Em 2 de janeiro de 1985 era
lançado pela gravadora EMI o disco de estreia da Legião Urbana. Produzido por
Mayrton Bahia, se tornou um disco definitivo, que catapultou a Legião Urbana
para o estrelato e é ainda hoje um trabalho vibrante, um verdadeiro clássico
dentro do rock nacional.
A base para o som do álbum
era o punk, de bandas como Sex Pistols e Ramones e o pós-punk, de bandas como
The Cure, Gang of Four e Joy Division. O punk vinha do resquício da antiga
banda de Renato Russo, o lendário Aborto Elétrico, algumas músicas deste disco
faziam parte do repertório da banda punk brasiliense, que nunca chegou a gravar
um disco.
Muito se fala sobre a falta
de técnica dos integrantes da Legião, principalmente de Dado Villa-Lobos e
Marcelo Bonfá. Diz a lenda que quando Dado entrou na banda, não sabia fazer um
acorde sequer. Mas dentro do rock, principalmente a vertente do punk, do
“faça você mesmo”, isto pouco importa. Com poucos acordes e muita garra e
vontade muitos jovens mudaram os rumos da música.
Neste disco percebemos uma
inocência, uma vontade de mudar o mundo e protestar, algo que não vemos na
juventude de hoje. Eram outros tempos, o Brasil acabava de sair de um regime
ditatorial, se encaminhando para um governo democrático. Renato Russo ainda não
tinha aquele tom “messiânico”, mas já começava a se destacar por suas letras e
ideais, sempre com referências literárias.
“Será” começa com um riff
roubado de “Jumping someone else´s train” do The Cure. Na letra, Renato se nega
a ser dominado e questiona se haverá um futuro melhor. Um clássico instantâneo,
graças à interpretação forte do vocalista, algo que virou marca registrada em
toda carreira da banda. “A dança” tem uma bela linha de baixo, feita pelo baixista
Renato Rocha e é uma crítica a riquinhos mimados que acham que podem comprar
tudo com dinheiro, de mulheres às drogas.
“Petróleo do futuro” critica
a situação do Brasil, sempre considerado o “país do futuro” e que nunca sai do
lugar. “Ainda é cedo” tem uma linha de baixo bem Joy Division e Dado
Villa-Lobos cria simples e certeiros arranjos de guitarra, mesclados com a
bateria seca e reta de Marcelo Bonfá. Na letra, uma relação de dependência
afetiva entre um homem e uma mulher. “Perdidos no espaço” também fala de uma
conturbada relação, citando o famoso seriado dos anos 60.
“Geração Coca-Cola” é da
época do Aborto Elétrico e critica uma geração criada pelo capitalismo e
materialismo. "O Reggae" é uma daquelas histórias que Renato gostava de
contar nas letras. Uma música que tem um instrumental diferente do restante
fugindo do rock básico e indo para o reggae. “Baader-Meinhof blues” fala sobre
a violência urbana e cita no seu título uma organização guerrilheira alemã de extrema-esquerda,
que esteve na ativa na Alemanha Ocidental entre 1970 e 1998.
“Soldados” é outro hino e
tem aquela dramaticidade e idealismo presentes na maioria das canções de Renato
Russo. Uma bateria marcial serve de pano de fundo para as indagações do
vocalista, sobre o futuro da juventude que está prestes a ir para a guerra. “Teorema”
faz uma analogia entre um teorema matemático e uma relacionamento e foi
regravada pelo Ira! em 1999 no disco Isto é Amor. Em “Por enquanto”, as
guitarras pós-punk dão lugar a sintetizadores na canção que mais lembra Joy
Division, com uma letra melancólica, que fala sobre um amor que era para durar
para sempre e terminou de repente.
Um ponto fraco deste disco é
a produção, as guitarras estão muito baixas, mesmo na versão remasterizada de
1995 (não cheguei a ouvir a nova remasterização lançada há uns dois anos).
Mesmo com suas limitações técnicas, Legião Urbana, o disco, é um retrato fiel
da juventude dos anos 80. Naquela época ainda havia uma ingenuidade, um
idealismo que não se vê nos dias atuais. O disco retratava uma banda crua, mas
com uma sinceridade que transformou o álbum em um dos maiores clássicos do rock
brasileiro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário