14 de agosto de 2020

Os vinte anos de Kid A do Radiohead

Depois do sucesso de público e de crítica do fabuloso disco OK Computer, lançado em 1997, o Radiohead já era considerado uma das maiores bandas da Inglaterra. Muitos poderiam esperar um novo trabalho com as mesmas características de OK Computer, uma mistura do rock alternativo com o som espacial e atmosférico de bandas como Pink Floyd.

 

Quando a banda lançou “Kid A” em Outubro de 2000, um nó aconteceu na cabeça da crítica e do público. Por que Thom Yorke estava cantando com se estivesse dentro de uma banheira? Onde estavam as guitarras? Que porra era aquela? O som do Radiohead nesse novo álbum era mais calcado em texturas eletrônicas, batidas sequenciadas e letras enigmáticas. Era uma sonoridade muito mais abstrata do que em “OK Computer”.

Logo de cara em “Everything in it´s right place” o clima de estranheza toma conta do ouvinte, em uma canção feita com cliques, baterias eletrônicas e teclados e uma letra em que a frase título é quase repetida a música toda como um mantra. “Kid A”, a canção título, vem em seguida e é ainda mais estranha, sendo até difícil descrevê-la. O bicho começa a pegar na fantasmagórica “The National Anthem”, com uma linha de baixo lúgubre, que é martelada a música inteira e tem um final apoteótico com naipe de metais.


How to disappear completely” tem uma bela sobreposição de violões e tem um clima na letra meio niilista, uma das canções mais bonitas e tristes do álbum. “Optmistic” (que de otimista não tem nada) é um dos poucos momentos do disco em que se escuta um pouco mais de guitarras e a canção tem até um certo peso. “Idioteque” é um dos grandes momentos de Kid A, com batidas eletrônicas arrebatadoras e ao vivo fica ainda melhor, graças à performance e às danças desengonçadas de Thom Yorke.


Morning Bell” é uma música sombria e o disco se encerra com “Motion Picture Soundtrack”, uma canção com som de órgão que dá um clima fúnebre ao fim do álbum, como se fosse uma trilha sonora de filme mesmo. O guitarrista Johnny Greenwood é destaque no álbum, mesmo sem o som característico de suas guitarras, ele usou um instrumento eletrônico dos anos 20 chamado Ondes Martenot e compôs a maior parte dos arranjos de cordas do disco.

Kid A foi produzido novamente por Nigel Godrich e uma lenda foi levantada no começo dos anos 2000 sobre este disco, rolou na Internet que se colocassem esse disco ao mesmo tempo que o filme “A Bruxa de Blair” havia uma sincronia, assim como ocorreu no filme “O Mágico de Oz” com o álbum Dark Side of the Moon do Pink Floyd. Se esta sincronia é verdadeira ou não, é difícil saber.

Com o álbum Kid A, o Radiohead subverteu a ordem da indústria musical. Em vez de moldar seu som ao mercado, ao que está na moda, como a maioria das bandas fazia, o Radiohead resolveu trilhar seu próprio caminho e ditar suas próprias regras e fazer o som que bem entendesse, quem quisesse seguir a banda, que seguisse. A “tática” deu muito certo, a banda hoje tem uma legião fiel de fãs, uma das poucas com som experimental que consegue tocar em estádios e grandes festivais. Kid A também foi um dos primeiros álbuns a ser distribuído gratuitamente na Internet e foi o disco que abriu as portas para o mercado estadounidense. Um disco genial que mostrou sua força e importância com o passar dos anos.