2 de outubro de 2013

MTV Brasil - O fim de uma era

A MTV Brasil teve sua primeira transmissão em outubro de 1990, com o clipe “Garota de Ipanema” de Marina Lima com apresentação da VJ Astrid Fontenelle. Desde então, uma nova geração de jovens foi influenciada pela linguagem dinâmica e diferente deste canal, um canal totalmente voltado para a música, fato inédito na televisão brasileira.


A história do videoclipe no Brasil começou em 1975, com o programa Fantástico da Rede Globo. O primeiro clipe produzido foi “América do Sul” de Ney Matogrosso e durante os anos 80 o programa continuou produzindo videoclipes de diversos artistas. Outros programas relacionados à música que marcaram época nos 80 foram o Clip Trip da TV Gazeta e o Som Pop de TV Cultura.




A chegada ao Brasil de um canal totalmente voltado para a música causou uma grande expectativa, tanto para o público como para os artistas em geral. Chegando como canal UHF, a MTV veio com uma programação inicial em sua maior parte de sua matriz norte-americana (cerca de 75 por cento da programação) e uma pequena parte de produção nacional.





Com o passar do tempo, a MTV Brasil foi aumentando seu espaço para as produções nacionais. Mesmo com baixo orçamento a MTV sempre fez programas pioneiros e que tinha uma linguagem bem diferente dos canais abertos.

Outra grande característica da MTV Brasil eram os apresentadores. Jovens talentosos e carismáticos, que entendiam bastante de música, o que dava um maior respaldo ao canal na hora de falar sobre os artistas. Muitos deles marcaram época, como Astrid, Gastão Moreira, Thunderbird, Cuca entre outros. 


O jornalismo da emissora também foi um de seus pontos fortes em toda sua trajetória. Quem não se lembra do Semana Rock, apresentado por Zeca Camargo, depois pela Cris Couto, em que se mostravam as notícias que foram importantes durante a semana no mundo musical, sempre com uma linguagem inteligente e com precisão nas informações, com entrevistas que fugiam do padrão das outras emissoras. 




A MTV Brasil tinha também programas segmentados, para um público musical específico. Se você gostava de rock alternativo tinha o Lado B, apresentado pelo “Reverendo” Fábio Massari, um cara mais do que especialista no assunto. Se gostasse de metal, tinha o Fúria Metal, apresentado pelo Gastão e assim por diante. O mais legal era que sempre alguém que entendia do assunto que apresentava o programa, fato que dava mais credibilidade ao que era transmitido.

Com o passar do tempo, o canal foi diversificando sua programação, incluindo programas de humor, entretenimento e desenhos animados. Como não lembrar do humorístico Hermes e Renato, Contos de Thunder, Aeon Flux, Turma do Fudêncio, Beavis & Butt Head entre outros.

A influência musical da MTV Brasil na minha geração foi muito grande. Eu por exemplo, das bandas que eu gosto 99 por cento eu conheci pela MTV. Esta mistura de música e imagem contribuiu e muito para a evolução da indústria musical, principalmente no início dos anos 90, talvez a última grande fase da música. Época em que um novo videoclipe era muito esperado pelos fãs e era o principal meio de divulgação dos artistas.

O advento da Internet e dos novos meio de se adquirir música por download no início dos anos 2000, fez com a MTV se adaptasse a esta nova realidade, focando também sua programação em seu site e fazendo programas que tinham a participação direta do público por e-mail, substituindo a tradicional comunicação por carta, que marcou a emissora durante boa parte dos anos 90.

Dentro desta nova realidade a emissora começou a focar sua programação em um público ainda mais adolescente, dando mais espaço para as chamadas “Boy Bands” e artistas mais Pop, tirando um pouco aquela imagem de emissora mais puxada para a música alternativa, como ficou marcada em seus primeiros anos de exibição. 


A partir de 2009 a MTV Brasil começou a passar por problemas financeiros. Não é fácil manter uma emissora que não foca sua programação em programas policiais, novelas ou com temas religiosos. Ainda mais sem o apoio de dinheiro público, o que mantém, por exemplo, uma emissora como a TV Cultura, que não tem tanta audiência e patrocinadores, pelo fato de priorizar um conteúdo de mais qualidade e serviço social.

Este ano, após inúmeras especulações, o grupo detentor dos diretos da emissora, o Grupo Abril, devolveu sua parte para a Viacom, empresa que detém os direitos da MTV americana. A partir de 1º de outubro a MTV Brasil deixou de existir como canal UHF, tornando-se canal por assinatura e se chamando apenas MTV.

Mesmo em meio a esta crise, a MTV Brasil produziu bons programas este ano, mesmo sem muitos recursos, como o seriado A Menina Sem Qualidades, e os humorísticos Último Programa do Mundo e Overdose. O último clipe a ser passado pela emissora em sua despedida foi “Maracatu Atômico” do Chico Science e Nação Zumbi.





Vamos aguardar para ver o que será desta nova MTV, mas de qualquer forma encerra-se um dos capítulos mais interessantes da televisão brasileira, de um canal que sempre primou pela criatividade e por produções acima da média.

Atualização 2/10/2013

Ontem estreou a nova MTV. Logo de cara um programa apresentado pelo Fiuk, com participação da maior picareta da atualidade, a tal de Anita. Um programa “coxinha”, estilo Multishow. Depois, um reality show que procura uma nova namorada para o “cantor” Supla. Pelo visto a MTV vai seguir uma linguagem mais certinha como o do canal Multishow. Aquela emissora criativa e irreverente, pelo visto ficou para trás. 

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