15 de setembro de 2014

OK Computer – O fim do Britpop?

Em 1997 o Britpop já não era aquele estouro que era dois anos antes com a briga pelas paradas de sucesso entre Blur e Oasis. As principais bandas deste “movimento” já estavam procurando novos horizontes e sonoridades, não se importando tanto com as paradas e com o que a crítica iria dizer. O Radiohead, que na verdade musicalmente não tinha muito a ver com as bandas deste gênero, acabou também participando de certa forma do Britpop, pelo seu grande sucesso na mesma época dos seus conterrâneos ingleses.


O Radiohead lançaria neste mesmo ano seu disco mais complexo até então, o espetacular OK Computer. Um trabalho denso que em suas letras carrega o domínio do tecnológico sobre o humano, as fraquezas e dúvidas das pessoas em geral. Era uma espécie de final simbólico do Britpop, agora parecia que as bandas inglesas tinham chegado ao mundo adulto, podendo fazer trabalhos mais ousados e não tão comerciais.

Muito se especula sobre esta obra do Radiohead, que é um disco conceitual, com início meio e fim, que se inspirou no livro 1984, entre outras muitas teorias. Também se fala muito sobre o encarte enigmático do disco e algumas frases que parecem não ter sentido algum. Muitos acreditam que ali existam mensagens sublimares deixadas propositalmente pela banda.

O fato é que OK Computer abriu uma nova era dentro do rock em geral. O uso da tecnologia de ponta através de computadores Macintosh e a distribuição de música pela internet foram um dos fatores pioneiros deste trabalho. Muitos dizem que OK Computer é o Dark Side of the Moon dos anos 90. Eu ainda acho o disco do Radiohead ainda mais forte e impactante do que o álbum do Pink Floyd.

O disco tem uma sonoridade espacial e futurista. O grande destaque do trabalho, além das letras e vocais de Thom Yorke é sem dúvida o guitarrista e faz tudo Jonny Greenwood. Ele tocou no álbum guitarra, teclados, piano, mellotron, órgão, glockenspiel e foi responsável pelos arranjos de cordas. Sempre com versatilidade, acabou criando um estilo próprio de tocar, sempre com solos e riffs marcantes e criativos.

“Airbag”, primeira canção do álbum, tem uma letra que fala sobre um personagem que sobrevive a um acidente graças a um airbag e tem a missão agora de salvar o universo. Com um clima futurista misturado a um bom riff de guitarra, tem elementos eletrônicos que tornam a música uma experiência estranha e envolvente, assim como restante do disco. 




“Paranoid android” é uma suíte de quase 7 minutos com mudanças bruscas de andamento. O título foi inspirado no personagem Marvin, o Andróide Paranóico, do livro O Guia do Mochileiro das Galáxias. Na letra uma pessoa à beira da loucura não consegue se encaixar no mundo ao seu redor, tentando se desvencilhar da escravidão tecnológica: “Eu posso ser paranoico / mas não um androide”. Thom Yorke afirmou que se inspirou nas últimas músicas de Abbey Road dos Beatles, para fazer a canção, com suas mudanças de ritmo e três partes. 




O clima espacial de “Subterranean homesick alien” (título que faz clara alusão a “Subterranean homesick blues” de Bob Dylan) combina perfeitamente com a letra da música, que fala sobre um personagem que foi abduzido por aliens e ninguém acredita. “Exit music (For a film) é um das canções mais tristes e melancólicas de Yorke, culminando em um refrão ao mesmo tempo raivoso e emocionante.

“Let down” apesar de sua sonoridade um pouco mais pop, disfarça uma letra pessimista, mostrando o desapontamento com o mundo atual e com a própria vida. Em “Karma police” Yorke tece reclamações à tal “Polícia do Karma” em cima de uma bela base de piano e sintetizadores. Destaque para o estranho e surpreendente vídeo feito para esta música. 




“Fitter happier” é uma programação feita por Thom Yorke em um computador, que dá instruções de como uma pessoa deve ser para se sentir melhor e mais saudável, como fazer exercícios três vezes por semana, se dar bem com colegas de trabalhos, coisas que dificilmente todos conseguem alcançar. Uma crítica irônica de como somos controlados por uma sociedade cheia de regras e imposições.

“Electioneering” é mais pesada e destoa do restante do álbum. Aqui Yorke muda um pouco o foco e fala de política. “Climbing up the walls” é estranha e misteriosa, com um clima bem dark. “No surprises” é uma das canções mais belas da carreira do Radiohead, fala sobre uma vida sem alarmes e sem surpresas, que a maioria das pessoas tem que se acostumar. Com uma mistura de Glockenspiel e uma linha de baixo hipnotizante, lembra uma canção de ninar, que de infantil não tem nada.

“Lucky” é a mais lenta do disco e tem vários ápices durante a execução. Na letra o tal homem que salvaria o Universo em “Airbag” tem sua missão concluída. Este fato levam muitos a crer que o disco seja uma obra de começo meio e fim, mas fica tudo no campo da especulação. A canção que mais lembra Pink Floyd em todo o disco. “The tourist” termina o álbum com um tom emocionante e desesperançoso.

Ok Computer é considerado um dos melhores e mais importantes trabalhos feitos nos anos 90 e não é por menos. Era o começo de uma nova era tecnológica dentro da música. A maioria do que foi feito em diante no rock inglês teve um pouco deste disco, vide trabalhos de bandas como Doves, Coldplay e Travis. Era o final do Britpop e começo da fase adulta do novo rock inglês. O começo também de uma nova fase na carreira da banda, que lançaria trabalhos bem esquizofrênicos como Kid A de 2000 e Amnesiac de 2001. Uma grande viagem para o ouvinte, sem dúvida alguma. 



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