Em 1968 saia o primeiro
disco da banda Os Mutantes, formados pelos irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias
e por Rita Lee. O álbum foi um verdadeiro marco da música brasileira,
misturando ritmos brasileiros com o rock psicodélico, bastante influenciado
pelos Beatles, a partir do disco Sargent Pepper´s.
Os Mutantes ainda tinham um
integrante não oficial, o outro irmão da família Baptista, Cláudio César, que
fazia parte quando ainda se chamavam The Wooden Faces. Ele era responsável
pelas invenções sonoras, os efeitos de pedais e outras parafernálias utilizadas
pelo grupo. O maestro Rogério Duprat é outra personalidade importante na
história da banda, foi ele quem arranjou e conseguiu traduzir nos discos todas as
ideias malucas e revolucionárias dos Mutantes.
Em plena ditadura militar,
estes três malucos vieram com uma nova proposta, causando estranheza e
confundindo a cabeça de muita gente. O disco Os Mutantes não é uma obra de
fácil digestão, são necessárias inúmeras audições para perceber todas as
nuances e complexidades de cada canção, para poder entrar na viagem desses
caras.
O disco abre com a música de
Caetano Veloso e Gilberto Gil “Panis et Circenses” (Pão e Circo em português). A
aproximação da banda com a Tropicália, fez com que gravassem esta canção, que é
uma crítica velada ao regime militar. Durante a música há um efeito de
diminuição da rotação do disco e a música para, voltando com os integrantes
como se estivessem em um jantar.
“A minha menina” é de Jorge Ben
Jor que participa da música tocando violão com delay e fala no começo da música
“Agora todo mundo tossindo”. O destaque da música é a guitarra distorcida de
Sérgio Dias, que tem uma letra descompromissada e um ritmo bem percussivo.
“O relógio” é uma das mais
psicodélicas do álbum, graças também aos vocais de Rita Lee. “Adeus Maria Fulô”,
composta por Sivuca e Humberto Teixeira é uma música nordestina tradicional que
fala da seca. Originalmente um baião, é transformada pelos Mutantes em um baião
psicodélico, com vários efeitos sonoros, como sons de ventos, pios de pássaros
entre outros.
“Baby” de Caetano Veloso tem
um ótimo efeito de teclado no começo e na letra fala de várias necessidades dos
jovens dos anos 60, em uma letra que parece despretensiosa. Em “Senhor F”, a
mãe de Arnaldo e Sérgio, Dona Clarisse Leite toca piano na introdução da
música. “Bat macumba” também de Caetano e Gil e mistura o ritmo do candomblé
com o rock psicodélico, em uma letra que faz uma analogia com o super herói
Batman, em uma das melhores músicas do disco.
Em “Le premier bonheur du
jur” a banda usa uma bomba de inseticida para simular o barulho do chimbau da
bateria, o problema é que o estúdio ficou empesteado com o cheiro do inseticida
após a gravação da música. “Tempo no tempo” é uma versão de uma música do The
Mamas and The Papas e tem vários efeitos sonoros e uso de instrumentos de sopro
como tuba e corneta e a música é marcada em toda sua duração por estralar de
dedos. A música que encerra o álbum, “Ave Gengis Khan” tem a voz do pai dos
Baptista, Dr. César Baptista, invertida e vários outros efeitos, misturada com
a vocalização dos três integrantes.
A sonoridade caleidoscópica
dos Mutantes chamou a atenção de gente do mundo todo, como Kurt Cobain, por
exemplo, que quando veio ao Brasil em 1993 fez questão de dizer que estava
ouvindo bastante a banda e até escreveu uma carta para Arnaldo Baptista. Sean
Lennon chegou a dizer até que os Mutantes eram bem mais psicodélicos e
inventivos que os próprios Beatles. Mesmo sem ter sucesso comercial, com o
passar do tempo Os Mutantes tiveram sua merecida importância reconhecida e este
álbum de estreia foi a inspiração para muitos malucos por aí fazerem uma música
que fugia do lugar comum e do conformismo.
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