2 de abril de 2014

20 anos sem Cobain - A força obscura de Bleach

Começo de abril de 1994. Eu chegava da escola, ligava na MTV e recebia aquela triste notícia: Kurt Cobain tinha se matado. O Nirvana já era minha banda favorita e para um garoto de 12 anos era difícil de assimilar a morte de um ídolo. Parecia que a morte de Cobain era uma questão de tempo, mas quando uma tragédia destas acontece sempre causa um choque, um forte impacto.

Este mês no blog vou fazer alguns posts sobre o Nirvana. Sempre levando em consideração o legado musical que a banda deixou e o impacto causado em uma geração de pessoas que escutaram e escutam sua música ainda hoje. Deixarei de lado todo o lado trágico, a cova que o próprio Cobain cavou, a sua conturbada vida, para dar ênfase a sua grande força musical.


Em 1988 o Nirvana já se destacava na cena underground de Seattle e cidades ao redor. Agora com uma formação definitiva com Kurt, Krist Novoselic no baixo e Chad Channing da bateria era o momento de gravar o primeiro disco. A banda conseguiu um contrato com a gravadora Sub Pop, de Jonathan Poneman e Bruce Pavitt. O nome da gravadora veio de um fanzine de propriedade de Poneman que se chamava Subterranean Pop.

Um pouco depois de a banda fechar o contrato com a gravadora, os donos da Sub Pop chegaram a pedir Duzentos dólares emprestados a Kurt, sinal que o selo não andava bem das pernas. Kurt achou tão absurda aquela situação que nem ficou tão puto quanto os outros integrantes da banda.

Em novembro de 1988 saia o primeiro single do Nirvana. Love Buzz era a música mais forte ao vivo da banda até então, mas era um cover da banda Shocking Blue. Kurt ficou meio inseguro do primeiro lançamento do Nirvana ser uma música de outro artista, mas o single teve uma boa recepção apesar das baixas vendagens. Entre dezembro de 1988 e janeiro de 1989 o Nirvana fez as sessões de gravação do primeiro disco com o produtor Jack Endino, no Reciprocal Recording em Seattle.





Jack Endino recebeu 600 dólares para produzir o disco. Este valor foi pago pelo guitarrista Jason Everman. Everman já tinha tocado com o Soundgarden e ficou impressionado com a demo que o Nirvana tinha gravado com o baterista do Melvins, Dale Crover. Jason foi integrado ao Nirvana como novo guitarrista, mas apesar de aparecer na capa do disco e nos créditos de Bleach não tocou em nenhuma faixa do álbum.

Everman saiu do Nirvana pouco tempo depois, devido a ser um cara muito isolado assim como Kurt (o que incomodava de certa forma o líder do Nirvana) e por seu um cara de um estilo mais metal. Hoje em dia ele é soldado das forças armadas norte-americanas e já combateu nas guerras contra o Afeganistão e Iraque.

O título inicial do disco era Too Many Humans, mas Cobain mudou de ideia depois de ver um anúncio de prevenção a AIDS que dizia “Bleach your Works” algo como “Desinfete suas seringas”. A capa do disco foi fotografada pela namorada de Kurt na época, Tracy Marander. O álbum foi finalmente lançado em junho de 1989, após vários problemas causados pela precária situação financeira da Sub Pop.


Nas sessões de gravação do disco, o baterista do Melvins, Dale Crover acabou tocando em 3 músicas: “Floyd the Barber”, “Paper Cuts” e “Downer”. A banda acabou deixando estas versões no disco, enquanto Chad Channing tocou bateria nas músicas restantes.

Logo na primeira música, “Blew”, já estava ali o som característico da fase inicial do Nirvana, um riff sinistro e uma linha de baixo estranha, acompanhando uma letra obscura, cantada com ódio por Cobain. Por mais que Kurt dissesse que suas letras não tinham sentido, era perceptível que nas letras estavam reminiscências do passado e traumas sofridos por Kurt em sua vida: “Se você não ligar, eu gostaria de explodir / Se você não se importar, eu gostaria de perder / Se você não ligar, eu gostaria de sair / Se você não se importar, eu gostaria de respirar”.



“Floyd the Barber” tem um riff forte com uma bateria tribal de Dale Crover. Uma das típicas letras difíceis de decifrar de Cobain. “About a girl” destoa do restante do disco, com uma melodia “beatleniana” (tanto que no inicio da banda quando tocavam esta música pensavam que era dos Beatles). A música foi feita por Cobain em homenagem a sua namorada Tracy Marander.



“School” tem um dos melhores riffs de guitarras feitos por Kurt. O vocalista do Queens of the Stone Age Josh Homme diz que tem calafrios quando houve esta música até hoje. Ao vivo, tornava-se ainda mais potente, com uma letra que mostra o ódio que Cobain tinha da escola e de como sempre era forçado a voltar aos estudos mesmo sabendo que viveria da arte. “Love buzz” do Shocking Blue, tem uma linha da baixo que de tão tosca acaba sendo hipnotizante. Esta versão mostra como Kurt era fã de bandas desconhecidas que tinham apelo pop.



“Paper cuts” tem (para variar) um clima sombrio e uma letra que fala sobre um crime que Kurt leu em um jornal certa vez. “Negative creep” tem uma letra autobiográfica e um riff fantástico, uma das melhores músicas ao vivo do Nirvana. “Scoff” tem uma bateria tribal e é um desabafo de Kurt para o seus pais. “Swap meet” critica a vida da classe média baixa e “Mr. Moustache” critica o machismo em geral.



A versão em cd ainda conta com duas músicas extras: “Downer” e a irônica “Big cheese”. Bleach foi a grande estreia do Nirvana, nesta fase a banda fazia um som que era uma mistura crua e tosca (mas sem esquecer das melodias pop) de heavy metal e punk. Krist Novoselic disse que os grandes artistas criam o seu próprio universo. Kurt construiu este universo, confuso, sombrio, mas que no fundo dizia aquilo que os jovens estavam sentindo, as desilusões, incompreensão dos pais etc...era o momento inicial de uma curta carreira, mas que causou um impacto que afetaria a indústria musical e os rumos do rock nos anos 90.





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