Em 1997 o Britpop já não era
aquele estouro que era dois anos antes com a briga pelas paradas de sucesso
entre Blur e Oasis. As principais bandas deste “movimento” já estavam
procurando novos horizontes e sonoridades, não se importando tanto com as
paradas e com o que a crítica iria dizer. O Radiohead, que na verdade
musicalmente não tinha muito a ver com as bandas deste gênero, acabou também
participando de certa forma do Britpop, pelo seu grande sucesso na mesma época
dos seus conterrâneos ingleses.
O Radiohead lançaria neste mesmo ano seu disco mais complexo até então, o espetacular OK Computer. Um trabalho denso que em suas letras carrega o domínio do tecnológico
sobre o humano, as fraquezas e dúvidas das pessoas em geral. Era uma espécie de
final simbólico do Britpop, agora parecia que as bandas inglesas tinham chegado
ao mundo adulto, podendo fazer trabalhos mais ousados e não tão comerciais.
Muito se especula sobre esta
obra do Radiohead, que é um disco conceitual, com início meio e fim, que se
inspirou no livro 1984, entre outras muitas teorias. Também se fala muito sobre
o encarte enigmático do disco e algumas frases que parecem não ter sentido
algum. Muitos acreditam que ali existam mensagens sublimares deixadas
propositalmente pela banda.
O fato é que OK Computer
abriu uma nova era dentro do rock em geral. O uso da tecnologia de ponta
através de computadores Macintosh e a distribuição de música pela internet
foram um dos fatores pioneiros deste trabalho. Muitos dizem que OK Computer é o
Dark Side of the Moon dos anos 90. Eu ainda acho o disco do Radiohead ainda
mais forte e impactante do que o álbum do Pink Floyd.
O disco tem uma sonoridade
espacial e futurista. O grande destaque do trabalho, além das letras e vocais
de Thom Yorke é sem dúvida o guitarrista e faz tudo Jonny Greenwood. Ele tocou
no álbum guitarra, teclados, piano, mellotron, órgão, glockenspiel e foi
responsável pelos arranjos de cordas. Sempre com versatilidade, acabou criando
um estilo próprio de tocar, sempre com solos e riffs marcantes e criativos.
“Airbag”, primeira canção do
álbum, tem uma letra que fala sobre um personagem que sobrevive a um acidente
graças a um airbag e tem a missão agora de salvar o universo. Com um clima
futurista misturado a um bom riff de guitarra, tem elementos eletrônicos que
tornam a música uma experiência estranha e envolvente, assim como restante do
disco.
“Paranoid android” é uma
suíte de quase 7 minutos com mudanças bruscas de andamento. O título foi
inspirado no personagem Marvin, o Andróide Paranóico, do livro O Guia do
Mochileiro das Galáxias. Na letra uma pessoa à beira da loucura não consegue
se encaixar no mundo ao seu redor, tentando se desvencilhar da escravidão
tecnológica: “Eu posso ser paranoico / mas não um androide”. Thom Yorke afirmou
que se inspirou nas últimas músicas de Abbey Road dos Beatles, para fazer a
canção, com suas mudanças de ritmo e três partes.
O clima espacial de
“Subterranean homesick alien” (título que faz clara alusão a “Subterranean
homesick blues” de Bob Dylan) combina perfeitamente com a letra da música, que fala
sobre um personagem que foi abduzido por aliens e ninguém acredita. “Exit music
(For a film) é um das canções mais tristes e melancólicas de Yorke, culminando
em um refrão ao mesmo tempo raivoso e emocionante.
“Let down” apesar de sua
sonoridade um pouco mais pop, disfarça uma letra pessimista, mostrando o
desapontamento com o mundo atual e com a própria vida. Em “Karma police” Yorke
tece reclamações à tal “Polícia do Karma” em cima de uma bela base de piano e
sintetizadores. Destaque para o estranho e surpreendente vídeo feito para esta
música.
“Fitter happier” é uma
programação feita por Thom Yorke em um computador, que dá instruções de como
uma pessoa deve ser para se sentir melhor e mais saudável, como fazer
exercícios três vezes por semana, se dar bem com colegas de trabalhos, coisas
que dificilmente todos conseguem alcançar. Uma crítica irônica de como somos
controlados por uma sociedade cheia de regras e imposições.
“Electioneering” é mais
pesada e destoa do restante do álbum. Aqui Yorke muda um pouco o foco e fala de
política. “Climbing up the walls” é estranha e misteriosa, com um clima bem
dark. “No surprises” é uma das canções mais belas da carreira do Radiohead,
fala sobre uma vida sem alarmes e sem surpresas, que a maioria das pessoas tem
que se acostumar. Com uma mistura de Glockenspiel e uma linha de baixo
hipnotizante, lembra uma canção de ninar, que de infantil não tem nada.
“Lucky” é a mais lenta do
disco e tem vários ápices durante a execução. Na letra o tal homem que salvaria
o Universo em “Airbag” tem sua missão concluída. Este fato levam muitos a crer
que o disco seja uma obra de começo meio e fim, mas fica tudo no campo da
especulação. A canção que mais lembra Pink Floyd em todo o disco. “The tourist”
termina o álbum com um tom emocionante e desesperançoso.
Ok Computer é considerado um
dos melhores e mais importantes trabalhos feitos nos anos 90 e não é por menos.
Era o começo de uma nova era tecnológica dentro da música. A maioria do que foi
feito em diante no rock inglês teve um pouco deste disco, vide trabalhos de
bandas como Doves, Coldplay e Travis. Era o final do Britpop e começo da fase
adulta do novo rock inglês. O começo também de uma nova fase na carreira da
banda, que lançaria trabalhos bem esquizofrênicos como Kid A de 2000 e Amnesiac
de 2001. Uma grande viagem para o ouvinte, sem dúvida alguma.
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