3 de março de 2014

O que faltou para o rock brasileiro dos anos 90 deslanchar?

Os anos 80 como todos sabem foi a década de ouro do rock brasileiro. As bandas chegaram ao topo das paradas e foram lançados diversos discos clássicos como Cabeça Dinossauro, Selvagem, entre outros. Os anos 90 chegaram, Plano Collor, a lambada e posteriormente o sertanejo romântico vieram para jogar uma pá de cal e as bandas tiveram que se virar como podiam para sobreviver no duro mundo da indústria musical.


Paralamas do Sucesso, Ira!, Titãs, Legião Urbana entre outros já tinham conquistado um público e graças também ao talento de seus integrantes conseguiram passar por esta turbulenta fase, mesmo com a diminuição da vendagem de discos e de shows. Era o momento de vir uma nova geração, que pudesse manter o nível que estas bandas do rock anos 80 conseguiram chegar. 


Se o rock dos anos 80 era politizado, o dos anos 90 perdeu um pouco dessa pegada mais revolucionária dos belos textos feitos, por exemplo, como as letras de Cazuza e Renato Russo. Surgiu um rock mais adolescente, debochado, sem tanto compromisso com a mensagem a ser passada. 

Talvez a primeira banda desta nova geração a estourar foi o Raimundos em 1994. Apoiados pelo selo criado pelos Titãs, o Banguela Records, o grupo estourou com sua mistura de Hardcore e Forró. Letras que falavam de sexo quase o tempo todo, fugiam do estilo do rock da década anterior, levando vários adolescentes no auge de seus hormônios a levarem a banda ao topo das paradas da MTV e das rádios.



O som forte e potente dos Raimundos trouxe um alento para aqueles que estavam desanimados com os rumos que o rock estava seguindo no Brasil. Mais ou menos na mesma época que os Raimundos estouram surgiu uma banda de Recife que misturava Maracatu com Rock e também trazia novos rumos para o rock brasileiro. Chico Science e Nação Zumbi vieram com tudo e surpreenderam a todos com o som inovador do disco Da Lama ao Caos. Leia mais sobre este grande disco aqui.

O Planet Hemp surgiu em 1995 com seu rock misturado com vários outros ritmos, como o Hip Hop, o Reggae, entre outros e um discurso que defendia abertamente a legalização da maconha. A banda sofreu muitas retaliações por parte da justiça e do governo, sendo presos por apologia às drogas e tudo mais. A identificação dos adolescentes foi instantânea e a banda conseguiu destaque dentro do cenário brasileiro.



Os Mamonas Assassinas também merecem destaque dentro desta fase do rock brasileiro. Com seu som debochado conseguiram um sucesso estrondoso, com o final trágico que todos nós já sabemos. Resta imaginar se a banda conseguiria manter seu sucesso, com letras tão debochadas ou seria uma espécie de Ultraje a Rigor, que vive até hoje de seu único disco de sucesso, Nós Vamos Invadir Sua Praia.

Em 1996 parecia que o novo rock no Brasil 90 iria deslanchar de vez. Várias bandas estavam surgindo, lançando discos ou coletâneas. Lembro-me do programa Gás Total da extinta MTV Brasil, em que começaram a aparecer diversas bandas novas, como Virna Lisi, Big Balls, Tantra entre outros. O Virna Lisi era uma banda de Minas Gerais que fazia uma interessante mistura de rock com música regional. Chegou a fazer certo sucesso, mas a banda não passou do segundo disco. O Big Balls era uma banda paulistana com muito potencial, que tinha uma pegada Hard Rock, mas também não conseguiu grande destaque, infelizmente.





A banda Tantra era uma das promessas dos anos 90. O disco Eles Não Eram Nada foi uma das pérolas da década. O grupo era formado por músicos de apoio da Legião Urbana, o guitarrista e vocalista Fred Nascimento e o baixista Gian Fabra. Com letras mais trabalhadas e um som com influências do rock 80, do grunge e do rock progressivo, o disco foi um dos melhores da década, destaque para a música “Corvos sobre o campo” a o cover de “Tropicália” de Caetano Veloso. Infelizmente mais um caso de uma banda que não deu sequência, parecia que era mais trabalho paralelo dos integrantes, que só lançaram um novo disco em 2006.







Para piorar a situação, o rock tinha que concorrer com ritmos da moda que eram massificados pela mídia como o axé, por exemplo, com suas dancinhas ridículas e letras estapafúrdias. Outras bandas conseguiram se destacar no final da década como Charlie Brown Jr, mas sempre eram bandas como uma temática muito adolescente, faltava conteúdo e um texto que durasse por muito tempo.

Talvez esta falta de conteúdo em alguns casos, falta de sorte em outros e a preferência pelo público por estilos da moda, tenham prejudicado o rock brasileiro nos anos 90. Porém, em comparação com cena da música atual, a década de 90 foi bem mais prolífera e ainda se tinha certa esperança que o rock iria voltar ao topo, ao contrário do momento atual, em que não há quase esperança alguma de que algo novo possa acontecer em relação ao rock brasileiro.

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