Em 1988, a banda paulistana Ira! lançava seu
terceiro álbum, “Psicoacústica”. Depois de um grande sucesso com o disco
“Vivendo e não aprendendo” de 1986, com música na abertura novela das 8 (Flores
em você) e clássicos como “Dias de
luta”, “Envelheço na cidade” e “Pobre Paulista”, a banda buscava algo
diferente, uma outra sonoridade e novos elementos, característica que
acompanhou o Ira! a cada novo álbum lançado.
A capa original do disco acompanhava uns
óculos 3D, para que os fãs pudessem perceber o efeito visual psicodélico da
capa, graças ao anáglifo da capa nas cores verde e vermelha, que causavam um
efeito tridimensional na imagem quando visualizados com os óculos.
Como principais inspirações do disco estão
o rock psicodélico dos anos 60 e o filme de Rogério Sganzerla de 1968 “O
Bandido da Luz Vermelha”, um dos maiores e mais instigantes filmes feitos no
Brasil. No disco foram inseridas algumas partes do áudio do filme, com as falas
clássicas dos personagens como “Terceiro mundo vai explodir!” e “Quem tiver de
sapato não sobra, não pode sobrar!”.
O panorama social e político do Brasil em
1988 não era dos melhores (e quando foi?), governo Sarney, hiperinflação,
desemprego e etc. Este contexto inspirou os integrantes do Ira! (Nasi, Edgard
Scandurra, Gaspa e André Jung) a fazer um disco com letras com críticas
sociais, falando sobre violência e as desigualdades causadas pelo capitalismo.
Logo na abertura do disco, a fantástica
“Rubro Zorro”, é narrada a história do Bandido da Luz Vermelha do filme, sendo
uma trilha sonora perfeita para o clássico filme de Rogério Sganzerla. Na
música seguinte, “Manhãs de domingo”, há um clima de nostalgia e infância que
ficou para trás, com uma sonoridade pesada e psicodélica ao mesmo tempo. Em
“Poder, sorriso, fama” a guitarra genial de Edgard Scandurra dialoga
perfeitamente com a bateria marcial de André Jung, enquanto Nasi divaga na
letra sobre os percalços da fama.
O reggae “Receita para se fazer um herói” é
mais uma novidade no som do Ira!, com uma letra que fala como se faz um herói,
como se fosse uma receita de bolo. O petardo “Pegue essa arma” é um tapa na
cara que critica a violência e as injustiças do capitalismo. Na música “Farto
do rock n´roll”, Edgard Scandurra leva a crer que está cansado do rock,
querendo buscar outras sonoridades, mas na verdade é uma crítica a Nasi e André
Jung que na época estavam se envolvendo com o rap.
Em “Advogado do diabo” a banda inova mais
uma vez, misturando rock, embolada e rap, o que acabou influenciando o grande
artista do Mangue Beat Chico Science. Nesta música, Nasi divide os vocais com o
baterista André Jung. Para terminar, mais psicodelia na belíssima “Mesmo
distante”, para fechar este clássico disco com chave de ouro.
Psicoacústica foi um fiasco de vendas e
como todo grande disco visionário, só foi reconhecido muitos anos depois. É considerado hoje em dia um dos melhores discos do rock brasileiro e um dos álbuns mais inventivos dos anos 80. Um dos pontos altos da discografia de uma
das bandas mais importantes do rock nacional.
Bela resenha. Realmente esse foi um disco visionário onde a banda de rock mais rocker disse "já estou farto do rock'n'roll". Rubro Zorro é uma HQ musicada. Poder, Sorriso, Fama mostra uma batida tribal e potente. Manhãs de Domingo trás uma letra interessante e Mesmo Distante encerra o disco com chave de ouro. As outras faixas, mesmo não citadas, são ótimas. Nesse álbum a banda mostrou um crescimento musical notável.
ResponderExcluirOutra coisa legal do disco é ter trazido à tona um dos maiores filmes já feitos no Brasil - O bandido da luz vermelha. Muita gente conheceu o filme após este álbum do Ira!
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