27 de outubro de 2014

U2 finalmente lança um disco interessante

Lançado em 9 de Setembro de 2014, Songs of Innocence é o décimo terceiro disco de estúdio dos irlandeses do U2. A banda resolveu disponibilizar o disco gratuitamente para os usuários do I-tunes e quase que o tiro saiu pela culatra: muitos se sentiram invadidos por receberem o disco como arquivo mesmo sem querer o álbum, tanto que Bono Vox teve que se desculpar pela estratégia que a banda adotou.


Na capa do disco, o baterista Larry Mullen Jr. aparece abraçado ao seu filho e o título do álbum foi inspirado no livro Songs of Innocence and of Experience de William Blake. Para a produção a banda sabia que teria que jogar para ganhar e chamou um super time de produtores, entre eles Flood, Danger Mouse e Paul Epworth. O conceito das letras deste trabalho é mais pessoal e revisita a infância e adolescência dos integrantes e presta homenagens a bandas que influenciaram o U2, como Ramones e The Clash.

A primeira música do disco “The miracle (Of Joey Ramone)” fala sobre o impacto que a música dos Ramones teve na vida de Bono Vox. Infelizmente a banda errou ao escolher esta música como abertura do álbum e primeiro single, a canção parece mais um tributo ao Coldplay, com seus coros constrangedores e é uma das canções mais fracas de Songs of Innocence. Além disto, tem uma guitarra propositalmente “estourada” para dar um ar mais roqueiro, mas não convence.

As coisas começam a melhorar em “Every breaking wave” com boas guitarras, ritmo envolvente e um ótimo refrão, além de teclados oitentistas. “California (There is no end to love) tem uma vocalização no começo que fica na cabeça, que poderia ser mais explorada durante a música e um bom refrão, uma daquelas músicas pop que o U2 faz muito bem quando está inspirado.

“Song for someone” é uma homenagem de Bono à sua esposa, uma balada não muito inspirada. No refrão parece que Brandon Flowers do The Killers faz uma participação especial na música, mas é apenas Bono Vox cantando, isto mostra como o Killers se especializou em imitar a banda irlandesa com perfeição. “Iris (Hold me close)” é uma homenagem à mãe de Bono que faleceu na adolescência do vocalista. A música começa bem, lembrando um pouco a fase de Joshua Tree, mas tem um refrão que lembra os piores momentos do The Killers.

O disco começa a engrenar mesmo em “Volcano”, começando com um baixo distorcido e uma pegada mais roqueira e um refrão que fica na cabeça. “Raised by wolwes” também é ótima, com um ritmo vigoroso e uma letra que fala sobre um massacre na Irlanda nos anos 70, lembrando fases mais roqueiras do U2 como nos discos War e October.

“Cedarwood Road” tem um riff pesado dobrado com violão, mais uma canção com uma pegada mais forte, enquanto “Sleep like a baby tonight” tem elementos eletrônicos que remetem à música eletrônica feita nos anos 70, de bandas como o Kraftwerk. A letra fala sobre a pedofilia na Igreja Católica e tem um clima angustiante e uma ótima interpretação de Bono.

“This is where you can reach me now” tem mais suingue, com uma belíssima linha de baixo, guitarras com wah wah e refrão em coro, com certa influência da black music. O álbum termina com a bela “The trouble” com vocais femininos envolventes da cantora sueca Lykke Li, arranjo de cordas e final épico, um belo encerramento para um bom disco.

Apesar dos erros na escolha da primeira música e forma de divulgação do disco o saldo final de Songs of Innocence é bem positivo: oito músicas boas e apenas três medianas. Este trabalho é bem mais interessante que os discos anteriores do U2, aqui a banda traz de volta, mesmo que discretamente, um pouco daquela pegada da banda dos anos 80, as letras politizadas e aquela vontade de mudar o mundo, mesmo que seja em uma era tecnológica e de falta de ideologias. 



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