Desde a arrebatadora estreia
com clássico disco “O Concreto Já Rachou” de 1986, a Plebe Rude vem se mantendo
fiel ao seu discurso, com letras reflexivas e de protesto, remando contra a
maré da música brasileira desde sempre. Em seu novo trabalho, seria mais previsível
a banda relançar músicas antigas em formato acústico (como os conterrâneos do
Capital Inicial já fizeram algumas vezes, por exemplo), mas a Plebe desafiou a
si mesma e planejou um disco conceitual, que contasse a história da evolução
humana.
O Titãs em seu último
trabalho também fez um disco duplo, uma ópera rock conceitual e o resultado
dividiu opiniões, graças ao polêmico tema abordado, o abuso sexual (leia a
resenha do disco aqui ). A Plebe ao contrário do Titãs resolveu lançar o disco
em dois volumes, o que já é um ponto positivo, não deixando a experiência
sonora entediante devido ao excessivo número de faixas. “Evolução - Volume I” já
está disponível desde o final do ano passado nas plataformas digitais.
A Plebe Rude conta com a
presença de Clemente Nascimento da banda Inocentes nos vocais e guitarra desde
2004 e sua entrada parece que deu ainda mais “punch” ao grupo, que ainda conta
com os integrantes originais, Philipe Seabra na guitarra e vocais e André X no
baixo, além do baterista Marcelo Capucci, integrante da banda desde 2010.
O disco abre com “Evolução”
que fala sobre a evolução do homem e tem a participação inusitada do ex-jogador
de futebol e atual comentarista Walter Casagrande, que recita algumas palavras
no meio da canção, que tem um arranjo mezzo pós-punk mezzo setentista graças ao
órgão que pontua a música. Destaque também para o revezamento nos vocais de
Philipe e Clemente, que dá uma pegada a mais na canção.
“Nova espécie” fala de uma
próxima fase de evolução e está entre o pop e o pós-punk, enquanto “O fogo que
ilumina” tem uma pegada mais acústica e fala sobre a descoberta do fogo. “A
janela para o céu” tem belos riffs e um sintetizador que lembra um pouco de
rock progressivo. “A queda de Roma” é mais pesada e tensa e fala sobre a queda
de um dos maiores impérios da humanidade e “Bring out your dead” mantém a
pegada e o peso da canção anterior.
“Nova fronteira” é um
pós-punk energético característico da banda e tem a participação especial da
cantora mirim Ana Clara Floriano, que canta em uma parte mais calma da música,
apenas voz e piano. “Descobrimento da América” é um épico de dez minutos que
fala sobre a colonização da América. Pode parecer estranho uma banda com raízes
punk fazendo uma canção tão longa, mas o resultado é muito bom, com um final
apoteótico: “Não haverá mais submissão ao rei”, com certeza uma das canções do
álbum que mais agitará o público nos shows.
“Um belo dia em Florença” é
mais descontraída e “A mesma mensagem” fecha o primeiro volume com muita
energia e criticando as religiões em geral. “Evolução - Volume I” mostra que a
banda está em ótima forma e que ainda tem muito a dizer. Um trabalho de
pesquisa que resultou em um disco que soa interessante e engajado sem causar
tédio ao ouvinte. Resta saber se a nova geração terá paciência para entender
toda essa aula de história, em tempos em que a aparência do artista vale mais
do que o conteúdo. A Plebe Rude segue firme como rocha, mostrando que ainda há
conteúdo na música brasileira.
Já ouvi várias vezes! Disco ótimo!!! Perfeito!
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