Começo de abril de 1994. Eu
chegava da escola, ligava na MTV e recebia aquela triste notícia: Kurt Cobain
tinha se matado. O Nirvana já era minha banda favorita e para um garoto de 12
anos era difícil de assimilar a morte de um ídolo. Parecia que a morte de
Cobain era uma questão de tempo, mas quando uma tragédia destas acontece sempre
causa um choque, um forte impacto.
Este mês no blog vou fazer
alguns posts sobre o Nirvana. Sempre levando em consideração o legado musical
que a banda deixou e o impacto causado em uma geração de pessoas que escutaram
e escutam sua música ainda hoje. Deixarei de lado todo o lado trágico, a cova
que o próprio Cobain cavou, a sua conturbada vida, para dar ênfase a sua grande
força musical.
Em 1988 o Nirvana já se
destacava na cena underground de Seattle e cidades ao redor. Agora com uma
formação definitiva com Kurt, Krist Novoselic no baixo e Chad Channing da
bateria era o momento de gravar o primeiro disco. A banda conseguiu um contrato
com a gravadora Sub Pop, de Jonathan Poneman e Bruce Pavitt. O nome da
gravadora veio de um fanzine de propriedade de Poneman que se chamava
Subterranean Pop.
Um pouco depois de a banda
fechar o contrato com a gravadora, os donos da Sub Pop chegaram a pedir
Duzentos dólares emprestados a Kurt, sinal que o selo não andava bem das
pernas. Kurt achou tão absurda aquela situação que nem ficou tão puto quanto os
outros integrantes da banda.
Em novembro de 1988 saia o
primeiro single do Nirvana. Love Buzz era a música mais forte ao vivo da banda
até então, mas era um cover da banda Shocking Blue. Kurt ficou meio inseguro do
primeiro lançamento do Nirvana ser uma música de outro artista, mas o single teve
uma boa recepção apesar das baixas vendagens. Entre dezembro de 1988 e janeiro
de 1989 o Nirvana fez as sessões de gravação do primeiro disco com o produtor
Jack Endino, no Reciprocal Recording em Seattle.
Jack Endino recebeu 600
dólares para produzir o disco. Este valor foi pago pelo guitarrista Jason
Everman. Everman já tinha tocado com o Soundgarden e ficou impressionado com a
demo que o Nirvana tinha gravado com o baterista do Melvins, Dale Crover. Jason
foi integrado ao Nirvana como novo guitarrista, mas apesar de aparecer na capa
do disco e nos créditos de Bleach não tocou em nenhuma faixa do álbum.
Everman saiu do Nirvana
pouco tempo depois, devido a ser um cara muito isolado assim como Kurt (o que
incomodava de certa forma o líder do Nirvana) e por seu um cara de um estilo
mais metal. Hoje em dia ele é soldado das forças armadas norte-americanas e já
combateu nas guerras contra o Afeganistão e Iraque.
O título inicial do disco
era Too Many Humans, mas Cobain mudou de ideia depois de ver um anúncio de
prevenção a AIDS que dizia “Bleach your Works” algo como “Desinfete suas
seringas”. A capa do disco foi fotografada pela namorada de Kurt na época,
Tracy Marander. O álbum foi finalmente lançado em junho de 1989, após vários
problemas causados pela precária situação financeira da Sub Pop.
Nas sessões de gravação do
disco, o baterista do Melvins, Dale Crover acabou tocando em 3 músicas: “Floyd
the Barber”, “Paper Cuts” e “Downer”. A banda acabou deixando estas versões no
disco, enquanto Chad Channing tocou bateria nas músicas restantes.
Logo na primeira música,
“Blew”, já estava ali o som característico da fase inicial do Nirvana, um riff
sinistro e uma linha de baixo estranha, acompanhando uma letra obscura,
cantada com ódio por Cobain. Por mais que Kurt dissesse que suas
letras não tinham sentido, era perceptível que nas letras estavam
reminiscências do passado e traumas sofridos por Kurt em sua vida: “Se você não
ligar, eu gostaria de explodir / Se você não se importar, eu gostaria de perder
/ Se você não ligar, eu gostaria de sair / Se você não se importar, eu gostaria
de respirar”.
“Floyd the Barber” tem um
riff forte com uma bateria tribal de Dale Crover. Uma das típicas letras
difíceis de decifrar de Cobain. “About a girl” destoa do restante do disco, com
uma melodia “beatleniana” (tanto que no inicio da banda quando tocavam esta
música pensavam que era dos Beatles). A música foi feita por Cobain em
homenagem a sua namorada Tracy Marander.
“School” tem um dos melhores
riffs de guitarras feitos por Kurt. O vocalista do Queens of the Stone Age Josh
Homme diz que tem calafrios quando houve esta música até hoje. Ao vivo,
tornava-se ainda mais potente, com uma letra que mostra o ódio que Cobain tinha
da escola e de como sempre era forçado a voltar aos estudos mesmo sabendo que
viveria da arte. “Love buzz” do Shocking Blue, tem uma linha da baixo que de
tão tosca acaba sendo hipnotizante. Esta versão mostra como Kurt era fã de
bandas desconhecidas que tinham apelo pop.
“Paper cuts” tem (para
variar) um clima sombrio e uma letra que fala sobre um crime que Kurt leu em um
jornal certa vez. “Negative creep” tem uma letra autobiográfica e um riff
fantástico, uma das melhores músicas ao vivo do Nirvana. “Scoff” tem uma
bateria tribal e é um desabafo de Kurt para o seus pais. “Swap meet” critica a vida
da classe média baixa e “Mr. Moustache” critica o machismo em geral.
A versão em cd ainda conta
com duas músicas extras: “Downer” e a irônica “Big cheese”. Bleach foi a grande
estreia do Nirvana, nesta fase a banda fazia um som que era uma mistura crua e
tosca (mas sem esquecer das melodias pop) de heavy metal e punk. Krist
Novoselic disse que os grandes artistas criam o seu próprio universo. Kurt
construiu este universo, confuso, sombrio, mas que no fundo dizia aquilo que os
jovens estavam sentindo, as desilusões, incompreensão dos pais etc...era o
momento inicial de uma curta carreira, mas que causou um impacto que afetaria a
indústria musical e os rumos do rock nos anos 90.
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