Em 1991 a banda de Chicago Smashing Pumpkins
lançava seu primeiro álbum, Gish, pela Caroline Records. O disco foi ofuscado
pelo sucesso de Nevermind do Nirvana, mas já era perceptível neste registro
as principais qualidades da banda.
A mistura de rock setentista (o heavy metal
do Black Sabbath e o rock progressivo), com o clima dark da década de 80 (de
bandas como The Cure e Joy Division) e a ótima qualidade instrumental da banda,
mostrava que o Smashing Pumpkins poderia se destacar em meio aquela enxurrada
de bandas alternativas que estavam surgindo no início dos anos 90.
Em 1993 chegara a hora de lançar o segundo
disco e provar se a banda tinha vindo para ficar ou não. Foi recrutado para a
produção do disco, o produtor Butch Vig, que já tinha produzido Gish dos
Pumpkins e Nevermind do Nirvana. Siamese Dream foi lançado em julho de 1993
cheio de expectativas, inclusive da banda.
O Smashing Pumkins era uma grupo de
desajustados. Billy Corgan era o grandalhão e líder intelectual da banda, que
tinha mão de ferro para controlar tudo, Jimmy Chamberlin era um baterista
virtuoso que tinha sérios problemas de heroína, D’arcy era a baixista, uma
garota estranha que tocava sem mudar muito sua expressão facial e James Iha tinha um jeito meio misterioso.
O clima das gravações de Siamese Dream não
era dos melhores, Corgan estava com sérios problemas com a depressão,
Chamberlain estava afundando no vício de heroína e D’Arcy e James Iha tinham
acabado de terminar um relacionamento amoroso.
O perfeccionismo de Billy Corgan tornou a
produção do álbum muito estressante, cada integrante tinha que fazer o seu
melhor e regravar várias vezes suas partes até que ficasse bom para Corgan. Em
algumas musicas era até Corgan que gravava as partes para que ficasse do jeito
que ele queria.
O som do disco teve bastante influência das
bandas Shoegazer, que utilizavam na gravação camadas de guitarras, para dar um
efeito espacial ao som. Para obter este efeito a banda chamou um engenheiro de
som Flood, que já tinha trabalhado com a banda My Bloody Valentine no clássico
disco Loveless.
Entre a temática das letras, Corgan
exorciza alguns fantasmas do passado, como sua conturbada relação familiar e
critica também a sociedade americana e a indústria fonográfica. No encarte,
utilizou fotos antigas de sua família com as letras escritas à mão por cima,
reforçando a ideia de exprimir sentimentos e mágoas que havia sentido em toda
sua vida.
O disco abre com a parede de guitarras de
“Cherub Rock”, um rock potente com camadas de guitarra, em uma letra que
critica a indústria da música americana, como no trecho “Enlouqueça e Desista /
Não interessa no que você acredita / Fique frio /E seja o bobo de alguém esse
ano”.
Em “Today”, Corgan fala na letra sobre tentar
superar a depressão, algo que estava muito presente em sua vida: “Hoje é o
melhor / Dia que eu já vivi / Não posso viver o amanhã / Amanhã é muito
distante / Meus olhos se queimarão / Antes de alcançá-lo”. No videoclipe desta
música há uma explosão de cores, contrastando com o tema triste da letra.
Passei muito tempo pensando que James Iha era uma mulher por causa do vestido
que ele usa no clipe.
“Hummer” mostra o lado mais progressivo da
banda, com variações rítmicas na música, com trechos em que a banda desacelera
e produz partes climáticas. No final da letra Corgan pergunta: “Você sente que
o amor é real?”.
“Disarm” é um dos momentos mais belos do
disco, com arranjos de cordas e uma letra muito forte, revelando reminiscências
do passado: “O assassino em mim / É o assassino em você / Meu amor”. “Soma” tem
a participação do baixista do R.E.M. Mike Mills no piano, uma música que começa
tranquila e no meio explode com guitarras furiosas.
“Geek USA” critica a hipocrisia na
sociedade americana, uma pedrada que mostra todo o virtuosismo e talento do
baterista Jimmy Chamberlin, além do duelo de guitarras de James Iha e Billy
Corgan com o baixo pulsante de D’Arcy. Uma música que mostra bem a química
entre os integrantes, que mesmo tão antagônicos, quando se juntavam pareciam
que tinha sido acendido um pavio de pólvora.
“Mayonaise” é outro momento de beleza do
disco, uma letra emocionante com o tradicional som de guitarra da banda, como
nos trechos “Junte seus bolsos cheios de tristeza /E fuja comigo amanhã” ou
“Vamos tentar diminuir a dor / Mas nos sentiremos os mesmos / Bem, ninguém sabe
/ Aonde vão nossos segredos”.
O álbum ainda tem grandes momentos a seguir
como a música “Spaceboy” em que Corgan fez em homenagem a seu meio irmão que
tem autismo e o peso colossal misturado com um toque de psicodelia e rock
progressivo de “Silverfuck”. O disco encerra com duas pérolas em um clima mais
ameno: “Luna” e “Sweet Sweet”.
Siamese Dream foi um sucesso e elevou o
Smashing Pumpkins ao status de grande banda. Um dos melhores discos da década
de 90 que comprovou o talento do grupo, que se tornou uma das mais importantes
do rock alternativo norte americano e revelou Billy
Corgan como um dos compositores mais talentosos de sua geração.
Nenhum comentário:
Postar um comentário