A relação entre os quatro
integrantes do Fab Four já não era mais a mesma no final dos anos sessenta,
quando Paul McCartney (que nessa época já era assumidamente o líder do grupo)
decidiu lançar um documentário chamado “Get Back” e também um álbum com o mesmo
nome. A ideia era dos Beatles voltarem às origens, com a banda gravando tudo ao
vivo, assim como os primeiros discos e também Paul ainda alimentava a esperança
dos Beatles voltarem aos palcos, ideia que não agradava o restante do grupo.
Para a produção foi chamado
novamente George Martin, o clássico produtor da banda que trabalhou nos discos
dos Beatles que revolucionaram a história do rock, como “Revolver”, “Sgt.
Peppers” e etc... grande responsável pelos efeitos que mudaram para sempre o
jeito de produzir discos dali em diante. McCartney queria uma produção mais
crua, sem toda aquela parafernália de overdubs dos álbuns anteriores, o que
logo de cara desagradou Martin.
Para o documentário, os
Beatles armaram um show surpresa no terraço da gravadora Apple e desta
apresentação, além das imagens, seriam aproveitados os áudios de algumas músicas para serem incluídas no
disco. “Dig a Pony”, “I´ve got a feeling” e"One After 909" foram
tiradas do mini show no terraço da gravadora. A apresentação teve que ser
interrompida pela polícia devido ao tumulto causado nas ruas por causa das
pessoas que paravam ali surpresas para assistir a maior banda de rock de todos
os tempos de graça.
Nas sessões de gravação
dezenas de músicas foram gravadas, algumas fariam parte do disco “Abbey Road” e
algumas canções que fariam parte de discos solos de Lennon (“Jealous Guy”) e de
George Harrison (“All Things Must Pass”) foram gravadas em suas versões
embrionárias. O clima não era nada bom, a presença de Yoko Ono, segundo reza a
lenda, não era bem vista pelos outros integrantes do grupo (Lennon jurava que
“Get Back” era um recado velado para que Yoko caísse fora dali).
Para piorar a situação,
George Martin caiu fora e não terminou de produzir o disco, então John Lennon
chamou Phill Spector, que estava trabalhando com Lennon em seu primeiro disco
solo, para terminar a produção. Além de produzir toda a mixagem do álbum final,
Spector realizou modificações em algumas músicas: Pegou uma jam session,
"Dig It", e outras conversas entre as gravações; alongou "I Me
Mine"; desacelerou e acrescentou cordas a "Across The Universe";
colocou cordas e coral em "The Long And Winding Road" e cortou a
parte em que Paul fala como um bluesman em "Get Back".
Finalmente em 8 de maio de
1970 saia o disco Let it Be (não mais Get Back, como na ideia inicial de McCartney), juntamente com o documentário com o mesmo nome.
McCartney não gostou do resultado final, principalmente das alterações feitas em
“The Long and Winding Road”. Anos depois Lennon afirmou que Spector tinha
tirado leite de pedra, devido à baixa qualidade e sentimento ruins das canções entregues
a ele. O disco acabou sendo o último a ser lançado pela banda, mesmo sendo
gravado antes do disco Abbey Road, mas devido a problemas contratuais o álbum
Let it Be acabou sendo lançado depois.
Let it Be, apesar de todos
os problemas e divergências nas gravações, traz belas canções como a música
título, “The Long and Winding Road”, “Get Back” e “I´ve Got a Feeling”, mas
também traz canções menos inspiradas como “Dig a Pony”, “Two of Us” e “For You
Blue”. Para uma banda normal seria um de seus melhores discos, mas para um
grupo que teve discos como Revolver, Sgt Peppers e o Álbum Branco, Let it Be é
um trabalho bem inferior, mostrando uma banda lutando contra seus fantasmas
interiores.
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