15 de novembro de 2013

Titãs no país dos banguelas

São poucas as bandas que conseguem manter o nível de qualidade logo após lançar um disco clássico. Foi assim com o Nirvana, que lançou o excelente In Utero após o fenômeno Nevermind, o R.E.M. quando lançou o grande Automatic For The People após o estrondoso Out Of Time e os Beatles é claro, que lançaram diversos discos clássicos em sequência.

Após o sucesso de Cabeça Dinossauro, terceiro disco dos Titãs que sacramentou o sucesso da banda tanto de crítica como de público, era hora de lançar algo novo. Os Titãs novamente chamaram o produtor Liminha, ex-baixista do Mutantes, que se tornara nos anos 80 um dos maiores produtores musicais do Brasil. 


Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas foi lançado em 1987, o título do disco veio de uma história inusitada, um dos integrantes comentou com outro que tinha feito uma entrevista com uma pessoa para trabalhar em sua casa e ficou espantado pelo fato desta pessoa não ter vários dentes em sua boca. O outro Titã então respondeu: “Mas nem Jesus tem dentes no país dos banguelas”. A frase foi tão forte que estimulou os Titãs a batizarem o disco com este nome.

O disco tem dois lados bem distintos, o lado A é composto por músicas mais “funky”, com o uso de baixo sintetizado, tocado pelo produtor Liminha e por batidas eletrônicas, além de experimentações com uso de samplers e sequenciadores.

Começando o disco, em “Todo mundo quer amor”, Arnaldo Antunes canta/recita uma letra característica do lado concretista do Titãs, em cima de uma base com um baixo bem marcado e um forte som de bateria eletrônica. Logo em seguida em “Comida” o ritmo mais funk é característico, graças também a forte marcação do baixo, música que se tornou um dos maiores clássicos da banda.



Em “O inimigo”, as experimentações titânicas vêm à tona, enquanto “Corações e Mentes” e “Diversão” mostram o potencial pop da banda, músicas que refletem alguns dos anseios da juventude, como procurar por sexo, amor e diversão.

O lado B do disco é bem diferente, tem um som bem mais voltado ao rock, com letras mais voltadas ao protesto e crítica social. Em “Jesus não tem dentes no país dos banguelas” em apenas uma frase o Titãs consegue resumir a situação de nosso país, de extrema injustiça social e desigualdade.

“Desordem” é outra música emblemática do disco, um petardo com uma das melhores letras feitas pela banda. “Lugar nenhum” é outra paulada do disco, onde Arnaldo Antunes declara que nenhuma pátria o pariu, uma música com um riff clássico e uma bateria pesada, um dos momentos mais rock do disco.




Em “Nome aos bois” são citados diversos desafetos da banda, entre eles Stalin e Hitler, mais uma música característica da vertente concretista dos Titãs, na letra da música são citados apenas nomes, sem rimas ou estrofes. Para finalizar o disco, a música bônus “Violência”, sendo recitado no final da música, um trecho do livro de Marques de Sade.

Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas mostra bem a grande qualidade do grupo Titãs, o fato de uma banda com oito compositores, cinco vocalistas, conseguir criar uma unidade sonora em meio a tanta diversidade de ritmos e sons. Sem dúvida uma das maiores e mais inventivas bandas de rock do Brasil.









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