O Passo do Lui, segundo
disco do Paralamas do Sucesso, lançado em 1984, foi um enorme sucesso, com pelo
menos seis músicas tocando na rádio. O êxito do disco foi ainda maior após o
show da banda no Rock in Rio de 1985, uma apresentação histórica, levando o
disco a vender mais de 250 mil cópias.
No começo de 1986 a banda
entrou no estúdio para gravar seu terceiro disco, com a vontade de fazer um
trabalho bem diferente do anterior, que era mais pop e com músicas mais
dançantes. Selvagem? foi lançado em maio de 1986 e continha uma temática mais
séria, com várias letras que falavam sobre o contexto social do Brasil naquela
época, as injustiças e a pobreza no país.
Com a produção de Liminha
(que neste mesmo ano produzira outro grande clássico do rock brasileiro, Cabeça
Dinossauro do Titãs), Selvagem? trazia uma evolução da sonoridade da banda,
agora o Paralamas misturava Reggae, Dub, Ska e Rock com muito mais propriedade
e desenvoltura, graças também à solidez e coesão do Power trio, que conta com
grandes instrumentistas, Herbert Vianna, um exímio guitarrista, Bi Ribeiro, uma
baixista que faz linhas de baixo marcantes e precisas e João Barone, uma
baterista fantástico, um dos melhores do Brasil.
A música de abertura,
“Alagados” se transformou na base daquilo que seria o pop rock feito no
Brasil a partir de então. Na letra, Vianna fala sobre a favela da Maré, no Rio
de Janeiro, favela na qual Vianna passava de ônibus e podia perceber toda a
dificuldade das pessoas dali, ao mesmo tempo a força de vontade e de superar a
pobreza daquela gente. O riff de guitarra de Herbert é um dos mais marcantes da
música brasileira e graças a uma alteração no andamento do bumbo da bateria de
Barone, sugerida pelo produtor Liminha, a música deslanchou e se tornou um dos
maiores clássicos do Paralamas. A canção ainda conta com a participação de
Gilberto Gil nos vocais.
A música “A novidade” era
inicialmente uma canção instrumental, a banda não tinha conseguido fazer a
letra dela e queria lançá-la de qualquer forma, mesmo instrumental. Vianna teve
a ideia de pedir para Gilberto Gil fazer a letra e mandou uma fita cassete
para ele ouvir a música e logo depois Gil falou a letra da canção pelo telefone
para Vianna, que ficou visivelmente emocionado. Foi um casamento perfeito, a
melodia simples e marcante com a letra poética e com uma crítica social,
combinaram perfeitamente e “A novidade” é uma das mais marcantes do Paralamas.
“Melô do marinheiro” é uma
das poucas músicas que não foram compostas do Herbert Vianna. A letra foi feita
por João Barone quando ele estava de molho com a perna engessada, após sofrer
um acidente de carro. A melodia foi feita por Bi Ribeiro e a música é a mais
descontraída do álbum, quebrando um pouco o clima sério e politizado do disco.
“Selvagem”, música que dá
título ao disco, é um hino de protesto contra a violência da polícia, o
preconceito contra os negros, citando também o cineasta francês Jean-Luc
Godard. O riff de guitarra é muito marcante e a letra uma das melhores feitas
por Vianna. “A dama e o vagabundo” é o momento romântico do disco, enquanto
“There´s a party” é um Ska cantado em inglês com sotaque bem brasileiro. “O
homem” é outra música com letra com críticas sociais e “Você” é uma regravação
do grande Tim Maia, que ficou muito feliz com a versão do Paralamas, falando
para eles gravarem sempre músicas dele.
Na capa do disco, aparece o
irmão de Bi Ribeiro, mostrando o lado Selvagem do ser humano, uma foto que de
tão tosca, acabou virando um clássico. Selvagem? Vendeu mais de 750 mil cópias
e se tornou um dos discos mais vendidos da banda. Um trabalho que sacramentou
uma nova sonoridade dentro do cenário pop/rock brasileiro, influenciando muitas
bandas que vieram depois, como O Rappa, Skank entre outras. Um álbum essencial
para qualquer coleção de discos que se preze.
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