Como todos já sabem, David
Bowie deixou este mundo no dia 10 de janeiro deste ano, dois dias após lançar
seu último disco, que tem sido chamado de Blackstar. Muito já se foi dito sobre
Bowie, que ele era o “camaleão” do rock entre outros clichês do tipo, mas o
certo é que ele foi um dos artistas mais revolucionários da história da música
pop universal. Sempre inquieto, com guinadas surpreendentes em sua carreira, se
tornou um ícone tanto musical como comportamental, ditando mudanças na moda e
na música. (Leia sobre as diferentes faces de Bowie aqui.)
Depois de mais de dez anos
longe dos estúdios, Bowie lançou em 2013 o disco The Next Day, (leia a resenha
sobre o disco aqui.) meio que de surpresa quando quase ninguém esperava um novo
lançamento dele. Um disco com grandes ganchos pop que foi sucesso de crítica e
de público. Seu mais novo e derradeiro disco, Blackstar, é bem mais
introspectivo e com bastante influência de Jazz e música experimental. O tom
das canções dá a entender que Bowie talvez já sentisse que estes seriam seus
últimos dias e que sua inevitável morte estava por vir. Ninguém da imprensa
ficou sabendo que o cantor estava com câncer em estado avançado e de forma
repentina, Bowie acabou falecendo no dia 10 de janeiro em sua casa, junto a sua
família.
“Blackstar”, música de
abertura do álbum é um épico de quase dez minutos, com um clima tenso e
claustrofóbico, com uma sonoridade densa que mistura Jazz e batidas eletrônicas.
Bowie nesta canção é uma espécie de mensageiro com frases enigmáticas que falam
sobre a morte como no trecho “Algo aconteceu no dia que ele morreu / O espírito
ascendeu um metro e então se afastou / Alguém tomou seu lugar e bravamente
chorou / (Eu sou uma estrela negra, eu sou uma estrela negra)”. No meio da
canção há uma mudança de andamento em que se percebe uma voz mais frágil do
cantor, mostrando uma vulnerabilidade provavelmente por causa de seu estado de
saúde.
"Tis a pity she was a whore"
é um pouco mais leve que a anterior, com ótimos arranjos de sax e piano,
misturando jazz e experimentalismo com o sax de Donny McCaaslin soando de forma
livre em cima da harmonia da música. “Lazarus” tem um clipe em que Bowie está com olhos vendados como se estivesse em
seus últimos momentos, percebendo que está indo para outra dimensão mesmo sem
conseguir se desconectar totalmente do mundo terreno.
"Sue (Or in a season of
crime)" tem uma base rítmica mais caótica, enquanto “Girls loves me” tem
um acento mais eletrônico, lembrando coisas do disco Earthling de 1997, com um
belo refrão. “Dollar days” é uma emocionante balada ao piano e
um com um lindo arranjo de sax. “I can´t give everything away” encerra o disco
com um clima mais pop meio anos oitenta, em tom de despedida e com um
fantástico solo de guitarra ao final.
Como em toda sua carreira,
David Bowie lançou mais um trabalho em que eleva a arte a sua maior potência,
uma obra que fecha com extrema competência uma discografia repleta de grandes
discos e canções que influenciaram milhões de pessoas e diversos artistas em
todo mundo. Fica a lembrança de um artista completo que nunca se acomodou e
sempre surpreendeu. Obrigado Bowie!