon Collie And The Infinite Sadness de 1995, o Smashing Pumpkins se perdeu um pouco em sua carreira. Em 1998, abandonaram as guitarras e lançaram o álbum Adore, que dividiu opiniões entre os fãs, um disco denso e arrastado, que tem bons momentos, mas de qualidade inferior aos discos anteriores.


Em 2000 sairia o conceitual Machina: The Machines of God e foi o último disco com a formação clássica dos Pumpkins, com Billy Corgan, D’arcy, James Iha e Jimmy Chamberlain. Um disco interessante, mas quase ninguém conseguiu entender direito o conceito do álbum. A banda acabou e em 2003 Corgan recrutou outros músicos e lançou o Zwan, que só gravou um disco, Mary Star of The Sea. Era uma versão mais leve dos Pumpkins e não chamou tanta a atenção.

Corgan decidiu voltar com os Pumpkins e em 2007 lançou Zeitgeist, com Chamberlain na bateria e mais dois novos músicos. O álbum tentou resgatar o som clássico que a banda fazia e não é de todo ruim. Oceania saiu em 2010 (com Chamberlain finalmente fora) e foi bem recebido por fãs e pela crítica. Monuments to an Elegy é o novo disco da banda e foi lançado no final do ano passado. Corgan gravou praticamente todos os instrumentos, menos a bateria, que ficou a cargo de Tommy Lee, sim aquele do Mötley Crüe e ex-marido de Pamela Anderson.

Neste novo trabalho vemos uma banda (se é que se pode chamar assim) misturando guitarras pesadas e sonoridades eletrônicas, algo que os Pumpkins fizeram ao longo de sua carreira. “Tiberius”, a música de abertura, tem paredes de guitarras pesadas, com alguns toques eletrônicos, mas acaba não engrenando durante sua execução. “Being benge” tem uma pegada mais pop, com teclados, mas também não empolga muito.

“Anaise” é mais interessante, com uma pegada mais suingada, e o disco vai crescendo com “One and all” que tem uma levada que lembra o velho Smashing Pumpkins. “Run to me” tem teclados meio Pet Shop Boys, meio The Killers, e é bem agradável. “Drum+fife” é o quase hit do álbum, levada mais pop e bons teclados, uma das melhores do disco.

“Monuments” tem ótimos teclados que ficam na cabeça, misturados às guitarras pesadas. “Dorian” tem um clima eletrônico meio setentista, remetendo a David Bowie e Kraftwerk, com uma boa melodia. “Anti hero” encerra o álbum com mais peso, mas sem muito impacto. O disco tem uma duração curta, um pouco mais de trinta minutos, com músicas rápidas e certeiras, mostrando que a banda deixou um pouco de lado seu lado progressivo e as canções com maior tempo de duração. As letras também são mais ingênuas e diretas, sem aquele peso emocional que Corgan carregava nos primeiros trabalhos do grupo.

Tommy Lee se esforça e faz seu papel, mas não dá para comparar com o excelente baterista original, Jimmy Chamberlain, este sim um ótimo baterista. O guitarrista de apoio Jeff Schroeder também cumpre sua tarefa, mas falta aquela marca registrada das guitarras de James Iha. Monuments To An Elegy pode ser considerado bom se levarmos como um projeto solo de Billy Corgan. Um disco de menor expressão se levarmos em conta a discografia do Smashing Pumpkins, que deixou de ser uma banda há bastante tempo. 



5 de janeiro de 2015

O estranho mundo dos Mutantes

Em 1968 saia o primeiro disco da banda Os Mutantes, formados pelos irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias e por Rita Lee. O álbum foi um verdadeiro marco da música brasileira, misturando ritmos brasileiros com o rock psicodélico, bastante influenciado pelos Beatles, a partir do disco Sargent Pepper´s.


Os Mutantes ainda tinham um integrante não oficial, o outro irmão da família Baptista, Cláudio César, que fazia parte quando ainda se chamavam The Wooden Faces. Ele era responsável pelas invenções sonoras, os efeitos de pedais e outras parafernálias utilizadas pelo grupo. O maestro Rogério Duprat é outra personalidade importante na história da banda, foi ele quem arranjou e conseguiu traduzir nos discos todas as ideias malucas e revolucionárias dos Mutantes.

Em plena ditadura militar, estes três malucos vieram com uma nova proposta, causando estranheza e confundindo a cabeça de muita gente. O disco Os Mutantes não é uma obra de fácil digestão, são necessárias inúmeras audições para perceber todas as nuances e complexidades de cada canção, para poder entrar na viagem desses caras.

O disco abre com a música de Caetano Veloso e Gilberto Gil “Panis et Circenses” (Pão e Circo em português). A aproximação da banda com a Tropicália, fez com que gravassem esta canção, que é uma crítica velada ao regime militar. Durante a música há um efeito de diminuição da rotação do disco e a música para, voltando com os integrantes como se estivessem em um jantar.

“A minha menina” é de Jorge Ben Jor que participa da música tocando violão com delay e fala no começo da música “Agora todo mundo tossindo”. O destaque da música é a guitarra distorcida de Sérgio Dias, que tem uma letra descompromissada e um ritmo bem percussivo.

“O relógio” é uma das mais psicodélicas do álbum, graças também aos vocais de Rita Lee. “Adeus Maria Fulô”, composta por Sivuca e Humberto Teixeira é uma música nordestina tradicional que fala da seca. Originalmente um baião, é transformada pelos Mutantes em um baião psicodélico, com vários efeitos sonoros, como sons de ventos, pios de pássaros entre outros.

“Baby” de Caetano Veloso tem um ótimo efeito de teclado no começo e na letra fala de várias necessidades dos jovens dos anos 60, em uma letra que parece despretensiosa. Em “Senhor F”, a mãe de Arnaldo e Sérgio, Dona Clarisse Leite toca piano na introdução da música. “Bat macumba” também de Caetano e Gil e mistura o ritmo do candomblé com o rock psicodélico, em uma letra que faz uma analogia com o super herói Batman, em uma das melhores músicas do disco. 



Em “Le premier bonheur du jur” a banda usa uma bomba de inseticida para simular o barulho do chimbau da bateria, o problema é que o estúdio ficou empesteado com o cheiro do inseticida após a gravação da música. “Tempo no tempo” é uma versão de uma música do The Mamas and The Papas e tem vários efeitos sonoros e uso de instrumentos de sopro como tuba e corneta e a música é marcada em toda sua duração por estralar de dedos. A música que encerra o álbum, “Ave Gengis Khan” tem a voz do pai dos Baptista, Dr. César Baptista, invertida e vários outros efeitos, misturada com a vocalização dos três integrantes.

A sonoridade caleidoscópica dos Mutantes chamou a atenção de gente do mundo todo, como Kurt Cobain, por exemplo, que quando veio ao Brasil em 1993 fez questão de dizer que estava ouvindo bastante a banda e até escreveu uma carta para Arnaldo Baptista. Sean Lennon chegou a dizer até que os Mutantes eram bem mais psicodélicos e inventivos que os próprios Beatles. Mesmo sem ter sucesso comercial, com o passar do tempo Os Mutantes tiveram sua merecida importância reconhecida e este álbum de estreia foi a inspiração para muitos malucos por aí fazerem uma música que fugia do lugar comum e do conformismo.