8 de janeiro de 2020

Plebe Rude acerta em cheio em conceitual novo disco


Desde a arrebatadora estreia com clássico disco “O Concreto Já Rachou” de 1986, a Plebe Rude vem se mantendo fiel ao seu discurso, com letras reflexivas e de protesto, remando contra a maré da música brasileira desde sempre. Em seu novo trabalho, seria mais previsível a banda relançar músicas antigas em formato acústico (como os conterrâneos do Capital Inicial já fizeram algumas vezes, por exemplo), mas a Plebe desafiou a si mesma e planejou um disco conceitual, que contasse a história da evolução humana.



O Titãs em seu último trabalho também fez um disco duplo, uma ópera rock conceitual e o resultado dividiu opiniões, graças ao polêmico tema abordado, o abuso sexual (leia a resenha do disco aqui ). A Plebe ao contrário do Titãs resolveu lançar o disco em dois volumes, o que já é um ponto positivo, não deixando a experiência sonora entediante devido ao excessivo número de faixas. “Evolução - Volume I” já está disponível desde o final do ano passado nas plataformas digitais.

A Plebe Rude conta com a presença de Clemente Nascimento da banda Inocentes nos vocais e guitarra desde 2004 e sua entrada parece que deu ainda mais “punch” ao grupo, que ainda conta com os integrantes originais, Philipe Seabra na guitarra e vocais e André X no baixo, além do baterista Marcelo Capucci, integrante da banda desde 2010.

O disco abre com “Evolução” que fala sobre a evolução do homem e tem a participação inusitada do ex-jogador de futebol e atual comentarista Walter Casagrande, que recita algumas palavras no meio da canção, que tem um arranjo mezzo pós-punk mezzo setentista graças ao órgão que pontua a música. Destaque também para o revezamento nos vocais de Philipe e Clemente, que dá uma pegada a mais na canção.

“Nova espécie” fala de uma próxima fase de evolução e está entre o pop e o pós-punk, enquanto “O fogo que ilumina” tem uma pegada mais acústica e fala sobre a descoberta do fogo. “A janela para o céu” tem belos riffs e um sintetizador que lembra um pouco de rock progressivo. “A queda de Roma” é mais pesada e tensa e fala sobre a queda de um dos maiores impérios da humanidade e “Bring out your dead” mantém a pegada e o peso da canção anterior.

“Nova fronteira” é um pós-punk energético característico da banda e tem a participação especial da cantora mirim Ana Clara Floriano, que canta em uma parte mais calma da música, apenas voz e piano. “Descobrimento da América” é um épico de dez minutos que fala sobre a colonização da América. Pode parecer estranho uma banda com raízes punk fazendo uma canção tão longa, mas o resultado é muito bom, com um final apoteótico: “Não haverá mais submissão ao rei”, com certeza uma das canções do álbum que mais agitará o público nos shows.

“Um belo dia em Florença” é mais descontraída e “A mesma mensagem” fecha o primeiro volume com muita energia e criticando as religiões em geral. “Evolução - Volume I” mostra que a banda está em ótima forma e que ainda tem muito a dizer. Um trabalho de pesquisa que resultou em um disco que soa interessante e engajado sem causar tédio ao ouvinte. Resta saber se a nova geração terá paciência para entender toda essa aula de história, em tempos em que a aparência do artista vale mais do que o conteúdo. A Plebe Rude segue firme como rocha, mostrando que ainda há conteúdo na música brasileira. 



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