8 de janeiro de 2014

Os vinte anos do disco Da Lama ao Caos

No início de 1991, o artista Chico Science, que já tinha tocado em bandas como Legião Hip Hop e Loustal, entra em contado com o grupo de percussão Lamento Negro, um bloco afro que trabalhava com educação popular em um centro comunitário da periferia de Recife. O vigor da percussão do grupo, que misturava black music com música de raiz (como maracatu e coco de roda), impressionou Chico.


A identificação musical foi instantânea e surgia ali o embrião de um novo movimento, com a formação de uma nova banda, chamada Chico Science e Nação Zumbi. O primeiro show da banda foi em junho do mesmo ano e logo após foram acontecendo novas apresentações, só que com a presença de outros artistas de Recife, com a banda Mundo Livre S/A, artistas plásticos e punks. Começava então um movimento cultural chamado de Manguebit.


Em 1992 era lançada a coletânea com diversas bandas e o manifesto escrito pelo vocalista da banda Mundo Livre S/A Fred 04 chamado “Caranguejos com cérebro”. A coletânea não teve grande repercussão e a banda de Chico Science saiu em turnê por algumas grandes capitais do Brasil como Belo Horizonte e São Paulo. O grupo acabou chamando atenção da crítica e do público, culminando na contratação da banda pela gravadora Sony Music.

No final de 1993, Chico Science e Nação Zumbi entraram em estúdio para a gravação de seu primeiro álbum que ganharia o nome de Da Lama ao Caos. O estúdio escolhido foi o Nas Nuvens no Rio de Janeiro, que pertencia ao produtor mais renomado da época, Liminha, ex-baixista dos Mutantes, que já tinha produzido discos clássicos como Cabeça Dinossauro dos Titãs e Nós Vamos Invadir sua Praia do Ultraje a rigor.

Liminha infelizmente não conseguiu captar com fidelidade o som da Nação Zumbi no disco, que perdeu a força dos graves dos instrumentos de percussão, tirando o peso da sonoridade que a banda tinha nos shows. Este fato, porém, não tirou a qualidade musical do álbum, que tinha uma sonoridade revolucionária, ao misturar a música tradicional do Recife, como o maracatu e a embolada com o rock.

Não demorou muito para o disco conquistar a crítica e o público, o clipe da música “A cidade” rodava constantemente na MTV e a banda começou a excursionar, tocando na Europa e Estados Unidos. O som inovador de Chico Science e Nação Zumbi chamou a atenção de grandes nomes da música brasileira como Gilberto Gil e Herbert Vianna. 



As letras de Chico falavam sobre as diferenças sociais, a violência e o descaso dos governantes com as áreas pobres do mangue, uma situação que se encaixava em várias regiões pobres e excluídas do Brasil. A poesia contundente e o jeito de cantar de Science, que tinha uma habilidade incomum de pronunciar as palavras com a clareza que os ritmos nordestinos pedem, como a embolada e o repente, davam a força que as músicas precisavam, com um toque também de humor e otimismo de aquela situação poderia mudar.

A percussão da banda aliada à guitarra afiada de Lúcio Maia dava o apoio perfeito para as divagações de Chico, em um estilo musical que era novo e original, numa mistura nunca feita antes na música brasileira. Lúcio Maia é um dos grandes guitarristas de sua geração e neste disco se sobressaia tanto nos momentos mais pesados, como nos riffs metálicos de “Da lama ao caos” e “Lixo de mangue” quanto nos momentos mais suingados como “A praieira” e "Rios, pontes & overdrives", abusando do uso do efeito wah wah.



A banda ainda lançou o disco Afrociberdelia em 1996, que tinha uma sonoridade mais fiel ao que era a banda ao vivo. O álbum tinha a participação de gente como Marcelo D2 e Gilberto Gil e consolidou de vez o grupo dentro do cenário musical brasileiro.

Infelizmente Chico Science acabou falecendo em fevereiro de 1997, devido a um acidente de carro. A música perdia ali um de seus artistas mais promissores e inventivos, que fez da música uma revolução e foi a peça chave de um movimento que teve um impacto tão grande, que não se via desde o movimento Tropicalista do final de década de 60. Um artista de uma força inigualável, sem dúvida. 





2 comentários:

  1. O legado de Chico Science foi a realização de dois dos melhores discos nacionais.

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  2. Pode crer Janerson Chico Science era um cara genial, pena ter ido embora tão cedo.

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