10 de julho de 2014

Clássicos do Brasil - Os 40 anos do disco Lóki?

Em 1974, Arnaldo Baptista, um dos líderes de uma das mais importantes bandas do Brasil, Os Mutantes, estava em um estado emocional deplorável: tinha saído de sua banda e seu casamento com Rita Lee tinha acabado. Este era o mote para gravar seu primeiro disco solo e um dos discos mais emocionais da música brasileira: Lóki?.


Quando Baptista mostrou as músicas que fariam parte deste álbum para o diretor musical de sua gravadora na época, Roberto Menescal, causou a sensação em Menescal que Arnaldo deveria lançar este trabalho de qualquer forma, para exorcizar estes sentimentos ruins e se livrar desta carga emocional que o atormentava. Outros tempos da indústria musical, em que as gravadoras se arriscavam em projetos musicais audaciosos, sem pensar somente em grandes vendagens.

Para a gravação deste disco, Arnaldo teve o apoio de seus antigos companheiros de Mutantes, Liminha no baixo, Dinho Leme na bateria, além de Rita Lee em alguns vocais de apoio. O álbum é uma coleção de músicas que falam sobre amores não correspondidos, corações dilacerados, além de citações de óvnis e imagens psicodélicas. 

Os arranjos das musicas basicamente só tem piano (tocado com virtuosismo por Arnaldo), baixo e bateria, com eventuais sons de violão. Arnaldo canta quase sussurrando em algumas músicas, demonstrando a fragilidade emocional e psíquica que passava naquela época. O disco ainda teve a participação nos arranjos do maestro e companheiros dos Mutantes, Rogério Duprat.

A primeira música do disco, “Será que eu vou virar bolor” um rock clássico no piano em que Arnaldo traça um paralelo de seu amor, com o destino do rock, dando uma alfinetada até em Alice Cooper. Ambos estão ameaçados de extinção – tanto o seu amor quanto o rock n´roll. “Uma pessoa só” é mais emocional e remete à época em que Os Mutantes viviam em uma comunidade na Serra da Cantareira, em que a ideia de união transformava todos em uma pessoa só. 



Em "Não Estou Nem Aí", Baptista afirma que não tem medo da morte, desafiando-a de forma sarcástica, com um arranjo que flerta com o blues e com o jazz. "Vou Me Afundar na Lingerie" é um blues de primeira linha, que fala em afogar as mágoas, enquanto "Honky Tonky" é uma música instrumental que mostra todo talento da Arnaldo ao piano.

"Cê tá Pensando Que Eu Sou Loki?" é meio samba, meio bossa-nova, aqui Arnaldo desbanca a loucura, sem abdicar das viagens psicodélicas eventuais. "Desculpe" é uma balada dilacerante, um dos momentos mais emocionantes da música brasileira, em que autor se desculpa pelo excesso de amor. “Te amo podes crer” é uma declaração em forma de balada no piano, enquanto “É fácil” é uma balada folk com um estranho riff de violão.

Um dos maiores clássicos da música brasileira completa 40 anos e nos remete a uma das melhores fases da música brasileira, em que a música era tratada mais como arte do que qualquer outra coisa. Seria legal se Arnaldo se animasse a fazer um show tocando este disco inteiro, porém, o eterno mutante se recusa a seguir um setlist fixo em seus shows, tanto que toca as músicas de seus shows no feeling mesmo, escolhe a música que vai tocar na hora do show. 



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