O ano de 1994 realmente foi
muito prolífico de novas bandas, muitos grupos interessantes surgiram e
apareceram com força no cenário do rock. O rock brasileiro estava em uma entressafra,
o sertanejo brega tinha dominado o mercado fonográfico e as bandas dos anos 80
se garantiam com o público que tinham conquistado na década anterior.
Quatro rapazes de Brasília
chamaram a atenção do selo Banguela Records, criado pelos Titãs para revelar
novos talentos dentro da música brasileira. Formada em 1987, contava com
Rodolfo nos vocais, Digão na guitarra, Canisso no baixo e Fred na bateria, a
banda Raimundos escolheu este nome em homenagem aos seus grandes heróis, o Ramones
e também pela influência nordestina de seus integrantes.
Com uma mistura inovadora de
Hardcore, Punk e Forró, o Raimundos tinha uma pegada forte, com letras sexistas
e que não tinham vergonha de serem politicamente incorretas. Não demorou muito
para o grupo estourar nas rádios de rock. Seu primeiro disco foi lançado em
maio de 1994 e foi produzido por Carlos Eduardo Miranda.
O disco abre com a clássica “Puteiro
em João Pessoa” em que é narrada a primeira vez do vocalista Rodolfo, mostrando
uma tradição comum no nordeste, dos garotos iniciarem sua vida sexual em prostíbulos.
Com um riff potente e uma base pesada se tornou um dos maiores clássicos da
carreira da banda. Ainda conta com Nando Reis do Titãs no violão no começo da
música.
“Palhas do coqueiro” fala
sobre um personagem que sabe que é corno, um punk rock simples e certeiro que
fez muito sucesso na MTV Brasil. “MMs” tem a participação de João Gordo do
Ratos de Porão nos vocais e junto com “Minha cunhada” faz parte do grupo de
músicas do disco que tem um ritmo acelerado e letras quase ininteligíveis.
“Rapante” tem um som pesado
misturado com uma batida mais puxada para o ritmo nordestino, lembrando um
repente. “Nega Jurema” é uma das melhores do disco e foi o primeiro clipe a ser
lançado pela banda. Um hardcore perfeito para as rodas de porrada nos shows, destaque
para a velocidade de Rodolfo que canta/fala dezenas de palavras por segundo
nesta canção.
“Be a bá” tem um tom mais
sério e fala sobre a dura vida no sertão. O forrozeiro e amigo da banda
Zenilton participa tocando Acordeão em “Rio das Pedras” e “Cajueiro” dando um
toque ainda mais nordestino às músicas. Paulo Miklos, Branco Mello e Sérgio
Britto do Titãs ainda cantam nas músicas “Carro forte”, “Be a bá” e “Bicharada”.
“Selim” tem uma letra tão
sacana que chega até dar vergonha, uma caricata balada que por incrível que
pareça fez muito sucesso na época. Hoje com a onda feminista de volta acho que
muita gente iria protestar contra a letra, sexista ao extremo.
Raimundos, o disco, é um
daqueles clássicos da adolescência, uma fase que combina com as letras que
falam de sacanagem, além do hardcore rápido que retratava a urgência da
juventude. Ouvir um disco desses depois dos trinta é até meio constrangedor, a
cabeça é outra e não há tanto espaço para uma diversão tão juvenil. Mesmo assim
não podemos menosprezar este trabalho, mostrando uma criativa mistura de rock
pesado com ritmos regionais, na medida certa. Talvez um dos últimos suspiros do
rock nacional, que hoje vive de bandas com um som cada vez mais açucarado.
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