20 de outubro de 2017

U2 faz apresentação emocionante e politizada no primeiro show em São Paulo da turnê Joshua Tree

Ontem no Morumbi o U2 fez a primeira de quatro apresentações em São Paulo de sua nova turnê, na qual toca na íntegra seu disco mais emblemático, The Joshua Tree, de 1987. (Leia a resenha sobre este álbum aqui). Para a abertura do show, ninguém mais ninguém menos do que Noel Gallagher, o eterno guitarrista e compositor de todas as grandes músicas do Oasis.


Cheguei na hora que começou o show do Noel, depois de passar uma hora e quarenta no trânsito para chegar ao Morumbiba, um dos piores lugares para shows na cidade de São Paulo. Péssima localização, sem metrô, sem trem etc...O irmão mais velho de Liam Gallagher cumpriu bem seu papel fazendo um belo show, mesclando músicas de seus dois bons discos solos (o homônimo de 2011 e Chasing Yesterday de 2015) com hits do Oasis.

A galera recebeu mornamente as canções solo de Noel, mas quando ele tocou clássicos dos anos noventa como “Champagne Supernova” e “Wonderwall” o estádio inteiro cantou junto. Destaque também para a boa música nova (Beatles puro pra variar) que ele tocou chamada “Holy Mountain”, que deverá estar em seu próximo disco solo.

Às vinte e uma horas e quinze minutos o U2 entrou no palco e logo de cara mandou minha música preferida deles, a política “Sunday Bloody Sunday” com seu riff inicial clássico, a batida marcial de Larry Mullen Jr. na bateria e o vocal inspiradíssimo de Bono Vox, estava tudo ali, em uma versão fiel à original do disco War de 1983. Não poderia haver um começo melhor, levando o público ao delírio logo de cara. Em seguida outra paulada, “New Year´s Day” trouxe de volta o clima idealista dos anos 80, com um Bono Vox olhando para o horizonte, acreditando em um mundo melhor, relembrando o épico videoclipe da música.



“Bad” do disco “Unforgettable Fire” de 1984 veio em seguida, com uma citação de “Heroes” de David Bowie no meio da música. “Pride (In The Name of Love”) do mesmo disco veio em seguida levando o público ao êxtase. Acabava assim a primeira parte do show, a dos clássicos dos anos oitenta, para começar assim a parte mais emblemática do show: A execução na íntegra do disco The Joshua Tree.

A sensação de ouvir os acordes iniciais de “Where The Streets Have No Name” é indescritível, é aquele momento em que os pelos do braço se arrepiam e dá aquela vontade de cantar a canção com todas as suas forças. É nessas horas que percebemos como The Edge se transformou em um dos guitarristas mais importantes de todos os tempos, com seu estilo ao mesmo tempo minimalista e com aquele timbre de guitarra inconfundível.

 “I´m Still Haven´t Found What I´m Looking For” e “With or Without You” foram cantadas em uníssono pelo público como não poderia deixar de ser. A politizada “Bullet The Blue Sky” veio com peso em seguida e logo depois começou a parte mais densa do álbum, na qual o público ficou mais contemplando do que outra coisa. Destaque para as canções em que Bono tocou gaita (muito bem, por sinal) como em “Trip Through Your Wires” e para a canção “Êxit” que ganhou um peso a mais ao vivo.


Depois do final do disco The Joshua Tree a banda voltou para o primeiro bis, onde tocou a fase mais pop da banda dos anos 2000. Apesar de serem canções menos impactantes dentro do repertório do grupo, “Beatiful Day”, “Elevation” e “Vertigo” ao vivo tem uma energia impressionante fazendo balançar o velho e ultrapassado estádio. No segundo bis, uma homenagem da banda a todas as mulheres do mundo em “Ultraviolet (Light My Way)” e a nova e interessante “You´re The Best Thing About Me” e para fechar com chave de ouro a emocionante e clássica “One” do disco Achtung Baby de 1991.

Durante o show Bono fez declarações politizadas, citando também em um momento do show Renato Russo e Cazuza, o baterista Larry Mullen Jr. usava uma camisa escrita “Censura Nunca Mais” talvez um recado aos idiotas do MBL. Esta turnê se mostra mais “simples” do que as anteriores, sem toda aquela parafernália tecnológica, “apenas” com um telão gigantesco com imagens que dialogam com as canções. É um U2 com uma pegada mais roqueira e engajada, com aquele espírito dos anos oitenta.


O grupo mostrou também que está em grande forma, mesmo com quarenta anos de estrada e os integrantes beirando os sessenta anos, com Bono Vox cantando muito, mesmo com algumas limitações vocais devido à idade. Detalhe negativo foi o curto setlist com apenas vinte uma músicas, mas o U2 não decepcionou ninguém, fazendo um show tecnicamente perfeito e muito emocionante. Uma experiência incrível, sem dúvida alguma. 

Setlist Noel Gallagher:

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  5. (Oasis cover)
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  7. (Oasis cover)
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  8. (Oasis cover)
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  9. (Oasis cover)
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  10. (Oasis cover)
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  11. (dedicated to Gabriel Jesus)

Setlist U2:

  1. The Whole of the Moon
    (The Waterboys song)
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  4. (with "O Alquimista" and "Heroes" snippets)
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  6. The Joshua Tree
  7. (with "California (There Is No… more )
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  10. (with "The Star-Spangled… more )
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  16. (with "Wise Blood" and "Eeny Meeny Miny Moe" snippets)
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  18. Encore:
  19. (with "Starman" snippet)
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  21. (with "Rebel Rebel" snippet)
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  22. Encore 2:
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  25. (with "Invisible" refrain)




4 de outubro de 2017

Foo Fighters arrisca um pouco mais e se dá bem em novo disco

Dia 15 de setembro deste ano o Foo Fighters lançou seu nono disco de estúdio, Concrete and Gold, álbum muito aguardado pelos fãs e pela crítica em geral, após o mediano disco (lançado com um belo documentário) Sonic Highways de 2014. Produzido por Greg Kurstin, que trabalhou com vários artistas pop, como Pink, Adele e Lily Allen, é mais um desafio na carreira vitoriosa do Foo Fighters e de seu líder e “manda chuva” Dave Grohl, o de manter o público de seus shows e conseguir angariar novos fãs.


Antes de mais nada é preciso lembrar que o Foo Fighters ao contrário do Nirvana, banda anterior de Grohl, é uma banda que toca em grandes estádios (o Nirvana mesmo depois do avassalador sucesso continuou a tocar em lugares de porte médio), com públicos gigantescos. Todos esperam um disco com uma sonoridade totalmente diferente, mas uma banda deste porte precisa de canções radiofônicas e com apelo mais pop para tocar nas rádios e manter um grandioso número de fãs para lotar as turnês.

Esta é o grande desafio em todo lançamento de qualquer banda grande e não é diferente com o Foo Fighters: Como lançar algo novo e não causar a repulsa e o estranhamento do grande público que acompanha o grupo? Em Concrete and Gold, o Foo Fighters dosa novas sonoridades com o tradicional som da banda e se dá muito bem.

O disco abre com a faixa “T-shirt” que começa lenta no violão com vocal bem suave de Grohl e explode no meio com um rock de arena tradicional, com coros grandiosos. “Run” vem logo em seguida e parece fraca nas primeiras audições (principalmente por causa de seu forçado videoclipe), mas vai ganhando corpo com algumas audições mais atentas, com uma letra que fala sobre fugir para um lugar melhor, com riffs de guitarras secos e certeiros.


“Make it Right” tem uma discreta participação nos vocais do astro pop Justin Timberlake. Bem “ledzepelliana”, com bastante influência dos anos setenta, tem um riff simples e manjado, mas que fica na cabeça e um belo refrão. Em “The Sky is a Neighborhood” a banda arrisca um pouco mais e tem uma sonoridade mais próxima da música negra norte americana, com um refrão grandioso para ser cantado em estádios e participação nos vocais de Alison Mosshart do The Kills. No clipe tem a participação das filhas de Dave Grohl, Harper e Violet.


“La Dee Da” tem um toque de psicodelia e um refrão ao estilo Queens of the Stone Age, enquanto “Dirty Water” começa acústica e envolvente com vocais femininos, mas no refrão fica pesada e repetitiva. “Arrows” tem um som mais característico do Foo Fighters, com início calmo e refrão explosivo. "Happy Ever After (Zero Hour)" é uma balada no violão com bastante influência dos Beatles, principalmente Paul McCartney e é a que menos empolga no disco.

“Sunday Rain” tem a participação de McCartney na bateria e tem um clima setentista ao estilo soft rock, lembrando também algumas coisas da carreira solo de John Lennon no refrão. Cantada pelo baterista Taylor Hawkins é uma das mais interessantes do disco. “The Line” é a melhor música do álbum, apesar de ser uma música com o manjado andamento das músicas da banda, tanto que poderia estar em discos como The Colour and the Shape ou There´s Nothing Left to Loose. Tem belos riffs, refrão explosivo, letra existencialista e um belo solo de guitarra. Para encerrar o disco, a canção “Concrete and Gold” emula Pink Floyd, em um clima psicodélico e arrastado com participação de Shawn Stockman, integrante do Boys II Men nos vocais.


Apesar de muitas críticas ao disco, dizendo que não traz nada de novo, Concrete and Gold se sai muito bem, um disco equilibrado que se não chega a ser genial é melhor do que o álbum anterior, Sonic Highways de 2014. Aqui as canções são mais bem resolvidas e inspiradas, apesar das discretas participações especiais que prometiam muito mais. Em 2018 a banda retornará ao Brasil com a turnê deste álbum e com certeza vai entregar ao público o que eles pedem: um rock alto com guitarras no talo, sem esquecer as melodias pop e os refrões grandiosos, isto a banda de Dave Grohl sabe fazer e muito bem.