São poucas as bandas que conseguem manter o
nível de qualidade logo após lançar um disco clássico. Foi assim com o Nirvana,
que lançou o excelente In Utero após o fenômeno Nevermind, o R.E.M. quando
lançou o grande Automatic For The People após o estrondoso Out Of Time e os
Beatles é claro, que lançaram diversos discos clássicos em sequência.
Após o sucesso de Cabeça Dinossauro, terceiro disco
dos Titãs que sacramentou o sucesso da banda tanto de crítica como de público,
era hora de lançar algo novo. Os Titãs novamente chamaram o produtor Liminha,
ex-baixista do Mutantes, que se tornara nos anos 80 um dos maiores produtores
musicais do Brasil.
Jesus Não Tem Dentes No País dos Banguelas
foi lançado em 1987, o título do disco veio de uma história inusitada, um dos
integrantes comentou com outro que tinha feito uma entrevista com uma pessoa
para trabalhar em sua casa e ficou espantado pelo fato desta pessoa não ter
vários dentes em sua boca. O outro Titã então respondeu: “Mas nem Jesus tem
dentes no país dos banguelas”. A frase foi tão forte que estimulou os Titãs a
batizarem o disco com este nome.
O disco tem dois lados bem distintos, o
lado A é composto por músicas mais “funky”, com o uso de baixo sintetizado,
tocado pelo produtor Liminha e por batidas eletrônicas, além de experimentações
com uso de samplers e sequenciadores.
Começando o disco, em “Todo mundo quer
amor”, Arnaldo Antunes canta/recita uma letra característica do lado
concretista do Titãs, em cima de uma base com um baixo bem marcado e um forte
som de bateria eletrônica. Logo em seguida em “Comida” o ritmo mais funk é
característico, graças também a forte marcação do baixo, música que se tornou um
dos maiores clássicos da banda.
Em “O inimigo”, as experimentações
titânicas vêm à tona, enquanto “Corações e Mentes” e “Diversão” mostram o
potencial pop da banda, músicas que refletem alguns dos anseios da juventude,
como procurar por sexo, amor e diversão.
O lado B do disco é bem diferente, tem um
som bem mais voltado ao rock, com letras mais voltadas ao protesto e crítica
social. Em “Jesus não tem dentes no país dos banguelas” em apenas uma frase o
Titãs consegue resumir a situação de nosso país, de extrema injustiça social e
desigualdade.
“Desordem” é outra música emblemática do
disco, um petardo com uma das melhores letras feitas pela banda. “Lugar nenhum”
é outra paulada do disco, onde Arnaldo Antunes declara que nenhuma pátria o
pariu, uma música com um riff clássico e uma bateria pesada, um dos momentos
mais rock do disco.
Em “Nome aos bois” são citados diversos
desafetos da banda, entre eles Stalin e Hitler, mais uma música característica
da vertente concretista dos Titãs, na letra da música são citados apenas nomes,
sem rimas ou estrofes. Para finalizar o disco, a música bônus “Violência”,
sendo recitado no final da música, um trecho do livro de Marques de Sade.
Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas
mostra bem a grande qualidade do grupo Titãs, o fato de uma banda com oito
compositores, cinco vocalistas, conseguir criar uma unidade sonora em meio a
tanta diversidade de ritmos e sons. Sem dúvida uma das maiores e mais
inventivas bandas de rock do Brasil.
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