Em 1974, Arnaldo Baptista,
um dos líderes de uma das mais importantes bandas do Brasil, Os Mutantes,
estava em um estado emocional deplorável: tinha saído de sua banda e seu
casamento com Rita Lee tinha acabado. Este era o mote para gravar seu primeiro
disco solo e um dos discos mais emocionais da música brasileira: Lóki?.
Quando Baptista mostrou as
músicas que fariam parte deste álbum para o diretor musical de sua gravadora na
época, Roberto Menescal, causou a sensação em Menescal que Arnaldo deveria
lançar este trabalho de qualquer forma, para exorcizar estes sentimentos ruins
e se livrar desta carga emocional que o atormentava. Outros tempos da indústria
musical, em que as gravadoras se arriscavam em projetos musicais audaciosos,
sem pensar somente em grandes vendagens.
Para a gravação deste disco,
Arnaldo teve o apoio de seus antigos companheiros de Mutantes, Liminha no
baixo, Dinho Leme na bateria, além de Rita Lee em alguns vocais de apoio. O
álbum é uma coleção de músicas que falam sobre amores não correspondidos,
corações dilacerados, além de citações de óvnis e imagens psicodélicas.
Os arranjos das musicas
basicamente só tem piano (tocado com virtuosismo por Arnaldo), baixo e bateria,
com eventuais sons de violão. Arnaldo canta quase sussurrando em algumas
músicas, demonstrando a fragilidade emocional e psíquica que passava naquela
época. O disco ainda teve a participação nos arranjos do maestro e companheiros
dos Mutantes, Rogério Duprat.
A primeira música do disco,
“Será que eu vou virar bolor” um rock clássico no piano em que Arnaldo traça um
paralelo de seu amor, com o destino do rock, dando uma alfinetada até em Alice
Cooper. Ambos estão ameaçados de extinção – tanto o seu amor quanto o rock
n´roll. “Uma pessoa só” é mais emocional e remete à época em que Os Mutantes
viviam em uma comunidade na Serra da Cantareira, em que a ideia de união
transformava todos em uma pessoa só.
Em "Não Estou Nem
Aí", Baptista afirma que não tem medo da morte, desafiando-a de forma
sarcástica, com um arranjo que flerta com o blues e com o jazz. "Vou Me
Afundar na Lingerie" é um blues de primeira linha, que fala em afogar as
mágoas, enquanto "Honky Tonky" é uma música instrumental que mostra
todo talento da Arnaldo ao piano.
"Cê tá Pensando Que Eu
Sou Loki?" é meio samba, meio bossa-nova, aqui Arnaldo desbanca a loucura,
sem abdicar das viagens psicodélicas eventuais. "Desculpe" é uma
balada dilacerante, um dos momentos mais emocionantes da música brasileira, em
que autor se desculpa pelo excesso de amor. “Te amo podes crer” é uma
declaração em forma de balada no piano, enquanto “É fácil” é uma balada folk
com um estranho riff de violão.
Um dos maiores clássicos da
música brasileira completa 40 anos e nos remete a uma das melhores fases da
música brasileira, em que a música era tratada mais como arte do que qualquer
outra coisa. Seria legal se Arnaldo se animasse a fazer um show tocando este
disco inteiro, porém, o eterno mutante se recusa a seguir um setlist fixo em
seus shows, tanto que toca as músicas de seus shows no feeling mesmo, escolhe a
música que vai tocar na hora do show.
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