Após a conturbada separação
dos Beatles, em 1970, John Lennon junto com a sua inseparável Yoko Ono deu
início ao tratamento criado pelo psicólogo Arthur Janov, denominado Terapia
Primal. Tal tratamento consiste em que o paciente, através de muito choro e
gritos expresse sentimentos reprimidos de sua vida. É a técnica “Lágrima por
medos” (foi daí que a banda Tears For Fears tirou seu nome). Neste procedimento,
Lennon tratou de seus traumas envolvendo o abandono de seu pai e a morte de sua
mãe.
Depois deste intenso
tratamento de quatro meses, John volta para a Inglaterra para gravar seu
primeiro disco solo (sem considerar os discos experimentais feitos com Yoko).
Para a produção, contou com a ajuda de Phill Spector, que já tinha trabalho no
disco Let It Be dos Beatles. O álbum contou com Ringo Starr na bateria em
algumas canções, Alain White na bateria das outras músicas, Klaus Woorman
(amigo de Lennon da época que os Beatles tocaram em Hamburgo no começo de
carreira) no baixo, e Billy Preston nos teclados.
O disco John Lennon/Plastic
Ono Band foi lançado em 11 de dezembro de 1970 é o resultado da Terapia Primal
em forma de música. Neste álbum Lennon exorciza seus traumas de infância e
também o fim dos Beatles em onze canções dilacerantes, com uma sonoridade
econômica nos arranjos, mas complexas em suas emoções.
“Mother” começa ao som de
tenebrosos sinos, e acompanhado somente de piano e bateria Lennon fala sobre
sua mãe, que deixou a criação dele a cargo de uma tia e só reapareceu em sua
vida quando John era adolescente (e acabou morrendo após um atropelamento) e de
seu pai que o abandonou ainda pequeno. A letra é uma das mais emocionantes de
Lennon: “Mãe você me teve / mas eu nunca tive você” e no final “Mãe não se vá /
Papai volte para casa”.
“Hold on” é uma mensagem de
apoio a Yoko em relação às críticas que ela sofria por ser responsabilizada
pelo fim dos Beatles. Era uma forma de dizer “agora somos nós dois contra o
resto do mundo”. Em “I found out” Lennon fala sobre a liberdade que acabou de
descobrir e ainda alfineta seus ex-companheiros de Beatles como nos trechos: “O
velho Hare Krishna não é melhor que você / Apenas deixa você louco com nada
para fazer / Mantém você ocupado com uma torta no céu / Não há nenhum guru quem
possa enxergar através de seus olhos” (um recado a George Harrisson) e no
trecho “Eu vi drogados, eu já passei por tudo / Eu vi religiões de Jesus a Paul”.
“Working class hero” mostra
que Lennon após o fim dos Beatles tinha mais liberdade para falar sobre
assuntos mais sérios, como o ativismo político. “Isolation” fala sobre o
sentimento de solidão e isolamento que as pessoas passam no decorrer de suas
vidas. “Remember” é sobre as lembranças do passado, enquanto “Love” é sobre o
amor puro e simples.
O jeito gritado de cantar de
Lennon em “Well, well, well” mostra de onde artistas como Kurt Cobain se
inspiraram. “God” tem uma das letras mais fortes de John, falando que “Deus é
um conceito / Pelo qual medimos nossa dor”. Na letra ainda fala que não
acredita na Bíblia, Jesus, Elvis, Zimmerman (Bob Dylan) e nos Beatles e que só
acreditava nele e Yoko. No final decreta: “Eu era a morsa / Mas agora sou John
/ Então queridos amigos / Vocês precisam continuar / O sonho acabou”.
“My mummy´s dead” é o epitáfio que fala da trágica morte de sua mãe.
O álbum chegou ao oitavo
lugar nas paradas de sucesso dos Estados Unidos e sexto na Inglaterra. É
considerado por muitos o melhor trabalho solo de John Lennon e um dos melhores
lançados por um ex-Beatle. Após este disco, Lennon se sentiu de certa forma mais livre de seus fantasmas do passado e com mais força para continuar sua
brilhante carreira.
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