27 de novembro de 2013

Ritchie e seu Voo de coração

O cantor e compositor inglês Ritchie tem uma trajetória bem peculiar dentro do rock nacional. No começo dos anos 70 por um acaso do destino conheceu na Inglaterra os integrantes do grupo Mutantes (Rita Lee e Liminha) que estavam viajando para comprar instrumentos e na época Ritchie estava gravando um disco com seu projeto musical Everyone Envolved, no qual tocava flauta. 

Feita a amizade com os Mutantes, Ritchie foi convidado a ir ao Brasil. A identificação com o país foi instantânea e em 1972 entra para a banda Scaladácia de São Paulo, que tinha como um de seus integrantes o guitarrista Fábio Gasperini (irmão do baixista do Ira!, Ricardo Gaspa). A banda acabou se dissolvendo antes de gravar o primeiro disco.  


Em 1973 Ritchie se muda para o Rio de Janeiro e dá aulas de inglês para músicos como Gal Costa e Egberto Gismonti. Já em 1975 se junta à banda progressiva Vímana, que entre seus integrantes tinham o baterista Lobão e o guitarrista Lulu Santos. O Vímana terminou antes de gravar o primeiro disco.


Em 1982 apesar de achar que estava com uma idade um pouco avançada para encontrar o sucesso, depois de muitas tentativas frustradas em bandas, Ritchie decide fazer seu primeiro trabalho solo e chama o letrista Bernardo Vilhena para compor com ele. A música “Menina Veneno” foi gravada no estúdio do produtor Liminha em 4 canais e lançada como compacto pela CBS em 1983.

A CBS não botou muita fé no potencial da música e lançou o compacto primeiramente nas rádios do Nordeste com uma forma de teste e o sucesso foi estrondoso, logo a música chegou as rádios do sudeste, sendo vendidas mais de 500 mil cópias deste compacto, um marco no mercado fonográfico brasileiro.




Após este sucesso era chegada a hora de gravar e lançar o primeiro disco solo de sua carreira. Com a produção de Liminha, “Voo de coração” foi lançado em 1983 e como banda de apoio para gravação teve a participação dos antigos companheiros de Vímana, Lobão na bateria e Lulu Santos na guitarra, além do próprio Liminha no baixo. Com uma banda competente destas na gravação o disco não poderia dar errado.

O sucesso do disco foi espantoso, sendo vendidas cerca de Um milhão e duzentas mil cópias (o dobro do que foi vendido do disco Thriller de Michael Jackson no Brasil.). O disco ia muito além de “Menina Veneno”, tendo também outros hits como “A vida tem destas coisas” (Regravada pelo grupo Ira! no disco de covers Isto é Amor de 1999), “Casanova” e a música título. 



A qualidade das composições, as letras e a ótimo desempenho vocal de Ritchie garantiram o sucesso deste álbum, sendo um disco pioneiro no Brasil, com o uso de sintetizadores e técnicas avançadas de produção para a época. Com a fama crescente, shows lotados e alta rotatividade na televisão e rádio, Ritchie foi chamado de o “novo rei do rock”, causando certo ciúme no rei Roberto Carlos, que diz a lenda, ouvia este disco obsessivamente tentando entender porque aquele gringo fazia tanto sucesso. 

Depois deste imenso sucesso, Ritchie ainda lançou os discos “E a vida continua” de 1984 e “Circular” de 1985, sem a mesma repercussão de “Voo de coração”. Desiludido com a indústria musical, Ritchie virou Web designer e só voltou a lançar um disco solo em 2002. 

O álbum “Voo de coração” é um daqueles clássicos que marcaram uma época, em um tempo em que a concepção artística e cuidados com as letras e arranjos das músicas eram levados a sério, um dos melhores discos do rico cenário rock/pop brasileiro dos anos 80.












5 comentários:

  1. Me lembro que nessa época o Ritchie foi num programa, talvez tenha sido o Raul Gil, e o apresentador perguntou o que ele achava de mixar o trabalho nos Estados Unidos como vários artistas brasileiros estavam fazendo e ele respondeu que não era preciso, pois existem estúdios muito bons aqui no Brasil. Pensei, o cara é inglês e valoriza mais o nosso país que a gente mesmo.

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    1. Pois é cara é o que eu sempre digo: Brasileiro tem complexo de vira lata! Abraço!

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  2. Epa! Vira-lata é da hora! Tenho duas. Agora dá licença que vou ler a Trilogia Psicodélica de Ronnie Von.

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  3. Grande artista. Que pena que foi sabotado pela própria gravadora, no seu segundo álbum, a mando de Roberto Carlos, que não estava gostando do sucesso do novo Rei da música Pop brasileira.

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    1. Verdade cara, esse disco é um clássico mesmo e o Ritchie um artista diferenciado. Abraço!

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