Em
2007 a banda paulista Ira! lançou o álbum “Invisível DJ” e um
pouco depois a banda implodiu, por brigas internas entre os
integrantes e de Nasi com o empresário Júnior, que também é seu
irmão. “Invisivel DJ” tinha bons momentos, mas parece que ali
faltava algo, um trabalho que não empolgou tanto os fãs, talvez
pela produção de Rick Bonadio e pelo clima entre os integrantes,
que já não era tão amistoso.
Em
2014 a banda voltou à ativa, somente com Nasi e Edgard Scandurra da
formação clássica. Eu, como grande fã, fiquei muito feliz e
obviamente fui conferir os shows de retorno, porém nesses shows o
grupo apresentou uma canção inédita bem fraca, chamada “ABCD”.
Como fã me incomodava uma banda tão incrível mostrar algo tão
abaixo do que já tinham lançado e me deixou com receio sobre algum
novo álbum do Ira!.
Finalmente
em 2020 surge um novo disco do quarteto paulistano (agora contando
também com Evaristo Pádua na bateria e Johnny Boy no baixo). O
primeiro single “O Amor Também Faz Errar” demorou um pouco pra
pegar, mas ali já estava tudo o que o novo álbum poderia oferecer,
aquele estilo meio The Who, uma daquelas canções de amor simples e
diretas que somente um gênio como Edgard Scandurra pode oferecer aos
fãs.
“Nossa
Amizade” é a segunda canção do álbum, mais uma bela balada,
muito inspirada, mostrando aquela vertente romântica que a banda
sempre teve desde sua estreia com o álbum “Mudança de
Comportamento” (o que rendeu até xingamentos do público punk na
época do lançamento, chamando a banda de “menudos”, pois
estavam acostumados com a pegada punk do compacto de “Pobre
Paulista”, de 1984). “Respostas” é mais seca e pesada, com
letra existencialista e solos e riffs matadores de Edgard Scandurra.
“Mulheres
à Frente da Tropa” é uma linda homenagem às mulheres, guerreiras
que lutam em um mundo machista e desigual e que rendeu um belo
videoclipe. Uma canção com uma pegada Folk, bem ao estilo do
projeto anterior da banda, “Ira! Folk” e com um belo coro
feminino também. “Você me Toca” é totalmente Hendrixiana, a
guitarra de Edgard Scandurra come solta, pesada e suingada ao mesmo
tempo.
“Efeito
Dominó” já é uma das canções mais lindas feitas pelo Ira!. Tem
a participação da cantora Virginie Boutaud, vocalista da banda
Metrô (do hit oitentista “No Balanço das Horas”) tanto nos
vocais quanto na composição da música. Virginie canta até um
trecho em francês e no final Scandurra faz um solo de guitarra
espetacular, como não poderia deixar de ser. Nasi também está
cantando muito bem, mesmo com as limitações vocais que a idade e os
anos de estrada causaram.
“Chuto
Pedras e Assobio” é uma canção linda e simples, com uma melodia
que fica na cabeça, com aquela poesia urbana que Edgard Scandurra
sabe fazer muito bem. “Eu Desconfio de Mim” é a mais oitentista
do álbum, com uma pegada pós-punk envolvente. “O Homem Cordial
Morreu” é uma crítica à sociedade atual, enquanto “A Torre”
encerra muito bem o disco, destaque para os vocais femininos que
engrandecem a música.
“Ira”,
o álbum (sem exclamação), mostra que a banda tem muito a dizer
ainda e que ainda pode produzir grandes canções. A produção de
Apollo 9 também merece destaque, conseguindo extrair um grande som,
principalmente da guitarra de Edgard Scandurra, que soava meio tímida
no trabalho anterior, por exemplo. Um grande triunfo do grupo,
mostrando que o Ira! ainda é relevante, mesmo depois de quase
quarenta anos de estrada.
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