A banda paulista Ira!
entrava em estúdio em maio de 1986 com a responsabilidade de gravar no melhor
estúdio do Brasil, o Nas Nuvens, além de contar com o produtor mais renomado da
época, Liminha, ex-baixista do Mutantes que se tornara uma espécie de Midas do
rock brasileiro dos anos 80, produzindo quase todos os discos importantes da
década.
A relação entre Liminha e os
integrantes da banda durantes as gravações não foi das melhores. Segundo
Liminha, os caras do Ira! eram mais introvertidos e de personalidade forte,
algo que prejudicou bastante a relação entre as duas partes. A banda achava que
o produtor interferia demais no som do Ira!, o que os irritava bastante. O
estopim foi o fato do grupo mostrar para Liminha a música "Smithers-Jones"
do The Jam como base para o que eles queriam fazer na música “Flores em Você”.
Liminha considerou aquilo desafinado e quando a banda terminou de gravar a
canção “Flores em você” com quarteto de cordas, Liminha provocou Nasi, falando:
“Viu como é bom cantar com uma trilha afinada?”.
Como a relação
banda/produtor não ia bem, o Ira! voltou para São Paulo para terminar as
gravações do disco com a ajuda do produtor Pena Schmidt. Graças a esta
conturbada gravação, a produção do disco foi dividida e nos créditos aparece
como produzido por Pena Schimdt,
Liminha, Vitor Farias, Paulo Junqueiro e Ira!. O álbum foi lançado em 25 de
agosto de 1986, após muita expectativa dos fãs e da gravadora da banda.
O show de lançamento do disco
foi um dos mais antológicos do rock brasileiro. Foi o famoso show na Praça do
Relógio na USP em 11 de outubro de 1986, que teve como bandas de abertura
Vultos e Violeta de Outono. Na plateia estava gente como Renato Russo da Legião
Urbana e Paula Toller do Kid Abelha. Esta apresentação é considerada pela banda
uma de suas melhores e mais representativas.
Em Vivendo e Não Aprendendo
temos uma banda muito coesa e sabendo muito bem o que está fazendo com seus
instrumentos. A excelente “cozinha” da banda, composta na época por Ricardo
Gaspa no baixo e André Jung na bateria, se destacam no álbum tanto quanto o vocal de Nasi e
a guitarra de Edgard Scandurra. Podemos ouvir o baixo pulsante de Gaspa
nitidamente em todas as canções e André Jung provando que não era um baterista
sem “pegada”, como era considerado ao ser expulso do Titãs, tocando com força e
técnica em todo o disco.
“Envelheço na cidade” abre o álbum mostrando que Vivendo e Não Aprendendo não era um disco comum. Um
clássico tanto do rock nacional quando do repertório do Ira! sendo obrigatória
em todos os shows, é um hino urbano sobre o passar do tempo e a nostalgia dos
anos que se passaram. O riff de guitarra inicial culminado em um refrão
apoteótico, cantado a plenos pulmões, tornou esta canção algo grandioso e
clássico.
“Casa de papel”, feita por
Edgard Scandurra em homenagem ao seu filho Daniel é um som característico da
banda nesta fase, com bastante influência de bandas como Jam e The Who. A letra
fala sobre como crescemos rapidamente e a infância vira uma lembrança distante.
“Dias de luta” é uma das melhores músicas de todos os tempos, com sua letra
existencialista e seu riff marcante, outra canção mais do que obrigatória nos
show do Ira!.
“Tanto quanto eu” é Mod até
o talo, com uma linha de baixo vibrante de Ricardo Gaspa, enquanto “Vitrine
viva” é mais suingada, tanto que nos shows da banda sempre tem vários
improvisos e experimentações nesta canção. “Flores em você” tem quarteto de
cordas e tem bastante influência de “Eleanor Rigby” do Beatles. Foi trilha
sonora da novela O Outro e alavancou as vendas do álbum. “15 anos” também é
nostálgica, fala sobre um homem que quer voltar no tempo e começar tudo de
novo. “Nas ruas” é uma daquelas tradicionais músicas bem urbanas do Ira! que
nos remete a enfumaçada São Paulo e sua selva de pedra.
As outras duas canções do
disco foram outro motivo de discórdia na história da banda. Os integrantes queriam
que o trabalho tivesse apenas oito músicas, mas a gravadora queria incluir as
duas músicas do primeiro compacto da banda, “Gritos na multidão” e “Pobre
paulista”. A banda acabou concordando, mas só se as canções fossem como uma
espécie de bônus, gravadas ao vivo. As versões ao vivo foram gravadas na antiga
casa de shows Broadway e tiveram a participação da guitarrista da banda As
Mercenárias, Ana Maria Machado.
Vivendo e Não Aprendendo é o
disco de estúdio mais vendido do Ira! com cerca de 200 mil exemplares. É também
o mais coeso em termos de banda, Edgard Scandurra se tornava ali um dos
melhores guitarristas do Brasil, Nasi cantava com paixão e muito bem enquanto
Gaspa e Jung não deixavam por menos, fazendo a banda finalmente uma máquina de
fazer rock n´roll com toda a engrenagem funcionando perfeitamente. Um disco que
marcou a vida de muita gente, (inclusive a minha) se tornando um dos maiores
clássicos do rock brasileiro em todos os tempos.
Um disco bem mais maduro dessa banda. TODAS as músicas tinham potencial para virar hit. Cito Vitrine Viva como minha favorita. Mas não há como esquecer os clássicos Envelheço na Cidade, Dias de Luta e XV Anos, sem contar Gritos na Multidão e Pobre Paulista onde, polêmicas á parte, se tornaram hinos.
ResponderExcluirUm dos melhores discos do Ira! junto com o Psicoacustica.
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