Existem alguns discos que
você ouve na adolescência e que ficam na sua memória afetiva para sempre. O
primeiro disco do Foo Fighters é um daqueles que se enquadram neste perfil, até
hoje escuto e continua sendo um dos meus cinco álbuns preferidos de todos os
tempos.
Após a trágica morte de Kurt
Cobain, muitos fãs assim como eu ficaram órfãos de seu talento e de suas
grandes músicas. Isto não foi diferente para o então baterista do Nirvana, Dave
Grohl, que ficou sem rumo após o final repentino de sua banda. Grohl já
compunha quando estava no Nirvana, tanto que a canção “Marigold” foi lançada como
lado B do single “Heart-shaped box” e foi cantada e composta por Grohl.
O que poucos sabem é que
Dave já tinha lançado um trabalho solo em 1992, sobre o codinome Late. Lançado
somente em fita cassete, o álbum tem o nome de Pocketwatch e contém 10 músicas
de autoria de Grohl. Entre elas, “Friend of a friend”, que faria parte dos
discos do Foo Fighters, In Your Honor e Skin and Bones, “Marigold” lançado com
o Nirvana um ano depois e “Winnebago” lado b do single da música “This is a
call”.
Em outubro de 1994, Grohl
entrou em estúdio com a ajuda do produtor Barret Jones que já tinha trabalho
com ele no projeto Late, para gravar demos de algumas de suas composições. Nesta
demo ele tocou todos os instrumentos e cantou. A fita chamou a atenção de
grandes gravadoras e em 1995 acabou assinando com a Capitol Records para lançar
este que seria o primeiro disco do Foo Fighters.
Dave chamou para participar
da banda dois ex-integrantes da banda de Seattle Sunny Day Real State, o
baixista Nate Mendel e o baterista William Goldsmith e para a outra guitarra
chamou Pat Smear, ex-integrante da lendária banda punk The Germs e guitarrista
do Nirvana na turnê do disco In Utero. Estes integrantes não tocaram em nenhuma
faixa do álbum de estreia do Foo Fighters, Grohl gravou tudo, exceto a segunda
guitarra da canção X-Static, gravada por Greg Dulli do Afghan Whigs.
O disco transborda punk e
energia em todas as suas 12 faixas, com muita melodia, algo herdado claramente
do Nirvana e das bandas precursoras do rock alternativo dos anos 80, Husker Dü
e Black Flag. “This is a call” foi composta após a morte de Cobain e faz
referência à Ritalina, remédio utilizado para o tratamento de crianças
hiperativas. Talvez uma letra autobiográfica, mas as letras de Grohl para este disco
segundo ele mesmo, não fazem tanto sentido. Uma música energética e poderosa,
mostrando que uma nova grande banda surgia dentro do cenário do rock.
Lembro-me até hoje da
estreia do videoclipe de “I´ll stick around” em 1995, a MTV passava o clipe de
hora em hora e eu o assistia várias vezes, muito entusiasmado com a nova banda
de Grohl. No refrão da música Dave diz “Eu não devo nada a você” e em outro
trecho da letra diz “Será que sou o único que vê / Que sua loucura é ensaiada?”.
Muitos consideram um recado à viúva de Cobain, Courtney Love, desafeto de Grohl
e dos outros integrantes do Nirvana por muitos anos. O clipe é totalmente
influenciado pela banda DEVO, tanto que foi o próprio vocalista do DEVO, Gerald
V Casale que o dirigiu.
“Big me” tem uma melodia “Beatleniana”
e foi o primeiro clipe do Foo Fighters com a tradicional marca bem humorada que
acompanha o grupo até hoje. “Alone + easy target” e “Good grief” são pedradas
que mostram também toda visceralidade de Grohl na bateria, assim como nos
tempos de Nirvana. “Floaty” misturas guitarras distorcidas com violões com
melodia nostálgica que Dave sabe fazer como poucos.
“Weenie beenie” tem vocais
distorcidos e gritados, com muito peso e energia, enquanto “Oh George” é extremamente melódica e cativante, uma homenagem ao beatle George Harrison. “For all the
cows” tem aquela estrutura começo leve / refrão pesado enquanto “X-static” tem
guitarras unidimensionais tocadas por Grohl e Greg Dulli. “Wattershed” é outra
porrada, que não perde o pique em nenhum momento. “Exhausted” fecha o disco com
muita distorção e microfonias, em uma canção que Grohl fez na época do Nirvana
e que Cobain gostava muito e queria utilizar em futuros trabalhos da banda.
Este primeiro
trabalho do Foo Fighters foi muito bem recebido por crítica e público. A banda
saiu em turnê e logo deixou de ser apenas um projeto para ser umas das bandas
mais bem sucedidas dos últimos tempos. Um disco clássico que marcou minha
adolescência e de muitas pessoas. Hoje a banda toca em estádios e tem um som
mais grandioso, mas foi com esta sonoridade crua e simples deste disco de
estreia que a banda conquistou seus primeiros fãs.
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