20 de janeiro de 2015

Os 30 anos do primeiro disco da Legião Urbana

Em 2 de janeiro de 1985 era lançado pela gravadora EMI o disco de estreia da Legião Urbana. Produzido por Mayrton Bahia, se tornou um disco definitivo, que catapultou a Legião Urbana para o estrelato e é ainda hoje um trabalho vibrante, um verdadeiro clássico dentro do rock nacional.


A base para o som do álbum era o punk, de bandas como Sex Pistols e Ramones e o pós-punk, de bandas como The Cure, Gang of Four e Joy Division. O punk vinha do resquício da antiga banda de Renato Russo, o lendário Aborto Elétrico, algumas músicas deste disco faziam parte do repertório da banda punk brasiliense, que nunca chegou a gravar um disco.

Muito se fala sobre a falta de técnica dos integrantes da Legião, principalmente de Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá. Diz a lenda que quando Dado entrou na banda, não sabia fazer um acorde sequer. Mas dentro do rock, principalmente a vertente do punk, do “faça você mesmo”, isto pouco importa. Com poucos acordes e muita garra e vontade muitos jovens mudaram os rumos da música.

Neste disco percebemos uma inocência, uma vontade de mudar o mundo e protestar, algo que não vemos na juventude de hoje. Eram outros tempos, o Brasil acabava de sair de um regime ditatorial, se encaminhando para um governo democrático. Renato Russo ainda não tinha aquele tom “messiânico”, mas já começava a se destacar por suas letras e ideais, sempre com referências literárias.

“Será” começa com um riff roubado de “Jumping someone else´s train” do The Cure. Na letra, Renato se nega a ser dominado e questiona se haverá um futuro melhor. Um clássico instantâneo, graças à interpretação forte do vocalista, algo que virou marca registrada em toda carreira da banda. “A dança” tem uma bela linha de baixo, feita pelo baixista Renato Rocha e é uma crítica a riquinhos mimados que acham que podem comprar tudo com dinheiro, de mulheres às drogas. 





“Petróleo do futuro” critica a situação do Brasil, sempre considerado o “país do futuro” e que nunca sai do lugar. “Ainda é cedo” tem uma linha de baixo bem Joy Division e Dado Villa-Lobos cria simples e certeiros arranjos de guitarra, mesclados com a bateria seca e reta de Marcelo Bonfá. Na letra, uma relação de dependência afetiva entre um homem e uma mulher. “Perdidos no espaço” também fala de uma conturbada relação, citando o famoso seriado dos anos 60.

“Geração Coca-Cola” é da época do Aborto Elétrico e critica uma geração criada pelo capitalismo e materialismo. "O Reggae" é uma daquelas histórias que Renato gostava de contar nas letras. Uma música que tem um instrumental diferente do restante fugindo do rock básico e indo para o reggae. “Baader-Meinhof blues” fala sobre a violência urbana e cita no seu título uma organização guerrilheira alemã de extrema-esquerda, que esteve na ativa na Alemanha Ocidental entre 1970 e 1998.

“Soldados” é outro hino e tem aquela dramaticidade e idealismo presentes na maioria das canções de Renato Russo. Uma bateria marcial serve de pano de fundo para as indagações do vocalista, sobre o futuro da juventude que está prestes a ir para a guerra. “Teorema” faz uma analogia entre um teorema matemático e uma relacionamento e foi regravada pelo Ira! em 1999 no disco Isto é Amor. Em “Por enquanto”, as guitarras pós-punk dão lugar a sintetizadores na canção que mais lembra Joy Division, com uma letra melancólica, que fala sobre um amor que era para durar para sempre e terminou de repente. 



Um ponto fraco deste disco é a produção, as guitarras estão muito baixas, mesmo na versão remasterizada de 1995 (não cheguei a ouvir a nova remasterização lançada há uns dois anos). Mesmo com suas limitações técnicas, Legião Urbana, o disco, é um retrato fiel da juventude dos anos 80. Naquela época ainda havia uma ingenuidade, um idealismo que não se vê nos dias atuais. O disco retratava uma banda crua, mas com uma sinceridade que transformou o álbum em um dos maiores clássicos do rock brasileiro.



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