5 de janeiro de 2015

O estranho mundo dos Mutantes

Em 1968 saia o primeiro disco da banda Os Mutantes, formados pelos irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias e por Rita Lee. O álbum foi um verdadeiro marco da música brasileira, misturando ritmos brasileiros com o rock psicodélico, bastante influenciado pelos Beatles, a partir do disco Sargent Pepper´s.


Os Mutantes ainda tinham um integrante não oficial, o outro irmão da família Baptista, Cláudio César, que fazia parte quando ainda se chamavam The Wooden Faces. Ele era responsável pelas invenções sonoras, os efeitos de pedais e outras parafernálias utilizadas pelo grupo. O maestro Rogério Duprat é outra personalidade importante na história da banda, foi ele quem arranjou e conseguiu traduzir nos discos todas as ideias malucas e revolucionárias dos Mutantes.

Em plena ditadura militar, estes três malucos vieram com uma nova proposta, causando estranheza e confundindo a cabeça de muita gente. O disco Os Mutantes não é uma obra de fácil digestão, são necessárias inúmeras audições para perceber todas as nuances e complexidades de cada canção, para poder entrar na viagem desses caras.

O disco abre com a música de Caetano Veloso e Gilberto Gil “Panis et Circenses” (Pão e Circo em português). A aproximação da banda com a Tropicália, fez com que gravassem esta canção, que é uma crítica velada ao regime militar. Durante a música há um efeito de diminuição da rotação do disco e a música para, voltando com os integrantes como se estivessem em um jantar.

“A minha menina” é de Jorge Ben Jor que participa da música tocando violão com delay e fala no começo da música “Agora todo mundo tossindo”. O destaque da música é a guitarra distorcida de Sérgio Dias, que tem uma letra descompromissada e um ritmo bem percussivo.

“O relógio” é uma das mais psicodélicas do álbum, graças também aos vocais de Rita Lee. “Adeus Maria Fulô”, composta por Sivuca e Humberto Teixeira é uma música nordestina tradicional que fala da seca. Originalmente um baião, é transformada pelos Mutantes em um baião psicodélico, com vários efeitos sonoros, como sons de ventos, pios de pássaros entre outros.

“Baby” de Caetano Veloso tem um ótimo efeito de teclado no começo e na letra fala de várias necessidades dos jovens dos anos 60, em uma letra que parece despretensiosa. Em “Senhor F”, a mãe de Arnaldo e Sérgio, Dona Clarisse Leite toca piano na introdução da música. “Bat macumba” também de Caetano e Gil e mistura o ritmo do candomblé com o rock psicodélico, em uma letra que faz uma analogia com o super herói Batman, em uma das melhores músicas do disco. 



Em “Le premier bonheur du jur” a banda usa uma bomba de inseticida para simular o barulho do chimbau da bateria, o problema é que o estúdio ficou empesteado com o cheiro do inseticida após a gravação da música. “Tempo no tempo” é uma versão de uma música do The Mamas and The Papas e tem vários efeitos sonoros e uso de instrumentos de sopro como tuba e corneta e a música é marcada em toda sua duração por estralar de dedos. A música que encerra o álbum, “Ave Gengis Khan” tem a voz do pai dos Baptista, Dr. César Baptista, invertida e vários outros efeitos, misturada com a vocalização dos três integrantes.

A sonoridade caleidoscópica dos Mutantes chamou a atenção de gente do mundo todo, como Kurt Cobain, por exemplo, que quando veio ao Brasil em 1993 fez questão de dizer que estava ouvindo bastante a banda e até escreveu uma carta para Arnaldo Baptista. Sean Lennon chegou a dizer até que os Mutantes eram bem mais psicodélicos e inventivos que os próprios Beatles. Mesmo sem ter sucesso comercial, com o passar do tempo Os Mutantes tiveram sua merecida importância reconhecida e este álbum de estreia foi a inspiração para muitos malucos por aí fazerem uma música que fugia do lugar comum e do conformismo. 



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