No mês de setembro
completaram-se 20 anos do lançamento do álbum In Utero, último disco de estúdio
do Nirvana. Para celebrar esta data, será lançada uma edição especial com
faixas bônus e o dvd do show Live and loud, gravado pela MTV americana em
dezembro de 1993.
Em fevereiro de 1993, o grupo foi ao Pachyderm Studio para começar a gravar o álbum. Em janeiro do
mesmo ano, fizeram a pré-produção do disco em sua passagem pelo Brasil, nos
estúdios da BMG, no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Para evitar a interferência
da gravadora na gravação do disco, o Nirvana se isolou no estúdio e os
integrantes pagaram do próprio bolso as sessões. Kurt Cobain escolheu Albini
pelo fato dele ter produzido dois de seus discos favoritos, Surfer Rosa dos
Pixies e Pod dos Breeders. Inspirado nestes álbuns, Cobain queria utilizar a
técnica de gravação de Albini, que consistia em capturar o ambiente natural de
um espaço, com a utilização de vários microfones.
Esta técnica utilizada por
Albini, foi responsável pelo som de bateria ultra pesado do disco, ele colocou
cerca de 30 microfones em volta do kit de bateria de Dave Grohl. A gravação do
disco foi rápida, durou cerca de duas semanas, a banda optou em gravar tocando
juntos, exceto nas músicas “Very Ape” e “Tourette´s”, em que a bateria foi
gravada em separado, perto da uma cozinha, para captar a reverberação do local.
A mixagem do álbum foi terminada em 5 dias.
Nem o Nirvana nem a gravadora
ficaram totalmente satisfeitos com o som final do disco, eles acharam que os
vocais ficaram muito baixos e o som do baixo ficou inaudível. Cobain tentou
convencer Albini a remixar as músicas, mas Albini se recusou a voltar a
trabalhar no disco, pelo fato de achar que tinha entregue a banda um disco com
um som alternativo, conforme a banda queria.
A arte do disco dirigida por
Robert Fisher foi inspirada nos conceitos de nascimento e morte, sendo a capa
um manequim transparente anatômico com asas de anjo e na contracapa foram
utilizados modelos de fetos e partes de corpos sobre uma cama de orquídeas e
lírios.
In Utero não é um disco
pesado somente em sua sonoridade, a temática do disco é muito forte, sendo
citados temas como doenças, estupro, aborto e suicídio, temas muito difíceis,
mas que faziam parte do universo doentio de Kurt Cobain.
Na música de abertura,
“Serve the Servants”, Cobain fala sobre o episódio que marcou sua vida
negativamente, o divórcio de seus pais. Depois deste fato sua vida nunca mais
foi a mesma, ele passou seus dias de adolescência sem ter um lar fixo, o que
culminou em sua personalidade soturna e depressiva. Trechos da letra como “Eu
tentei arduamente ter um pai” e “Esse lendário divórcio está se tornando tão
entediante” demonstram o trauma que foi em sua vida este divórcio.
Em seguida, na música
“Scentless Aprentice”, Kurt se inspira no livro O Perfume para fazer a letra. Neste
livro é contada a história de um aprendiz de perfumista que tenta criar o
perfume definitivo, matando mulheres virgens e ficando com seu perfume. Detalhe
curioso da música é que o riff de guitarra foi feito pelo Dave Grohl, fora a
bateria fantástica da música que dispensa comentários.
“Heart Shaped Box” foi o
primeiro single do disco e ganhou um clip fantástico dirigido pelo grande
diretor Anton Corbijn (que dirigiu diversos clipes do Depeche Mode e o filme
Control sobre o Joy Division). A letra da música, como a maioria das letras de
Cobain é bem enigmática, mas dá a entender que fala da relação dele com sua
mulher, Courtney Love, como nos trechos: “Ela me olha como uma pisciana quando
estou fraco”, “Rompido o hímen de sua magnitude fui deixado para trás / Jogue
seu cordão umbilical para que eu possa subir” ou “Eu comeria seu câncer quando
você enegrecer”.
A música “Rape Me” causou
muita polêmica, porém Kurt Cobain deixou claro em diversas entrevistas que era
uma canção anti-estupro, tanto que a banda já tinha feito alguns shows
beneficentes em apoio às vítimas de estupro. Alguns analisam a letra da música
como uma forma de protesto com a Imprensa que de alguma forma invadia a vida
pessoal de Kurt, prejudicando sua vida em algumas ocasiões, fato improvável,
pois a música foi feita antes do Nirvana atingir o sucesso.
Em “Frances Farmer Will Have
Her Revenge on Seatlle” Cobain se inspira na biografia da atriz Frances Farmer.
No refrão da música declara: “Sinto a falta do conforto de estar triste”.
“Dumb” é o momento de calmaria do disco, com uma letra que fala sobre a culpa
de Kurt em não se sentir totalmente feliz. “Very Ape” tem um grande riff de
guitarra, demonstrando a evolução de Kurt e da banda em relação às composições
de Nevermind.
“Milk It” é outra música que
fala sobre a relação de interdependência de Kurt e Courtney Love como nos
trechos: “Nós alimentamos um ao outro / Nós podemos dividir nossa endorfina” ou
“Seu leite é minha merda / minha merda é o seu leite” e a parte mais dura da
letra: “Pense no lado bom do suicídio”. Realmente era o sinal de que nada ia
bem na vida de Kurt.
Em “Pennyroyal Tea” a letra
fala de uma substância abortiva: “Sente-se e tome chá de poejo / Descontinue a
vida que há dentro de mim” e também fala dos graves problemas estomacais de
Cobain, algo que prejudicou muito a vida de Kurt, levando o mesmo a utilizar
heroína como anestésico para suas fortes dores.
“Radio Friendly Unit
Shifter” mostra o caminho musical que provavelmente o Nirvana iria seguir, uma
linha mais barulhenta, abusando das microfonias e efeitos de guitarra.
“Tourette´s” é uma pedrada, talvez a música mais pesada do disco. Cobain deve
ter se inspirado na doença Sindrome de Tourette, doença bem comum em moradores
de rua, em que a pessoa começa a gritar palavrões de forma repetitiva.
Para fechar o álbum, em “All Apologies” questiona sua vida: “Estou casado / enterrado” “O que mais poderia ser? / Somente desculpas”. As edições não americanas do disco ainda contam com uma música a mais a “Gallows of Rubbing Alcohol Flow Trought the Strip”, que foi gravada no estúdio do Brasil.
Com o álbum In Utero, o
Nirvana conseguiu o que parecia impossível, fazer um disco ainda melhor do que
Nevermind, um disco mais pesado e com uma sonoridade que demonstrava mais o que
era o Nirvana ao vivo, um som rústico, mas mesmo assim com grandes melodias.
Kurt conseguiu transformar seu mundo doentio em uma grande peça de arte,
colocando beleza em seu último suspiro musical, um artista que no fundo queria
viver, mas foi vencido pelas drogas e pela falta de amor familiar.
Já faz vinte anos! Como estamos velhos!hahaha
ResponderExcluirEu gosto bastante desse álbum pq ele soa como se fosse uma junção da sujeira do Bleach com a sonoridade mais pop do Nevermind. Acho que a minha faixa preferida dele é Serve the servants que tem um refrão ganchudo, mas é bem barulhenta tb.
Verdade Milton, o Kurt era especialista em fazer sons barulhentos com melodias ganchudas. Abraço!
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